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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 10/05/2024

10 de Maio de 2024

Senhor, tem piedade de mim!

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Senhor, tem piedade de mim!

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23/10/2016 00:00 - Atualizado em 24/10/2016 13:36

Senhor, tem piedade de mim! 0

23/10/2016 00:00 - Atualizado em 24/10/2016 13:36

A Palavra do Senhor que a Igreja nos apresenta no XXX Domingo do Tempo Comum faz ouvir sobre a oração, e da oração humilde. Meditemos na parábola de Jesus (cf. Lc 18,9-14) sobre a atitude dos dois homens que sobem ao Templo para rezar… Por que Jesus a contou? Contou-a “para alguns que confiavam na sua própria justiça, isto é, na sua própria retidão, nos seus próprios méritos, na sua própria santidade e desprezavam os outros”. Como reza o fariseu? Santo Agostinho explica que ele nem sequer reza: “Procura nas suas palavras o que ele pediu. Não encontras nada! Foi para rezar, mas não rezou a Deus; só louvou a si próprio! Mais ainda: não lhe bastou não rezar, não lhe bastou louvar a si próprio e ainda insultou aquele que rezava de verdade”! O fariseu, na verdade, é incapaz de uma verdadeira comunhão com Deus: ele somente tem a si próprio ante seus olhos, ele é o seu próprio Deus, a sua própria satisfação e, quando se mede com os outros, é para insultar e desprezar interiormente. Bem diferente de Jesus, que tinha tudo para nos acusar e, no entanto, quando nos olha é para ter compaixão, para perdoar, para nos estender a mão.

Antes de narrar a parábola, São Lucas preocupa-se em mencionar que Jesus falava a uns que confiavam em si mesmos como se fossem justos, e desprezavam os outros. O Senhor fala de dois personagens bem conhecidos de todos os ouvintes: Subiram dois homens ao Templo para orar: um fariseu e outro publicano. Percebeu-se logo que, embora ambos tenham ido ao Templo com a mesma finalidade, um deles não fez oração. Não falou com Deus num diálogo amoroso, mas consigo próprio. Na sua oração, não há amor como também não há humildade. Está de pé, dá graças pelo que faz, mostra-se satisfeito. Compara-se com os outros e considera-se mais justo, melhor cumpridor da Lei. Parece não necessitar de Deus. Na oração, ao invés de louvar a Deus, louva-se a si mesmo. Sua oração é longa: é uma arrogante exaltação de si. Sua Salvação não é dom de Deus, mas conquista de suas “boas obras”.

O publicano “ficou de longe e, por isso, Deus aproximou-se dele mais facilmente. Não atrevendo a levantar os olhos ao céu, tinha já consigo Aquele que fez os céus… Que o Senhor esteja longe ou não, depende de ti. Ama e se aproximará” (Santo Agostinho). O publicano conquistou a Deus pela sua humildade, pois “Ele resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes”. (Tg 4, 6). Não se considera melhor do que os outros. Nem os julga. Sua oração é breve: resume-se em pedir perdão.

Jesus começa a parábola do fariseu e o publicano (Lc 18, 1) insistindo em que é preciso orar sempre. O Mestre quer dizer-nos de muitas maneiras que a oração é absolutamente necessária para segui-Lo e para empreender qualquer tarefa, cujo valor permaneça para além desta vida passageira.

No começo do seu Pontificado, o Papa São João Paulo II, cuja festa litúrgica celebramos no último dia 22 de outubro, declarava: “A oração é para mim a primeira tarefa e como que o primeiro anúncio; é a primeira condição do meu serviço à Igreja e ao mundo”. E acrescentava: “Todos os fiéis devem considerar sempre a oração como a obra essencial e insubstituível da sua vocação. Sabemos bem que a fidelidade à oração ou o seu abandono são a prova da vitalidade ou da decadência da vida religiosa, do apostolado, da fidelidade cristã”. Sem oração, não poderíamos seguir o Senhor no meio do mundo. A oração é tão indispensável como o alimento ou a respiração para a vida do corpo.

O publicano é o modelo do pecador. Explora os pobres, pratica injustiças e não cumpre as obras da Lei. Ele tem, aliás, consciência da sua indignidade, pois a sua oração consiste apenas em pedir: “Meu Deus, tende compaixão de mim que sou pecador”. (v.13).   A sua oração é breve, não é tão longa como aquela do fariseu.  Uma significativa oração.  Os gestos de arrependimento e as poucas e simples palavras testemunham a sua consciência acerca da sua condição. A sua oração é essencial. Age com humildade, seguro somente de ser um pecador necessitado de piedade. Se o fariseu não pedia nada porque já tinha tudo, o publicano só pode implorar a misericórdia de Deus. O publicano mostra a todos nós a condição necessária para receber o perdão do Senhor: a humildade.

Portanto, como nos recorda o Evangelho desse domingo, temos necessidade de humildade para reconhecer os nossos limites, os nossos erros e omissões, para formar verdadeiramente a nossa identidade de cristãos. Sem humildade, não reconhecemos os nossos próprios defeitos.


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Senhor, tem piedade de mim!

23/10/2016 00:00 - Atualizado em 24/10/2016 13:36

A Palavra do Senhor que a Igreja nos apresenta no XXX Domingo do Tempo Comum faz ouvir sobre a oração, e da oração humilde. Meditemos na parábola de Jesus (cf. Lc 18,9-14) sobre a atitude dos dois homens que sobem ao Templo para rezar… Por que Jesus a contou? Contou-a “para alguns que confiavam na sua própria justiça, isto é, na sua própria retidão, nos seus próprios méritos, na sua própria santidade e desprezavam os outros”. Como reza o fariseu? Santo Agostinho explica que ele nem sequer reza: “Procura nas suas palavras o que ele pediu. Não encontras nada! Foi para rezar, mas não rezou a Deus; só louvou a si próprio! Mais ainda: não lhe bastou não rezar, não lhe bastou louvar a si próprio e ainda insultou aquele que rezava de verdade”! O fariseu, na verdade, é incapaz de uma verdadeira comunhão com Deus: ele somente tem a si próprio ante seus olhos, ele é o seu próprio Deus, a sua própria satisfação e, quando se mede com os outros, é para insultar e desprezar interiormente. Bem diferente de Jesus, que tinha tudo para nos acusar e, no entanto, quando nos olha é para ter compaixão, para perdoar, para nos estender a mão.

Antes de narrar a parábola, São Lucas preocupa-se em mencionar que Jesus falava a uns que confiavam em si mesmos como se fossem justos, e desprezavam os outros. O Senhor fala de dois personagens bem conhecidos de todos os ouvintes: Subiram dois homens ao Templo para orar: um fariseu e outro publicano. Percebeu-se logo que, embora ambos tenham ido ao Templo com a mesma finalidade, um deles não fez oração. Não falou com Deus num diálogo amoroso, mas consigo próprio. Na sua oração, não há amor como também não há humildade. Está de pé, dá graças pelo que faz, mostra-se satisfeito. Compara-se com os outros e considera-se mais justo, melhor cumpridor da Lei. Parece não necessitar de Deus. Na oração, ao invés de louvar a Deus, louva-se a si mesmo. Sua oração é longa: é uma arrogante exaltação de si. Sua Salvação não é dom de Deus, mas conquista de suas “boas obras”.

O publicano “ficou de longe e, por isso, Deus aproximou-se dele mais facilmente. Não atrevendo a levantar os olhos ao céu, tinha já consigo Aquele que fez os céus… Que o Senhor esteja longe ou não, depende de ti. Ama e se aproximará” (Santo Agostinho). O publicano conquistou a Deus pela sua humildade, pois “Ele resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes”. (Tg 4, 6). Não se considera melhor do que os outros. Nem os julga. Sua oração é breve: resume-se em pedir perdão.

Jesus começa a parábola do fariseu e o publicano (Lc 18, 1) insistindo em que é preciso orar sempre. O Mestre quer dizer-nos de muitas maneiras que a oração é absolutamente necessária para segui-Lo e para empreender qualquer tarefa, cujo valor permaneça para além desta vida passageira.

No começo do seu Pontificado, o Papa São João Paulo II, cuja festa litúrgica celebramos no último dia 22 de outubro, declarava: “A oração é para mim a primeira tarefa e como que o primeiro anúncio; é a primeira condição do meu serviço à Igreja e ao mundo”. E acrescentava: “Todos os fiéis devem considerar sempre a oração como a obra essencial e insubstituível da sua vocação. Sabemos bem que a fidelidade à oração ou o seu abandono são a prova da vitalidade ou da decadência da vida religiosa, do apostolado, da fidelidade cristã”. Sem oração, não poderíamos seguir o Senhor no meio do mundo. A oração é tão indispensável como o alimento ou a respiração para a vida do corpo.

O publicano é o modelo do pecador. Explora os pobres, pratica injustiças e não cumpre as obras da Lei. Ele tem, aliás, consciência da sua indignidade, pois a sua oração consiste apenas em pedir: “Meu Deus, tende compaixão de mim que sou pecador”. (v.13).   A sua oração é breve, não é tão longa como aquela do fariseu.  Uma significativa oração.  Os gestos de arrependimento e as poucas e simples palavras testemunham a sua consciência acerca da sua condição. A sua oração é essencial. Age com humildade, seguro somente de ser um pecador necessitado de piedade. Se o fariseu não pedia nada porque já tinha tudo, o publicano só pode implorar a misericórdia de Deus. O publicano mostra a todos nós a condição necessária para receber o perdão do Senhor: a humildade.

Portanto, como nos recorda o Evangelho desse domingo, temos necessidade de humildade para reconhecer os nossos limites, os nossos erros e omissões, para formar verdadeiramente a nossa identidade de cristãos. Sem humildade, não reconhecemos os nossos próprios defeitos.


Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro