Arquidiocese do Rio de Janeiro

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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 10/05/2024

10 de Maio de 2024

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21/07/2019 00:00 - Atualizado em 22/07/2019 15:48

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21/07/2019 00:00 - Atualizado em 22/07/2019 15:48

A liturgia deste 16º Domingo do Tempo Comum é marcada pela reflexão sobre a realidade do acolhimento. O acolhimento do outro é reflexo do acolhimento que fazemos do próprio Cristo. O acolher faz com que as coisas aconteçam e se renovem cada dia mais. Não renove somente nossas vidas, mas renove também todo o mundo e todas as circunstâncias ao nosso redor.

Há, ao nosso redor, muitas técnicas de acolhimento que são ensinadas. Há empresas que oferecem a altos preços técnicas para isso. No caso dos cristãos, não nos referimos a isso. Nós nos referimos à capacidade de poder ver Cristo na presença do outro que vem até nós. Poder fazer isso de coração aberto não por uma motivação profissional, mas por vivenciar a fraternidade. Assim como Jesus que acolhia a todos e era julgado e criticado, também nós o somos e seremos, sendo acusados de preferir umas mais que outras, sendo julgados por acolher gente de “má vida”. Mas a Palavra de Deus é muito clara em suas considerações sobre esse assunto.

Acolher o outro é algo que vem do encontro com o Senhor. Quanto mais acolhemos o Senhor em nossas vidas, mais saberemos acolher também a vida do outro. Uma grande dificuldade que se apresenta hoje em uma sociedade individualista, padronizada e padronizante, é acolher o outro em suas necessidades, em sua singularidade e em sua integridade. Nossos espaços paroquiais, nossas secretarias, são muitas vezes marcadas pela frieza e pela burocratização em relação ao que vem, ao novo que se aproxima.

O Evangelho deste domingo nos recorda (Lc 10, 38-42): Naquele tempo: Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: 'Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!' O Senhor, porém, lhe respondeu: 'Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.' Por muito tempo, a passagem de Marta e Maria foi vista como referência da vida contemplativa (Maria) e da vida ativa (Marta). Na verdade, em todas as vidas nós temos as marcas de Marta e Maria. Na vida do missionário é necessário agir como Maria: parar, escutar, colocar-se aos pés do Senhor, como a vida do contemplativo deve também se traduzir em obras. A grande questão, que poderia até se tornar um problema, é quando essas realidades complementares não combinam dentro de nós: quando esquecemos de fazer o bem, de acolher bem as pessoas, ou às vezes não acolhemos por estar imerso em nossos trabalhos ou imersos demais em nós mesmos. O equilíbrio entre Marta e Maria mostra essa necessidade de ser aqueles que tem iniciativa e preparam as coisas, como também ser aqueles que param para escutar e se colocam atentos para acolher interiormente.

O Evangelho nos fala em várias ocasiões desses três irmãos: Lázaro, Maria e Marta, com quem Jesus tinha contato de amizade. As palavras de Jesus não se apresentam tanto como uma reprovação à atitude de Marta, mas sim um elogio da atitude de Maria, que escuta a palavra do Senhor, segundo comenta S. Agostinho: “Uma se agitava, outra se alimentava. Uma fazia muitas coisas. Outra estava atenta em fazer somente uma. As duas ocupações eram boas.” Alguns autores identificaram em Marta o símbolo da vida da terra e Maria a vida do céu. Outras vezes consideraram Marta como símbolo da vida ativa e Maria da contemplativa. Na Igreja, há diversas vocações, mas ação e contemplação devem estar presentes em toda a vida cristã. Cada cristão batizado está chamado a alcançar uma unidade de vida em que contato com Deus e fidelidade à vocação e missão se harmonizam. Uma vida ativa que se esquece da união com Deus acaba sendo estéril. Uma vida que pode ser chamada de oração, mas que deixe de lado a missão também deve ser completada. O segredo está em saber unir as duas vidas. Essa união profunda entre ação e contemplação pode ser vivida de diversas formas, segundo a vocação concreta que cada um recebe de Deus. O cristão, seguindo este ensinamento do Senhor, deve se esforçar em alcançar esta unidade de vida: vida de intensa piedade e ação orientada para Deus, feita por amor e com retidão de intensão, que se manifestará na missão, nos deveres profissionais e na santificação da vida do dia a dia.

Devemos examinar nossas vidas a cada dia e constatar se deixamos ou não um tempo para escutar o Senhor e de preparação para acolher Jesus no outro. Isso faz toda a diferença onde exercemos nossas relações sociais: nossas casas, nossos escritórios, nossos ambientes de trabalho e lazer, nossas secretarias paroquiais e etc. Quanto mais escutamos o Senhor mais estaremos aptos para acolher a pessoa e a integridade do outro. Acolher o Senhor e saber-se acolhido por Ele faz toda a diferença em nosso modo de agir em meio aos homens: Assim como o Senhor nos acolhe como somos, de maneira íntegra, somos chamados a acolher o outro como ele é, não fazendo do outro uma projeção de nossas realidades internas, mas aceitando-o em sua singularidade.

A leitura do Gênesis, que será proclamada como primeira leitura desse 16º domingo (Gn 18, 1-10ª) fala de um belo episódio, que coloca em evidência esta atitude de acolhida do Senhor que vem a nós na simplicidade da vida cotidiana: “Naqueles dias: O Senhor apareceu a Abraão junto ao carvalho de Mambré, quando ele estava sentado à entrada da sua tenda, no maior calor do dia. Levantando os olhos, Abraão viu três homens de pé, perto dele. Assim que os viu, correu ao seu encontro e prostrou-se por terra. E disse: 'Meu Senhor, se ganhei tua amizade, peço-te que não prossigas viagem, sem parar junto a mim, teu servo”. (Gen 18, 1-3). Não passes sem te deteres, Senhor! “Eu tenho medo do Cristo que passa sem que eu o perceba”, já nos recordava Santo Agostinho. Passe em minha vida, Senhor e fica comigo! Sabemos quando acontece isso e de que maneira o Senhor passa em nossa vida. Estejamos sempre preparados para acolher o Senhor que passa. Mandarei trazer um pouco de água para vos lavar os pés, e descansareis debaixo da árvore. Farei servir um pouco de pão para refazerdes vossas forças, antes de continuar a viagem. Pois foi para isso mesmo que vos aproximastes do vosso servo'. Eles responderam: 'Faze como disseste'. Abraão entrou logo na tenda, onde estava Sara e lhe disse: 'Toma depressa três medidas da mais fina farinha, amassa alguns pães e assa-os'. Depois, Abraão correu até o rebanho, pegou um bezerro dos mais tenros e melhores, e deu-o a um criado, para que o preparasse sem demora. A seguir, foi buscar coalhada, leite e o bezerro assado, e pôs tudo diante deles. Abraão, porém, permaneceu de pé, junto deles, debaixo da árvore, enquanto comiam. E eles lhe perguntaram: 'Onde está Sara, tua mulher?' - 'Está na tenda', respondeu ele. E um deles disse: 'Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho' (Gn 18, 4-10a). Contemplamos o estabelecimento da grande promessa feita a Abraão. Ele não podia imaginar que dessa passagem por sua tenda, receberia essa profecia que mudaria sua vida e marcaria essencialmente a história do povo de Israel. Não sabemos como as coisas acontecem. Por isso, o importante é fazermos bem todas as coisas e estarmos atentos para acolher o Senhor que passa em nossas vidas nas formas e nos momentos mais inesperados, através de pessoas, momentos e acontecimentos. O acolhimento do outro surpreende e faz maravilhas.

A resposta do Salmo é uma oração de súplica: Senhor, quem morará em vossa casa? É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente; que pensa a verdade no seu íntimo e não solta em calúnias sua língua. Que em nada prejudica o seu irmão, nem cobre de insultos seu vizinho; que não dá valor algum ao homem ímpio, mas honra os que respeitam o Senhor (Sal 14/15).

Acolher o outro, acolher Jesus, tendo tempo de escutá-lo e preparar essa acolhida. Acolher o outro como Abraão acolheu o Senhor na entrada de sua tenda, recebendo o anúncio da profecia que lhe havia sido dada no passado.

A segunda leitura nos anuncia (Cl 1, 24-28): “Nós O anunciamos, admoestando a todos e ensinando a todos, com toda sabedoria, para a todos tornar perfeitos em sua união com Cristo” (Cl 1, 28). O apóstolo vem anunciando já a perspectiva de uma união com Cristo, união esta que vai renovando a nossa própria vida. Vai ainda nos lembrar nesta carta: “Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos. A estes Deus quis manifestar como é rico e glorioso entre as nações este mistério: a presença de Cristo em vós, a esperança da glória. Nós o anunciamos, admoestando a todos e ensinando a todos, com toda sabedoria, para a todos tornar perfeitos em sua união com Cristo.” Anunciar, proclamar, é também acolher bem. Acolher este mistério de estar com o Senhor, de preparar-se para o Senhor, recebendo e tornando atual a salvação que o Senhor nos conquistou com sua morte e ressurreição.

Como é que acolhemos o outro? Como acolhemos o Cristo no outro? Como acolhemos Cristo que vem a nós? Eis aí uma necessidade de aprofundar esse chamado do Senhor a estarmos sempre atentos para sermos um Igreja acolhedora, que não acolhe somente aqueles que vem a ela, mas também aquela que vai ao encontro de todas as pessoas, ali onde elas se encontram, ali onde sofrem em passam por tribulações e dificuldades.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
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21/07/2019 00:00 - Atualizado em 22/07/2019 15:48

A liturgia deste 16º Domingo do Tempo Comum é marcada pela reflexão sobre a realidade do acolhimento. O acolhimento do outro é reflexo do acolhimento que fazemos do próprio Cristo. O acolher faz com que as coisas aconteçam e se renovem cada dia mais. Não renove somente nossas vidas, mas renove também todo o mundo e todas as circunstâncias ao nosso redor.

Há, ao nosso redor, muitas técnicas de acolhimento que são ensinadas. Há empresas que oferecem a altos preços técnicas para isso. No caso dos cristãos, não nos referimos a isso. Nós nos referimos à capacidade de poder ver Cristo na presença do outro que vem até nós. Poder fazer isso de coração aberto não por uma motivação profissional, mas por vivenciar a fraternidade. Assim como Jesus que acolhia a todos e era julgado e criticado, também nós o somos e seremos, sendo acusados de preferir umas mais que outras, sendo julgados por acolher gente de “má vida”. Mas a Palavra de Deus é muito clara em suas considerações sobre esse assunto.

Acolher o outro é algo que vem do encontro com o Senhor. Quanto mais acolhemos o Senhor em nossas vidas, mais saberemos acolher também a vida do outro. Uma grande dificuldade que se apresenta hoje em uma sociedade individualista, padronizada e padronizante, é acolher o outro em suas necessidades, em sua singularidade e em sua integridade. Nossos espaços paroquiais, nossas secretarias, são muitas vezes marcadas pela frieza e pela burocratização em relação ao que vem, ao novo que se aproxima.

O Evangelho deste domingo nos recorda (Lc 10, 38-42): Naquele tempo: Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: 'Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!' O Senhor, porém, lhe respondeu: 'Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.' Por muito tempo, a passagem de Marta e Maria foi vista como referência da vida contemplativa (Maria) e da vida ativa (Marta). Na verdade, em todas as vidas nós temos as marcas de Marta e Maria. Na vida do missionário é necessário agir como Maria: parar, escutar, colocar-se aos pés do Senhor, como a vida do contemplativo deve também se traduzir em obras. A grande questão, que poderia até se tornar um problema, é quando essas realidades complementares não combinam dentro de nós: quando esquecemos de fazer o bem, de acolher bem as pessoas, ou às vezes não acolhemos por estar imerso em nossos trabalhos ou imersos demais em nós mesmos. O equilíbrio entre Marta e Maria mostra essa necessidade de ser aqueles que tem iniciativa e preparam as coisas, como também ser aqueles que param para escutar e se colocam atentos para acolher interiormente.

O Evangelho nos fala em várias ocasiões desses três irmãos: Lázaro, Maria e Marta, com quem Jesus tinha contato de amizade. As palavras de Jesus não se apresentam tanto como uma reprovação à atitude de Marta, mas sim um elogio da atitude de Maria, que escuta a palavra do Senhor, segundo comenta S. Agostinho: “Uma se agitava, outra se alimentava. Uma fazia muitas coisas. Outra estava atenta em fazer somente uma. As duas ocupações eram boas.” Alguns autores identificaram em Marta o símbolo da vida da terra e Maria a vida do céu. Outras vezes consideraram Marta como símbolo da vida ativa e Maria da contemplativa. Na Igreja, há diversas vocações, mas ação e contemplação devem estar presentes em toda a vida cristã. Cada cristão batizado está chamado a alcançar uma unidade de vida em que contato com Deus e fidelidade à vocação e missão se harmonizam. Uma vida ativa que se esquece da união com Deus acaba sendo estéril. Uma vida que pode ser chamada de oração, mas que deixe de lado a missão também deve ser completada. O segredo está em saber unir as duas vidas. Essa união profunda entre ação e contemplação pode ser vivida de diversas formas, segundo a vocação concreta que cada um recebe de Deus. O cristão, seguindo este ensinamento do Senhor, deve se esforçar em alcançar esta unidade de vida: vida de intensa piedade e ação orientada para Deus, feita por amor e com retidão de intensão, que se manifestará na missão, nos deveres profissionais e na santificação da vida do dia a dia.

Devemos examinar nossas vidas a cada dia e constatar se deixamos ou não um tempo para escutar o Senhor e de preparação para acolher Jesus no outro. Isso faz toda a diferença onde exercemos nossas relações sociais: nossas casas, nossos escritórios, nossos ambientes de trabalho e lazer, nossas secretarias paroquiais e etc. Quanto mais escutamos o Senhor mais estaremos aptos para acolher a pessoa e a integridade do outro. Acolher o Senhor e saber-se acolhido por Ele faz toda a diferença em nosso modo de agir em meio aos homens: Assim como o Senhor nos acolhe como somos, de maneira íntegra, somos chamados a acolher o outro como ele é, não fazendo do outro uma projeção de nossas realidades internas, mas aceitando-o em sua singularidade.

A leitura do Gênesis, que será proclamada como primeira leitura desse 16º domingo (Gn 18, 1-10ª) fala de um belo episódio, que coloca em evidência esta atitude de acolhida do Senhor que vem a nós na simplicidade da vida cotidiana: “Naqueles dias: O Senhor apareceu a Abraão junto ao carvalho de Mambré, quando ele estava sentado à entrada da sua tenda, no maior calor do dia. Levantando os olhos, Abraão viu três homens de pé, perto dele. Assim que os viu, correu ao seu encontro e prostrou-se por terra. E disse: 'Meu Senhor, se ganhei tua amizade, peço-te que não prossigas viagem, sem parar junto a mim, teu servo”. (Gen 18, 1-3). Não passes sem te deteres, Senhor! “Eu tenho medo do Cristo que passa sem que eu o perceba”, já nos recordava Santo Agostinho. Passe em minha vida, Senhor e fica comigo! Sabemos quando acontece isso e de que maneira o Senhor passa em nossa vida. Estejamos sempre preparados para acolher o Senhor que passa. Mandarei trazer um pouco de água para vos lavar os pés, e descansareis debaixo da árvore. Farei servir um pouco de pão para refazerdes vossas forças, antes de continuar a viagem. Pois foi para isso mesmo que vos aproximastes do vosso servo'. Eles responderam: 'Faze como disseste'. Abraão entrou logo na tenda, onde estava Sara e lhe disse: 'Toma depressa três medidas da mais fina farinha, amassa alguns pães e assa-os'. Depois, Abraão correu até o rebanho, pegou um bezerro dos mais tenros e melhores, e deu-o a um criado, para que o preparasse sem demora. A seguir, foi buscar coalhada, leite e o bezerro assado, e pôs tudo diante deles. Abraão, porém, permaneceu de pé, junto deles, debaixo da árvore, enquanto comiam. E eles lhe perguntaram: 'Onde está Sara, tua mulher?' - 'Está na tenda', respondeu ele. E um deles disse: 'Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho' (Gn 18, 4-10a). Contemplamos o estabelecimento da grande promessa feita a Abraão. Ele não podia imaginar que dessa passagem por sua tenda, receberia essa profecia que mudaria sua vida e marcaria essencialmente a história do povo de Israel. Não sabemos como as coisas acontecem. Por isso, o importante é fazermos bem todas as coisas e estarmos atentos para acolher o Senhor que passa em nossas vidas nas formas e nos momentos mais inesperados, através de pessoas, momentos e acontecimentos. O acolhimento do outro surpreende e faz maravilhas.

A resposta do Salmo é uma oração de súplica: Senhor, quem morará em vossa casa? É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente; que pensa a verdade no seu íntimo e não solta em calúnias sua língua. Que em nada prejudica o seu irmão, nem cobre de insultos seu vizinho; que não dá valor algum ao homem ímpio, mas honra os que respeitam o Senhor (Sal 14/15).

Acolher o outro, acolher Jesus, tendo tempo de escutá-lo e preparar essa acolhida. Acolher o outro como Abraão acolheu o Senhor na entrada de sua tenda, recebendo o anúncio da profecia que lhe havia sido dada no passado.

A segunda leitura nos anuncia (Cl 1, 24-28): “Nós O anunciamos, admoestando a todos e ensinando a todos, com toda sabedoria, para a todos tornar perfeitos em sua união com Cristo” (Cl 1, 28). O apóstolo vem anunciando já a perspectiva de uma união com Cristo, união esta que vai renovando a nossa própria vida. Vai ainda nos lembrar nesta carta: “Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos. A estes Deus quis manifestar como é rico e glorioso entre as nações este mistério: a presença de Cristo em vós, a esperança da glória. Nós o anunciamos, admoestando a todos e ensinando a todos, com toda sabedoria, para a todos tornar perfeitos em sua união com Cristo.” Anunciar, proclamar, é também acolher bem. Acolher este mistério de estar com o Senhor, de preparar-se para o Senhor, recebendo e tornando atual a salvação que o Senhor nos conquistou com sua morte e ressurreição.

Como é que acolhemos o outro? Como acolhemos o Cristo no outro? Como acolhemos Cristo que vem a nós? Eis aí uma necessidade de aprofundar esse chamado do Senhor a estarmos sempre atentos para sermos um Igreja acolhedora, que não acolhe somente aqueles que vem a ela, mas também aquela que vai ao encontro de todas as pessoas, ali onde elas se encontram, ali onde sofrem em passam por tribulações e dificuldades.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro