Arquidiocese do Rio de Janeiro

29º 22º

Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 09/05/2024

09 de Maio de 2024

Vida Religiosa: Sinais do Reino

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do e-mail.
E-mail enviado com sucesso.

09 de Maio de 2024

Vida Religiosa: Sinais do Reino

Se você encontrou erro neste texto ou nesta página, por favor preencha os campos abaixo. O link da página será enviado automaticamente a ArqRio.

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do erro.
Erro relatado com sucesso, obrigado.

20/08/2017 00:00

Vida Religiosa: Sinais do Reino 0

20/08/2017 00:00

Prosseguindo na tradição de marcar o mês de agosto com os temas vocacionais, iniciamos neste domingo da Assunção de Nossa Senhora o tema das vocações à vida religiosa, consagrada.

Ela é, sem dúvida, um sinal de contradição! Num mundo onde há o individualismo, a busca desenfreada em possuir, o consumismo, o exagero do hedonismo e o apego e busca insaciável do poder fazer a profissão de pobreza, castidade e obediência, incomoda a nossa sociedade.

As perguntas incomodadas e a tentativa de dizer que isso não é possível esbarram no exemplo de Jesus Cristo, que escolheu esse tipo de vida para si. Foi também Ele que disse que muitos iriam se comportar assim devido à entrega de sua vida à causa do Reino dos Céus.

É interessante que todos esses passos acontecem na inteira liberdade da pessoa que, respondendo ao chamado do Senhor, pede à Igreja para que possa viver dessa maneira dentro de uma comunidade e carisma específico. A Igreja, com sua sabedoria secular, propõe que esses passos sejam dados com muita maturidade, depois de um longo tempo de reflexão e meditação, após passagens por várias etapas comprovando que realmente a pessoa tem essa vocação.

As pessoas se esquecem de que a vida religiosa na Igreja nasce logo no início como um grande dom à Igreja e grande oportunidade de santificação para as pessoas que assim são chamadas. Sabemos que todos somos chamados à santidade, mas a vida religiosa é um chamado especial para recordar à Igreja o chamado universal à santidade. É uma oportunidade de viver o Batismo de maneira radical e testemunhar o poder de Deus em chamar homens e mulheres vivendo em comunidade como sinal daquilo que um dia irá ocorrer com todos no final da vida e no final dos tempos – é o sinal escatológico – quando todos deveremos ser pobres, castos e obedientes.

É também por esse “nadar contra a corrente” e incomodar com o seu testemunho o mundo atual que se procura encontrar erros e incoerências na vida dessas pessoas para que, em divulgando, se possa defender a tese de que isso não é possível. O que ocorre é exatamente o contrário: as exceções chamam atenção para a regra: se existe uma margem de pessoas que não conseguem ser coerente com os votos professados, a maioria, no entanto, continua sendo alegre e fiel ao caminho que um dia começou a trilhar na vida religiosa.

É realmente interessante ver o combate que se faz contra, e com isso criticam a Igreja como se ela forçasse as pessoas a assim agirem ou a escolherem esse tipo de vida, quando na realidade vemos aí a mão de Deus, e a Igreja tem a missão apenas de discernir os espíritos e acolher e disciplinar os pedidos que são feitos para assim viverem e serem dessa forma reconhecidos por ela.

Há muitas formas de vida que só na fé se consegue compreender, pois supõe a comunicação de bens sobrenaturais na graça de Deus e na comunhão das pessoas no Senhor, como são as vocações à vida de oração contemplativa e de sacrifícios para a intercessão em favor de todos. Para o homem sem fé e que procura eficiência nos resultados é um sinal que muito o incomoda.

A vida religiosa masculina e feminina representa para a sociedade um passo muito importante para que a vida em Cristo possa ser ainda mais acolhida pelas pessoas, pois o primeiro serviço que a vida religiosa presta é justamente o seu testemunho, o seu próprio modo de viver. É este o grande sinal: o ser das pessoas que assim vivem. Por isso, grande parte dos consagrados exerce um carisma missionário, servindo à Igreja como anunciadores da boa notícia – do Evangelho – e do Cristo Ressuscitado a todos.

Além do “ser” da vida religiosa, ela também, no decorrer dos séculos, agiu com muitas obras em favor dos doentes, educandos, órfãos, pobres, necessitados e tantos outros serviços à comunidade. Todos sabemos que quando as irmãs estavam servindo em muitas dessas obras que a Igreja proporcionou como maneira de ação social, as pessoas eram muito melhor acolhidas e assistidas, pois não faziam apenas como um serviço ou para ganhar dinheiro, mas sim por amor a Cristo presente naquela pessoa.

O testemunho que se ouve é que quem conheceu esses trabalhos dos consagrados tem saudades daquilo que representaram nesses trabalhos. Hoje também estão presentes, preocupados com a transformação social de nosso mundo, e, tendo optado por um tipo de vida radical, podem chamar a atenção da sociedade sobre os caminhos errados que muitas vezes estamos percorrendo.

Além das formas tradicionais de vida religiosa que conhecemos, o Espírito Santo tem suscitado na Igreja novas formas como são hoje as “novas comunidades”. Além dos homens e mulheres celibatários, temos também os casais e famílias consagrados e que moram em comunidades com carismas próprios e procuram colocar em prática, na radicalidade, a vida do Evangelho. E essa nova forma de consagração tem aumentado a cada dia e entusiasmado os jovens que Deus chama para seguir essa missão.

É interessante ver como as coisas ocorrem: os novos tipos de consagração só aos poucos vão encontrando a maneira jurídica de se estabelecerem e serem reconhecidos na Igreja, pois não havia ainda a regulamentação canônica de como obter reconhecimento e acompanhamento da Igreja. Situação que pouco a pouco foi sendo superada pela sabedoria da Igreja e acompanhamento carinhoso dessas obras. É o Espírito Santo que vai à frente! À instituição cabe discernir, acompanhar e ajudar nessa caminhada.

Diante dessa sociedade egoísta e violenta, vivemos hoje uma nova explosão de vitalidade de consagração de homens e mulheres na vida e missão da Igreja. Nesse mundo em que uns se fecham contra os outros – basta ver as fronteiras dos ricos se fechando para os países pobres, onde não se acredita na unidade, na diversidade e que somos todos irmãos –, vemos aí a divisão das etnias e tradições que não querem permanecer unidas num mesmo país e as dificuldades em fazer valer tratados internacionais pela paz e pelo respeito ao comércio mundial – basta vermos os últimos acontecimentos –, a vida religiosa é um chamado para que, com o Evangelho, se construa uma nova sociedade. Sim, é possível um mundo novo e a vida religiosa, se vivida com alegria e radicalidade. É um sinal para essa possibilidade. Comunidades onde se vive a fraternidade, perdão, unidade na diversidade, alegria pela doação de vida e acolhimento e serviço desinteressado a todos, além de sinal de contradição, se anuncia essa possibilidade de um mundo novo construído em novas bases. Um anúncio sem ódio e sem divisões, mas testemunhado e anunciado com vigor.

Que este dia de orações pelas vocações religiosas consagradas abra os nossos olhos para ver a ação de Deus na vida das pessoas e abra os nossos corações para a oração.

 

Leia os comentários

Deixe seu comentário

Resposta ao comentário de:

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do comentário.
Comentário enviado para aprovação.

Vida Religiosa: Sinais do Reino

20/08/2017 00:00

Prosseguindo na tradição de marcar o mês de agosto com os temas vocacionais, iniciamos neste domingo da Assunção de Nossa Senhora o tema das vocações à vida religiosa, consagrada.

Ela é, sem dúvida, um sinal de contradição! Num mundo onde há o individualismo, a busca desenfreada em possuir, o consumismo, o exagero do hedonismo e o apego e busca insaciável do poder fazer a profissão de pobreza, castidade e obediência, incomoda a nossa sociedade.

As perguntas incomodadas e a tentativa de dizer que isso não é possível esbarram no exemplo de Jesus Cristo, que escolheu esse tipo de vida para si. Foi também Ele que disse que muitos iriam se comportar assim devido à entrega de sua vida à causa do Reino dos Céus.

É interessante que todos esses passos acontecem na inteira liberdade da pessoa que, respondendo ao chamado do Senhor, pede à Igreja para que possa viver dessa maneira dentro de uma comunidade e carisma específico. A Igreja, com sua sabedoria secular, propõe que esses passos sejam dados com muita maturidade, depois de um longo tempo de reflexão e meditação, após passagens por várias etapas comprovando que realmente a pessoa tem essa vocação.

As pessoas se esquecem de que a vida religiosa na Igreja nasce logo no início como um grande dom à Igreja e grande oportunidade de santificação para as pessoas que assim são chamadas. Sabemos que todos somos chamados à santidade, mas a vida religiosa é um chamado especial para recordar à Igreja o chamado universal à santidade. É uma oportunidade de viver o Batismo de maneira radical e testemunhar o poder de Deus em chamar homens e mulheres vivendo em comunidade como sinal daquilo que um dia irá ocorrer com todos no final da vida e no final dos tempos – é o sinal escatológico – quando todos deveremos ser pobres, castos e obedientes.

É também por esse “nadar contra a corrente” e incomodar com o seu testemunho o mundo atual que se procura encontrar erros e incoerências na vida dessas pessoas para que, em divulgando, se possa defender a tese de que isso não é possível. O que ocorre é exatamente o contrário: as exceções chamam atenção para a regra: se existe uma margem de pessoas que não conseguem ser coerente com os votos professados, a maioria, no entanto, continua sendo alegre e fiel ao caminho que um dia começou a trilhar na vida religiosa.

É realmente interessante ver o combate que se faz contra, e com isso criticam a Igreja como se ela forçasse as pessoas a assim agirem ou a escolherem esse tipo de vida, quando na realidade vemos aí a mão de Deus, e a Igreja tem a missão apenas de discernir os espíritos e acolher e disciplinar os pedidos que são feitos para assim viverem e serem dessa forma reconhecidos por ela.

Há muitas formas de vida que só na fé se consegue compreender, pois supõe a comunicação de bens sobrenaturais na graça de Deus e na comunhão das pessoas no Senhor, como são as vocações à vida de oração contemplativa e de sacrifícios para a intercessão em favor de todos. Para o homem sem fé e que procura eficiência nos resultados é um sinal que muito o incomoda.

A vida religiosa masculina e feminina representa para a sociedade um passo muito importante para que a vida em Cristo possa ser ainda mais acolhida pelas pessoas, pois o primeiro serviço que a vida religiosa presta é justamente o seu testemunho, o seu próprio modo de viver. É este o grande sinal: o ser das pessoas que assim vivem. Por isso, grande parte dos consagrados exerce um carisma missionário, servindo à Igreja como anunciadores da boa notícia – do Evangelho – e do Cristo Ressuscitado a todos.

Além do “ser” da vida religiosa, ela também, no decorrer dos séculos, agiu com muitas obras em favor dos doentes, educandos, órfãos, pobres, necessitados e tantos outros serviços à comunidade. Todos sabemos que quando as irmãs estavam servindo em muitas dessas obras que a Igreja proporcionou como maneira de ação social, as pessoas eram muito melhor acolhidas e assistidas, pois não faziam apenas como um serviço ou para ganhar dinheiro, mas sim por amor a Cristo presente naquela pessoa.

O testemunho que se ouve é que quem conheceu esses trabalhos dos consagrados tem saudades daquilo que representaram nesses trabalhos. Hoje também estão presentes, preocupados com a transformação social de nosso mundo, e, tendo optado por um tipo de vida radical, podem chamar a atenção da sociedade sobre os caminhos errados que muitas vezes estamos percorrendo.

Além das formas tradicionais de vida religiosa que conhecemos, o Espírito Santo tem suscitado na Igreja novas formas como são hoje as “novas comunidades”. Além dos homens e mulheres celibatários, temos também os casais e famílias consagrados e que moram em comunidades com carismas próprios e procuram colocar em prática, na radicalidade, a vida do Evangelho. E essa nova forma de consagração tem aumentado a cada dia e entusiasmado os jovens que Deus chama para seguir essa missão.

É interessante ver como as coisas ocorrem: os novos tipos de consagração só aos poucos vão encontrando a maneira jurídica de se estabelecerem e serem reconhecidos na Igreja, pois não havia ainda a regulamentação canônica de como obter reconhecimento e acompanhamento da Igreja. Situação que pouco a pouco foi sendo superada pela sabedoria da Igreja e acompanhamento carinhoso dessas obras. É o Espírito Santo que vai à frente! À instituição cabe discernir, acompanhar e ajudar nessa caminhada.

Diante dessa sociedade egoísta e violenta, vivemos hoje uma nova explosão de vitalidade de consagração de homens e mulheres na vida e missão da Igreja. Nesse mundo em que uns se fecham contra os outros – basta ver as fronteiras dos ricos se fechando para os países pobres, onde não se acredita na unidade, na diversidade e que somos todos irmãos –, vemos aí a divisão das etnias e tradições que não querem permanecer unidas num mesmo país e as dificuldades em fazer valer tratados internacionais pela paz e pelo respeito ao comércio mundial – basta vermos os últimos acontecimentos –, a vida religiosa é um chamado para que, com o Evangelho, se construa uma nova sociedade. Sim, é possível um mundo novo e a vida religiosa, se vivida com alegria e radicalidade. É um sinal para essa possibilidade. Comunidades onde se vive a fraternidade, perdão, unidade na diversidade, alegria pela doação de vida e acolhimento e serviço desinteressado a todos, além de sinal de contradição, se anuncia essa possibilidade de um mundo novo construído em novas bases. Um anúncio sem ódio e sem divisões, mas testemunhado e anunciado com vigor.

Que este dia de orações pelas vocações religiosas consagradas abra os nossos olhos para ver a ação de Deus na vida das pessoas e abra os nossos corações para a oração.

 

Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro