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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

"A Interpretação da Bíblia na Igreja”

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"A Interpretação da Bíblia na Igreja”

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20/09/2013 16:17 - Atualizado em 23/09/2013 16:21

"A Interpretação da Bíblia na Igreja” 0

20/09/2013 16:17 - Atualizado em 23/09/2013 16:21

Uma das importantes questões propostas pelo Concílio Vaticano II, foi sobre o método da Igreja de interpretar as Sagradas Escrituras. Podemos encontrar no nº 12 da Constituição Dogmática Dei Verbum às indicações dos Padres Conciliares para que se possa ler e interpretar o texto bíblico buscando o seu sentido – aquilo que Deus quer falar para nós.

 

Deus é o autor das Escrituras

Acreditamos que Deus querendo transmitir uma Palavra para seu Povo, escolheu homens que escreveram livros sob a ação do seu Espírito. Estes autores humanos, chamados de hagiógrafos, usaram de suas próprias faculdades e capacidades e colocaram por escrito tudo aquilo e só aquilo que Deus quis. Todavia, não podemos conceber a inspiração bíblica aos moldes de uma espécie de “possessão”. Os hagiógrafos escreveram os livros com uma mensagem para o seu tempo. Assim, dois níveis devem ser buscados por quem interpreta as Escrituras: o que o hagiógrafo quis dizer para aqueles seus primeiros leitores e o que Deus quis dizer. O objetivo final é responder a segunda pergunta, mas isso não é possível sem se responder a primeira.

 

A Verdade Bíblica

Como a Bíblia tem como autor principal Deus e como coautores homens inspirados pelo Espírito Santo, nos é lícito afirmar que ela está isenta de erros. Todavia, quando comparamos certas afirmações da Escritura com os conhecimentos da ciência percebemos certas discrepâncias. Como podemos explicar isto? A Bíblia é um livro religioso que quer nos comunicar as verdades sobre Deus. Por isso, ela está isenta de erro no tocante “a verdade que Deus em vista da nossa salvação quis que fosse consignada nas Sagradas Escrituras”. A inerrância bíblica se aplica a questões de fé (Quem é Deus) e não de ciência.

 

Como saber o que o hagiógrafo quis dizer?

Para interpretar um texto bíblico, a primeira coisa que devemos nos perguntar é o que o hagiógrafo quis dizer com aquele texto para os seus primeiros leitores, sentido literal. Este trabalho requer um estudo profundo, realizado pelos exegetas. Tal estudo se debruça sobre as condições histórico-culturais da produção daquele texto. O trabalho destes exegetas gera uma série de recursos que nos auxiliam na compreensão destas condições históricas, culturais e literárias: comentários aos livros bíblicos e aos textos, mapas das áreas citadas e boas traduções dos textos.

 

Como saber o que Deus quer nos dizer?

O sentido mais importante é o sentido espiritual: o que Deus quer dizer através daquele texto. Para responder tal questão, o leitor da Sagrada Escritura deve procurar a ajuda do Espírito Santo, o verdadeiro intérprete dela. Apenas iluminado pela graça de Deus, o homem pode acessar os três sentidos espirituais da Escritura: o sentindo tipológico, o sentido moral e o sentido anagógico. O sentido alegórico é aquela compreensão mais profunda dos acontecimentos reconhecendo a significação deles em Cristo: o cordeiro sacrificado na celebração da Pascoa judaica é um tipo de Jesus, o cordeiro Pascal que tira o pecado do mundo. O sentido moral é aquele que ilumina as ações do homem, mostrando qual o caminho que se deve seguir: o Mandamento da Caridade é imperativo na vida do cristão. O sentido anagógico é aquele que nos faz conhecer as coisas dentro da sua significação eterna: o sentido da criação do homem é fazê-lo participar da Vida Eterna de Deus.

 

Os três critérios para uma reta interpretação

Para se chegar ao sentido espiritual do texto, ele deve ser interpretado à luz de três critérios: a unidade da Escritura; a Tradição da Igreja; e, a analogia da fé. Um texto não pode ser interpretado isoladamente dos outros textos da Escritura, pois ela possui sua unidade no mistério Pascal de Cristo. Todos os textos de forma direta ou indireta apontam nesta direção. O Antigo Testamento se relaciona com o Novo como profecia, como promessa, como esperança e o Novo se relaciona com o Antigo como cumprimento, realização, visão. Assim, o AT e o NT possuem uma unidade que não pode ser quebrada ou desmerecida no ato de interpretar. A Tradição, os Padres, interpretou os textos e transmitiu uma unidade de conhecimento sobre eles que devem ser respeitados como a memória viva das primeiras igrejas da fé cristã. O exegeta deve se fazer continuador desta Tradição que acompanhará a Igreja até a vinda de Cristo. Além disto, as verdades retiradas do Texto Sagrado devem estar intimamente ligadas, correlacionadas e revelarem o projeto total da Revelação Divina.

 

Para aprofundar...

Para saber mais sobre o assunto, conferir os parágrafos 101–119 do CIC; o Compêndio do Catecismo, perguntas 18 e 19; o Youcat, da pergunta 14 a 16; a Constituição Dogmática Dei Verbum, capítulo III.

 

Pe. Vitor Gino Finelon

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20/09/2013 16:17 - Atualizado em 23/09/2013 16:21

Uma das importantes questões propostas pelo Concílio Vaticano II, foi sobre o método da Igreja de interpretar as Sagradas Escrituras. Podemos encontrar no nº 12 da Constituição Dogmática Dei Verbum às indicações dos Padres Conciliares para que se possa ler e interpretar o texto bíblico buscando o seu sentido – aquilo que Deus quer falar para nós.

 

Deus é o autor das Escrituras

Acreditamos que Deus querendo transmitir uma Palavra para seu Povo, escolheu homens que escreveram livros sob a ação do seu Espírito. Estes autores humanos, chamados de hagiógrafos, usaram de suas próprias faculdades e capacidades e colocaram por escrito tudo aquilo e só aquilo que Deus quis. Todavia, não podemos conceber a inspiração bíblica aos moldes de uma espécie de “possessão”. Os hagiógrafos escreveram os livros com uma mensagem para o seu tempo. Assim, dois níveis devem ser buscados por quem interpreta as Escrituras: o que o hagiógrafo quis dizer para aqueles seus primeiros leitores e o que Deus quis dizer. O objetivo final é responder a segunda pergunta, mas isso não é possível sem se responder a primeira.

 

A Verdade Bíblica

Como a Bíblia tem como autor principal Deus e como coautores homens inspirados pelo Espírito Santo, nos é lícito afirmar que ela está isenta de erros. Todavia, quando comparamos certas afirmações da Escritura com os conhecimentos da ciência percebemos certas discrepâncias. Como podemos explicar isto? A Bíblia é um livro religioso que quer nos comunicar as verdades sobre Deus. Por isso, ela está isenta de erro no tocante “a verdade que Deus em vista da nossa salvação quis que fosse consignada nas Sagradas Escrituras”. A inerrância bíblica se aplica a questões de fé (Quem é Deus) e não de ciência.

 

Como saber o que o hagiógrafo quis dizer?

Para interpretar um texto bíblico, a primeira coisa que devemos nos perguntar é o que o hagiógrafo quis dizer com aquele texto para os seus primeiros leitores, sentido literal. Este trabalho requer um estudo profundo, realizado pelos exegetas. Tal estudo se debruça sobre as condições histórico-culturais da produção daquele texto. O trabalho destes exegetas gera uma série de recursos que nos auxiliam na compreensão destas condições históricas, culturais e literárias: comentários aos livros bíblicos e aos textos, mapas das áreas citadas e boas traduções dos textos.

 

Como saber o que Deus quer nos dizer?

O sentido mais importante é o sentido espiritual: o que Deus quer dizer através daquele texto. Para responder tal questão, o leitor da Sagrada Escritura deve procurar a ajuda do Espírito Santo, o verdadeiro intérprete dela. Apenas iluminado pela graça de Deus, o homem pode acessar os três sentidos espirituais da Escritura: o sentindo tipológico, o sentido moral e o sentido anagógico. O sentido alegórico é aquela compreensão mais profunda dos acontecimentos reconhecendo a significação deles em Cristo: o cordeiro sacrificado na celebração da Pascoa judaica é um tipo de Jesus, o cordeiro Pascal que tira o pecado do mundo. O sentido moral é aquele que ilumina as ações do homem, mostrando qual o caminho que se deve seguir: o Mandamento da Caridade é imperativo na vida do cristão. O sentido anagógico é aquele que nos faz conhecer as coisas dentro da sua significação eterna: o sentido da criação do homem é fazê-lo participar da Vida Eterna de Deus.

 

Os três critérios para uma reta interpretação

Para se chegar ao sentido espiritual do texto, ele deve ser interpretado à luz de três critérios: a unidade da Escritura; a Tradição da Igreja; e, a analogia da fé. Um texto não pode ser interpretado isoladamente dos outros textos da Escritura, pois ela possui sua unidade no mistério Pascal de Cristo. Todos os textos de forma direta ou indireta apontam nesta direção. O Antigo Testamento se relaciona com o Novo como profecia, como promessa, como esperança e o Novo se relaciona com o Antigo como cumprimento, realização, visão. Assim, o AT e o NT possuem uma unidade que não pode ser quebrada ou desmerecida no ato de interpretar. A Tradição, os Padres, interpretou os textos e transmitiu uma unidade de conhecimento sobre eles que devem ser respeitados como a memória viva das primeiras igrejas da fé cristã. O exegeta deve se fazer continuador desta Tradição que acompanhará a Igreja até a vinda de Cristo. Além disto, as verdades retiradas do Texto Sagrado devem estar intimamente ligadas, correlacionadas e revelarem o projeto total da Revelação Divina.

 

Para aprofundar...

Para saber mais sobre o assunto, conferir os parágrafos 101–119 do CIC; o Compêndio do Catecismo, perguntas 18 e 19; o Youcat, da pergunta 14 a 16; a Constituição Dogmática Dei Verbum, capítulo III.

 

Pe. Vitor Gino Finelon

Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida