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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 10/05/2024

10 de Maio de 2024

O centenário de um pastor admirável

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O centenário de um pastor admirável

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11/10/2017 00:00 - Atualizado em 18/10/2017 10:52

O centenário de um pastor admirável 0

11/10/2017 00:00 - Atualizado em 18/10/2017 10:52

Vivendo as vibrantes festas jubilares que marcam os trezentos anos do encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, não poderíamos olvidar outra celebração que ocorrendo neste abençoado mês de outubro faz igualmente transbordar de alegria o nosso coração católico: no dia de hoje, 11 de outubro, celebramos o centenário de nascimento de Dom José D’Angelo Neto. Dom José D’Angelo foi um gigante da evangelização em nosso país, cuja trajetória de trabalhos apostólicos ultrapassa em muito a cidade de Pouso Alegre, onde foi arcebispo por trinta anos, e o próprio Sul de Minas, que tem nele um verdadeiro patriarca.

Dom José, ao lado de outros bispos inesquecíveis, escreveu indelevelmente seus merecimentos na história da Igreja em nosso país e, tanto mais, no livro da vida. Dom José D’Angelo Neto nasceu em Ibituruna-MG, àquela época pertencente a São João Del Rei, aos 11 de outubro de 1917. Ainda muito jovem ingressou no tradicional seminário São José de Mariana, completando aí sua formação eclesiástica. Recebeu a ordenação sacerdotal na Catedral de Mariana, das mãos de Dom Helvécio Gomes de Oliveira, ao 1º de dezembro de 1940.

Por longos anos, exerceu o ministério sacerdotal como pároco de Lagoa Dourada-MG. Em 12 de março de 1960 foi escolhido pelo Papa João XXIII para bispo diocesano, da então diocese de Pouso Alegre. Recebeu a sagração episcopal na Basílica do Pilar, em São João Del Rei, tomando posse de sua diocese a 29 de junho de 1960. Em 14 de abril de 1962 foi promovido a primeiro arcebispo de Pouso Alegre. Participou das quatro sessões do Concílio Vaticano II e da Conferência de Puebla.

Entre 1982 e 1984 foi administrador apostólico da Diocese da Campanha. Desde jovem aspirante à vida religiosa, natural que sou de uma região próxima à Arquidiocese de Pouso Alegre, ouvia falar do arcebispo Dom José D’Angelo e de suas grandes realizações pastorais e caritativas. S. Ex.a era tido como uma espécie de líder nato de toda aquela região pela qual batalhava em múltiplos campos, desde o eclesial até o educativo e beneficente. Cultivei desde então viva admiração pelo pastor da venturosa arquidiocese do Sul de Minas.

Tornando-me sacerdote e depois abade, mesmo antes do episcopado, fui estando mais a par dos matizes estupendos desta personalidade do episcopado brasileiro. A atuação na Abadia de Claraval, no território da província eclesiástica de Pouso Alegre, possibilitou maior conhecimento da atuação de Dom José e, sobretudo, da maneira admirável com que conduzia sua Igreja Particular por dilatados anos, trabalhando efetivamente pela aplicação do Concílio Vaticano II, do qual fora membro destacado. Dom José era um homem de comentada fidalguia.

Sua nobreza, no entanto, não se devia apenas ao seu porte hierático e posturas exatas, menos ainda se revelava em aparatos, antes disso, provinha de uma simplicidade basilar, coroada por uma autenticidade burilada em uma profunda configuração com o Cristo Bom Pastor, com a legítima pobreza evangélica e numa fidelidade irrestrita à Igreja, na pessoa do Sucessor de Pedro. Outra lição caríssima que sobrasava na personalidade de Dom José D’Angelo era o seu equilíbrio inconteste, mesmo diante de conflitos, num período em que em todos os setores da vida eclesial e civil grassavam os extremos. Soube, como bispo pastor, valorizar todas as espiritualidades, movimentos e expressões pastorais, mantendo nas iniciativas eclesiais, como firme timoneiro, muito seguros os ensinamentos tradicionais da Igreja, em vista da missão de anunciar o Evangelho.

Foi o bispo das vocações sacerdotais, do amor incondicional à Igreja e da doação até as últimas consequências, como revela sua dolorosa doença, em que se fez hóstia viva, entregue em oblação pelo povo que tanto amou, mas também o batalhador da saúde, da educação, dos direitos dos trabalhadores e do progresso das localidades confiadas ao seu serviço pastoral. Sua voz, de autoridade inquestionada, se fazia ouvir muito além das montanhas alterosas de Minas, tendo sido ele um dos grandes articuladores da história da CNBB que neste ano completa 65 anos, fundada que foi aqui no Palácio São Joaquim no Rio de Janeiro aos 14 de outubro de 1952.

Ao celebrarmos o centenário do nascimento desse homem de Deus, liderança no episcopado, olhando para a trajetória fulgurante de Dom José D’Angelo Neto, considerando, sobretudo, o que ele significou e significa para a Igreja no Brasil, queremos registrar, ainda que de forma singela, esta efeméride tão grata, agradecendo a Deus, pelas mãos da Senhora Aparecida, de quem foi tão devoto, pela existência preciosa daquele que sem lisonja nós consideramos “um pastor admirável”.


Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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O centenário de um pastor admirável

11/10/2017 00:00 - Atualizado em 18/10/2017 10:52

Vivendo as vibrantes festas jubilares que marcam os trezentos anos do encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, não poderíamos olvidar outra celebração que ocorrendo neste abençoado mês de outubro faz igualmente transbordar de alegria o nosso coração católico: no dia de hoje, 11 de outubro, celebramos o centenário de nascimento de Dom José D’Angelo Neto. Dom José D’Angelo foi um gigante da evangelização em nosso país, cuja trajetória de trabalhos apostólicos ultrapassa em muito a cidade de Pouso Alegre, onde foi arcebispo por trinta anos, e o próprio Sul de Minas, que tem nele um verdadeiro patriarca.

Dom José, ao lado de outros bispos inesquecíveis, escreveu indelevelmente seus merecimentos na história da Igreja em nosso país e, tanto mais, no livro da vida. Dom José D’Angelo Neto nasceu em Ibituruna-MG, àquela época pertencente a São João Del Rei, aos 11 de outubro de 1917. Ainda muito jovem ingressou no tradicional seminário São José de Mariana, completando aí sua formação eclesiástica. Recebeu a ordenação sacerdotal na Catedral de Mariana, das mãos de Dom Helvécio Gomes de Oliveira, ao 1º de dezembro de 1940.

Por longos anos, exerceu o ministério sacerdotal como pároco de Lagoa Dourada-MG. Em 12 de março de 1960 foi escolhido pelo Papa João XXIII para bispo diocesano, da então diocese de Pouso Alegre. Recebeu a sagração episcopal na Basílica do Pilar, em São João Del Rei, tomando posse de sua diocese a 29 de junho de 1960. Em 14 de abril de 1962 foi promovido a primeiro arcebispo de Pouso Alegre. Participou das quatro sessões do Concílio Vaticano II e da Conferência de Puebla.

Entre 1982 e 1984 foi administrador apostólico da Diocese da Campanha. Desde jovem aspirante à vida religiosa, natural que sou de uma região próxima à Arquidiocese de Pouso Alegre, ouvia falar do arcebispo Dom José D’Angelo e de suas grandes realizações pastorais e caritativas. S. Ex.a era tido como uma espécie de líder nato de toda aquela região pela qual batalhava em múltiplos campos, desde o eclesial até o educativo e beneficente. Cultivei desde então viva admiração pelo pastor da venturosa arquidiocese do Sul de Minas.

Tornando-me sacerdote e depois abade, mesmo antes do episcopado, fui estando mais a par dos matizes estupendos desta personalidade do episcopado brasileiro. A atuação na Abadia de Claraval, no território da província eclesiástica de Pouso Alegre, possibilitou maior conhecimento da atuação de Dom José e, sobretudo, da maneira admirável com que conduzia sua Igreja Particular por dilatados anos, trabalhando efetivamente pela aplicação do Concílio Vaticano II, do qual fora membro destacado. Dom José era um homem de comentada fidalguia.

Sua nobreza, no entanto, não se devia apenas ao seu porte hierático e posturas exatas, menos ainda se revelava em aparatos, antes disso, provinha de uma simplicidade basilar, coroada por uma autenticidade burilada em uma profunda configuração com o Cristo Bom Pastor, com a legítima pobreza evangélica e numa fidelidade irrestrita à Igreja, na pessoa do Sucessor de Pedro. Outra lição caríssima que sobrasava na personalidade de Dom José D’Angelo era o seu equilíbrio inconteste, mesmo diante de conflitos, num período em que em todos os setores da vida eclesial e civil grassavam os extremos. Soube, como bispo pastor, valorizar todas as espiritualidades, movimentos e expressões pastorais, mantendo nas iniciativas eclesiais, como firme timoneiro, muito seguros os ensinamentos tradicionais da Igreja, em vista da missão de anunciar o Evangelho.

Foi o bispo das vocações sacerdotais, do amor incondicional à Igreja e da doação até as últimas consequências, como revela sua dolorosa doença, em que se fez hóstia viva, entregue em oblação pelo povo que tanto amou, mas também o batalhador da saúde, da educação, dos direitos dos trabalhadores e do progresso das localidades confiadas ao seu serviço pastoral. Sua voz, de autoridade inquestionada, se fazia ouvir muito além das montanhas alterosas de Minas, tendo sido ele um dos grandes articuladores da história da CNBB que neste ano completa 65 anos, fundada que foi aqui no Palácio São Joaquim no Rio de Janeiro aos 14 de outubro de 1952.

Ao celebrarmos o centenário do nascimento desse homem de Deus, liderança no episcopado, olhando para a trajetória fulgurante de Dom José D’Angelo Neto, considerando, sobretudo, o que ele significou e significa para a Igreja no Brasil, queremos registrar, ainda que de forma singela, esta efeméride tão grata, agradecendo a Deus, pelas mãos da Senhora Aparecida, de quem foi tão devoto, pela existência preciosa daquele que sem lisonja nós consideramos “um pastor admirável”.


Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro