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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração... e ao teu próximo como a ti mesmo

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Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração... e ao teu próximo como a ti mesmo 0

27/10/2017 00:00

Mais uma vez, ouvimos no Evangelho que os fariseus querem colocar Jesus à prova. O texto começa dizendo, que os fariseus tinham ouvido falar que Jesus fizera calar os saduceus. Eles se reuniram então em grupo, e um deles propõe uma pergunta. Não se trata de uma pergunta inocente: sua finalidade é “experimentar” Jesus. Mateus utiliza aqui o verbo peiradzo, que pode significar “tentar, pôr à prova, experimentar”. É o mesmo verbo que aparece em Mt 4,1, quando o evangelista afirma que Jesus foi “levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”. O papel de “tentador” cabe, agora, a este fariseu.

A pergunta do fariseu diz respeito à observância da Lei: Qual é o maior mandamento da Lei? Jesus responde à pergunta unindo dois versículos do Antigo Testamento: Dt 6,5 e Lv 19,18. Jesus começa com um texto bem conhecido do fariseu, aquele que é recitado três vezes por dia pelo judeu piedoso na oração do Shemá: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento (Cf. Dt 6,5). Nesse sentido, Jesus se coloca dentro da grande tradição do judaísmo. De fato, o conjunto do Decálogo é aberto, seja em Ex 20,3-5, seja em Dt 5,6-10, pela ordem expressa de Deus para que Israel não tenha diante de si “outros deuses”, devendo adorar “somente o Senhor”.

Jesus une, todavia, Dt 6,5, como já foi dito acima, a Lv 19,18: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Eis aí a síntese da Lei dos Profetas: Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos (cf. Mt 22,40). O verbo traduzido aqui como “depender” é o verbo grego kremannymi. Este verbo significa “suspender”. Figurativamente aqui ele é traduzido como “depender”. Se fôssemos recorrer a uma imagem, poderíamos pensar numa espécie de “gancho”, que sustenta tudo o que está nele pendurado. O amor é esse “gancho” que está sustentando tudo. Se ele, o amor que tudo sustenta, for tirado, todos os outros mandamentos, e tudo o que foi dito pelos profetas, cai e se perde. O amor é, assim, descrito por Jesus como o elemento que unifica toda a Escritura.

Colocar em prática a Palavra de Deus consiste, pois, nesse duplo amor: a Deus e ao próximo. De fato, podemos ler em 1Jo 4,20-21: Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar. E este é o mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também seu irmão. O amor a Deus e ao próximo é inseparável para o cristão. Além disso, “insistindo novamente sobre o fato de que o amor é um mandamento, Jesus deixa claro que não está falando de um sentimento espontâneo, que nasce naturalmente no coração. Não! Trata-se do ‘Ágape’, o amor que não exige nada em troca, mas é doado a todos, sempre, sem limites, até mesmo ao inimigo (Mt 5,44); é o amor pelo qual se deve pedir com insistência a Deus, na oração.”[1]

No texto paralelo de Lc 10,25-28, onde um legista pergunta a Jesus sobre o que ele deve fazer de bom para herdar a vida eterna, Jesus responde do mesmo modo. O legista, porém, querendo justificar-se, apresenta a Jesus uma outra pergunta: E quem é meu próximo? (cf. Lc 10,29). Esta segunda pergunta será respondida com a parábola do bom samaritano (cf. Lc 10,29-37). O próximo é todo aquele que, de alguma forma, cruza minha história. Sou chamado a amar esse próximo “como a mim mesmo”. Afinal, em outro lugar do Evangelho, está dito: Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas... (cf. Mt 7,12). Todos queremos ser tratados com amor. Justamente por isso, devemos também tratar o próximo com amor... Aquele mesmo amor que recebemos de Deus!

A primeira leitura nos apresenta o “amor” na perspectiva do relacionamento com esse próximo. O trecho de Ex 22, proposto para este domingo, faz parte do chamado “Código da Aliança”. A perícope começa com uma recordação do êxodo do Egito: não se deve oprimir o estrangeiro, porque os próprios israelitas foram também estrangeiros na terra do Egito.

O texto segue enumerando toda a sorte de pessoas que devem ser especialmente protegidas, em virtude da sua particular condição de desfavorecimento: os estrangeiros, as viúvas e os órfãos. Esses são enumerados primeiro. Deus ouvirá o clamor deles e castigará seus opressores. O castigo será a morte, a fim de que as mulheres dos opressores se tornem viúvas e, seus filhos, órfãos. Assim, temendo o próprio destino, e tendo diante dos olhos que tal estado de desfavorecimento pode chegar também às suas casas, os israelitas são chamados a, movidos pelo amor, cuidar dos mais necessitados.[2]

A segunda classe de desfavorecidos são aqueles que caíram em dívidas. Não se deve cobrar “juros” dos irmãos e, caso tenha sido necessário tomar o manto do próximo como penhor, este deverá ser devolvido antes da noite, para que o irmão não fique privado da única coisa que tem para se aquecer. Aqui não se enuncia uma punição, mas Deus adverte que Ele ouvirá o grito do necessitado, porque Ele é “misericordioso”.

Assim, o texto da primeira leitura, começa com a recordação da libertação do Egito e termina com a proclamação da “misericórdia” de Deus. Aquele que, por um amor misericordioso  tirou Israel do Egito, ouvirá também o clamor dos infelizes e oprimidos, como ouviu outrora o clamor do seu povo. O povo deve ser imitador de Deus, ou seja, movido também por um amor misericordioso, deve fazer o bem ao próximo, ouvir suas necessidades e, assim, se tornarão os instrumentos através dos quais Deus agirá sobre a terra.

Podemos concluir nossa reflexão com a segunda leitura. Paulo fala do modo como os Tessalonicenses “acolheram a Palavra”, com a alegria do Espírito Santo, apesar das tribulações. O apóstolo utiliza a expressão decsamenoi ton logon. O verbo dekomai, que aparece aqui no particípio aoristo, significa “receber” ou também “receber algo de alguém”, ou ainda, “receber alguma coisa que é ofertada”. A Palavra foi ofertada aos Tessalonicenses e eles a receberam, tornando-se, assim, “imitadores” de Cristo e do próprio Apóstolo e “modelo” para todos os fiéis da Macedônia.

A Palavra recebida fez com que os fiéis se tornassem “ícones”, “imagens vivas”, do próprio Cristo. Foi a mesma recepção da Palavra que fez com que os Tessalonicenses se convertessem (cf. v. 9), passando a ter no coração uma “esperança”: a da vinda do Cristo (cf. v. 10). Os Tessalonicenses são elogiados pelo Apóstolo porque a vivência da Palavra entre eles não era mais um peso, um mero jugo. Era uma vivência, “com alegria”, da “lei do amor”.

Devemos pedir a Deus a graça de também, a exemplo dos Tessalonicenses, “recebermos com a alegria do Espírito Santo” a Palavra que nos é “ofertada” por Deus, particularmente no contexto da Liturgia da Palavra da Eucaristia Dominical. Este é o “lugar primordial” da Palavra e é abrindo-nos a ela que poderemos ver a face de Cristo ser plasmada em nós.



[1] BIANCHI, Enzo. Gesú, Dio-con-noi, compimento dele Scritture. Milano: San Paolo, 2010, p. 177.

[2] Movidos, também, pelo temor, porque a perfeição da Lei ainda não chegou.

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Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração... e ao teu próximo como a ti mesmo

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Mais uma vez, ouvimos no Evangelho que os fariseus querem colocar Jesus à prova. O texto começa dizendo, que os fariseus tinham ouvido falar que Jesus fizera calar os saduceus. Eles se reuniram então em grupo, e um deles propõe uma pergunta. Não se trata de uma pergunta inocente: sua finalidade é “experimentar” Jesus. Mateus utiliza aqui o verbo peiradzo, que pode significar “tentar, pôr à prova, experimentar”. É o mesmo verbo que aparece em Mt 4,1, quando o evangelista afirma que Jesus foi “levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”. O papel de “tentador” cabe, agora, a este fariseu.

A pergunta do fariseu diz respeito à observância da Lei: Qual é o maior mandamento da Lei? Jesus responde à pergunta unindo dois versículos do Antigo Testamento: Dt 6,5 e Lv 19,18. Jesus começa com um texto bem conhecido do fariseu, aquele que é recitado três vezes por dia pelo judeu piedoso na oração do Shemá: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento (Cf. Dt 6,5). Nesse sentido, Jesus se coloca dentro da grande tradição do judaísmo. De fato, o conjunto do Decálogo é aberto, seja em Ex 20,3-5, seja em Dt 5,6-10, pela ordem expressa de Deus para que Israel não tenha diante de si “outros deuses”, devendo adorar “somente o Senhor”.

Jesus une, todavia, Dt 6,5, como já foi dito acima, a Lv 19,18: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Eis aí a síntese da Lei dos Profetas: Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos (cf. Mt 22,40). O verbo traduzido aqui como “depender” é o verbo grego kremannymi. Este verbo significa “suspender”. Figurativamente aqui ele é traduzido como “depender”. Se fôssemos recorrer a uma imagem, poderíamos pensar numa espécie de “gancho”, que sustenta tudo o que está nele pendurado. O amor é esse “gancho” que está sustentando tudo. Se ele, o amor que tudo sustenta, for tirado, todos os outros mandamentos, e tudo o que foi dito pelos profetas, cai e se perde. O amor é, assim, descrito por Jesus como o elemento que unifica toda a Escritura.

Colocar em prática a Palavra de Deus consiste, pois, nesse duplo amor: a Deus e ao próximo. De fato, podemos ler em 1Jo 4,20-21: Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar. E este é o mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também seu irmão. O amor a Deus e ao próximo é inseparável para o cristão. Além disso, “insistindo novamente sobre o fato de que o amor é um mandamento, Jesus deixa claro que não está falando de um sentimento espontâneo, que nasce naturalmente no coração. Não! Trata-se do ‘Ágape’, o amor que não exige nada em troca, mas é doado a todos, sempre, sem limites, até mesmo ao inimigo (Mt 5,44); é o amor pelo qual se deve pedir com insistência a Deus, na oração.”[1]

No texto paralelo de Lc 10,25-28, onde um legista pergunta a Jesus sobre o que ele deve fazer de bom para herdar a vida eterna, Jesus responde do mesmo modo. O legista, porém, querendo justificar-se, apresenta a Jesus uma outra pergunta: E quem é meu próximo? (cf. Lc 10,29). Esta segunda pergunta será respondida com a parábola do bom samaritano (cf. Lc 10,29-37). O próximo é todo aquele que, de alguma forma, cruza minha história. Sou chamado a amar esse próximo “como a mim mesmo”. Afinal, em outro lugar do Evangelho, está dito: Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas... (cf. Mt 7,12). Todos queremos ser tratados com amor. Justamente por isso, devemos também tratar o próximo com amor... Aquele mesmo amor que recebemos de Deus!

A primeira leitura nos apresenta o “amor” na perspectiva do relacionamento com esse próximo. O trecho de Ex 22, proposto para este domingo, faz parte do chamado “Código da Aliança”. A perícope começa com uma recordação do êxodo do Egito: não se deve oprimir o estrangeiro, porque os próprios israelitas foram também estrangeiros na terra do Egito.

O texto segue enumerando toda a sorte de pessoas que devem ser especialmente protegidas, em virtude da sua particular condição de desfavorecimento: os estrangeiros, as viúvas e os órfãos. Esses são enumerados primeiro. Deus ouvirá o clamor deles e castigará seus opressores. O castigo será a morte, a fim de que as mulheres dos opressores se tornem viúvas e, seus filhos, órfãos. Assim, temendo o próprio destino, e tendo diante dos olhos que tal estado de desfavorecimento pode chegar também às suas casas, os israelitas são chamados a, movidos pelo amor, cuidar dos mais necessitados.[2]

A segunda classe de desfavorecidos são aqueles que caíram em dívidas. Não se deve cobrar “juros” dos irmãos e, caso tenha sido necessário tomar o manto do próximo como penhor, este deverá ser devolvido antes da noite, para que o irmão não fique privado da única coisa que tem para se aquecer. Aqui não se enuncia uma punição, mas Deus adverte que Ele ouvirá o grito do necessitado, porque Ele é “misericordioso”.

Assim, o texto da primeira leitura, começa com a recordação da libertação do Egito e termina com a proclamação da “misericórdia” de Deus. Aquele que, por um amor misericordioso  tirou Israel do Egito, ouvirá também o clamor dos infelizes e oprimidos, como ouviu outrora o clamor do seu povo. O povo deve ser imitador de Deus, ou seja, movido também por um amor misericordioso, deve fazer o bem ao próximo, ouvir suas necessidades e, assim, se tornarão os instrumentos através dos quais Deus agirá sobre a terra.

Podemos concluir nossa reflexão com a segunda leitura. Paulo fala do modo como os Tessalonicenses “acolheram a Palavra”, com a alegria do Espírito Santo, apesar das tribulações. O apóstolo utiliza a expressão decsamenoi ton logon. O verbo dekomai, que aparece aqui no particípio aoristo, significa “receber” ou também “receber algo de alguém”, ou ainda, “receber alguma coisa que é ofertada”. A Palavra foi ofertada aos Tessalonicenses e eles a receberam, tornando-se, assim, “imitadores” de Cristo e do próprio Apóstolo e “modelo” para todos os fiéis da Macedônia.

A Palavra recebida fez com que os fiéis se tornassem “ícones”, “imagens vivas”, do próprio Cristo. Foi a mesma recepção da Palavra que fez com que os Tessalonicenses se convertessem (cf. v. 9), passando a ter no coração uma “esperança”: a da vinda do Cristo (cf. v. 10). Os Tessalonicenses são elogiados pelo Apóstolo porque a vivência da Palavra entre eles não era mais um peso, um mero jugo. Era uma vivência, “com alegria”, da “lei do amor”.

Devemos pedir a Deus a graça de também, a exemplo dos Tessalonicenses, “recebermos com a alegria do Espírito Santo” a Palavra que nos é “ofertada” por Deus, particularmente no contexto da Liturgia da Palavra da Eucaristia Dominical. Este é o “lugar primordial” da Palavra e é abrindo-nos a ela que poderemos ver a face de Cristo ser plasmada em nós.



[1] BIANCHI, Enzo. Gesú, Dio-con-noi, compimento dele Scritture. Milano: San Paolo, 2010, p. 177.

[2] Movidos, também, pelo temor, porque a perfeição da Lei ainda não chegou.

Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida