Arquidiocese do Rio de Janeiro

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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Homilia – 30º Domingo do Tempo Comum

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Homilia – 30º Domingo do Tempo Comum

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Homilia – 30º Domingo do Tempo Comum 0

27/10/2019 00:00

“A prece do humilde atravessa as nuvens” (cf. Eclo 35,21)

O Evangelho deste domingo nos apresenta uma parábola de Jesus, contada no contexto do seu caminho em direção a Jerusalém (cf. Lc 9,51 – 19,27). No v. 9, são apresentados os destinatários de tal parábola: Jesus a contou para “alguns” que “confiavam na sua própria justiça” e, além disso, “desprezavam os outros”. No decorrer da parábola, se pode perceber que que esses “alguns” são os fariseus, que acreditavam que a simples observância dos mandamentos lhes era suficiente, sem se dar conta de que a graça de Deus sempre está em primeiro lugar. Os “desprezados”, por sua vez, são os pecadores, de modo particular, na parábola, o cobrador de impostos.

Alguns elementos chamam a atenção construção do texto. Num primeiro momento, existe certo paralelismo entre as duas figuras: os dois estão no Templo para rezar. Contudo, a descrição de um e de outro mostra uma notória diferença entre os dois. O fariseu está de pé, e reza “para si mesmo” ou “no seu íntimo”. Há quem veja nessa afirmação de Lucas que o fariseu, embora pense rezar a Deus, na verdade reza para si, no sentido de que pretende fazer o seu autoelogio diante de Deus. O cobrador de impostos, por sua vez, homem odiado por todos, porque estava a serviço de um poder estrangeiro e, muitas vezes, defraudava o povo movido pela sua ganância, fica à distância, não se atreve a levantar os olhos até Deus (cf. Sl 120[121],1) e realiza um gesto de penitência: ele bate o peito enquanto pronuncia sua oração.

A oração de um e de outro são, também, muito diferentes. O fariseu começa fazendo uma “ação de graças” a Deus. Seu gênero de oração é muito cara ao mundo judaico: trata-se da berakah – oração de louvor, de ação de graças a Deus pelos seus múltiplos benefícios. Contudo, a oração do fariseu é autocentrada. Além disso, ele não tem compaixão, e olha os homens com desprezo: ele agradece a Deus, porque ele não é “como os outros homens”. De fato, esse homem realiza obras boas: não é ladrão, nem desonesto, nem adúltero. Ele vai além das obrigações de um judeu comum: jejua duas vezes por semana e dá o dízimo completo, de tudo o que ele ganha. Contudo, se esqueceu do essencial: o amor aos irmãos. Ele não somente despreza os homens em geral, como despreza também o cobrador de impostos que ora a Deus no mesmo Templo. O cobrador de impostos, por sua vez, não multiplica as palavras. Apenas bate no peito e diz: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”

No v. 14 Jesus apresenta uma conclusão para a parábola: foi o cobrador de impostos que voltou para casa justificado, não o fariseu. Este último realiza obras boas mas, além de desprezar os outros, coloca a sua confiança somente em si mesmo. Segundo seu modo de pensar, a salvação é simplesmente um reconhecimento da parte de Deus do bem que um homem fez. A palavra de Jesus se aplica bem a ele, uma vez que “confia na sua própria justiça” e não na justiça que vem de Deus. O cobrador de impostos, por sua vez, acredita que sua salvação vem de Deus, ao mesmo tempo em que se reconhece pecador. Por isso ele foi justificado e o fariseu não.

Jesus não apresenta um juízo de valor sobre as obras nem de um, nem de outro. Ele não diz que as obras do fariseu são más, nem convida a imitar a injustiça do cobrador de impostos. Jesus conta esta parábola para contrapor a verdadeira à falsa “atitude religiosa”. O fariseu possui as obras, mas o seu coração está longe de Deus, porque ele coloca a sua confiança nas próprias obras e não na salvação que Deus lhe oferece. O cobrador de impostos está realmente numa situação de pecado, suas obras o denunciam, mas o seu coração está incrivelmente aberto para reconhecer o poder salvador de Deus, quando grita batendo no peito: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”

A grande conclusão do Evangelho está no final do v. 14: “Quem se humilha será exaltado, e quem se eleva será humilhado.” Dito semelhante está em Lc 14,11 encerrando a parábola onde Jesus quer ensinar a humildade àqueles que escolhem os melhores lugares no banquete na casa de um dos chefes dos fariseus. Já no início do Evangelho, em Lc 1,52, o Magnificat afirma que Deus “exalta os humildes”. O evangelho se torna, assim, como um eco do que ouvimos na primeira leitura: “A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso” (cf. Eclo 35,21). A prece do humilde cobrador de impostos chegou até Deus, o seu pedido foi atendido: Deus teve piedade dele (cf. Lc 18,13) e o “justificou” (cf. Lc 18,14).

“Humilhar-se” diante do Senhor significa, em primeiro lugar, reconhecer que a salvação não é fruto das nossas boas obras. Muitas vezes pensamos como o fariseu, que vamos conquistar a salvação à nossa própria força, ou que a salvação é algo devido a nós por causa das boas obras que praticamos. Mas, a salvação se dá gratuitamente em virtude da graça de Deus que, em Cristo, fez surgir para nós uma poderosa força de salvação (cf. Rm 3,21-25a). Ao homem é impossível alcançar a própria salvação: ela é graça de Deus, para todo aquele que crê.

Nossa atitude diante de Deus deve ser de ação de graças pela salvação recebida gratuitamente, e pela força que Ele nos concede para sairmos vencedores na luta contra todo pecado. E no que diz respeito às obras boas que alguém venha a realizar, o mérito delas deve ser atribuído em primeiro lugar a Deus, que torna possível sua realização e, somente em segundo lugar, ao homem, que se abre à graça. É isso que Jesus nos ensina no Evangelho quando diz: “Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (cf. Mt 5,16). O que significa isso senão que as nossas boas obras são, na verdade, uma manifestação da Bondade Divina?

Devemos escutar e obedecer à palavra de Deus que, hoje, nos convida também a não desprezarmos os outros. Quando reconhecemos que o bem que realizamos procede de Deus e que fomos salvos por pura misericórdia, ao olharmos os erros e defeitos dos nossos irmãos, não os julgamos mais, mas aprendemos a agir com eles como Deus age conosco: com misericórdia!

Padre Fábio Siqueira
Vice-diretor das escolas de fé e catequese mater ecclesiae e luz e vida


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“A prece do humilde atravessa as nuvens” (cf. Eclo 35,21)

O Evangelho deste domingo nos apresenta uma parábola de Jesus, contada no contexto do seu caminho em direção a Jerusalém (cf. Lc 9,51 – 19,27). No v. 9, são apresentados os destinatários de tal parábola: Jesus a contou para “alguns” que “confiavam na sua própria justiça” e, além disso, “desprezavam os outros”. No decorrer da parábola, se pode perceber que que esses “alguns” são os fariseus, que acreditavam que a simples observância dos mandamentos lhes era suficiente, sem se dar conta de que a graça de Deus sempre está em primeiro lugar. Os “desprezados”, por sua vez, são os pecadores, de modo particular, na parábola, o cobrador de impostos.

Alguns elementos chamam a atenção construção do texto. Num primeiro momento, existe certo paralelismo entre as duas figuras: os dois estão no Templo para rezar. Contudo, a descrição de um e de outro mostra uma notória diferença entre os dois. O fariseu está de pé, e reza “para si mesmo” ou “no seu íntimo”. Há quem veja nessa afirmação de Lucas que o fariseu, embora pense rezar a Deus, na verdade reza para si, no sentido de que pretende fazer o seu autoelogio diante de Deus. O cobrador de impostos, por sua vez, homem odiado por todos, porque estava a serviço de um poder estrangeiro e, muitas vezes, defraudava o povo movido pela sua ganância, fica à distância, não se atreve a levantar os olhos até Deus (cf. Sl 120[121],1) e realiza um gesto de penitência: ele bate o peito enquanto pronuncia sua oração.

A oração de um e de outro são, também, muito diferentes. O fariseu começa fazendo uma “ação de graças” a Deus. Seu gênero de oração é muito cara ao mundo judaico: trata-se da berakah – oração de louvor, de ação de graças a Deus pelos seus múltiplos benefícios. Contudo, a oração do fariseu é autocentrada. Além disso, ele não tem compaixão, e olha os homens com desprezo: ele agradece a Deus, porque ele não é “como os outros homens”. De fato, esse homem realiza obras boas: não é ladrão, nem desonesto, nem adúltero. Ele vai além das obrigações de um judeu comum: jejua duas vezes por semana e dá o dízimo completo, de tudo o que ele ganha. Contudo, se esqueceu do essencial: o amor aos irmãos. Ele não somente despreza os homens em geral, como despreza também o cobrador de impostos que ora a Deus no mesmo Templo. O cobrador de impostos, por sua vez, não multiplica as palavras. Apenas bate no peito e diz: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”

No v. 14 Jesus apresenta uma conclusão para a parábola: foi o cobrador de impostos que voltou para casa justificado, não o fariseu. Este último realiza obras boas mas, além de desprezar os outros, coloca a sua confiança somente em si mesmo. Segundo seu modo de pensar, a salvação é simplesmente um reconhecimento da parte de Deus do bem que um homem fez. A palavra de Jesus se aplica bem a ele, uma vez que “confia na sua própria justiça” e não na justiça que vem de Deus. O cobrador de impostos, por sua vez, acredita que sua salvação vem de Deus, ao mesmo tempo em que se reconhece pecador. Por isso ele foi justificado e o fariseu não.

Jesus não apresenta um juízo de valor sobre as obras nem de um, nem de outro. Ele não diz que as obras do fariseu são más, nem convida a imitar a injustiça do cobrador de impostos. Jesus conta esta parábola para contrapor a verdadeira à falsa “atitude religiosa”. O fariseu possui as obras, mas o seu coração está longe de Deus, porque ele coloca a sua confiança nas próprias obras e não na salvação que Deus lhe oferece. O cobrador de impostos está realmente numa situação de pecado, suas obras o denunciam, mas o seu coração está incrivelmente aberto para reconhecer o poder salvador de Deus, quando grita batendo no peito: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”

A grande conclusão do Evangelho está no final do v. 14: “Quem se humilha será exaltado, e quem se eleva será humilhado.” Dito semelhante está em Lc 14,11 encerrando a parábola onde Jesus quer ensinar a humildade àqueles que escolhem os melhores lugares no banquete na casa de um dos chefes dos fariseus. Já no início do Evangelho, em Lc 1,52, o Magnificat afirma que Deus “exalta os humildes”. O evangelho se torna, assim, como um eco do que ouvimos na primeira leitura: “A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso” (cf. Eclo 35,21). A prece do humilde cobrador de impostos chegou até Deus, o seu pedido foi atendido: Deus teve piedade dele (cf. Lc 18,13) e o “justificou” (cf. Lc 18,14).

“Humilhar-se” diante do Senhor significa, em primeiro lugar, reconhecer que a salvação não é fruto das nossas boas obras. Muitas vezes pensamos como o fariseu, que vamos conquistar a salvação à nossa própria força, ou que a salvação é algo devido a nós por causa das boas obras que praticamos. Mas, a salvação se dá gratuitamente em virtude da graça de Deus que, em Cristo, fez surgir para nós uma poderosa força de salvação (cf. Rm 3,21-25a). Ao homem é impossível alcançar a própria salvação: ela é graça de Deus, para todo aquele que crê.

Nossa atitude diante de Deus deve ser de ação de graças pela salvação recebida gratuitamente, e pela força que Ele nos concede para sairmos vencedores na luta contra todo pecado. E no que diz respeito às obras boas que alguém venha a realizar, o mérito delas deve ser atribuído em primeiro lugar a Deus, que torna possível sua realização e, somente em segundo lugar, ao homem, que se abre à graça. É isso que Jesus nos ensina no Evangelho quando diz: “Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (cf. Mt 5,16). O que significa isso senão que as nossas boas obras são, na verdade, uma manifestação da Bondade Divina?

Devemos escutar e obedecer à palavra de Deus que, hoje, nos convida também a não desprezarmos os outros. Quando reconhecemos que o bem que realizamos procede de Deus e que fomos salvos por pura misericórdia, ao olharmos os erros e defeitos dos nossos irmãos, não os julgamos mais, mas aprendemos a agir com eles como Deus age conosco: com misericórdia!

Padre Fábio Siqueira
Vice-diretor das escolas de fé e catequese mater ecclesiae e luz e vida


Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida