Arquidiocese do Rio de Janeiro

29º 22º

Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 10/05/2024

10 de Maio de 2024

“O Dom da vocação presbiteral” (IV)

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do e-mail.
E-mail enviado com sucesso.

10 de Maio de 2024

“O Dom da vocação presbiteral” (IV)

Se você encontrou erro neste texto ou nesta página, por favor preencha os campos abaixo. O link da página será enviado automaticamente a ArqRio.

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do erro.
Erro relatado com sucesso, obrigado.

08/01/2017 00:00 - Atualizado em 09/01/2017 12:14

“O Dom da vocação presbiteral” (IV) 0

08/01/2017 00:00 - Atualizado em 09/01/2017 12:14

Continuando a reflexão sobre o Documento da Congregação para o Clero, com o título “O Dom da Vocação Presbiteral”, entramos, agora, nos capítulos VI e VII a tratarem, respectivamente, dos agentes da formação e do conteúdo geral dos estudos no tempo formativo, ou seja, no Propedêutico, na Filosofia e na Teologia.

Diz o texto, seguindo a Exortação Apostólica Pastores dabo vobis n. 65, que o principal agente de formação de um candidato ao sacerdócio ministerial é a Santíssima Trindade a moldar o seminarista de acordo com os desígnios de Deus, por meio de Cristo, em Sua Palavra, nos sacramentos, nos irmãos e na comunidade, por força da multiforme ação do Espírito Santo.

Do ponto de vista humano, como canais de Deus, os formadores são, por ordem hierárquica: o bispo diocesano, o presbitério, a comunidade de formadores do Seminário, os professores, o pessoal do apoio administrativo, os especialistas, os próprios seminaristas, a família, a paróquia de origem e outras associações e movimentos eclesiais. (Cf. n. 127)

O Bispo é o primeiro formador. Está entre suas missões escolher o reitor do Seminário e os demais componentes da comunidade de formadores, bem como cabe a ele manter um diálogo aberto e sereno com seus seminaristas, sem, no entanto, na frente dos formandos, desautorizar o reitor, que ele mesmo nomeou, em algo de pouco gravidade, bem como tendo grande cuidado com quem admite ao Seminário: no caso de uma casa de formação interdiocesana, haverá diálogo entre os Bispos que mantêm alunos lá, a fim de que não se deixe passar nenhum que não seja realmente vocacionado a servir ao Povo de Deus. Os seminaristas, por sua vez, tomem parte, sempre que possível, nas grandes festas litúrgicas, na catedral, junto com seu Bispo manifestando concretamente a unidade diocesana.

O Clero da Igreja Particular deve estar em profunda união com os seminaristas, acompanhando-os com afeto sincero, oração, amparo, visitas ao Seminário, bem como compete aos párocos não se fecharem à acolhida de seminaristas em suas paróquias para um trabalho pastoral que colabore na formação desse seminarista. Esses trabalhos, portanto, fazem parte da formação. Para tanto, o padre manterá diálogo aberto com os formadores do Seminário.

O próprio seminarista é o grande responsável pela sua formação nos aspectos pastoral, intelectual e espiritual junto à comunidade de formadores, que deve constar de padres bem escolhidos, preparados e destinados exclusivamente à formação, como é o caso do Reitor, homem prudente, sábio, equilibrado e competente. Este deve contar, no mínimo, com o auxílio de um Diretor espiritual, responsável pelo foro interno da vida do seminarista, bem como pela vida litúrgica e retiros anuais ou mensais. Porém, devido ao número de seminaristas, possa ter também mais de um Diretor espiritual, um vice-reitor, um ecônomo e também coordenadores nas várias dimensões formativas.

Outros formadores se voltarão para os aspectos psicológico, desportivo, médico, intelectual (sempre sob a orientação do Magistério da Igreja) que buscará unir teoria e prática. Já o Ecônomo, além das funções materiais do dia a dia, dará aos seminaristas o exemplo do uso honesto e evangélico dos bens materiais e da pobreza sacerdotal. Além dele, trabalha com os formandos a comunidade educativa, a constar de professores fiéis ao Magistério da Igreja e com título acadêmico correspondente à função que ocupa. São responsáveis pela formação intelectual dos seminaristas, que é um aspecto importante da caminhada vocacional a levar a Cristo: Caminho, Verdade e Vida, e incentivar a pesquisa científica. Podem ser úteis aos formandos os membros das comunidades de vida, leigos/as e consagrados/as em geral.

Vez ou outra, segundo as necessidades, o Seminário trará um especialista sobre determinado tema (médico, advogado, economista etc.) para tratar de determinado tema dentro do seu âmbito técnico, sem dele extrapolar. Já o psicólogo terá presença constante entre os seminaristas, uma vez que esse aspecto é importante na formação. Ainda: a paróquia é um meio de colocar o seminarista em contato com o Povo de Deus, do qual também ele faz parte enquanto batizado; os laços familiares hão de ser mantidos em sadio equilíbrio de aproximação e afastamento, conforme as circunstâncias o exigirem. Jamais se esqueça de que a presença da mulher (mãe, irmã, amiga) é importante para uma correta formação: ser celibatário não é ser misógino.

A organização dos estudos segue um esquema geral a ser melhor especificado pela Ratio Nationalis, levando em conta cada realidade específica dos países nos quais a Igreja está presente. Deverá aprofundar os caminhos de cada etapa formativa. De modo que no Propedêutico há de ser acentuada a formação humana, espiritual e cultural (este também destinado a complementar o Ensino Médio, em nosso caso). Estude-se nessa fase a Bíblia, o Catecismo da Igreja Católica, os Documentos Conciliares, a Espiritualidade presbiteral (vida de santos que foram exemplos no sacerdócio), História da Igreja universal e local; Vida dos santos em geral, Cultura humanística e Psicologia.

Na Filosofia, dê-se valor à chamada Filosofia perene – que é a de Aristóteles, burilada por São Tomás de Aquino, recomendada pela Igreja – de modo que o aluno estude Metafísica (o que está além da Física), Teodiceia (defesa da existência de Deus ante o mal no mundo), Cosmologia (a beleza e a harmonia do Universo como prova da existência de Deus), História da Filosofia (síntese do pensamento humano em busca da Verdade), Antropologia Filosófica (o ser humano à luz da razão), Lógica (educação do raciocínio e, por isso, base do filosofar), Estética (a Arte), Epistemologia (Filosofia da Ciência), Ética (estudo dos costumes e normas morais), Filosofia Política e Filosofia da Religião, além da Sociologia, Pedagogia e Psicologia. Todas essas disciplinas mostram o paradoxo da grandeza e dos limites do conhecimento humano.

Na Teologia, se estudará de modo mais abrangente possível “todas as verdades da fé” (n. 165). Assim, a Sagrada Escritura é a alma dos estudos teológicos. Seu estudo há de visar a Lectio Divina e a Exegese, bem como a História de Israel e noções do hebraico e do grego bíblico (koiné). No plano da Teologia Dogmática sempre se partirá na fundamentação de qualquer artigo, científico ou pastoral da Bíblia, passar-se-á pelos Padres da Igreja, pelo progresso histórico (a mesma verdade tem aprofundamentos diferentes ontem e hoje), e, por fim, aos estudos especulativos dos teólogos. Não se deixará de lado a Teologia Fundamental aberta ao Ecumenismo, a Moral radicada nas bases escriturísticas e antropológicas, a Espiritual apta a fazer crescer o homem interior, a Doutrina Social da Igreja a levar em conta também o problema ecológico, a História da Igreja a mostrar o encontro do divino e do humano, o Direito Canônico tendo por base a salvação das almas e as questões familiares de nosso tempo, a História das Religiões, especialmente as mais difundidas no País do futuro padre, além dos diferentes desafios de nosso tempo. Vêm ainda as matérias “ministeriais” que visam a preparar o candidato às Ordens Sacras para bem celebrar e pregar a Palavra, ministrar a Confissão sacramental e dar direção espiritual, bem como aprender a respeitar a sadia piedade popular e administrar os bens patrimoniais e culturais da Igreja, especialmente a arte sacra e a música litúrgica. Daí, o valor que cada seminário há de dar ao estudo de uma língua moderna e também ao Latim.

Pense-se ainda na formação de especialistas em Liturgia, Direito Canônico, Comunicação e outras disciplinas que ajudem a vida diária da Igreja no enfrentamento dos desafios de nosso tempo. Tudo isso levará o futuro padre a estudar também no tempo do exercício de seu ministério, sempre fundamentado na Doutrina da Igreja e não em correntes heterodoxas. Para cada fase da formação haja um meio sério de avaliação – oral ou escrita – do candidato.

O Documento é muito rico e supõe uma atualização para cada país, em especial nesta parte. Esta reflexão deve servir de motivação para lê-lo e aprofundá-lo. Continuaremos a apresentação do mesmo.

 

Leia os comentários

Deixe seu comentário

Resposta ao comentário de:

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do comentário.
Comentário enviado para aprovação.

“O Dom da vocação presbiteral” (IV)

08/01/2017 00:00 - Atualizado em 09/01/2017 12:14

Continuando a reflexão sobre o Documento da Congregação para o Clero, com o título “O Dom da Vocação Presbiteral”, entramos, agora, nos capítulos VI e VII a tratarem, respectivamente, dos agentes da formação e do conteúdo geral dos estudos no tempo formativo, ou seja, no Propedêutico, na Filosofia e na Teologia.

Diz o texto, seguindo a Exortação Apostólica Pastores dabo vobis n. 65, que o principal agente de formação de um candidato ao sacerdócio ministerial é a Santíssima Trindade a moldar o seminarista de acordo com os desígnios de Deus, por meio de Cristo, em Sua Palavra, nos sacramentos, nos irmãos e na comunidade, por força da multiforme ação do Espírito Santo.

Do ponto de vista humano, como canais de Deus, os formadores são, por ordem hierárquica: o bispo diocesano, o presbitério, a comunidade de formadores do Seminário, os professores, o pessoal do apoio administrativo, os especialistas, os próprios seminaristas, a família, a paróquia de origem e outras associações e movimentos eclesiais. (Cf. n. 127)

O Bispo é o primeiro formador. Está entre suas missões escolher o reitor do Seminário e os demais componentes da comunidade de formadores, bem como cabe a ele manter um diálogo aberto e sereno com seus seminaristas, sem, no entanto, na frente dos formandos, desautorizar o reitor, que ele mesmo nomeou, em algo de pouco gravidade, bem como tendo grande cuidado com quem admite ao Seminário: no caso de uma casa de formação interdiocesana, haverá diálogo entre os Bispos que mantêm alunos lá, a fim de que não se deixe passar nenhum que não seja realmente vocacionado a servir ao Povo de Deus. Os seminaristas, por sua vez, tomem parte, sempre que possível, nas grandes festas litúrgicas, na catedral, junto com seu Bispo manifestando concretamente a unidade diocesana.

O Clero da Igreja Particular deve estar em profunda união com os seminaristas, acompanhando-os com afeto sincero, oração, amparo, visitas ao Seminário, bem como compete aos párocos não se fecharem à acolhida de seminaristas em suas paróquias para um trabalho pastoral que colabore na formação desse seminarista. Esses trabalhos, portanto, fazem parte da formação. Para tanto, o padre manterá diálogo aberto com os formadores do Seminário.

O próprio seminarista é o grande responsável pela sua formação nos aspectos pastoral, intelectual e espiritual junto à comunidade de formadores, que deve constar de padres bem escolhidos, preparados e destinados exclusivamente à formação, como é o caso do Reitor, homem prudente, sábio, equilibrado e competente. Este deve contar, no mínimo, com o auxílio de um Diretor espiritual, responsável pelo foro interno da vida do seminarista, bem como pela vida litúrgica e retiros anuais ou mensais. Porém, devido ao número de seminaristas, possa ter também mais de um Diretor espiritual, um vice-reitor, um ecônomo e também coordenadores nas várias dimensões formativas.

Outros formadores se voltarão para os aspectos psicológico, desportivo, médico, intelectual (sempre sob a orientação do Magistério da Igreja) que buscará unir teoria e prática. Já o Ecônomo, além das funções materiais do dia a dia, dará aos seminaristas o exemplo do uso honesto e evangélico dos bens materiais e da pobreza sacerdotal. Além dele, trabalha com os formandos a comunidade educativa, a constar de professores fiéis ao Magistério da Igreja e com título acadêmico correspondente à função que ocupa. São responsáveis pela formação intelectual dos seminaristas, que é um aspecto importante da caminhada vocacional a levar a Cristo: Caminho, Verdade e Vida, e incentivar a pesquisa científica. Podem ser úteis aos formandos os membros das comunidades de vida, leigos/as e consagrados/as em geral.

Vez ou outra, segundo as necessidades, o Seminário trará um especialista sobre determinado tema (médico, advogado, economista etc.) para tratar de determinado tema dentro do seu âmbito técnico, sem dele extrapolar. Já o psicólogo terá presença constante entre os seminaristas, uma vez que esse aspecto é importante na formação. Ainda: a paróquia é um meio de colocar o seminarista em contato com o Povo de Deus, do qual também ele faz parte enquanto batizado; os laços familiares hão de ser mantidos em sadio equilíbrio de aproximação e afastamento, conforme as circunstâncias o exigirem. Jamais se esqueça de que a presença da mulher (mãe, irmã, amiga) é importante para uma correta formação: ser celibatário não é ser misógino.

A organização dos estudos segue um esquema geral a ser melhor especificado pela Ratio Nationalis, levando em conta cada realidade específica dos países nos quais a Igreja está presente. Deverá aprofundar os caminhos de cada etapa formativa. De modo que no Propedêutico há de ser acentuada a formação humana, espiritual e cultural (este também destinado a complementar o Ensino Médio, em nosso caso). Estude-se nessa fase a Bíblia, o Catecismo da Igreja Católica, os Documentos Conciliares, a Espiritualidade presbiteral (vida de santos que foram exemplos no sacerdócio), História da Igreja universal e local; Vida dos santos em geral, Cultura humanística e Psicologia.

Na Filosofia, dê-se valor à chamada Filosofia perene – que é a de Aristóteles, burilada por São Tomás de Aquino, recomendada pela Igreja – de modo que o aluno estude Metafísica (o que está além da Física), Teodiceia (defesa da existência de Deus ante o mal no mundo), Cosmologia (a beleza e a harmonia do Universo como prova da existência de Deus), História da Filosofia (síntese do pensamento humano em busca da Verdade), Antropologia Filosófica (o ser humano à luz da razão), Lógica (educação do raciocínio e, por isso, base do filosofar), Estética (a Arte), Epistemologia (Filosofia da Ciência), Ética (estudo dos costumes e normas morais), Filosofia Política e Filosofia da Religião, além da Sociologia, Pedagogia e Psicologia. Todas essas disciplinas mostram o paradoxo da grandeza e dos limites do conhecimento humano.

Na Teologia, se estudará de modo mais abrangente possível “todas as verdades da fé” (n. 165). Assim, a Sagrada Escritura é a alma dos estudos teológicos. Seu estudo há de visar a Lectio Divina e a Exegese, bem como a História de Israel e noções do hebraico e do grego bíblico (koiné). No plano da Teologia Dogmática sempre se partirá na fundamentação de qualquer artigo, científico ou pastoral da Bíblia, passar-se-á pelos Padres da Igreja, pelo progresso histórico (a mesma verdade tem aprofundamentos diferentes ontem e hoje), e, por fim, aos estudos especulativos dos teólogos. Não se deixará de lado a Teologia Fundamental aberta ao Ecumenismo, a Moral radicada nas bases escriturísticas e antropológicas, a Espiritual apta a fazer crescer o homem interior, a Doutrina Social da Igreja a levar em conta também o problema ecológico, a História da Igreja a mostrar o encontro do divino e do humano, o Direito Canônico tendo por base a salvação das almas e as questões familiares de nosso tempo, a História das Religiões, especialmente as mais difundidas no País do futuro padre, além dos diferentes desafios de nosso tempo. Vêm ainda as matérias “ministeriais” que visam a preparar o candidato às Ordens Sacras para bem celebrar e pregar a Palavra, ministrar a Confissão sacramental e dar direção espiritual, bem como aprender a respeitar a sadia piedade popular e administrar os bens patrimoniais e culturais da Igreja, especialmente a arte sacra e a música litúrgica. Daí, o valor que cada seminário há de dar ao estudo de uma língua moderna e também ao Latim.

Pense-se ainda na formação de especialistas em Liturgia, Direito Canônico, Comunicação e outras disciplinas que ajudem a vida diária da Igreja no enfrentamento dos desafios de nosso tempo. Tudo isso levará o futuro padre a estudar também no tempo do exercício de seu ministério, sempre fundamentado na Doutrina da Igreja e não em correntes heterodoxas. Para cada fase da formação haja um meio sério de avaliação – oral ou escrita – do candidato.

O Documento é muito rico e supõe uma atualização para cada país, em especial nesta parte. Esta reflexão deve servir de motivação para lê-lo e aprofundá-lo. Continuaremos a apresentação do mesmo.

 

Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro