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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 09/05/2024

09 de Maio de 2024

A Árvore da Cruz

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A Árvore da Cruz

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14/09/2019 00:00 - Atualizado em 17/09/2019 11:47

A Árvore da Cruz 0

14/09/2019 00:00 - Atualizado em 17/09/2019 11:47

A Cruz e o Mistério da Salvação encontram-se intimamente unidos. A Cruz é reveladora tanto da grandeza de Deus quanto da feiúra do pecado. O Mistério da Cruz tem relação com o Mistério da Igreja, Corpo de Cristo que nasceu do seu Sangue Preciosíssimo na Cruz: a Igreja é concorpórea de Cristo. E a graça chega até nós através do Mistério da Cruz, motivo suficiente para que amemos a Santa Cruz. No seguimento do Crucificado, o cristão vive no Espírito Santo, e não na carne. Aquele que renasceu “da água e do Espírito” (Cf. Jo 3,5) sabe que nasceu para as realidades superiores. Para conseguir chegar até lá tem que lutar e mortificar-se naquilo que tem de carnal.

Celebrar a exaltação da Santa Cruz é celebrar a exaltação da humilhação. Essa afirmação não é contraditória? Muitos viram na Cruz e na sua celebração festiva uma contradição; essa maneira de ver as coisas, os levou a renegar a Cruz em nome da vida segundo esse mundo. No entanto, a vida segundo esse mundo termina geralmente em angustia, desespero e morte. A Cruz nos introduz em outra percepção de valores e nos faz passar através das vicissitudes presentes com o olhar fixo nas realidades que nos esperam. Deus falou por meio da Cruz, isto é, por meio do mistério do seu Filho morto e ressuscitado. Ele quer introduzir-nos na Vida pela Cruz.

A devoção e o culto à Santa Cruz, na qual Cristo deu a sua vida por nós, remonta aos começos do cristianismo. A Igreja canta com entusiasmo a Santa Cruz, pois foi o instrumento da nossa Salvação; se a árvore a cuja sombra os nossos primeiros pais pecaram foi a causa de perdição, a árvore da Cruz é origem da nossa salvação eterna. A Palavra de Deus (Cf. Num 21,4-9) narra-nos como o Senhor castigou o Povo eleito por ter murmurado contra Moisés e contra Deus ao experimentar as dificuldades do deserto; enviou-lhe serpentes que causavam estragos entre os israelitas. Quando se arrependeram, o Senhor disse a Moisés: “Faze uma serpente de bronze e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela viverá. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e colocou-a como sinal sobre uma haste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, ficava curado” (Cf. Num 21, 8-9).

Assim o diz Jesus no diálogo mantido com Nicodemos: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que crer tenha nele vida eterna” (Cf. Jo 3, 14-15). Desde então, o caminho da santidade passa pela Cruz, e ganham sentido todas essas realidades que tanto precisam dele, como são a doença, a dor, as aflições econômicas, o fracasso…, a mortificação voluntária. Mais ainda: Deus abençoa com a Cruz quando quer conceder grandes bens a um dos seus filhos, a quem trata então com particular predileção.

Na Cruz de Cristo está significada toda a Cruz do mundo e da humanidade: a Cruz do inocente que sofre, a Cruz dos órfãos, dos que morrem na guerra, a Cruz dos pobres, sem nome, sem vez nem voz... Na Cruz do Senhor estão tantos povos e raças oprimidos, dizimados pela ganância e pelo ódio. Na Cruz de Cristo está simbolizada toda dor, todo fracasso, toda solidão, todo peso do mundo. Na Cruz do Senhor está tudo aquilo que nos deixa com uma pergunta presa na garganta: “Por que tanta dor, tanto sofrimento, tanta injustiça? Por que Deus se cala? Por que permite? Onde ele está?” Não pode compreender o mistério da Cruz quem não se deixa atingir e questionar por estas perguntas, por estas dores, por estes prantos! Não pode proclamar o triunfo do Senhor quem não suportou o absurdo da Cruz do Senhor! A Cruz não é um ornamento, uma brincadeira; a cruz é um ícone, um símbolo, uma parábola impressionante e dolorosa!

Na Cruz está significado tudo aquilo que tanto nos apavora! E, no entanto, Jesus diz, no evangelho desta celebração (Cf. Jo 3,13-17), que era necessário passar pela cruz: “Do mesmo modo que Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado...” (Cf. Jo 3,14). Palavra impressionante, confirmada após a ressurreição: “Não era necessário que o Filho sofresse tudo isso e assim entrasse na sua glória?” (Cf. Lc 24,26). Por que era necessário? Por que no caminho do Cristo e do cristão tem que estar a Cruz, bendita e maldita? Contudo, a Cruz apresenta-se na nossa vida de diversas maneiras: doença, pobreza, cansaço, dor, desprezo, solidão… Hoje podemos examinar como é a nossa disposição habitual em face dessa Cruz que às vezes se mostra áspera e dura, mas que, se a levamos com amor, converte-se em fonte de purificação e de Vida, e também de alegria. O amor à Cruz produz abundantes frutos na alma. Em primeiro lugar, leva-nos a descobrir Jesus, que sai ao nosso encontro e carrega sobre os seus ombros a parte mais pesada da contradição. A nossa dor, associada à do Mestre, deixa de ser o mal que entristece e arruína, e converte-se em meio de íntima união com Deus.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


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A Árvore da Cruz

14/09/2019 00:00 - Atualizado em 17/09/2019 11:47

A Cruz e o Mistério da Salvação encontram-se intimamente unidos. A Cruz é reveladora tanto da grandeza de Deus quanto da feiúra do pecado. O Mistério da Cruz tem relação com o Mistério da Igreja, Corpo de Cristo que nasceu do seu Sangue Preciosíssimo na Cruz: a Igreja é concorpórea de Cristo. E a graça chega até nós através do Mistério da Cruz, motivo suficiente para que amemos a Santa Cruz. No seguimento do Crucificado, o cristão vive no Espírito Santo, e não na carne. Aquele que renasceu “da água e do Espírito” (Cf. Jo 3,5) sabe que nasceu para as realidades superiores. Para conseguir chegar até lá tem que lutar e mortificar-se naquilo que tem de carnal.

Celebrar a exaltação da Santa Cruz é celebrar a exaltação da humilhação. Essa afirmação não é contraditória? Muitos viram na Cruz e na sua celebração festiva uma contradição; essa maneira de ver as coisas, os levou a renegar a Cruz em nome da vida segundo esse mundo. No entanto, a vida segundo esse mundo termina geralmente em angustia, desespero e morte. A Cruz nos introduz em outra percepção de valores e nos faz passar através das vicissitudes presentes com o olhar fixo nas realidades que nos esperam. Deus falou por meio da Cruz, isto é, por meio do mistério do seu Filho morto e ressuscitado. Ele quer introduzir-nos na Vida pela Cruz.

A devoção e o culto à Santa Cruz, na qual Cristo deu a sua vida por nós, remonta aos começos do cristianismo. A Igreja canta com entusiasmo a Santa Cruz, pois foi o instrumento da nossa Salvação; se a árvore a cuja sombra os nossos primeiros pais pecaram foi a causa de perdição, a árvore da Cruz é origem da nossa salvação eterna. A Palavra de Deus (Cf. Num 21,4-9) narra-nos como o Senhor castigou o Povo eleito por ter murmurado contra Moisés e contra Deus ao experimentar as dificuldades do deserto; enviou-lhe serpentes que causavam estragos entre os israelitas. Quando se arrependeram, o Senhor disse a Moisés: “Faze uma serpente de bronze e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela viverá. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e colocou-a como sinal sobre uma haste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, ficava curado” (Cf. Num 21, 8-9).

Assim o diz Jesus no diálogo mantido com Nicodemos: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que crer tenha nele vida eterna” (Cf. Jo 3, 14-15). Desde então, o caminho da santidade passa pela Cruz, e ganham sentido todas essas realidades que tanto precisam dele, como são a doença, a dor, as aflições econômicas, o fracasso…, a mortificação voluntária. Mais ainda: Deus abençoa com a Cruz quando quer conceder grandes bens a um dos seus filhos, a quem trata então com particular predileção.

Na Cruz de Cristo está significada toda a Cruz do mundo e da humanidade: a Cruz do inocente que sofre, a Cruz dos órfãos, dos que morrem na guerra, a Cruz dos pobres, sem nome, sem vez nem voz... Na Cruz do Senhor estão tantos povos e raças oprimidos, dizimados pela ganância e pelo ódio. Na Cruz de Cristo está simbolizada toda dor, todo fracasso, toda solidão, todo peso do mundo. Na Cruz do Senhor está tudo aquilo que nos deixa com uma pergunta presa na garganta: “Por que tanta dor, tanto sofrimento, tanta injustiça? Por que Deus se cala? Por que permite? Onde ele está?” Não pode compreender o mistério da Cruz quem não se deixa atingir e questionar por estas perguntas, por estas dores, por estes prantos! Não pode proclamar o triunfo do Senhor quem não suportou o absurdo da Cruz do Senhor! A Cruz não é um ornamento, uma brincadeira; a cruz é um ícone, um símbolo, uma parábola impressionante e dolorosa!

Na Cruz está significado tudo aquilo que tanto nos apavora! E, no entanto, Jesus diz, no evangelho desta celebração (Cf. Jo 3,13-17), que era necessário passar pela cruz: “Do mesmo modo que Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado...” (Cf. Jo 3,14). Palavra impressionante, confirmada após a ressurreição: “Não era necessário que o Filho sofresse tudo isso e assim entrasse na sua glória?” (Cf. Lc 24,26). Por que era necessário? Por que no caminho do Cristo e do cristão tem que estar a Cruz, bendita e maldita? Contudo, a Cruz apresenta-se na nossa vida de diversas maneiras: doença, pobreza, cansaço, dor, desprezo, solidão… Hoje podemos examinar como é a nossa disposição habitual em face dessa Cruz que às vezes se mostra áspera e dura, mas que, se a levamos com amor, converte-se em fonte de purificação e de Vida, e também de alegria. O amor à Cruz produz abundantes frutos na alma. Em primeiro lugar, leva-nos a descobrir Jesus, que sai ao nosso encontro e carrega sobre os seus ombros a parte mais pesada da contradição. A nossa dor, associada à do Mestre, deixa de ser o mal que entristece e arruína, e converte-se em meio de íntima união com Deus.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro