Arquidiocese do Rio de Janeiro

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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 10/05/2024

10 de Maio de 2024

Ele nos amou primeiro

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01/09/2019 00:00

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01/09/2019 00:00

Estamos iniciando o mês de setembro, mês em que dedicaremos em toda a Igreja uma atenção especial à Palavra de Deus que se encontra presente nas Escrituras. A motivação cronológica vem pelo dia de São Jerônimo, que comemoramos no dia 30 de setembro. São Jerônimo é doutor da Igreja e conhecido pela tradução que fez da Sagrada Escritura para o latim a partir dos originais, versão chamada de Vulgata e pelos inúmeros comentários que fez aos livros sagrados, tendo sua vida dedicada ao conhecimento e à reflexão sobre a Bíblia. Desde o ano de 1971 que a CNBB propõe um tema e um lema para animar este mês dedicado à reflexão sobre a Bíblia, que neste ano é: “Para que N´Ele nossos povos tenham vida”, um tema que se repete nestes últimos anos ligado à V Conferência do Episcopado latino Americano. A cada ano é também recomendado um livro em específico para que aprofundemos seu conhecimento exegético e conteúdo espiritual. Neste ano aprofundaremos a 1ª Carta de João e o lema vem exatamente ligado à esta carta: Nós amamos porque Ele primeiro nos amou (1 Jo 4, 19). 

Desta forma vamos vivenciando de maneira mais adequada este tempo importante da nossa caminhada, onde juntamente com a Liturgia da Igreja, os meses temáticos nos ajudam em nossas pequenas comunidades, círculos bíblicos, demais grupos e em nossa formação cristã a aprofundar os mistérios da fé.

Também no mês de setembro, dos dias 5 ao 8, o 4º Congresso Vocacional do Brasil, que será realizado no santuário Nacional de Aparecida, tendo como tema Vocação e Discernimento e como lema: Mostra-me, Senhor, os teus caminhos (Sal 25,4). Somos chamados a intensificar nosso discernimento vocacional e sustentar todos os nosso vocacionados com o devido cuidado material e espiritual, levando em conta o tema da vocação no geral, enquanto realidade pertencente a todo o cristão, e identificar a que somos chamados e a quais lugares o Senhor nos chama. Peçamos ao Senhor de mostrar seus caminhos para nós!

Neste início do mês da Bíblia, a Palavra de Deus que vai nos ser dirigida na Liturgia deste 22ª Domingo do tempo Comum, vai nos apresentar a questão da nossa realidade, quem somos nós, a gratuidade do amor de Deus para conosco e como vivenciamos esta gratuidade, sem nos vangloriarmos de ser mais do que os outros ou ser mais do que ninguém. A Palavra nos chama a vivermos cada vez mais conscientes de nossa pequenez, de nossa fragilidade e não procurar colocar-se acima dos outros.

A leitura do Evangelho de Lucas (Lc 14, 1. 7-14), nos diz: Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares.

No contexto da refeição a que Jesus foi convidado é que Ele encontra motivo para vários ensinamentos. Jesus começa apresentando um ensinamento sobre a humildade. Observamos que alguns se aproveitavam da situação para se promover por se achar um mais importante que o outro. Infelizmente este é um gesto muito comum, que começa a ser melhor percebido quando observamos se uma pessoa se coloca a serviço dos outros ou quer servir-se dos outros. Mesmo o contexto do dia a dia, percebemos com tristeza as tantas situações aquelas situações ou aquelas pessoas que estão continuamente buscando tirar proveito do outro. São os pequenos gestos do dia a dia que demonstram nossos egoísmos, nossos vãos interesses, nossas maneiras de pensar e de ser, que demonstram como é importante a nossa vida de conversão e de busca da vontade de Deus. Jesus observa e é observado. Vendo esta questão de algumas pessoas que não se preocupavam com as outras, mas somente consigo mesmas e querendo estar acima dos outros, conta-lhes uma estória, uma parábola: 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: 'Dá o lugar a ele'. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: 'Amigo, vem mais para cima'. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado.'

Jesus vai nos lembrar exatamente isso: que não nos vangloriemos de ser melhores do que ninguém, mas que não nos esqueçamos de que estamos a serviço, procuramos o bem do outro e nos colocamos no último lugar. No serviço do reino, nossa maior recompensa não é o olhar dos homens ou o reconhecimento dos homens, mas a graça de ser considerado digno de ser operário do Reino, simples e humildes trabalhadores na Vinha do Senhor, como nos recordou isso Bento XVI, em suas primeiras palavras logo após a sua escolha. Nessas ações identificamos as verdadeiras intenções presentes no coração das pessoas. Santa Teresa do Menino Jesus, tratando sobre esta realidade, assim dizia: “Quero sempre o último lugar, pois sei que ninguém vai brigar comigo por causa dele e alui serei tratada por aquilo que de verdade sou”.

E Jesus ainda continua: E disse também a quem o tinha convidado:
'Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz!

Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos.'
Jesus continua seus ensinamentos utilizando a imagem do banquete. Agora já não fala da postura do convidado, mas daquele que convida, mostrando assim que a humildade deve se completar com a prática da caridade. Ao fazermos qualquer ação devemos também deixar de lado todo desejo de vanglória e de recompensa humana, olhando primeiramente para Deus, de quem recebemos tudo o que temos. Assim nos recordava S. Gregório Nazianzeno: “Quem te deu as chuvas, a agricultura, os alimentos, as artes, as casas, as leis, a sociedade, uma vida grata e humana, assim como a amizade e familiaridade com aqueles com que te unes com um verdadeiro parentesco? Não é Deus, o mesmo que agora solicita sua benignidade sobre todas as coisas e no lugar de todas elas? Não deveríamos nos envergonhar de que tantos bens recebemos ou esperamos do Senhor e nem sequer lhe retribuímos com nossa generosidade? Se Ele, que é Deus e Senhor, não nega seus benefícios, quem seríamos nós de não nos colocarmos a serviço dos irmãos?”

A ação em favor do próximo deve ser reflexo da generosidade do amor de Deus para conosco. Esse é o próprio da caridade cristã. Nossa ação não deve ser uma ação baseada no interesse do retorno que ela possa ter. Não esperemos recompensa nem mesmo agradecimento. Façamos o que tiver de ser feito diante de Deus e isso nos basta. Há tantas pessoas que se colocam em “crise” pelas vezes em que não foram reconhecidas por suas ações. Nossa recompensa é Deus. São maneiras de ser e de comportar-se que devem fazer parte do cotidiano do cristão e que nos são apresentadas ao início do mês da Bíblia e já nos preparando para o congresso vocacional nacional. Cabe a cada um de nós viver nossa vocação à santidade, pedir que o Senhor nos mostre seus caminhos e que não nos vangloriemos nem nos coloquemos acima de ninguém, mas sempre numa atitude ser viço, lembrando que Cristo não veio para ser servido, mas para servir. Façamos o bem sem interesse de retribuição.

Na primeira leitura (Eclo 3, 19-21.30-31), a sabedoria contida no livro do Eclesiástico, vai lembrara exatamente os detalhes do agir cristão no meio do mundo: Filho, realiza teus trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso. Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que ele revela seus mistérios.
Temos funções, trabalhos, tarefas dentro da Igreja. Mas sabemos que todas essas ações devem ter em vista o serviço, aprender a servir, não numa atitude de superioridade a ninguém.

Pois grande é o poder do Senhor, mas ele é glorificado pelos humildes. Para o mal do orgulhoso não existe remédio, pois uma planta de pecado está enraizada nele, e ele não compreende. O homem inteligente reflete sobre as palavras dos sábios, e com ouvido atento deseja a sabedoria.

O Eclesiástico vai apresentar uma virtude que é fundamental para aquele que ama e que busca a sabedoria: a humildade para reconhecer as próprias necessidades e estar disposto a crescer em conhecimento. O contexto em que o Eclesiástico foi escrito, muitos homens de fé ficaram deslumbrados com os conhecimentos da filosofia grega e novos conhecimentos, a tal ponto de alguns abandonarem a Lei de Deus e o ensinamento tradicional de Israel para seguir aos mestres estrangeiros. O orgulho da razão, que se considerava capaz de encontrar respostas para tudo, os impedia de acolher com simplicidade as verdades que Deus tinha deixado acessível a quem o buscava sinceramente. Faz parte da tradição do Antigo Testamento e de toda a Sagrada Escritura apontar continuamente que Deus resiste aos soberbos mas dá sua graça aos humildes.

A segunda leitura, a carta aos Hebreus (Hb 12,18-19.22-24) vem apresentando os frutos de uma aproximação a Jesus: Irmãos: Vós não vos aproximastes de uma realidade palpável: 'fogo ardente e escuridão, trevas e tempestade, som da trombeta e voz poderosa', que os ouvintes suplicaram não continuasse. Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus; de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição; de Jesus, mediador da nova aliança.

A carta vai nos lembrar que o encontro com Deus nos leva necessariamente ao encontro com os irmãos. Qualquer que seja nossa vocação ou nossa missão nesta terra, ela deve existir para servir.

Que a partir desta palavra examinemos nossas consciências, nossos comportamentos e os pequenos gestos do dia a dia. Que o cuidado com o outro possa sempre se traduzir em gestos simples e acessíveis no dia a dia. Que tomemos também cuidado com os lugares em que nos colocamos, sem humilhar ninguém, sem querer tirar proveito de nenhuma situação. Que o contato com a Palavra de Deus favoreça nosso exame de consciência e que nossa conversão contínua nos faça cada vez mais acolhedores e dispensadores da generosidade divina.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
 
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Estamos iniciando o mês de setembro, mês em que dedicaremos em toda a Igreja uma atenção especial à Palavra de Deus que se encontra presente nas Escrituras. A motivação cronológica vem pelo dia de São Jerônimo, que comemoramos no dia 30 de setembro. São Jerônimo é doutor da Igreja e conhecido pela tradução que fez da Sagrada Escritura para o latim a partir dos originais, versão chamada de Vulgata e pelos inúmeros comentários que fez aos livros sagrados, tendo sua vida dedicada ao conhecimento e à reflexão sobre a Bíblia. Desde o ano de 1971 que a CNBB propõe um tema e um lema para animar este mês dedicado à reflexão sobre a Bíblia, que neste ano é: “Para que N´Ele nossos povos tenham vida”, um tema que se repete nestes últimos anos ligado à V Conferência do Episcopado latino Americano. A cada ano é também recomendado um livro em específico para que aprofundemos seu conhecimento exegético e conteúdo espiritual. Neste ano aprofundaremos a 1ª Carta de João e o lema vem exatamente ligado à esta carta: Nós amamos porque Ele primeiro nos amou (1 Jo 4, 19). 

Desta forma vamos vivenciando de maneira mais adequada este tempo importante da nossa caminhada, onde juntamente com a Liturgia da Igreja, os meses temáticos nos ajudam em nossas pequenas comunidades, círculos bíblicos, demais grupos e em nossa formação cristã a aprofundar os mistérios da fé.

Também no mês de setembro, dos dias 5 ao 8, o 4º Congresso Vocacional do Brasil, que será realizado no santuário Nacional de Aparecida, tendo como tema Vocação e Discernimento e como lema: Mostra-me, Senhor, os teus caminhos (Sal 25,4). Somos chamados a intensificar nosso discernimento vocacional e sustentar todos os nosso vocacionados com o devido cuidado material e espiritual, levando em conta o tema da vocação no geral, enquanto realidade pertencente a todo o cristão, e identificar a que somos chamados e a quais lugares o Senhor nos chama. Peçamos ao Senhor de mostrar seus caminhos para nós!

Neste início do mês da Bíblia, a Palavra de Deus que vai nos ser dirigida na Liturgia deste 22ª Domingo do tempo Comum, vai nos apresentar a questão da nossa realidade, quem somos nós, a gratuidade do amor de Deus para conosco e como vivenciamos esta gratuidade, sem nos vangloriarmos de ser mais do que os outros ou ser mais do que ninguém. A Palavra nos chama a vivermos cada vez mais conscientes de nossa pequenez, de nossa fragilidade e não procurar colocar-se acima dos outros.

A leitura do Evangelho de Lucas (Lc 14, 1. 7-14), nos diz: Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares.

No contexto da refeição a que Jesus foi convidado é que Ele encontra motivo para vários ensinamentos. Jesus começa apresentando um ensinamento sobre a humildade. Observamos que alguns se aproveitavam da situação para se promover por se achar um mais importante que o outro. Infelizmente este é um gesto muito comum, que começa a ser melhor percebido quando observamos se uma pessoa se coloca a serviço dos outros ou quer servir-se dos outros. Mesmo o contexto do dia a dia, percebemos com tristeza as tantas situações aquelas situações ou aquelas pessoas que estão continuamente buscando tirar proveito do outro. São os pequenos gestos do dia a dia que demonstram nossos egoísmos, nossos vãos interesses, nossas maneiras de pensar e de ser, que demonstram como é importante a nossa vida de conversão e de busca da vontade de Deus. Jesus observa e é observado. Vendo esta questão de algumas pessoas que não se preocupavam com as outras, mas somente consigo mesmas e querendo estar acima dos outros, conta-lhes uma estória, uma parábola: 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: 'Dá o lugar a ele'. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: 'Amigo, vem mais para cima'. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado.'

Jesus vai nos lembrar exatamente isso: que não nos vangloriemos de ser melhores do que ninguém, mas que não nos esqueçamos de que estamos a serviço, procuramos o bem do outro e nos colocamos no último lugar. No serviço do reino, nossa maior recompensa não é o olhar dos homens ou o reconhecimento dos homens, mas a graça de ser considerado digno de ser operário do Reino, simples e humildes trabalhadores na Vinha do Senhor, como nos recordou isso Bento XVI, em suas primeiras palavras logo após a sua escolha. Nessas ações identificamos as verdadeiras intenções presentes no coração das pessoas. Santa Teresa do Menino Jesus, tratando sobre esta realidade, assim dizia: “Quero sempre o último lugar, pois sei que ninguém vai brigar comigo por causa dele e alui serei tratada por aquilo que de verdade sou”.

E Jesus ainda continua: E disse também a quem o tinha convidado:
'Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz!

Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos.'
Jesus continua seus ensinamentos utilizando a imagem do banquete. Agora já não fala da postura do convidado, mas daquele que convida, mostrando assim que a humildade deve se completar com a prática da caridade. Ao fazermos qualquer ação devemos também deixar de lado todo desejo de vanglória e de recompensa humana, olhando primeiramente para Deus, de quem recebemos tudo o que temos. Assim nos recordava S. Gregório Nazianzeno: “Quem te deu as chuvas, a agricultura, os alimentos, as artes, as casas, as leis, a sociedade, uma vida grata e humana, assim como a amizade e familiaridade com aqueles com que te unes com um verdadeiro parentesco? Não é Deus, o mesmo que agora solicita sua benignidade sobre todas as coisas e no lugar de todas elas? Não deveríamos nos envergonhar de que tantos bens recebemos ou esperamos do Senhor e nem sequer lhe retribuímos com nossa generosidade? Se Ele, que é Deus e Senhor, não nega seus benefícios, quem seríamos nós de não nos colocarmos a serviço dos irmãos?”

A ação em favor do próximo deve ser reflexo da generosidade do amor de Deus para conosco. Esse é o próprio da caridade cristã. Nossa ação não deve ser uma ação baseada no interesse do retorno que ela possa ter. Não esperemos recompensa nem mesmo agradecimento. Façamos o que tiver de ser feito diante de Deus e isso nos basta. Há tantas pessoas que se colocam em “crise” pelas vezes em que não foram reconhecidas por suas ações. Nossa recompensa é Deus. São maneiras de ser e de comportar-se que devem fazer parte do cotidiano do cristão e que nos são apresentadas ao início do mês da Bíblia e já nos preparando para o congresso vocacional nacional. Cabe a cada um de nós viver nossa vocação à santidade, pedir que o Senhor nos mostre seus caminhos e que não nos vangloriemos nem nos coloquemos acima de ninguém, mas sempre numa atitude ser viço, lembrando que Cristo não veio para ser servido, mas para servir. Façamos o bem sem interesse de retribuição.

Na primeira leitura (Eclo 3, 19-21.30-31), a sabedoria contida no livro do Eclesiástico, vai lembrara exatamente os detalhes do agir cristão no meio do mundo: Filho, realiza teus trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso. Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que ele revela seus mistérios.
Temos funções, trabalhos, tarefas dentro da Igreja. Mas sabemos que todas essas ações devem ter em vista o serviço, aprender a servir, não numa atitude de superioridade a ninguém.

Pois grande é o poder do Senhor, mas ele é glorificado pelos humildes. Para o mal do orgulhoso não existe remédio, pois uma planta de pecado está enraizada nele, e ele não compreende. O homem inteligente reflete sobre as palavras dos sábios, e com ouvido atento deseja a sabedoria.

O Eclesiástico vai apresentar uma virtude que é fundamental para aquele que ama e que busca a sabedoria: a humildade para reconhecer as próprias necessidades e estar disposto a crescer em conhecimento. O contexto em que o Eclesiástico foi escrito, muitos homens de fé ficaram deslumbrados com os conhecimentos da filosofia grega e novos conhecimentos, a tal ponto de alguns abandonarem a Lei de Deus e o ensinamento tradicional de Israel para seguir aos mestres estrangeiros. O orgulho da razão, que se considerava capaz de encontrar respostas para tudo, os impedia de acolher com simplicidade as verdades que Deus tinha deixado acessível a quem o buscava sinceramente. Faz parte da tradição do Antigo Testamento e de toda a Sagrada Escritura apontar continuamente que Deus resiste aos soberbos mas dá sua graça aos humildes.

A segunda leitura, a carta aos Hebreus (Hb 12,18-19.22-24) vem apresentando os frutos de uma aproximação a Jesus: Irmãos: Vós não vos aproximastes de uma realidade palpável: 'fogo ardente e escuridão, trevas e tempestade, som da trombeta e voz poderosa', que os ouvintes suplicaram não continuasse. Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus; de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição; de Jesus, mediador da nova aliança.

A carta vai nos lembrar que o encontro com Deus nos leva necessariamente ao encontro com os irmãos. Qualquer que seja nossa vocação ou nossa missão nesta terra, ela deve existir para servir.

Que a partir desta palavra examinemos nossas consciências, nossos comportamentos e os pequenos gestos do dia a dia. Que o cuidado com o outro possa sempre se traduzir em gestos simples e acessíveis no dia a dia. Que tomemos também cuidado com os lugares em que nos colocamos, sem humilhar ninguém, sem querer tirar proveito de nenhuma situação. Que o contato com a Palavra de Deus favoreça nosso exame de consciência e que nossa conversão contínua nos faça cada vez mais acolhedores e dispensadores da generosidade divina.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
 
Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro