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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 27/04/2025

27 de Abril de 2025

Maria Madalena, uma companheira de viagem

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18/03/2018 00:00

Maria Madalena, uma companheira de viagem 0

18/03/2018 00:00

Com a ressurreição do Senhor, é impossível não recordar daqueles que nos apresentaram a fé, os discípulos que testemunharam a vida de Cristo e a sua vitória sobre a morte. O Papa emérito Bento XVI, em uma de suas audiências, recordou vivamente essas testemunhas: “O Senhor quer que estas testemunhas do Evangelho, estas figuras que deram uma contribuição a fim de que aumentasse a fé n’Ele, sejam conhecidas e a Sua memória seja viva na Igreja. (…) Jesus certamente, sabemo-lo, escolheu entre os seus discípulos 12 homens como Pais do novo Israel, escolheu-os para “estarem com Ele e para os enviar a pregar” (Mc 3, 14). Este fato é evidente, mas, além dos 12, colunas da Igreja, pais do novo Povo de Deus, são escolhidas no número dos discípulos também muitas mulheres”.

Dentre tantas mulheres, destaco, de modo especial, Maria Madalena. Uma mulher ao mesmo tempo tão importante para Jesus, como uma mulher tão mal interpretada e desconhecida até mesmo para a maioria dos cristãos. “Como uma mulher tinha anunciado ao primeiro homem palavras de morte, assim uma mulher foi a primeira a anunciar aos apóstolos palavras de vida”. Com estas palavras de São Tomás de Aquino, gostaria de falar desta mulher que tanto colaborou para o Evangelho de Jesus Cristo, e por Graça de Deus foi a primeira a testemunhar a ressurreição.

Apesar de ter a graça de testemunhar a ressurreição, Maria Madalena é a mulher mais caluniada e incompreendida no Novo Testamento. E na modernidade se pode dizer o mesmo.  Escritores e diretores contemporâneos interpretaram o Novo Testamento à sua maneira, trazendo uma relação de casamento entre Madalena e Jesus, completada com crianças e uma dinastia secreta. No período recente, o escritor Nikos Kazantzakes, que em seu romance “A última tentação” (Frassinelli 1961), fez Jesus sonhar sobre a cruz como teria sido se, em vez de salvar a Humanidade, ele formasse uma família com Maria Madalena. O diretor Martin Scorsese, que fez o filme “A última tentação de Cristo” (1988). Em 2003 (com o filme em 2006) veio o escritor Dan Brown com seu romance “O Código Da Vinci”, também se referindo explicitamente aos gnósticos, especialmente ao Evangelho de Filipe.

Se olharmos nos evangelhos, não há conexão entre Maria Madalena e o fato de que ela seria uma prostituta. Isto foi explicado pelo historiador do cristianismo Mauro Pesce: “Os evangelhos não dizem que Madalena era uma prostituta. A combinação nasceu das deduções e interpretações posteriores. Lucas escreve o episódio da pecadrora, mas não cita o nome dela (Lc 7,37-38).

Pode-se pensar que Madalena era viúva, porque ao contrário da maioria das outras mulheres do Novo Testamento, ela nunca é definida através de um homem (“filha / irmã / esposa / mãe de ...”). Esse foi um dos primeiros motivos que levou a pensar no fato de que ela era uma prostituta. Também parece ter ajudado a sustentar economicamente (“com o que possuía”) Jesus e seus discípulos, provavelmente como um sinal de gratidão pela cura recebida e pela excepcionalidade de Jesus.

Sabemos que ela se originou de Migdal, e esta cidade adquiriu no momento de Jesus uma grande fama, por sua especialidade gastronômica: o peixe em salmoura. A cidade logo se tornou o centro de uma próspera indústria de processamento de peixe, e seus habitantes rapidamente se tornaram ricos (descobertas arqueológicas descobriram palácios da era de Jesus, com magníficos mosaicos). O vínculo entre a estabilidade financeira de Maria Madalena e a riqueza da cidade de onde ela veio poderia facilmente ter herdado uma das florescentes atividades de processamento de peixes em salmoura por algum membro da família ou seu marido. Parece ser muito mais historicamente realista e aceita, do que a hipótese de ser necessariamente uma prostituta.

Outro grande erro é que Maria Madalena era uma companheira de viagem e não uma esposa. No Evangelho apócrifo de Filipe, (um texto escrito pela seita gnóstica, não pertencente à Igreja, entre os anos 180 a 350) lemos: «A companheira de Cristo é Maria Madalena». A palavra ‘companheiro’, na época, literalmente significava «esposa». No entanto, todo especialista em aramaico saberá que o Evangelho de Filipe não está escrito em aramaico, mas é, como todos os escritos encontrados em Nag Hammadi, uma tradução copta de um texto grego. Significava, portanto, «companheira».

A dramaturgia (cinema) muitas das vezes mostrará um modelo de mulher completamente diferente, sobretudo para desconstruir a tradição de seus testemunhos e denegrir a própria imagem da mulher na Sagrada Escritura. Eis a importância de conhecer corretamente os fatos e os personagens.

Poderia usar muitas outras referências para tornar mais conhecida esta grande mulher, porém o tempo e o espaço são limitados. Desta forma, concluo com as palavras do Papa emérito Bento XVI: “a história do cristianismo teria tido um desenvolvimento muito diferente, se não houvesse a generosa contribuição de muitas mulheres,” dentre elas está Maria Madalena.

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Maria Madalena, uma companheira de viagem

18/03/2018 00:00

Com a ressurreição do Senhor, é impossível não recordar daqueles que nos apresentaram a fé, os discípulos que testemunharam a vida de Cristo e a sua vitória sobre a morte. O Papa emérito Bento XVI, em uma de suas audiências, recordou vivamente essas testemunhas: “O Senhor quer que estas testemunhas do Evangelho, estas figuras que deram uma contribuição a fim de que aumentasse a fé n’Ele, sejam conhecidas e a Sua memória seja viva na Igreja. (…) Jesus certamente, sabemo-lo, escolheu entre os seus discípulos 12 homens como Pais do novo Israel, escolheu-os para “estarem com Ele e para os enviar a pregar” (Mc 3, 14). Este fato é evidente, mas, além dos 12, colunas da Igreja, pais do novo Povo de Deus, são escolhidas no número dos discípulos também muitas mulheres”.

Dentre tantas mulheres, destaco, de modo especial, Maria Madalena. Uma mulher ao mesmo tempo tão importante para Jesus, como uma mulher tão mal interpretada e desconhecida até mesmo para a maioria dos cristãos. “Como uma mulher tinha anunciado ao primeiro homem palavras de morte, assim uma mulher foi a primeira a anunciar aos apóstolos palavras de vida”. Com estas palavras de São Tomás de Aquino, gostaria de falar desta mulher que tanto colaborou para o Evangelho de Jesus Cristo, e por Graça de Deus foi a primeira a testemunhar a ressurreição.

Apesar de ter a graça de testemunhar a ressurreição, Maria Madalena é a mulher mais caluniada e incompreendida no Novo Testamento. E na modernidade se pode dizer o mesmo.  Escritores e diretores contemporâneos interpretaram o Novo Testamento à sua maneira, trazendo uma relação de casamento entre Madalena e Jesus, completada com crianças e uma dinastia secreta. No período recente, o escritor Nikos Kazantzakes, que em seu romance “A última tentação” (Frassinelli 1961), fez Jesus sonhar sobre a cruz como teria sido se, em vez de salvar a Humanidade, ele formasse uma família com Maria Madalena. O diretor Martin Scorsese, que fez o filme “A última tentação de Cristo” (1988). Em 2003 (com o filme em 2006) veio o escritor Dan Brown com seu romance “O Código Da Vinci”, também se referindo explicitamente aos gnósticos, especialmente ao Evangelho de Filipe.

Se olharmos nos evangelhos, não há conexão entre Maria Madalena e o fato de que ela seria uma prostituta. Isto foi explicado pelo historiador do cristianismo Mauro Pesce: “Os evangelhos não dizem que Madalena era uma prostituta. A combinação nasceu das deduções e interpretações posteriores. Lucas escreve o episódio da pecadrora, mas não cita o nome dela (Lc 7,37-38).

Pode-se pensar que Madalena era viúva, porque ao contrário da maioria das outras mulheres do Novo Testamento, ela nunca é definida através de um homem (“filha / irmã / esposa / mãe de ...”). Esse foi um dos primeiros motivos que levou a pensar no fato de que ela era uma prostituta. Também parece ter ajudado a sustentar economicamente (“com o que possuía”) Jesus e seus discípulos, provavelmente como um sinal de gratidão pela cura recebida e pela excepcionalidade de Jesus.

Sabemos que ela se originou de Migdal, e esta cidade adquiriu no momento de Jesus uma grande fama, por sua especialidade gastronômica: o peixe em salmoura. A cidade logo se tornou o centro de uma próspera indústria de processamento de peixe, e seus habitantes rapidamente se tornaram ricos (descobertas arqueológicas descobriram palácios da era de Jesus, com magníficos mosaicos). O vínculo entre a estabilidade financeira de Maria Madalena e a riqueza da cidade de onde ela veio poderia facilmente ter herdado uma das florescentes atividades de processamento de peixes em salmoura por algum membro da família ou seu marido. Parece ser muito mais historicamente realista e aceita, do que a hipótese de ser necessariamente uma prostituta.

Outro grande erro é que Maria Madalena era uma companheira de viagem e não uma esposa. No Evangelho apócrifo de Filipe, (um texto escrito pela seita gnóstica, não pertencente à Igreja, entre os anos 180 a 350) lemos: «A companheira de Cristo é Maria Madalena». A palavra ‘companheiro’, na época, literalmente significava «esposa». No entanto, todo especialista em aramaico saberá que o Evangelho de Filipe não está escrito em aramaico, mas é, como todos os escritos encontrados em Nag Hammadi, uma tradução copta de um texto grego. Significava, portanto, «companheira».

A dramaturgia (cinema) muitas das vezes mostrará um modelo de mulher completamente diferente, sobretudo para desconstruir a tradição de seus testemunhos e denegrir a própria imagem da mulher na Sagrada Escritura. Eis a importância de conhecer corretamente os fatos e os personagens.

Poderia usar muitas outras referências para tornar mais conhecida esta grande mulher, porém o tempo e o espaço são limitados. Desta forma, concluo com as palavras do Papa emérito Bento XVI: “a história do cristianismo teria tido um desenvolvimento muito diferente, se não houvesse a generosa contribuição de muitas mulheres,” dentre elas está Maria Madalena.

Padre Arnaldo Rodrigues
Autor

Padre Arnaldo Rodrigues

Editorialista do Jornal Testemunho de Fé