Arquidiocese do Rio de Janeiro

34º 22º

Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

O chamado de Deus é para todos

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13/10/2017 15:05 - Atualizado em 13/10/2017 15:05

O chamado de Deus é para todos 0

13/10/2017 15:05 - Atualizado em 13/10/2017 15:05

O evangelho deste domingo encerra o conjunto das três parábolas que encontramos nos caps. 21-22 de Mateus e que Jesus dirige aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo (cf. Mt 21,23) que lhe interrogam a respeito da sua autoridade. As três parábolas – a dos dois filhos (Mt 21,28-32); a dos vinhateiros homicidas (Mt 21,33-46) e a que ouvimos neste domingo, a do banquete nupcial (Mt 22,1-14) – têm o mesmo desfecho: o Reino de Deus, ao qual são convidados em primeiro lugar o povo da primeira aliança, os judeus, será entregue, agora, a todo aquele que aderir a Cristo pela fé, acolhendo seu convite e tomando sobre si o jugo suave do Evangelho.

O texto de Mt 22,1-14 está em consonância com a primeira leitura: Is 25,6-10a, que é um texto escatológico, contextualizado no grande conjunto formado pelos caps. 24-27 do livro de Isaías[1], onde o profeta anuncia o juízo de Deus e os novos tempos que serão inaugurados. Nestes novos tempos o Senhor reunirá sobre “esta montanha”, ou seja, em Jerusalém, “todos os povos” e ali oferecerá um grande banquete. A comensalidade indica a comunhão de vida que deverá unir todos estes povos, outrora divididos, mas agora unidos pelo Senhor. O profeta segue enumerando quais serão as demais ações divinas: Ele removerá a cadeia que ligava os povos; eliminará a morte; enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo na terra. Esse conjunto de ações divinas produzirá no povo a fé, eles reconhecerão que Deus atua em seu favor, e dirão: Este é o nosso Deus, esperamos nele, até que nos salvou… (Is 25,9). O trecho lido hoje na celebração da Eucaristia termina com metade do v. 10: E a mão do Senhor repousará sobre este monte. No texto de Isaías, a continuação do v. 10 são palavras de juízo contra Moab.

Uma imagem de banquete também nos é apresentada pelo Salmo 22(23),5: Preparais à minha frente uma mesa, bem à vista do inimigo, e com óleo vós ungis minha cabeça; o meu cálice transborda.

Tanto a primeira leitura, quando o Salmo responsorial, nos apresentam, assim, a imagem do banquete como sinal da comunhão com Deus. Na primeira leitura, o profeta vê os tempos novos inaugurados por Deus, o tempo escatológico, como um grande banquete no qual Deus reunirá os povos e atuará de modo salvífico em favor deles, eliminando todos os sinais de morte. No Salmo, o autor inspirado canta a beleza da confiança do fiel: este tem no Senhor o seu pastor, e está convicto de que Ele lhe dará vitória diante de seus inimigos, preparando para Ele um banquete farto, com cálice que transborda e com direito a uma unção, sinal de grande honra e solenidade.

O evangelho também nos trás a imagem de uma festa, poderíamos dizer, de um banquete. Mas não se trata de uma festa qualquer. Trata-se de uma festa de casamento. Predomina na parábola o termo grego gamos, que significa o “matrimônio” ou “uma festa de matrimônio”. Tal termo aparece aparece 16x no Novo Testamento. Dessas 16 aparições, 12 se referem estritamente às nupciais do Filho de Deus com a humanidade (Mt 22,1-14 [8x]; Mt 25,10; Lc 12,36; Ap 19,7.9). Em Hb 13,4 o termo se refere ao matrimônio em geral. Em Lc 14,8 o termo aparece na parábola que Jesus conta sobre aqueles que devem escolher, numa festa de casamento, os últimos lugares. Em Jo 2,1.2 o termo se refere de modo direto à festa de matrimônio onde Jesus está presente, juntamente com sua mãe e os seus discípulos. De modo simbólico, contudo, sabemos que também a passage das bodas de Caná se refere às nupcias do Filho de Deus com a humanidade.

Na parábola deste domingo, onde Jesus quer mostrar como é o Reino dos Céus, o rei prepara a “festa de casamento” de seu Filho. Ele manda seus empregados chamarem os convidados. Diante de uma primeira recusa, o rei manda outros empregados, agora com uma notícia: Já preparei o banquete; os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Vinde para as núpcias! Contudo, a reação dos convidados foi pior: alguns recusaram o convite retornando para suas atividades; outros agrediram os empregados e os mataram.

No v.7 o rei tem um ataque de fúria. Manda matar esses “assassinos” e “incendiar” a sua cidade. Nos vv. 8-10 o mesmo rei manda seus empregados saírem até as encruzilhadas dos caminhos, convidando todos os que eles encontrarem, pois as núpcias estão prontas e a sala deve ficar repleta, de maus e bons. Estes aceitam o convite do rei e a sala fica repleta.

Os vv. 1-10 são um resumo da história da salvação, tal como a parábola dos vinhateiros homicidas que ouvimos no último domingo.

O rei é Deus Pai, que preparou as núpcias do seu Filho, as núpcias do Cordeiro como diz Ap 19,7.9. Para estas núpcias foram convidados primeiro os membros do povo da primeira aliança, os judeus, aqueles a quem a Palavra de Deus se dirigiu em primeiro lugar.

Diante de sua recusa, o Pai lhes enviou mais empregados. Podemos ver nesse envio dos empregados do rei, a atuação dos profetas. Ao chamar o povo à conversão, eles o chamavam a uma comunhão de vida com o próprio Deus. A recusa a esse convite se expressa de modo concreto na recusa a reconhecer no Cristo o Messias esperado. Não reconhecendo o Cristo como Salvador, eles não entram nas núpcias, na festa que o Pai preparou com tanto esmero.

Não aceitam o casamento do Filho de Deus com a humanidade: seja em si mesmo, quando assumiu nossa natureza, seja ao tornar a Igreja sua esposa diletíssima. Não somente o convite foi recusado, mas também esses empregados foram mortos de modo violento.

A fúria do rei indicada no v. 7 pode se referir, como acreditam alguns estudiosos de Mateus, à destruição de Jerusalém em torno do ano 70 d.C. Por isso Mateus carrega nas cores, afirmando que o rei mandou “incendiar a cidade”, enviando suas tropas “para matar” aqueles assassinos.

Os vv. 8-10 concluem a primeira parte da parábola. A parábola dos vinhateiros homicidas foi concluída com a afirmação de Jesus: ...o Reino de Deus vos será tirado e entregue a um povo que produza frutos (Mt 21,43), indicando com isso que o projeto do Pai se realizava agora em plenitude, ou seja, o Reino está aberto a todo aquele que quiser aderir a Cristo pela fé, produzindo frutos. A parábola de hoje termina dizendo a mesma coisa de uma outra forma. O convite feito a todos os que estavam pelas encruzilhadas, bons e maus, que acabaram por lotar a sala das núpcias é anúncio do tempo novo, também predito pelo profeta Isaías, onde Deus vai reunir todos os homens, bons e maus, judeus e pagãos, chamando-os à salvação. Todos os que vierem às núpcias, ou seja, todos os que acolherem a boa nova do Evangelho, serão admitidos à comunhão com o Senhor e possuem um lugar em seu Reino.

Nos intrigam, contudo, os vv. 11-13. O que significa esse homem sem traje de festa? Alguns pensam que seja uma inclusão de Mateus à parábola de Jesus. Os cristãos não podiam se sentir auto-confiantes esquecendo-se da necessidade de uma continua conversão. Mateus não quer que os cristãos de sua comunidade venham a sofrer da falsa segurança religiosa, recaindo no mesmo erro que muitos membros do povo da primeira aliança. Por isso, ele fala desse homem que vai ao banquete, mas que está sem o “traje nupcial”. Este é lançado fora, porque é necessário portar sempre consigo a veste nupcial, sinal visível de sua comunhão com o espírito que anima tal cerimônia. De modo simbólico poderia ser uma referência a adesão interior a Cristo que, como chama que arde, deve ser mantida acesa no coração de cada cristão. Já Paulo adverte: vós que fostes batizados em Cristo, de Cristo vos vestistes… (Gl 3,27) Mateus quereria alertar, então, aos seus leitores, sobre a necessidade de se manter numa comunhão de vida com Cristo. Isso é portar a veste nupcial.

O v. 14 encerra toda a parábola: Muitos são os chamados, poucos os escolhidos. Não que Deus queira escolher poucos, ou que o Reino seja para uma elite, mas de fato, nem todos acolhem o chamado divino. Deus não seja de chamar para o seu Reino, mas muitos se fecham em seus afazeres, recusam-se à acolher sua Palavra e, por isso, se excluem do banquete nupcial.

A Eucaristia é este nosso banquete. Ela realiza a profecia de Isaías em nossa vida. O Salmo 22 acontece para nós cada domingo, porque Deus nos unge com seu Espírito e prepara para nós, diante do inimigo de nossas almas, diante daquele que nos acusa, essa mesa de irmãos, onde nos nutrimos quer da Palavra, quer do Corpo e Sangue do Ressuscitado. Eis aqui, cada domingo, as núpcias do Filho de Deus às quais todos somos chamados. Esta mesa antecipa as núpcias eternas: a mesa do Reino, aquela que o Senhor prepara para nós, no céu.

Que possamos ouvir sempre o convite daquele que não cessa de nos chamar a comunhão com Ele. Que não fechemos jamais nosso coração ao seu chamado de amor. Seja a assembleia dominical nosso gozo, nossa alegria, da qual nunca nos excluímos e na qual estamos sempre presentes, portando nossas vestes, porque fomos delas revestidos em nosso Batismo; vestes essas que não cansamos de lavar e lavar no Sangue do Cordeiro, que nos purifica de nossos pecados para que possamos viver em plena comunhão de vida com Ele.

 


[1] Esse conjunto é equivocadamente chamado de Apocalipse de Isaías. Não se trata de textos apocalípticos, mas sim de textos escatológicos, que apresentam a palavra do profeta anunciando o juízo divino e a instauração de uma nova ordem. A apocalíptica é gênero literário muito específico, e só encontramos textos apocalípticos, no Antigo Testamento, dentro do livro de Daniel.

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13/10/2017 15:05 - Atualizado em 13/10/2017 15:05

O evangelho deste domingo encerra o conjunto das três parábolas que encontramos nos caps. 21-22 de Mateus e que Jesus dirige aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo (cf. Mt 21,23) que lhe interrogam a respeito da sua autoridade. As três parábolas – a dos dois filhos (Mt 21,28-32); a dos vinhateiros homicidas (Mt 21,33-46) e a que ouvimos neste domingo, a do banquete nupcial (Mt 22,1-14) – têm o mesmo desfecho: o Reino de Deus, ao qual são convidados em primeiro lugar o povo da primeira aliança, os judeus, será entregue, agora, a todo aquele que aderir a Cristo pela fé, acolhendo seu convite e tomando sobre si o jugo suave do Evangelho.

O texto de Mt 22,1-14 está em consonância com a primeira leitura: Is 25,6-10a, que é um texto escatológico, contextualizado no grande conjunto formado pelos caps. 24-27 do livro de Isaías[1], onde o profeta anuncia o juízo de Deus e os novos tempos que serão inaugurados. Nestes novos tempos o Senhor reunirá sobre “esta montanha”, ou seja, em Jerusalém, “todos os povos” e ali oferecerá um grande banquete. A comensalidade indica a comunhão de vida que deverá unir todos estes povos, outrora divididos, mas agora unidos pelo Senhor. O profeta segue enumerando quais serão as demais ações divinas: Ele removerá a cadeia que ligava os povos; eliminará a morte; enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo na terra. Esse conjunto de ações divinas produzirá no povo a fé, eles reconhecerão que Deus atua em seu favor, e dirão: Este é o nosso Deus, esperamos nele, até que nos salvou… (Is 25,9). O trecho lido hoje na celebração da Eucaristia termina com metade do v. 10: E a mão do Senhor repousará sobre este monte. No texto de Isaías, a continuação do v. 10 são palavras de juízo contra Moab.

Uma imagem de banquete também nos é apresentada pelo Salmo 22(23),5: Preparais à minha frente uma mesa, bem à vista do inimigo, e com óleo vós ungis minha cabeça; o meu cálice transborda.

Tanto a primeira leitura, quando o Salmo responsorial, nos apresentam, assim, a imagem do banquete como sinal da comunhão com Deus. Na primeira leitura, o profeta vê os tempos novos inaugurados por Deus, o tempo escatológico, como um grande banquete no qual Deus reunirá os povos e atuará de modo salvífico em favor deles, eliminando todos os sinais de morte. No Salmo, o autor inspirado canta a beleza da confiança do fiel: este tem no Senhor o seu pastor, e está convicto de que Ele lhe dará vitória diante de seus inimigos, preparando para Ele um banquete farto, com cálice que transborda e com direito a uma unção, sinal de grande honra e solenidade.

O evangelho também nos trás a imagem de uma festa, poderíamos dizer, de um banquete. Mas não se trata de uma festa qualquer. Trata-se de uma festa de casamento. Predomina na parábola o termo grego gamos, que significa o “matrimônio” ou “uma festa de matrimônio”. Tal termo aparece aparece 16x no Novo Testamento. Dessas 16 aparições, 12 se referem estritamente às nupciais do Filho de Deus com a humanidade (Mt 22,1-14 [8x]; Mt 25,10; Lc 12,36; Ap 19,7.9). Em Hb 13,4 o termo se refere ao matrimônio em geral. Em Lc 14,8 o termo aparece na parábola que Jesus conta sobre aqueles que devem escolher, numa festa de casamento, os últimos lugares. Em Jo 2,1.2 o termo se refere de modo direto à festa de matrimônio onde Jesus está presente, juntamente com sua mãe e os seus discípulos. De modo simbólico, contudo, sabemos que também a passage das bodas de Caná se refere às nupcias do Filho de Deus com a humanidade.

Na parábola deste domingo, onde Jesus quer mostrar como é o Reino dos Céus, o rei prepara a “festa de casamento” de seu Filho. Ele manda seus empregados chamarem os convidados. Diante de uma primeira recusa, o rei manda outros empregados, agora com uma notícia: Já preparei o banquete; os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Vinde para as núpcias! Contudo, a reação dos convidados foi pior: alguns recusaram o convite retornando para suas atividades; outros agrediram os empregados e os mataram.

No v.7 o rei tem um ataque de fúria. Manda matar esses “assassinos” e “incendiar” a sua cidade. Nos vv. 8-10 o mesmo rei manda seus empregados saírem até as encruzilhadas dos caminhos, convidando todos os que eles encontrarem, pois as núpcias estão prontas e a sala deve ficar repleta, de maus e bons. Estes aceitam o convite do rei e a sala fica repleta.

Os vv. 1-10 são um resumo da história da salvação, tal como a parábola dos vinhateiros homicidas que ouvimos no último domingo.

O rei é Deus Pai, que preparou as núpcias do seu Filho, as núpcias do Cordeiro como diz Ap 19,7.9. Para estas núpcias foram convidados primeiro os membros do povo da primeira aliança, os judeus, aqueles a quem a Palavra de Deus se dirigiu em primeiro lugar.

Diante de sua recusa, o Pai lhes enviou mais empregados. Podemos ver nesse envio dos empregados do rei, a atuação dos profetas. Ao chamar o povo à conversão, eles o chamavam a uma comunhão de vida com o próprio Deus. A recusa a esse convite se expressa de modo concreto na recusa a reconhecer no Cristo o Messias esperado. Não reconhecendo o Cristo como Salvador, eles não entram nas núpcias, na festa que o Pai preparou com tanto esmero.

Não aceitam o casamento do Filho de Deus com a humanidade: seja em si mesmo, quando assumiu nossa natureza, seja ao tornar a Igreja sua esposa diletíssima. Não somente o convite foi recusado, mas também esses empregados foram mortos de modo violento.

A fúria do rei indicada no v. 7 pode se referir, como acreditam alguns estudiosos de Mateus, à destruição de Jerusalém em torno do ano 70 d.C. Por isso Mateus carrega nas cores, afirmando que o rei mandou “incendiar a cidade”, enviando suas tropas “para matar” aqueles assassinos.

Os vv. 8-10 concluem a primeira parte da parábola. A parábola dos vinhateiros homicidas foi concluída com a afirmação de Jesus: ...o Reino de Deus vos será tirado e entregue a um povo que produza frutos (Mt 21,43), indicando com isso que o projeto do Pai se realizava agora em plenitude, ou seja, o Reino está aberto a todo aquele que quiser aderir a Cristo pela fé, produzindo frutos. A parábola de hoje termina dizendo a mesma coisa de uma outra forma. O convite feito a todos os que estavam pelas encruzilhadas, bons e maus, que acabaram por lotar a sala das núpcias é anúncio do tempo novo, também predito pelo profeta Isaías, onde Deus vai reunir todos os homens, bons e maus, judeus e pagãos, chamando-os à salvação. Todos os que vierem às núpcias, ou seja, todos os que acolherem a boa nova do Evangelho, serão admitidos à comunhão com o Senhor e possuem um lugar em seu Reino.

Nos intrigam, contudo, os vv. 11-13. O que significa esse homem sem traje de festa? Alguns pensam que seja uma inclusão de Mateus à parábola de Jesus. Os cristãos não podiam se sentir auto-confiantes esquecendo-se da necessidade de uma continua conversão. Mateus não quer que os cristãos de sua comunidade venham a sofrer da falsa segurança religiosa, recaindo no mesmo erro que muitos membros do povo da primeira aliança. Por isso, ele fala desse homem que vai ao banquete, mas que está sem o “traje nupcial”. Este é lançado fora, porque é necessário portar sempre consigo a veste nupcial, sinal visível de sua comunhão com o espírito que anima tal cerimônia. De modo simbólico poderia ser uma referência a adesão interior a Cristo que, como chama que arde, deve ser mantida acesa no coração de cada cristão. Já Paulo adverte: vós que fostes batizados em Cristo, de Cristo vos vestistes… (Gl 3,27) Mateus quereria alertar, então, aos seus leitores, sobre a necessidade de se manter numa comunhão de vida com Cristo. Isso é portar a veste nupcial.

O v. 14 encerra toda a parábola: Muitos são os chamados, poucos os escolhidos. Não que Deus queira escolher poucos, ou que o Reino seja para uma elite, mas de fato, nem todos acolhem o chamado divino. Deus não seja de chamar para o seu Reino, mas muitos se fecham em seus afazeres, recusam-se à acolher sua Palavra e, por isso, se excluem do banquete nupcial.

A Eucaristia é este nosso banquete. Ela realiza a profecia de Isaías em nossa vida. O Salmo 22 acontece para nós cada domingo, porque Deus nos unge com seu Espírito e prepara para nós, diante do inimigo de nossas almas, diante daquele que nos acusa, essa mesa de irmãos, onde nos nutrimos quer da Palavra, quer do Corpo e Sangue do Ressuscitado. Eis aqui, cada domingo, as núpcias do Filho de Deus às quais todos somos chamados. Esta mesa antecipa as núpcias eternas: a mesa do Reino, aquela que o Senhor prepara para nós, no céu.

Que possamos ouvir sempre o convite daquele que não cessa de nos chamar a comunhão com Ele. Que não fechemos jamais nosso coração ao seu chamado de amor. Seja a assembleia dominical nosso gozo, nossa alegria, da qual nunca nos excluímos e na qual estamos sempre presentes, portando nossas vestes, porque fomos delas revestidos em nosso Batismo; vestes essas que não cansamos de lavar e lavar no Sangue do Cordeiro, que nos purifica de nossos pecados para que possamos viver em plena comunhão de vida com Ele.

 


[1] Esse conjunto é equivocadamente chamado de Apocalipse de Isaías. Não se trata de textos apocalípticos, mas sim de textos escatológicos, que apresentam a palavra do profeta anunciando o juízo divino e a instauração de uma nova ordem. A apocalíptica é gênero literário muito específico, e só encontramos textos apocalípticos, no Antigo Testamento, dentro do livro de Daniel.

Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida