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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 27/04/2025

27 de Abril de 2025

Os santos nos ensinam a dialogar

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08/07/2018 00:00

Os santos nos ensinam a dialogar 0

08/07/2018 00:00

No dia 7 de julho, o Papa Francisco fez uma peregrinação, junto com os patriarcas das igrejas cristãs no Oriente Médio, à cidade de Bari na Puglia, uma região no sul da Itália. Com os patriarcas, foi à Basilica de São Nicolau de Bari para venerar as relíquias que vieram de Myra, na Turquia. Depois de se reunirem para um encontro de oração, o Papa e os dignitários ortodoxos retornaram à Basilica para refletir e dialogar a portas fechadas.

Podemos nos perguntar o porquê de o Papa escolher este local para um encontro assim importante. Foi uma etapa do caminho ecumênico, mas também de participar do sofrimento e do desejo de paz das comunidades do Médio Oriente. O encontro foi realizado em torno deste grande santo – Nicolau de Bari – que dedicou toda sua vida à pregação das verdades de fé e do diálogo com os que pensavam diferente.

Nicolau e Bari são uma combinação inseparável pois, no distante 1087, as relíquias do bispo de Myra chegaram às costas da Puglia. Entre a cidade e seu patrono, um vínculo mais profundo foi estabelecido ao longo do tempo, como se fossem um, uma identidade simbiótica. Nicolau é de Bari e Bari pertence a Nicolau. Por quase um milênio, a cidade tem tido uma peregrinação contínua e crescente ao seu sepulcro. Em Bari as passagens de muitos povos, de diferentes nacionalidades e confissões religiosas, se cruzam.

A Basílica dedicada a ele é um lugar de encontro e diálogo, quase um posto avançado de comunhão em vista da esperada reconciliação de todas as Igrejas. Os restos mortais de São Nicolau descansaram em Myra (Ásia Menor, hoje Turquia) por volta de 750 anos (337-1087), enquanto seu culto, em particular desde o século IX, se espalhou universalmente. Então, graças a um golpe de sorte, suas relíquias foram trazidas para Bari, mudando a história desta cidade. E, além disso, como ‘de Myra’, dali em diante ficou conhecido como San Nicola di Bari. É a cidade de São Nicolau, hoje como então, porque Bari – desde o início – é São Nicolau, o Santo vindo do mar em cujo nome Oriente e Ocidente convergem, reconciliando e redescobrindo as raízes comuns do Mediterrâneo e de sua civilização.

A figura de São Nicolau desempenha um papel importante nas relações ecumênicas, porque ele é o santo mais venerado na Ortodoxia e, especialmente, no mundo eslavo. Esses aspectos desta devoção estão enraizados em sua personalidade histórica, que uniu uma grande firmeza na fé (luta contra heresias e paganismo) a uma propensão igualmente decisiva para o diálogo. São Nicolau incorporou o verdadeiro espírito do ecumenismo: amor pela verdade e amor por aqueles que pensam de forma diferente em questões de fé.

Pela primeira vez em 2017, depois de 930 anos, as relíquias de São Nicolau de Bari, deixaram a Basílica construída para sua veneração em terras italianas, para serem expostas na Rússia para veneração do povo ortodoxo, na Catedral de Cristo Salvador em Moscou e em São Petersburgo. Uma multidão muitas vezes esperava até nove horas numa fila, para poder beijar ou ao menos ver um fragmento de osso de 13 centímetros pertencente a São Nicolau, o bispo de Myra, no mosteiro de Aleksandr Nevskij.

Em resumo, se Bari é a cidade do santo que antigos hinos orientais definiram como ‘regra de fidelidade’, ‘imagem da gentileza’, ‘mestre da continência’, do santo indicado como ‘bispo da confiança e da retidão’ – presente também no antigo episódio eslavo como um homem ao lado dos mais necessitados na cidade e nos povoados – hoje, graças a sua Basílica Pontifícia, elevada neste lugar por Paulo VI, tem o perfil de capital do ecumenismo para ser continuamente fortalecida.

Papa Francisco seguiu uma linha ininterrupta dos Papas que escolheram este lugar para rezar e refletir sobre o ecumenismo e a paz: São João Paulo II, também peregrino em Bari no dia 26 de fevereiro de 1984, assim como seu sucessor Bento XVI, que participou da conclusão do Congresso Eucarístico nacional no dia 29 de maio de 2005. Papa Wojtyla, em particular, para os 900 anos da transladação de Myra a Bari da relíquia do santo, promulgou uma constituição apostólica reafirmando aquela específica vocação da Igreja de Bari e da Puglia na promoção da atividade ecumênica.

Este evento nos recordou que o ecumenismo deve ser uma preocupação constante, de forma que não somente o diálogo, mas também a paz, sejam uma realidade em nossas ações. Deve ser uma necessidade para pôr fim a muitos conflitos que comprometem a dignidade humana. O Papa Francisco é um incansável homem de paz. Suas palavras e gestos nos convidam a fazermos o mesmo, sempre por meio da oração e dos testemunhos de homens e mulheres que mantiveram claros os fundamentos da fé cristã e souberam dialogar com o diferente.

São Nicolau de Bari, rogai por nós!

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08/07/2018 00:00

No dia 7 de julho, o Papa Francisco fez uma peregrinação, junto com os patriarcas das igrejas cristãs no Oriente Médio, à cidade de Bari na Puglia, uma região no sul da Itália. Com os patriarcas, foi à Basilica de São Nicolau de Bari para venerar as relíquias que vieram de Myra, na Turquia. Depois de se reunirem para um encontro de oração, o Papa e os dignitários ortodoxos retornaram à Basilica para refletir e dialogar a portas fechadas.

Podemos nos perguntar o porquê de o Papa escolher este local para um encontro assim importante. Foi uma etapa do caminho ecumênico, mas também de participar do sofrimento e do desejo de paz das comunidades do Médio Oriente. O encontro foi realizado em torno deste grande santo – Nicolau de Bari – que dedicou toda sua vida à pregação das verdades de fé e do diálogo com os que pensavam diferente.

Nicolau e Bari são uma combinação inseparável pois, no distante 1087, as relíquias do bispo de Myra chegaram às costas da Puglia. Entre a cidade e seu patrono, um vínculo mais profundo foi estabelecido ao longo do tempo, como se fossem um, uma identidade simbiótica. Nicolau é de Bari e Bari pertence a Nicolau. Por quase um milênio, a cidade tem tido uma peregrinação contínua e crescente ao seu sepulcro. Em Bari as passagens de muitos povos, de diferentes nacionalidades e confissões religiosas, se cruzam.

A Basílica dedicada a ele é um lugar de encontro e diálogo, quase um posto avançado de comunhão em vista da esperada reconciliação de todas as Igrejas. Os restos mortais de São Nicolau descansaram em Myra (Ásia Menor, hoje Turquia) por volta de 750 anos (337-1087), enquanto seu culto, em particular desde o século IX, se espalhou universalmente. Então, graças a um golpe de sorte, suas relíquias foram trazidas para Bari, mudando a história desta cidade. E, além disso, como ‘de Myra’, dali em diante ficou conhecido como San Nicola di Bari. É a cidade de São Nicolau, hoje como então, porque Bari – desde o início – é São Nicolau, o Santo vindo do mar em cujo nome Oriente e Ocidente convergem, reconciliando e redescobrindo as raízes comuns do Mediterrâneo e de sua civilização.

A figura de São Nicolau desempenha um papel importante nas relações ecumênicas, porque ele é o santo mais venerado na Ortodoxia e, especialmente, no mundo eslavo. Esses aspectos desta devoção estão enraizados em sua personalidade histórica, que uniu uma grande firmeza na fé (luta contra heresias e paganismo) a uma propensão igualmente decisiva para o diálogo. São Nicolau incorporou o verdadeiro espírito do ecumenismo: amor pela verdade e amor por aqueles que pensam de forma diferente em questões de fé.

Pela primeira vez em 2017, depois de 930 anos, as relíquias de São Nicolau de Bari, deixaram a Basílica construída para sua veneração em terras italianas, para serem expostas na Rússia para veneração do povo ortodoxo, na Catedral de Cristo Salvador em Moscou e em São Petersburgo. Uma multidão muitas vezes esperava até nove horas numa fila, para poder beijar ou ao menos ver um fragmento de osso de 13 centímetros pertencente a São Nicolau, o bispo de Myra, no mosteiro de Aleksandr Nevskij.

Em resumo, se Bari é a cidade do santo que antigos hinos orientais definiram como ‘regra de fidelidade’, ‘imagem da gentileza’, ‘mestre da continência’, do santo indicado como ‘bispo da confiança e da retidão’ – presente também no antigo episódio eslavo como um homem ao lado dos mais necessitados na cidade e nos povoados – hoje, graças a sua Basílica Pontifícia, elevada neste lugar por Paulo VI, tem o perfil de capital do ecumenismo para ser continuamente fortalecida.

Papa Francisco seguiu uma linha ininterrupta dos Papas que escolheram este lugar para rezar e refletir sobre o ecumenismo e a paz: São João Paulo II, também peregrino em Bari no dia 26 de fevereiro de 1984, assim como seu sucessor Bento XVI, que participou da conclusão do Congresso Eucarístico nacional no dia 29 de maio de 2005. Papa Wojtyla, em particular, para os 900 anos da transladação de Myra a Bari da relíquia do santo, promulgou uma constituição apostólica reafirmando aquela específica vocação da Igreja de Bari e da Puglia na promoção da atividade ecumênica.

Este evento nos recordou que o ecumenismo deve ser uma preocupação constante, de forma que não somente o diálogo, mas também a paz, sejam uma realidade em nossas ações. Deve ser uma necessidade para pôr fim a muitos conflitos que comprometem a dignidade humana. O Papa Francisco é um incansável homem de paz. Suas palavras e gestos nos convidam a fazermos o mesmo, sempre por meio da oração e dos testemunhos de homens e mulheres que mantiveram claros os fundamentos da fé cristã e souberam dialogar com o diferente.

São Nicolau de Bari, rogai por nós!

Padre Arnaldo Rodrigues
Autor

Padre Arnaldo Rodrigues

Editorialista do Jornal Testemunho de Fé