Arquidiocese do Rio de Janeiro

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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Enterrar e rezar pelos mortos

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Enterrar e rezar pelos mortos

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14/11/2016 18:07 - Atualizado em 14/11/2016 18:07

Enterrar e rezar pelos mortos 0

14/11/2016 18:07 - Atualizado em 14/11/2016 18:07

Fechando o Ano Jubilar, a Arquidiocese do Rio de Janeiro propõe duas obras de misericórdia para a reflexão e a atuação dos seus fiéis: “enterrar os mortos” e “rezar em favor dos defuntos”. Por traz dessas duas indicações eclesiais estão a vivência da experiência da morte – uma das realidades mais difíceis e dolorosas – e o respeito pela integralidade e a dignidade da pessoa humana – tão desrespeitada pela nossa cultura. Em Cristo, se desvela diante do nosso olhar uma nova aproximação diante deste momento decisivo da vida, pois, segundo o Papa Francisco, “na morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus torna evidente este seu amor que chega ao ponto de destruir o pecado dos homens. É possível deixar-se reconciliar com Deus através do mistério pascal e da mediação da Igreja” (MV 22).

O drama da morte

Duas realidades se abrem diante da experiência da morte. A primeira está ligada à pessoa que morreu: a reverência própria ao seu corpo – templo do Espírito Santo – e a sua alma – o encontro com o amor divino. A segunda, referente àquelas pessoas que sofrem o luto – os familiares e amigos. Esta gama complexa de situações precisa ser contemplada para uma atuação profícua da comunidade eclesial na sua missão de cuidar dos homens. Desta forma, o panorama se dá numa tríplice direção: o cuidado com o corpo dos defuntos, a oração pelos mortos e o suporte aqueles que choram seus entes queridos. O descuido de qualquer um desses pontos pode ocasionar sentimentos de tristeza e de injustiça tão agudos, chegando até mesmo a perda de fé no amor e na misericórdia divinas.

Enterrar os mortos

As pesquisas antropológicas afirmam que os primeiros homens começaram a se distinguir dos animais pelo fato de construírem sepultura para os seus mortos, a fim de que não ficassem abandonados aos eventos climáticos e ao ataque de animais e que fossem honrados com dons, coisas valiosas e mesmo alimentos. A conclusão disso é que a cultura primitiva apresenta um cuidado pelo corpo e a esperança da vida feliz após a morte. A Sagrada Escritura, por sua vez, é rica em passagens sobre a temática da sepultura e da tumba. Com a narrativa do sepultamento de Sara em Ebron (cf. Gn 23), tal ação para com os mortos se torna uma marca da espiritualidade para os crentes, pois é um sinal da justiça para com os mortos. Isto ganha tal vulto que quem não é enterrado, é encarado como ‘castigado’ que não “mereceu” uma tumba (cf. Dt 28,26; Is 34,3; Jr 16,4-6; Sl 79,2-3). Na Nova Aliança, encontramos Jesus diante dos cortejos fúnebres (cf. Lc 7,11-17), mesmo diante da sepultura de seu amigo Lázaro (cf. Jo 11). Ele mesmo vivenciou a preparação para a morte (cf. Jo 12,1-8), a despedida dos seus amigos (cf. Jo 13-16), a morte (cf. Mc 15,37; Mt 27,50; Lc 23,46; Jo 19,30) e a sepultura (cf. Mt 27,57-61; Mc 15,42-47; Lc 23,50-56; Jo 19,38-42).

Orar pelos mortos

Junto com a prática de sepultar os mortos, temos também a oração por eles. A sabedoria de Israel rezava que “o teu amor se estenda a todos os viventes, mas também aos mortos não negue o teu amor” (Eclo 7,33). O livro de Tobias ensina a mesma coisa: “Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor” (Tb 12,12). Em 2Mc 12,43-44. Temos então o preceito da oração pelos mortos: “para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles”. Vemos na vida de Jesus a oração pelos mortos por excelência: seja na palavra dada ao jovem de Naim, a filha de Jairo ou ao amigo Lázaro, seja na sua ressurreição. É esta mesma palavra de intercessão que Ele dirige ao Pai por nós. Sobre isso, o autor da carta aos hebreus nos diz: “E ele que, nos dias de sua vida terrestre, apresentou súplicas e pedidos, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar dos mortos; e foi atendido por causa da sua submissão” (Hb 5,7).

Acompanhar os enlutados

A atenção da Igreja é solicitada não só pelo “morto” – no sepultamento e na oração por ele  – , mas também pelas pessoas que vivem o luto. A cultura hodierna baseada apenas no prazer da vida abreviou (e até afastou) o processo de luto. Isso ao invés de favorecer a superação da dor e a preparação para o momento da morte, vem ocasionando uma desumanização tamanha, cujos resultados são a fragilização e a fragmentação emocional e religiosa das pessoas. Para essa situação, a fé cristã pode prestar um serviço salutar. Os fiéis são vocacionados a colocar-se ao lado daqueles que sofrem a perda de alguém e a proclamar a vitória final sobre a morte. De fato, este binômio consolação-esperança representa o conteúdo da práxis cristã diante dos enlutados.


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14/11/2016 18:07 - Atualizado em 14/11/2016 18:07

Fechando o Ano Jubilar, a Arquidiocese do Rio de Janeiro propõe duas obras de misericórdia para a reflexão e a atuação dos seus fiéis: “enterrar os mortos” e “rezar em favor dos defuntos”. Por traz dessas duas indicações eclesiais estão a vivência da experiência da morte – uma das realidades mais difíceis e dolorosas – e o respeito pela integralidade e a dignidade da pessoa humana – tão desrespeitada pela nossa cultura. Em Cristo, se desvela diante do nosso olhar uma nova aproximação diante deste momento decisivo da vida, pois, segundo o Papa Francisco, “na morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus torna evidente este seu amor que chega ao ponto de destruir o pecado dos homens. É possível deixar-se reconciliar com Deus através do mistério pascal e da mediação da Igreja” (MV 22).

O drama da morte

Duas realidades se abrem diante da experiência da morte. A primeira está ligada à pessoa que morreu: a reverência própria ao seu corpo – templo do Espírito Santo – e a sua alma – o encontro com o amor divino. A segunda, referente àquelas pessoas que sofrem o luto – os familiares e amigos. Esta gama complexa de situações precisa ser contemplada para uma atuação profícua da comunidade eclesial na sua missão de cuidar dos homens. Desta forma, o panorama se dá numa tríplice direção: o cuidado com o corpo dos defuntos, a oração pelos mortos e o suporte aqueles que choram seus entes queridos. O descuido de qualquer um desses pontos pode ocasionar sentimentos de tristeza e de injustiça tão agudos, chegando até mesmo a perda de fé no amor e na misericórdia divinas.

Enterrar os mortos

As pesquisas antropológicas afirmam que os primeiros homens começaram a se distinguir dos animais pelo fato de construírem sepultura para os seus mortos, a fim de que não ficassem abandonados aos eventos climáticos e ao ataque de animais e que fossem honrados com dons, coisas valiosas e mesmo alimentos. A conclusão disso é que a cultura primitiva apresenta um cuidado pelo corpo e a esperança da vida feliz após a morte. A Sagrada Escritura, por sua vez, é rica em passagens sobre a temática da sepultura e da tumba. Com a narrativa do sepultamento de Sara em Ebron (cf. Gn 23), tal ação para com os mortos se torna uma marca da espiritualidade para os crentes, pois é um sinal da justiça para com os mortos. Isto ganha tal vulto que quem não é enterrado, é encarado como ‘castigado’ que não “mereceu” uma tumba (cf. Dt 28,26; Is 34,3; Jr 16,4-6; Sl 79,2-3). Na Nova Aliança, encontramos Jesus diante dos cortejos fúnebres (cf. Lc 7,11-17), mesmo diante da sepultura de seu amigo Lázaro (cf. Jo 11). Ele mesmo vivenciou a preparação para a morte (cf. Jo 12,1-8), a despedida dos seus amigos (cf. Jo 13-16), a morte (cf. Mc 15,37; Mt 27,50; Lc 23,46; Jo 19,30) e a sepultura (cf. Mt 27,57-61; Mc 15,42-47; Lc 23,50-56; Jo 19,38-42).

Orar pelos mortos

Junto com a prática de sepultar os mortos, temos também a oração por eles. A sabedoria de Israel rezava que “o teu amor se estenda a todos os viventes, mas também aos mortos não negue o teu amor” (Eclo 7,33). O livro de Tobias ensina a mesma coisa: “Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor” (Tb 12,12). Em 2Mc 12,43-44. Temos então o preceito da oração pelos mortos: “para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles”. Vemos na vida de Jesus a oração pelos mortos por excelência: seja na palavra dada ao jovem de Naim, a filha de Jairo ou ao amigo Lázaro, seja na sua ressurreição. É esta mesma palavra de intercessão que Ele dirige ao Pai por nós. Sobre isso, o autor da carta aos hebreus nos diz: “E ele que, nos dias de sua vida terrestre, apresentou súplicas e pedidos, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar dos mortos; e foi atendido por causa da sua submissão” (Hb 5,7).

Acompanhar os enlutados

A atenção da Igreja é solicitada não só pelo “morto” – no sepultamento e na oração por ele  – , mas também pelas pessoas que vivem o luto. A cultura hodierna baseada apenas no prazer da vida abreviou (e até afastou) o processo de luto. Isso ao invés de favorecer a superação da dor e a preparação para o momento da morte, vem ocasionando uma desumanização tamanha, cujos resultados são a fragilização e a fragmentação emocional e religiosa das pessoas. Para essa situação, a fé cristã pode prestar um serviço salutar. Os fiéis são vocacionados a colocar-se ao lado daqueles que sofrem a perda de alguém e a proclamar a vitória final sobre a morte. De fato, este binômio consolação-esperança representa o conteúdo da práxis cristã diante dos enlutados.


Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida