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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 20/04/2024

20 de Abril de 2024

Fé Cristã e Carnaval: via de diálogo pastoral

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Fé Cristã e Carnaval: via de diálogo pastoral

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22/02/2017 11:25 - Atualizado em 22/02/2017 11:27

Fé Cristã e Carnaval: via de diálogo pastoral 0

22/02/2017 11:25 - Atualizado em 22/02/2017 11:27

A proximidade do Carnaval traz consigo a possibilidade de refletirmos sobre uma desafiadora realidade de nossa experiência pastoral: o diálogo entre a fé cristã e as culturas. Após um longo processo de progressiva concretização (ainda em curso) e de construção conceitual, hoje esse diálogo vem sendo chamado de “inculturação”.

A inculturação é uma forma ou um modo de evangelização dentro do qual uma cultura recebe, acolhe e encarna o Evangelho. Nossa fé cristã encontra-se fundamentada em duas dimensões paralelas e basilares: a Encarnação e a Páscoa. Na dimensão da Encarnação, precisamos sempre reconhecer que Cristo está presente em toda e qualquer cultura no momento em que ela acolhe a Palavra de Deus; na dimensão da Páscoa, precisamos reconhecer que Cristo convida toda cultura a uma transformação.

A partir daí, é inegável que os comportamentos incompatíveis com o Evangelho que se manifestam no carnaval devem ser convidados a uma purificação. Contudo, os compatíveis, devem ser valorizados, permitindo que aconteça a inculturação da fé.

Uma diocese, sem romper sua comunhão com todas as demais e com a Igreja, de forma universal, é o lugar onde se desenvolve e se realiza esse processo pastoral da inculturação. O contexto eclesial, de um determinado lugar, é onde, de fato, se encarna cultural e socialmente a mensagem universal da salvação. Ao mesmo tempo, a diocese é o lugar em que uma cultura particular, em suas expressões compatíveis, é acolhida, confirmada e aprovada pela Igreja universal.

Em recente entrevista dada à Rádio Vaticano, como princípio de visibilidade e unidade de nossa arquidiocese, nosso Cardeal Dom Orani João Tempesta falou sobre o diálogo e os princípios firmados entre a nossa Igreja e as instituições promotoras do Carnaval carioca para que esse possa ser um “lugar de divertimento sadio”.

Tal diálogo, longe de estar concluído, está em curso e deve ser alimentado porque a fé cristã acredita profundamente que Cristo faz sua morada em todas as culturas, no ato do processo de inculturação e, ao mesmo tempo, na potencialidade que todas as culturas têm de serem alcançadas pelo Evangelho, em virtude da força imprevisível do Espírito Santo.

Toda e qualquer tentativa de diálogo entre fé cristã e Carnaval carioca (ainda que tenso), passa por uma inevitável variedade e complexidade de mediações. Sempre, e em todo momento, precisamos entender que se trata de uma tentativa de construir uma “pastoral de promoção de valores”. E esse diálogo de promoção é fundamental para que a Igreja cumpra sua missão de anunciar o Evangelho a todas as criaturas (Mc 16,15).

Não são os não-valores que norteiam as iniciativas pastorais nesse campo (esses devem ser criticados e superados), mas sim, a promoção dos valores verdadeiros que ali estão presentes: promoção da história e da cultura nacional e internacional, congregação das diversas classes sociais, promoção da paz, crítica aos problemas sociopolíticos, dentre outros.

Éum processo de inculturação “em curso” que, para se desenvolver, necessita de um inevitável conhecimento recíproco,na busca de tudo o que existe de bom e de belo nessa manifestação cultural; de um reconhecimento dialogante, na busca de significados e de sentido dos valores; e de apostolicidade, na busca da superação dos não-valores.

Que a via da inculturação atue como caminho de renovação da vida e missão de nossa arquidiocese, que é chamada a ter a energia de se difundir em todas as culturas existentes, de modo a chegar a toda a pessoa no ambiente cultural em que vive e se expressa.

O verdadeiro fundamento desse diálogo pastoral é o próprio Deus, que se “inculturou” em nossa história, chegando a assumir a condição humana. Esse ato de “inculturação de Deus” se “prolonga” em precisos lugares, tempos e espaços, através de nossa ação pastoral.


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Fé Cristã e Carnaval: via de diálogo pastoral

22/02/2017 11:25 - Atualizado em 22/02/2017 11:27

A proximidade do Carnaval traz consigo a possibilidade de refletirmos sobre uma desafiadora realidade de nossa experiência pastoral: o diálogo entre a fé cristã e as culturas. Após um longo processo de progressiva concretização (ainda em curso) e de construção conceitual, hoje esse diálogo vem sendo chamado de “inculturação”.

A inculturação é uma forma ou um modo de evangelização dentro do qual uma cultura recebe, acolhe e encarna o Evangelho. Nossa fé cristã encontra-se fundamentada em duas dimensões paralelas e basilares: a Encarnação e a Páscoa. Na dimensão da Encarnação, precisamos sempre reconhecer que Cristo está presente em toda e qualquer cultura no momento em que ela acolhe a Palavra de Deus; na dimensão da Páscoa, precisamos reconhecer que Cristo convida toda cultura a uma transformação.

A partir daí, é inegável que os comportamentos incompatíveis com o Evangelho que se manifestam no carnaval devem ser convidados a uma purificação. Contudo, os compatíveis, devem ser valorizados, permitindo que aconteça a inculturação da fé.

Uma diocese, sem romper sua comunhão com todas as demais e com a Igreja, de forma universal, é o lugar onde se desenvolve e se realiza esse processo pastoral da inculturação. O contexto eclesial, de um determinado lugar, é onde, de fato, se encarna cultural e socialmente a mensagem universal da salvação. Ao mesmo tempo, a diocese é o lugar em que uma cultura particular, em suas expressões compatíveis, é acolhida, confirmada e aprovada pela Igreja universal.

Em recente entrevista dada à Rádio Vaticano, como princípio de visibilidade e unidade de nossa arquidiocese, nosso Cardeal Dom Orani João Tempesta falou sobre o diálogo e os princípios firmados entre a nossa Igreja e as instituições promotoras do Carnaval carioca para que esse possa ser um “lugar de divertimento sadio”.

Tal diálogo, longe de estar concluído, está em curso e deve ser alimentado porque a fé cristã acredita profundamente que Cristo faz sua morada em todas as culturas, no ato do processo de inculturação e, ao mesmo tempo, na potencialidade que todas as culturas têm de serem alcançadas pelo Evangelho, em virtude da força imprevisível do Espírito Santo.

Toda e qualquer tentativa de diálogo entre fé cristã e Carnaval carioca (ainda que tenso), passa por uma inevitável variedade e complexidade de mediações. Sempre, e em todo momento, precisamos entender que se trata de uma tentativa de construir uma “pastoral de promoção de valores”. E esse diálogo de promoção é fundamental para que a Igreja cumpra sua missão de anunciar o Evangelho a todas as criaturas (Mc 16,15).

Não são os não-valores que norteiam as iniciativas pastorais nesse campo (esses devem ser criticados e superados), mas sim, a promoção dos valores verdadeiros que ali estão presentes: promoção da história e da cultura nacional e internacional, congregação das diversas classes sociais, promoção da paz, crítica aos problemas sociopolíticos, dentre outros.

Éum processo de inculturação “em curso” que, para se desenvolver, necessita de um inevitável conhecimento recíproco,na busca de tudo o que existe de bom e de belo nessa manifestação cultural; de um reconhecimento dialogante, na busca de significados e de sentido dos valores; e de apostolicidade, na busca da superação dos não-valores.

Que a via da inculturação atue como caminho de renovação da vida e missão de nossa arquidiocese, que é chamada a ter a energia de se difundir em todas as culturas existentes, de modo a chegar a toda a pessoa no ambiente cultural em que vive e se expressa.

O verdadeiro fundamento desse diálogo pastoral é o próprio Deus, que se “inculturou” em nossa história, chegando a assumir a condição humana. Esse ato de “inculturação de Deus” se “prolonga” em precisos lugares, tempos e espaços, através de nossa ação pastoral.


Padre Abimar Oliveira de Moraes
Autor

Padre Abimar Oliveira de Moraes

Professor do Departamento de Teologia da PUC-Rio e vigário paroquial da Paróquia de Santa Rita (Centro)