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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14/05/2024

14 de Maio de 2024

Livros do Antigo Testamento (76)

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Livros do Antigo Testamento (76)

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18/10/2018 12:28 - Atualizado em 18/10/2018 12:28

Livros do Antigo Testamento (76) 0

18/10/2018 12:28 - Atualizado em 18/10/2018 12:28

Neste artigo iniciaremos nossas reflexões sobre os Livros (2) dedicados a Samuel, o último juiz de Israel. Ele constitui a passagem da unidade frágil entre 12 tribos e a unidade sólida do Reinado de Davi.
 
1. Introdução

Na Bíblia hebraica, os livros de Samuel fazem parte dos chamados "profetas anteriores" (juntamente com Josué, juízes e reis).
A sua atribuição a Samuel talvez provenha de uma antiga tradição rabínica (Baba Bathra, 14b), baseada numa incorreta interpretação de 1 Cr 29,29:
Os feitos do rei Davi, dos primeiros aos últimos, estão relatados no livro de Samuel, o vidente, no livro do profeta Natã, e no livro de Gad, o vidente.
Na realidade, a presença de Samuel fica circunscrita à primeira parte do primeiro livro, sendo Saul e David os protagonistas do resto da obra.
Originariamente, os livros de Samuel eram uma só obra. A divisão em duas tem origem na versão grega dos Setenta (séc. III-II a.C.); e esta divisão terminou por impor-se, mesmo na Bíblia hebraica, a partir do séc. XV.

Os tradutores gregos uniram os dois livros de Samuel aos dos Reis (também divididos em dois) para formar os quatro "Livros dos Reis", correspondendo os dois primeiros a 1 e 2 Sm.

A tradução latina da Vulgata respeitou esta divisão em quatro livros e chamou-lhes "Livros dos Reis". E assim, na Vulgata, 1 e 2 Reis equivalem aos nossos 1 e 2 Samuel; 3 e 4 Reis equivalem aos nossos 1 e 2 Reis.
 
 
 
2. TEXTO

O texto hebraico massorético (TM) tem fama de ser difícil e, por outro lado, apresenta notáveis diferenças a respeito da versão dos Setenta. Propuseram-se várias hipóteses explicativas do fato. Muito provavelmente, o texto grego (Setenta) procede de outro texto original hebraico.
As descobertas de Qumrân (IV Q)[1] mostraram numerosos fragmentos hebraicos dos livros de Samuel que podem remontar aos sécs. III-II a.C. e apresentam um texto mais aproximado dos Setenta do que do TM.

 
2. Perspectiva Histórica
O seu horizonte é muito vasto: mergulha no período mais nebuloso do tempo dos juízes, e vai terminar numa época mais testemunhada documentalmente. Cobre a passagem do tempo dos juízes à monarquia, sendo talvez este o momento mais inseguro nas suas informações: coexistem cinco versões diferentes (1 Sm 8; 9; 10,16.20-24; 11,12-15).
No quadro geral, sobressaem informações pontuais de grande valor, não só histórico, mas também cultural (1 Sm 13,19-22) e topográfico (1 Sm 13; 17; 31).
Tudo isto faz desta obra uma das fontes mais fidedignas da História de Israel.
 
3. CONTEÚDO E DIVISÃO

Na estrutura dos livros de Samuel os cap. 1-12 apresentam claras afinidades com o Livro dos Juízes e os cap. 1-2 de 1 Rs parecem o prolongamento lógico de 2 Sm 9-20. A atual divisão interna corta o relato da morte de Saul (1 Sm 31; 2 Sm 1) e, sobretudo, a unidade mais ampla da "subida de David ao trono" (1 Sm 16; 2 Sm 5).

Apesar disso, a obra apresenta-se como uma unidade literária, histórica e teológica, ligada por três protagonistas: Samuel, Saul e David.
O seu conteúdo poderá ser dividido nas seguintes seções:

I. Infância de Samuel; a Arca e os filisteus: 1 Sm 1,1-7,17;
II. Realeza - Samuel e Saul: 1 Sm 8,1-15,35;
III. Subida de David ao trono: 1 Sm 16,1 a 2 Sm 5,25;
IV. David e a Arca; êxitos de David: 2 Sm 6,1-8,18;
V. Sucessão de David: 2 Sm 9,1-20,26; ver 1 Rs 1-2;
VI. Vários apêndices: 2 Sm 21,1-24,25.


[1] Qumran, Khirbet Qumran, “ruína da mancha cinzenta”, é um sítio arqueológico localizado na Cisjordania, a uma milha da margem noroeste do Mar Morto, a 12 km de Jericó e a cerca de 22 quilômetros a leste de Jerusalém. Situado na fissura do Mar Morto entre dois barrancos profundos, em uma área onde atividades tectônicas são frequentes e a precipitação média anual é muito baixa.  O meio ambiente atual é árduo e difícil para o cultivo; mas foi precisamente o clima árido e a inacessibilidade do local que contribuiu significativamente para preservação de estruturas e de materiais arqueológicos encontrados na região. Nessa região há aproximadamente 330 dias de sol por ano e praticamente não há precipitações. O ar é tão seco e quente que a água das evaporações é seca imediatamente no ar, criando uma névoa e resultando em um cheiro de enxofre.  Qumran tornou-se célebre em 1947 com a descoberta de manuscritos antigos que ficaram conhecidos como os Manuscritos do Mar Morto. Em 1947, os primeiros manuscritos foram encontrados em uma caverna às margens do Mar Morto por um jovem beduíno que cuidava de um rebanho de ovelhas. A notícia do achado espalhou-se rapidamente após a venda e aquisição dos primeiros manuscritos. De imediato a comunidade científica interessou-se pelo achado. A “École Biblique et Archéologique Française de Jerusalém” desenvolveu pesquisas em Qumran e arredores desde o final da década de 40 até 1956. O chefe da equipe, no período de 1951 a 1956 foi o frei francês Roland Guérin de Vaux (1899-1971). Aproximadamente 930 fragmentos de manuscritos hebraicos, aramaicos e gregos foram encontrados em onze cavernas em Qumran, datando de 250 a.C. ao século I da Era Cristã. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Qumran

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Livros do Antigo Testamento (76)

18/10/2018 12:28 - Atualizado em 18/10/2018 12:28

Neste artigo iniciaremos nossas reflexões sobre os Livros (2) dedicados a Samuel, o último juiz de Israel. Ele constitui a passagem da unidade frágil entre 12 tribos e a unidade sólida do Reinado de Davi.
 
1. Introdução

Na Bíblia hebraica, os livros de Samuel fazem parte dos chamados "profetas anteriores" (juntamente com Josué, juízes e reis).
A sua atribuição a Samuel talvez provenha de uma antiga tradição rabínica (Baba Bathra, 14b), baseada numa incorreta interpretação de 1 Cr 29,29:
Os feitos do rei Davi, dos primeiros aos últimos, estão relatados no livro de Samuel, o vidente, no livro do profeta Natã, e no livro de Gad, o vidente.
Na realidade, a presença de Samuel fica circunscrita à primeira parte do primeiro livro, sendo Saul e David os protagonistas do resto da obra.
Originariamente, os livros de Samuel eram uma só obra. A divisão em duas tem origem na versão grega dos Setenta (séc. III-II a.C.); e esta divisão terminou por impor-se, mesmo na Bíblia hebraica, a partir do séc. XV.

Os tradutores gregos uniram os dois livros de Samuel aos dos Reis (também divididos em dois) para formar os quatro "Livros dos Reis", correspondendo os dois primeiros a 1 e 2 Sm.

A tradução latina da Vulgata respeitou esta divisão em quatro livros e chamou-lhes "Livros dos Reis". E assim, na Vulgata, 1 e 2 Reis equivalem aos nossos 1 e 2 Samuel; 3 e 4 Reis equivalem aos nossos 1 e 2 Reis.
 
 
 
2. TEXTO

O texto hebraico massorético (TM) tem fama de ser difícil e, por outro lado, apresenta notáveis diferenças a respeito da versão dos Setenta. Propuseram-se várias hipóteses explicativas do fato. Muito provavelmente, o texto grego (Setenta) procede de outro texto original hebraico.
As descobertas de Qumrân (IV Q)[1] mostraram numerosos fragmentos hebraicos dos livros de Samuel que podem remontar aos sécs. III-II a.C. e apresentam um texto mais aproximado dos Setenta do que do TM.

 
2. Perspectiva Histórica
O seu horizonte é muito vasto: mergulha no período mais nebuloso do tempo dos juízes, e vai terminar numa época mais testemunhada documentalmente. Cobre a passagem do tempo dos juízes à monarquia, sendo talvez este o momento mais inseguro nas suas informações: coexistem cinco versões diferentes (1 Sm 8; 9; 10,16.20-24; 11,12-15).
No quadro geral, sobressaem informações pontuais de grande valor, não só histórico, mas também cultural (1 Sm 13,19-22) e topográfico (1 Sm 13; 17; 31).
Tudo isto faz desta obra uma das fontes mais fidedignas da História de Israel.
 
3. CONTEÚDO E DIVISÃO

Na estrutura dos livros de Samuel os cap. 1-12 apresentam claras afinidades com o Livro dos Juízes e os cap. 1-2 de 1 Rs parecem o prolongamento lógico de 2 Sm 9-20. A atual divisão interna corta o relato da morte de Saul (1 Sm 31; 2 Sm 1) e, sobretudo, a unidade mais ampla da "subida de David ao trono" (1 Sm 16; 2 Sm 5).

Apesar disso, a obra apresenta-se como uma unidade literária, histórica e teológica, ligada por três protagonistas: Samuel, Saul e David.
O seu conteúdo poderá ser dividido nas seguintes seções:

I. Infância de Samuel; a Arca e os filisteus: 1 Sm 1,1-7,17;
II. Realeza - Samuel e Saul: 1 Sm 8,1-15,35;
III. Subida de David ao trono: 1 Sm 16,1 a 2 Sm 5,25;
IV. David e a Arca; êxitos de David: 2 Sm 6,1-8,18;
V. Sucessão de David: 2 Sm 9,1-20,26; ver 1 Rs 1-2;
VI. Vários apêndices: 2 Sm 21,1-24,25.


[1] Qumran, Khirbet Qumran, “ruína da mancha cinzenta”, é um sítio arqueológico localizado na Cisjordania, a uma milha da margem noroeste do Mar Morto, a 12 km de Jericó e a cerca de 22 quilômetros a leste de Jerusalém. Situado na fissura do Mar Morto entre dois barrancos profundos, em uma área onde atividades tectônicas são frequentes e a precipitação média anual é muito baixa.  O meio ambiente atual é árduo e difícil para o cultivo; mas foi precisamente o clima árido e a inacessibilidade do local que contribuiu significativamente para preservação de estruturas e de materiais arqueológicos encontrados na região. Nessa região há aproximadamente 330 dias de sol por ano e praticamente não há precipitações. O ar é tão seco e quente que a água das evaporações é seca imediatamente no ar, criando uma névoa e resultando em um cheiro de enxofre.  Qumran tornou-se célebre em 1947 com a descoberta de manuscritos antigos que ficaram conhecidos como os Manuscritos do Mar Morto. Em 1947, os primeiros manuscritos foram encontrados em uma caverna às margens do Mar Morto por um jovem beduíno que cuidava de um rebanho de ovelhas. A notícia do achado espalhou-se rapidamente após a venda e aquisição dos primeiros manuscritos. De imediato a comunidade científica interessou-se pelo achado. A “École Biblique et Archéologique Française de Jerusalém” desenvolveu pesquisas em Qumran e arredores desde o final da década de 40 até 1956. O chefe da equipe, no período de 1951 a 1956 foi o frei francês Roland Guérin de Vaux (1899-1971). Aproximadamente 930 fragmentos de manuscritos hebraicos, aramaicos e gregos foram encontrados em onze cavernas em Qumran, datando de 250 a.C. ao século I da Era Cristã. Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Qumran

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos
Autor

Padre Pedro Paulo Alves dos Santos

Doutor em Teologia Bíblica