Arquidiocese do Rio de Janeiro

34º 22º

Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Segundo Domingo da Quaresma – Ano B

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do e-mail.
E-mail enviado com sucesso.

17 de Maio de 2024

Segundo Domingo da Quaresma – Ano B

Se você encontrou erro neste texto ou nesta página, por favor preencha os campos abaixo. O link da página será enviado automaticamente a ArqRio.

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do erro.
Erro relatado com sucesso, obrigado.

25/02/2018 00:00

Segundo Domingo da Quaresma – Ano B 0

25/02/2018 00:00

Estamos vivendo este tempo fecundo da Quaresma. Somos chamados a intensificar, nestes dias, nossa vida de oração e nossa escuta diária da Palavra de Deus, a fim de nos prepararmos de modo adequado para a grande celebração anual da Páscoa do Senhor.

Poderíamos resumir a liturgia da Palavra deste domingo numa Palavra: obediência! Sim, o tema da escuta obediente da Palavra de Deus, reconhecida como caminho de vida e salvação, perpassa as leituras deste segundo domingo da Quaresma.

Na primeira leitura temos o relato de Gn 22, o comovente “sacrifício de Isaac”, que poderíamos chamar, também de “sacrifício de Abraão”, uma vez que Deus pede do patriarca aquilo que lhe era mais caro: o filho da promessa, Isaac.

O texto afirma desde o início que Deus queria “pôr Abraão à prova”. Deus lhe pede o sacrifício de seu filho único. Antes de protestarmos, afirmando que Deus jamais pediria isso a alguém, devemos nos lembrar que estamos diante de um texto que remete a um contexto onde os sacrifícios humanos aconteciam como forma de honrar os deuses. Abraão devia oferecer a Deus o seu Filho primogênito, aquilo que lhe era mais caro. Devemos nos lembrar que este era o filho da velhice, o que havia nascido das entranhas de Sara, consideradas, até então, como entranhas estéreis. Abraão não sabia se teria ou não outro filho para substituir o que seria sacrificado. Mas ele “obedeceu”. Como não devem ter transpassado o coração do velho Abraão as palavras de Isaac, não lidas na liturgia, mas que pertencem a este relato: “Isaac dirigiu-se a Abraão, seu pai, e disse: ‘Meu pai!’ Ele respondeu: ‘Estou aqui, meu filho!’ E disse (Isaac): ‘Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?’ Abraão respondeu: ‘Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho’. E caminharam os dois juntos.” (cf. Gn 22,7-8).

Deus não abandonou Abraão. Deus poupou Isaac e abençoou Abraão, e nele “todas as nações da terra”, porque ele “obedeceu” a Deus. Literalmente em hebraico, a expressão utilizada para descrever o gesto de Abraão é: “Tu ouviste a minha voz (de Deus)!”

Podemos compreender esse relato em dois sentidos. Trata-se, segundo alguns autores, de um relato que tem em vista mostrar como Israel teve sua fé purificada, passando dos sacrifícios humanos, como era costume nos povos circunvizinhos, para os sacrifícios de animais. Porém, o sentido mais profundo do texto, é aquele que aponta para a fé do patriarca Abraão. Ele “ouviu a voz de Deus”, ou seja, “ele obedeceu a Deus”. A fé nasce da escuta obediente da Palavra de Deus.

Esse relato pode ser lido, ainda, num terceiro sentido: ele é um prenúncio do sacrifício de Cristo – assim os Padres da Igreja o compreendiam. Neste sentido, a primeira leitura e a segunda estão bem unidas entre si. São Paulo, no trecho da carta as Romanos proclamado na liturgia de hoje, afirma que Deus “não poupou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós...” (cf. Rm 8,32). Deus que havia poupado Isaac, não poupou seu próprio Filho. Podemos contrapor as duas cenas e ver muitos pontos de semelhança entre o sacrifício de Isaac e o de Cristo: duas vítimas inocentes que carregam sobre suas costas a lenha para o sacrifício (Isaac e Cristo) e dois pais que tem o seu coração transpassado pela dor (Abraão e o Pai do Céu). Contudo, a inocência de Cristo é maior que a de Isaac, porque Ele é o Filho do Deus Altíssimo, sem pecado, Deus eterno com o Pai e o Espírito Santo. E a dor do Pai, se podemos dizer assim, é maior que a de Abraão, porque o “seu Filho não foi poupado”. Abraão não sacrificou seu Isaac, mas o Cristo foi morto por causa dos nossos pecados.

Se Abraão é um modelo de obediência, porque “ouviu a voz de Deus”, modelo perfeito de obediência” é o Cristo, porque se fez obediente “até a morte e morte de Cruz” (cf. Fl 2,8).

O evangelho deste segundo domingo da Quaresma é, como em todos os anos, o relato da Transfiguração, sempre segundo um dos três evangelhos sinóticos. Marcos afirma que, “seis dias depois”, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e, subindo a uma alta montanha, transfigurou-se diante deles.

A referência temporal de Mc 9,2 é importante. Este relato está ligado ao anterior: Mc 8,27 – 9,1. Ali Jesus anunciou, pela primeira vez, o mistério da sua paixão. Pedro se opôs a Cristo, quando ele falou de morte e ressurreição. Jesus o repreendeu e logo em seguida afirmou que, para ser seu discípulo, era necessário “negar-se a si mesmo, tomar a cruz e segui-lo” (cf. Mc 8,34).

Logo em seguida, “seis dias depois”, o Senhor se transfigurou diante dos seus. O verbo grego que aqui se traduz como “transfigurar” é o verbo “metamorphou” – mudar de forma. Cristo que, segundo São Paulo em Fl 2,5-11, havia assumido a “forma” de servo, ou seja, havia se encarnado, assumindo a nossa humanidade, agora se deixa ver na sua “glória”. Quem sabe assim, contemplando antecipadamente a “glória do Cristo”, o escândalo da cruz não se afasta um pouco do coração dos discípulos?

No meio dessa grande manifestação divina, aparecem Moisés e Elias, a Lei e os Profetas, que “conversam” com o Cristo. Os apóstolos contemplam o Cristo na sua glória e percebem que, n’Ele, cumprem-se as Escrituras.

Ponto central da cena, poderíamos afirmar que é a “voz do Pai” que se faz ouvir a partir da nuvem: “Este é o meu filho amado. Escutai o que ele diz!” No início de nossa reflexão afirmávamos que o fio condutor das leituras desse domingo é o tema da “obediência”, o saber “ouvir a Palavra de Deus”. Abraão foi abençoado por Deus porque “ouviu a sua voz”, ou seja, “obedeceu”, confiando que Deus “providenciaria tudo que lhe fosse necessário”, inclusive o cordeiro que deveria substituir Isaac. Na segunda leitura, Paulo fala do Cristo, que não foi poupado, porque Ele é o “Cordeiro Obediente” que, pelo seu sacrifício, tirou o pecado do mundo.

Para nós, reunidos em assembleia, ressoa a “voz do Pai” chamando-nos à escuta obediente: “Escutai o que Ele diz!” Sejamos, como Abraão, obedientes à “voz” de Deus. Não é qualquer voz, mas é a “voz do Pai” que nos fala: “Escutai o que Ele diz!” Escutemos o Cristo, contemplemos seu exemplo. Ele é o servo obediente, que escuta, que realiza em tudo a vontade do Pai. Acolhamos o que Ele nos diz, estejamos atentos à sua Palavra, reconheçamos nessa Palavra o caminho da vida que nos conduz à salvação.

Leia os comentários

Deixe seu comentário

Resposta ao comentário de:

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do comentário.
Comentário enviado para aprovação.

Segundo Domingo da Quaresma – Ano B

25/02/2018 00:00

Estamos vivendo este tempo fecundo da Quaresma. Somos chamados a intensificar, nestes dias, nossa vida de oração e nossa escuta diária da Palavra de Deus, a fim de nos prepararmos de modo adequado para a grande celebração anual da Páscoa do Senhor.

Poderíamos resumir a liturgia da Palavra deste domingo numa Palavra: obediência! Sim, o tema da escuta obediente da Palavra de Deus, reconhecida como caminho de vida e salvação, perpassa as leituras deste segundo domingo da Quaresma.

Na primeira leitura temos o relato de Gn 22, o comovente “sacrifício de Isaac”, que poderíamos chamar, também de “sacrifício de Abraão”, uma vez que Deus pede do patriarca aquilo que lhe era mais caro: o filho da promessa, Isaac.

O texto afirma desde o início que Deus queria “pôr Abraão à prova”. Deus lhe pede o sacrifício de seu filho único. Antes de protestarmos, afirmando que Deus jamais pediria isso a alguém, devemos nos lembrar que estamos diante de um texto que remete a um contexto onde os sacrifícios humanos aconteciam como forma de honrar os deuses. Abraão devia oferecer a Deus o seu Filho primogênito, aquilo que lhe era mais caro. Devemos nos lembrar que este era o filho da velhice, o que havia nascido das entranhas de Sara, consideradas, até então, como entranhas estéreis. Abraão não sabia se teria ou não outro filho para substituir o que seria sacrificado. Mas ele “obedeceu”. Como não devem ter transpassado o coração do velho Abraão as palavras de Isaac, não lidas na liturgia, mas que pertencem a este relato: “Isaac dirigiu-se a Abraão, seu pai, e disse: ‘Meu pai!’ Ele respondeu: ‘Estou aqui, meu filho!’ E disse (Isaac): ‘Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?’ Abraão respondeu: ‘Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho’. E caminharam os dois juntos.” (cf. Gn 22,7-8).

Deus não abandonou Abraão. Deus poupou Isaac e abençoou Abraão, e nele “todas as nações da terra”, porque ele “obedeceu” a Deus. Literalmente em hebraico, a expressão utilizada para descrever o gesto de Abraão é: “Tu ouviste a minha voz (de Deus)!”

Podemos compreender esse relato em dois sentidos. Trata-se, segundo alguns autores, de um relato que tem em vista mostrar como Israel teve sua fé purificada, passando dos sacrifícios humanos, como era costume nos povos circunvizinhos, para os sacrifícios de animais. Porém, o sentido mais profundo do texto, é aquele que aponta para a fé do patriarca Abraão. Ele “ouviu a voz de Deus”, ou seja, “ele obedeceu a Deus”. A fé nasce da escuta obediente da Palavra de Deus.

Esse relato pode ser lido, ainda, num terceiro sentido: ele é um prenúncio do sacrifício de Cristo – assim os Padres da Igreja o compreendiam. Neste sentido, a primeira leitura e a segunda estão bem unidas entre si. São Paulo, no trecho da carta as Romanos proclamado na liturgia de hoje, afirma que Deus “não poupou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós...” (cf. Rm 8,32). Deus que havia poupado Isaac, não poupou seu próprio Filho. Podemos contrapor as duas cenas e ver muitos pontos de semelhança entre o sacrifício de Isaac e o de Cristo: duas vítimas inocentes que carregam sobre suas costas a lenha para o sacrifício (Isaac e Cristo) e dois pais que tem o seu coração transpassado pela dor (Abraão e o Pai do Céu). Contudo, a inocência de Cristo é maior que a de Isaac, porque Ele é o Filho do Deus Altíssimo, sem pecado, Deus eterno com o Pai e o Espírito Santo. E a dor do Pai, se podemos dizer assim, é maior que a de Abraão, porque o “seu Filho não foi poupado”. Abraão não sacrificou seu Isaac, mas o Cristo foi morto por causa dos nossos pecados.

Se Abraão é um modelo de obediência, porque “ouviu a voz de Deus”, modelo perfeito de obediência” é o Cristo, porque se fez obediente “até a morte e morte de Cruz” (cf. Fl 2,8).

O evangelho deste segundo domingo da Quaresma é, como em todos os anos, o relato da Transfiguração, sempre segundo um dos três evangelhos sinóticos. Marcos afirma que, “seis dias depois”, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e, subindo a uma alta montanha, transfigurou-se diante deles.

A referência temporal de Mc 9,2 é importante. Este relato está ligado ao anterior: Mc 8,27 – 9,1. Ali Jesus anunciou, pela primeira vez, o mistério da sua paixão. Pedro se opôs a Cristo, quando ele falou de morte e ressurreição. Jesus o repreendeu e logo em seguida afirmou que, para ser seu discípulo, era necessário “negar-se a si mesmo, tomar a cruz e segui-lo” (cf. Mc 8,34).

Logo em seguida, “seis dias depois”, o Senhor se transfigurou diante dos seus. O verbo grego que aqui se traduz como “transfigurar” é o verbo “metamorphou” – mudar de forma. Cristo que, segundo São Paulo em Fl 2,5-11, havia assumido a “forma” de servo, ou seja, havia se encarnado, assumindo a nossa humanidade, agora se deixa ver na sua “glória”. Quem sabe assim, contemplando antecipadamente a “glória do Cristo”, o escândalo da cruz não se afasta um pouco do coração dos discípulos?

No meio dessa grande manifestação divina, aparecem Moisés e Elias, a Lei e os Profetas, que “conversam” com o Cristo. Os apóstolos contemplam o Cristo na sua glória e percebem que, n’Ele, cumprem-se as Escrituras.

Ponto central da cena, poderíamos afirmar que é a “voz do Pai” que se faz ouvir a partir da nuvem: “Este é o meu filho amado. Escutai o que ele diz!” No início de nossa reflexão afirmávamos que o fio condutor das leituras desse domingo é o tema da “obediência”, o saber “ouvir a Palavra de Deus”. Abraão foi abençoado por Deus porque “ouviu a sua voz”, ou seja, “obedeceu”, confiando que Deus “providenciaria tudo que lhe fosse necessário”, inclusive o cordeiro que deveria substituir Isaac. Na segunda leitura, Paulo fala do Cristo, que não foi poupado, porque Ele é o “Cordeiro Obediente” que, pelo seu sacrifício, tirou o pecado do mundo.

Para nós, reunidos em assembleia, ressoa a “voz do Pai” chamando-nos à escuta obediente: “Escutai o que Ele diz!” Sejamos, como Abraão, obedientes à “voz” de Deus. Não é qualquer voz, mas é a “voz do Pai” que nos fala: “Escutai o que Ele diz!” Escutemos o Cristo, contemplemos seu exemplo. Ele é o servo obediente, que escuta, que realiza em tudo a vontade do Pai. Acolhamos o que Ele nos diz, estejamos atentos à sua Palavra, reconheçamos nessa Palavra o caminho da vida que nos conduz à salvação.

Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida