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17 de Maio de 2024

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17/09/2013 18:42 - Atualizado em 07/10/2013 16:13

Voltar para Deus 0

17/09/2013 18:42 - Atualizado em 07/10/2013 16:13

Padre Fábio Siqueira  / Arqrio

O capítulo 15 de Lucas nos traz três parábolas que ilustram a misericórdia de Deus. Trata-se de três realidades perdidas: uma ovelha, uma moeda, um filho. Particularmente, a última nos coloca diante dos nossos olhos dois filhos: um aparentemente justo, que sempre está “na casa”, que cumpre os mandamentos; outro, que gasta dissolutamente a herança que havia recebido do seu pai. O pai aqui precisa contemporanizar com os dois filhos. O primeiro sai da casa paterna, gasta seus bens e, quando percebe o grande vazio que construiu para si retorna à casa, e o pai o acolhe de braços abertos, dando mostras da sua infinita misericórdia. Esse filho mais moço, é figura dos pagãos, dos pecadores, daqueles que são “mais moços” porque conheceram a salvação tardiamente. O segundo filho, mais velho, representa o povo judeu, que há muito havia recebido a palavra da salvação. No meio desse povo existem os fariseus, simbolizados por esse filho, que cumpre a risca todas as ordens do Pai, mas que também não está na casa, não sente a casa paterna como sendo sua, porque não usufrui livremente dos bens dessa casa. Vemos isso no final da parábola, quando ele reclama do Pai uma recompensa e o Pai afirma que ele não precisa de recompensa, porque é filho e pode usufruir livremente dos bens.

O pai quer introduzir esses dois filhos na casa. Quer acolher o primeiro com misericórdia, porque estava perdido e foi reencontrado. Todavia, o segundo filho também precisa ser reencontrado. Este também precisa reconhecer que é filho. E vejamos que ele se recusa a entrar na casa e festejar. No fundo, ele não se sente filho, mas empregado. Também desconhece o pai tanto quanto o filho mais moço. O mais moço pensava que o pai o receberia como um empregado, e também o mais velho se sente apenas como um dos empregados.

Lucas nos descreve a misericórdia e a insistência do pai para que esses dois filhos entrem na casa. Essa parábola nos conecta com a misericórdia de Deus já antes revelada nos profetas. Ela é como um eco de trechos que conhecemos de Isaías, de Jeremias e de Oséias:

“ Por acaso uma mulher se esquecerá da sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela do fruto do seu ventre? Ainda que as mulheres se esquecessem eu não me esqueceria de ti. Eis que te gravei nas palmas da minha mão, os teus muros estão continuamente diante de mim.” (Is 49,15-16)

“Será Efraim para mim um filho tão querido, uma criança de tal forma preferida, que cada vez que falo nele quero ainda lembrar-me dele? É por isso que minhas entranhas se comovem por ele, que por ele transborda minha ternura, oráculo de Adonai.” (Jr 31,20)

“Como poderia eu abandonar-te, ó Efraim, entregar-te, ó Israel? Como poderia eu abandonar-te como a Adama, tratar-te como a Seboim? Meu coração se contorce dentro de mim, minhas entranhas comovem-se. Não executarei o ardor de minha ira, não tornarei a destruir Efraim, porque eu sou um Deus e não um homem, eu sou santo no meio de ti, não retornarei com furor.” (Os 11,8-9)

Dentro de nós existem esses dois filhos. Somos como esse filho mais moço, que não conhecendo a verdadeira face do pai, saiu e gastou tudo o que possuía. Nós também pensávamos que fora de Deus poderíamos construir uma casa para nós. Na verdade, o que encontramos é a morte, fruto do pecado. Pecar é estar fora de si, é sair da casa. Se com o autor da carta aos Hebreus (cf. Hb 3,6) acreditarmos que a casa de Deus somos nós, o pecado, o sair da casa, significa sair de si, é como uma loucura que nos invade, no final da qual somente podemos encontrar a morte e o desespero, pelo vazio que se nos fica diante dos olhos. Todavia, se como o filho mais moço também tivermos a celeste chance de “cairmos em nós” poderemos perceber o vazio e a loucura da nossa vida e retornaremos para a casa do Pai. “Retornar ao Pai”, “procurar o Pai”, eis o centro dessa parábola. Esse é um itinerário para toda a nossa vida. Precisamos ter como norte orientador da nossa existência o “procurar o Pai”. Toda a nossa vida deve ser uma constante procura do Pai, um constante retornar a casa. A cada dia precisamos parar e constatar o que estamos procurando. Precisamos retornar a nós mesmos, a esta casa que somos nós, precisamos “voltar a si” e no fundo do nosso coração, que é o centro da nossa casa, escutarmos aquela que no dizer de Santo Inácio de Antioquia, murmura dentro de nós dizendo “vem para o Pai”. Essa busca do Pai é que deve orientar toda a nossa vida. Quando retornarmos à casa que somos nós, também poderemos retornar à casa que é a Igreja. E assim a nossa vida se tornará uma contínua peregrinação, até aquele dia derradeiro e último, do qual esse domingo é já uma sombra, um prelúdio, onde estaremos definitivamente na Casa, onde seremos recebidos de longe pelo Pai, que se lançará também ao nosso pescoço, cobrir-nos-á de beijos, nos dará uma veste nova, sandália nova e um novo anel, e nos introduzirá na festa, preparada para nós porque “estávamos perdidos e fomos encontrados”, “porque estávamos mortos e retornamos à vida”.

Este evangelho está em perfeita consonância tanto com a primeira leitura, que demonstra um Deus que desisti do mal que havia decidido fazer contra os idólatras de Israel (cf. Ex 32,14), quanto com a segunda leitura, quando é dito a Timóteo que a missão de Cristo no meio dos homens é a de “salvar os pecadores”.

Diante de tais promessas devemos nos animar. Quem sabe este não seja o tempo propício para nos voltarmos para Deus de todo o coração ou para uma busca consciente do sacramento da reconciliação?

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Padre Fábio Siqueira  / Arqrio

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17/09/2013 18:42 - Atualizado em 07/10/2013 16:13

O capítulo 15 de Lucas nos traz três parábolas que ilustram a misericórdia de Deus. Trata-se de três realidades perdidas: uma ovelha, uma moeda, um filho. Particularmente, a última nos coloca diante dos nossos olhos dois filhos: um aparentemente justo, que sempre está “na casa”, que cumpre os mandamentos; outro, que gasta dissolutamente a herança que havia recebido do seu pai. O pai aqui precisa contemporanizar com os dois filhos. O primeiro sai da casa paterna, gasta seus bens e, quando percebe o grande vazio que construiu para si retorna à casa, e o pai o acolhe de braços abertos, dando mostras da sua infinita misericórdia. Esse filho mais moço, é figura dos pagãos, dos pecadores, daqueles que são “mais moços” porque conheceram a salvação tardiamente. O segundo filho, mais velho, representa o povo judeu, que há muito havia recebido a palavra da salvação. No meio desse povo existem os fariseus, simbolizados por esse filho, que cumpre a risca todas as ordens do Pai, mas que também não está na casa, não sente a casa paterna como sendo sua, porque não usufrui livremente dos bens dessa casa. Vemos isso no final da parábola, quando ele reclama do Pai uma recompensa e o Pai afirma que ele não precisa de recompensa, porque é filho e pode usufruir livremente dos bens.

O pai quer introduzir esses dois filhos na casa. Quer acolher o primeiro com misericórdia, porque estava perdido e foi reencontrado. Todavia, o segundo filho também precisa ser reencontrado. Este também precisa reconhecer que é filho. E vejamos que ele se recusa a entrar na casa e festejar. No fundo, ele não se sente filho, mas empregado. Também desconhece o pai tanto quanto o filho mais moço. O mais moço pensava que o pai o receberia como um empregado, e também o mais velho se sente apenas como um dos empregados.

Lucas nos descreve a misericórdia e a insistência do pai para que esses dois filhos entrem na casa. Essa parábola nos conecta com a misericórdia de Deus já antes revelada nos profetas. Ela é como um eco de trechos que conhecemos de Isaías, de Jeremias e de Oséias:

“ Por acaso uma mulher se esquecerá da sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela do fruto do seu ventre? Ainda que as mulheres se esquecessem eu não me esqueceria de ti. Eis que te gravei nas palmas da minha mão, os teus muros estão continuamente diante de mim.” (Is 49,15-16)

“Será Efraim para mim um filho tão querido, uma criança de tal forma preferida, que cada vez que falo nele quero ainda lembrar-me dele? É por isso que minhas entranhas se comovem por ele, que por ele transborda minha ternura, oráculo de Adonai.” (Jr 31,20)

“Como poderia eu abandonar-te, ó Efraim, entregar-te, ó Israel? Como poderia eu abandonar-te como a Adama, tratar-te como a Seboim? Meu coração se contorce dentro de mim, minhas entranhas comovem-se. Não executarei o ardor de minha ira, não tornarei a destruir Efraim, porque eu sou um Deus e não um homem, eu sou santo no meio de ti, não retornarei com furor.” (Os 11,8-9)

Dentro de nós existem esses dois filhos. Somos como esse filho mais moço, que não conhecendo a verdadeira face do pai, saiu e gastou tudo o que possuía. Nós também pensávamos que fora de Deus poderíamos construir uma casa para nós. Na verdade, o que encontramos é a morte, fruto do pecado. Pecar é estar fora de si, é sair da casa. Se com o autor da carta aos Hebreus (cf. Hb 3,6) acreditarmos que a casa de Deus somos nós, o pecado, o sair da casa, significa sair de si, é como uma loucura que nos invade, no final da qual somente podemos encontrar a morte e o desespero, pelo vazio que se nos fica diante dos olhos. Todavia, se como o filho mais moço também tivermos a celeste chance de “cairmos em nós” poderemos perceber o vazio e a loucura da nossa vida e retornaremos para a casa do Pai. “Retornar ao Pai”, “procurar o Pai”, eis o centro dessa parábola. Esse é um itinerário para toda a nossa vida. Precisamos ter como norte orientador da nossa existência o “procurar o Pai”. Toda a nossa vida deve ser uma constante procura do Pai, um constante retornar a casa. A cada dia precisamos parar e constatar o que estamos procurando. Precisamos retornar a nós mesmos, a esta casa que somos nós, precisamos “voltar a si” e no fundo do nosso coração, que é o centro da nossa casa, escutarmos aquela que no dizer de Santo Inácio de Antioquia, murmura dentro de nós dizendo “vem para o Pai”. Essa busca do Pai é que deve orientar toda a nossa vida. Quando retornarmos à casa que somos nós, também poderemos retornar à casa que é a Igreja. E assim a nossa vida se tornará uma contínua peregrinação, até aquele dia derradeiro e último, do qual esse domingo é já uma sombra, um prelúdio, onde estaremos definitivamente na Casa, onde seremos recebidos de longe pelo Pai, que se lançará também ao nosso pescoço, cobrir-nos-á de beijos, nos dará uma veste nova, sandália nova e um novo anel, e nos introduzirá na festa, preparada para nós porque “estávamos perdidos e fomos encontrados”, “porque estávamos mortos e retornamos à vida”.

Este evangelho está em perfeita consonância tanto com a primeira leitura, que demonstra um Deus que desisti do mal que havia decidido fazer contra os idólatras de Israel (cf. Ex 32,14), quanto com a segunda leitura, quando é dito a Timóteo que a missão de Cristo no meio dos homens é a de “salvar os pecadores”.

Diante de tais promessas devemos nos animar. Quem sabe este não seja o tempo propício para nos voltarmos para Deus de todo o coração ou para uma busca consciente do sacramento da reconciliação?

Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida