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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 10/05/2024

10 de Maio de 2024

Jesus, o rosto humano de Deus

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Jesus, o rosto humano de Deus

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12/05/2017 17:15 - Atualizado em 12/05/2017 17:17

Jesus, o rosto humano de Deus 0

12/05/2017 17:15 - Atualizado em 12/05/2017 17:17

No horizonte religioso, uma pergunta sempre pairou na imaginação humana: quem é Deus? Como compreendê-Lo? A história da humanidade, que, em certo sentido, se pode dizer história religiosa – posto que a religião é realidade sempre presente –, tem registros, de todas as épocas, relativos a esta dúvida perene.

Para o judaísmo e também para o cristianismo, a essência de Deus é comunicada pelo próprio. O homem, por si só, é incapaz de compreender a essência divina, a menos que o próprio Deus se comunique. Logo, a Revelação é mais do que um conteúdo inteligível, é um ato de amor. Só se revela a outro quem O ama, e, se Deus quis que O conhecêssemos, é porque nos ama.

Esta verdade de fé aparece para nós tanto no Antigo como no Novo Testamento. Ao convocar Moisés e enviá-lo ao Faraó para liberar seu povo, Deus revela o Seu Nome: “Eu Sou” (Ex 3,14). Não é preciso maiores explicações. Ser é verbo intransitivo. “N’Ele vivemos, nos movemos e somos” (At 17,28). Somos seres porque participamos do Ser de Deus. Depois, lemos em São João: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14), e “ninguém jamais viu a Deus. O Filho, que estava no seio do Pai, no-Lo deu a conhecer” (Jo 1,18). É na carne de Jesus que experimentamos Deus, invisível em sua natureza (Jo 14,9; Cl 1,15).

A partir desta reflexão, entendemos porque a teologia cristã, fundada no dogma trinitário, sempre invocou a Deus como Pai. No entanto, embora esta imagem seja carregada de gênero, não tem a pretensão de defini-Lo. Em Deus não há gênero e, se o invocamos como Pai, tal invocação tem duplo sentido: 1) reproduzir o ensinamento de Jesus; 2) compreender que toda realidade é gerada a partir d’Ele, ou seja, cabe a Jesus cumprir a sua vontade, que é que todos tenhamos a vida eterna. A imagem do Pai não é carregada de sentido biológico, mas ontológico, ou seja, como fonte da vida. Aliás, a própria palavra “Deus”, embora nos induza a pensar em gênero masculino, poderia ser dita de “gênero neutro”, pois admitir gênero em Deus implica negar sua perfeição. O gênero pertence à nossa esfera de imperfeitos, pois necessita de complemento. Masculino e feminino não conseguem viver de forma independente. Ademais, se Deus tivesse apenas um gênero, como poderia ser a fonte da vida de ambos?

Não é sem razão que, na própria Escritura, vemos algumas imagens de Deus comparadas à mãe: “Como a mãe consola o filho, em Sião vou consolar-vos” (Is 66,13); “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti.” (Is 49,15). Ora, estas imagens não se chocam com a doutrina tradicional sobre Deus Pai; antes a reforçam, levando em conta que Deus não se condiciona às imagens humanas de maternidade e paternidade. Sabendo, porém, que a experiência do amor materno é forte, quis o Senhor utilizar-se dessas imagens para mostrar a profundidade do Seu amor infinitamente maior do que o amor materno.

Neste dia em que celebramos as mães, bendigamos a Deus, nosso Abba, conforme Jesus nos ensinou a chamá-Lo quando rezamos. Agradeçamos-Lhe pelo cuidado amoroso com que cumulou nossa vida, ao fazer-nos vir à luz do seio de uma mulher, e pelo fato de podermos, ainda tão frágeis, chegar ao mundo recebendo tanto cuidado e atenção, a fim de que, respondendo com amor ao seu amor, vivamos nossa vida de acordo com sua santa vontade, sobretudo vivendo em comunhão com Ele e com os demais seres humanos, nossos irmãos.

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Jesus, o rosto humano de Deus

12/05/2017 17:15 - Atualizado em 12/05/2017 17:17

No horizonte religioso, uma pergunta sempre pairou na imaginação humana: quem é Deus? Como compreendê-Lo? A história da humanidade, que, em certo sentido, se pode dizer história religiosa – posto que a religião é realidade sempre presente –, tem registros, de todas as épocas, relativos a esta dúvida perene.

Para o judaísmo e também para o cristianismo, a essência de Deus é comunicada pelo próprio. O homem, por si só, é incapaz de compreender a essência divina, a menos que o próprio Deus se comunique. Logo, a Revelação é mais do que um conteúdo inteligível, é um ato de amor. Só se revela a outro quem O ama, e, se Deus quis que O conhecêssemos, é porque nos ama.

Esta verdade de fé aparece para nós tanto no Antigo como no Novo Testamento. Ao convocar Moisés e enviá-lo ao Faraó para liberar seu povo, Deus revela o Seu Nome: “Eu Sou” (Ex 3,14). Não é preciso maiores explicações. Ser é verbo intransitivo. “N’Ele vivemos, nos movemos e somos” (At 17,28). Somos seres porque participamos do Ser de Deus. Depois, lemos em São João: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14), e “ninguém jamais viu a Deus. O Filho, que estava no seio do Pai, no-Lo deu a conhecer” (Jo 1,18). É na carne de Jesus que experimentamos Deus, invisível em sua natureza (Jo 14,9; Cl 1,15).

A partir desta reflexão, entendemos porque a teologia cristã, fundada no dogma trinitário, sempre invocou a Deus como Pai. No entanto, embora esta imagem seja carregada de gênero, não tem a pretensão de defini-Lo. Em Deus não há gênero e, se o invocamos como Pai, tal invocação tem duplo sentido: 1) reproduzir o ensinamento de Jesus; 2) compreender que toda realidade é gerada a partir d’Ele, ou seja, cabe a Jesus cumprir a sua vontade, que é que todos tenhamos a vida eterna. A imagem do Pai não é carregada de sentido biológico, mas ontológico, ou seja, como fonte da vida. Aliás, a própria palavra “Deus”, embora nos induza a pensar em gênero masculino, poderia ser dita de “gênero neutro”, pois admitir gênero em Deus implica negar sua perfeição. O gênero pertence à nossa esfera de imperfeitos, pois necessita de complemento. Masculino e feminino não conseguem viver de forma independente. Ademais, se Deus tivesse apenas um gênero, como poderia ser a fonte da vida de ambos?

Não é sem razão que, na própria Escritura, vemos algumas imagens de Deus comparadas à mãe: “Como a mãe consola o filho, em Sião vou consolar-vos” (Is 66,13); “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti.” (Is 49,15). Ora, estas imagens não se chocam com a doutrina tradicional sobre Deus Pai; antes a reforçam, levando em conta que Deus não se condiciona às imagens humanas de maternidade e paternidade. Sabendo, porém, que a experiência do amor materno é forte, quis o Senhor utilizar-se dessas imagens para mostrar a profundidade do Seu amor infinitamente maior do que o amor materno.

Neste dia em que celebramos as mães, bendigamos a Deus, nosso Abba, conforme Jesus nos ensinou a chamá-Lo quando rezamos. Agradeçamos-Lhe pelo cuidado amoroso com que cumulou nossa vida, ao fazer-nos vir à luz do seio de uma mulher, e pelo fato de podermos, ainda tão frágeis, chegar ao mundo recebendo tanto cuidado e atenção, a fim de que, respondendo com amor ao seu amor, vivamos nossa vida de acordo com sua santa vontade, sobretudo vivendo em comunhão com Ele e com os demais seres humanos, nossos irmãos.

Autor

Cristiano Holtz Peixoto

Editorialista do Jornal Testemunho de Fé