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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Consolar os tristes

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Consolar os tristes

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07/10/2016 12:40 - Atualizado em 07/10/2016 12:40

Consolar os tristes 0

07/10/2016 12:40 - Atualizado em 07/10/2016 12:40

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A obra de misericórdia escolhida pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, neste mês de outubro, para a reflexão dos seus fiéis é: consolar os tristes. Segundo o Papa Francisco: “Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas” (MV 15). Assim, parafraseando o texto do salmo 147, ele indica aos cristãos a necessidade de cuidar, aliviar e tratar as feridas emocionais e espirituais dos seus irmãos com a consolação, a misericórdia, a solidariedade e a atenção.

A tristeza

Na vivência humana, a tristeza é associada a uma experiência negativa, chegando, às vezes, a se configurar de forma intensa e patológica como depressão. Junto dela se estabelece maior gama de sentimentos tais como autodesvalorização, decepção, medo, impotência, cansaço, falta de energia etc. Na leitura teológica dessa situação, somos chamados a perceber que, com a queda original, o ser humano desfigurou a criação, introduzindo realidades ligadas à sua condição decaída.

A tristeza, então, seria uma reação emocional diante da situação de perda de um bem – uma pessoa ou uma condição favorável de vida. Para São Paulo, existiriam dois tipos de tristeza: a boa (segundo Deus), pela qual podemos nos arrepender dos pecados, e a má (segundo o mundo), que nos entorpece, nos paralisa e nos mata (cf. 2Cor 7,8-12).

Desta forma, a tristeza não é necessariamente um mal, pois pode levar a pessoa a uma nova percepção de sua realidade. A questão seria essa tristeza aguda que mina as forças vitais do indivíduo e o leva à morte emocional e espiritual.

A consolação divina

No arco da Primeira Aliança, o povo de Deus se encontrou triste e abatido por causa de seu pecado e das consequentes situações graves geradas por ele. Muitas vezes, ao invés de vivenciarem um processo de conversão, entregaram-se aos sentimentos de perda, de derrota, de fracasso e de impotência. De fato, em certos momentos, se Deus não viesse ao seu socorro, o povo não teria condições de se reerguer e acabaria por sucumbir. Um dos períodos mais difíceis nesse sentido foi o do exílio: diante da cidade e do templo de Jerusalém destruídos, da sucessão monárquica ameaçada, da consciência da desobediência aos mandamentos divinos, os israelitas se encontravam em meio a uma crise de ordem política, social e religiosa.

É neste contexto que Israel conhece o Deus consolador – “Consolai, consolai meu povo, diz o vosso Deus” (Is 40,1). O Senhor se revela como um pastor bondoso (cf. Is 40,11; Sl 23,4), como um pai amoroso e zeloso e como um esposo apaixonado (cf. Is 54) e, ainda, como uma mãe terna e carinhosa (cf. Is 49,14-17; 66,11). Com isso, surge a esperança da vinda do messias consolador que traria a alegria aos aflitos e atribulados de Israel (cf. Zc 1,13; Is 61,2).

Cristo, nossa consolação

Jesus experimentou a tristeza causada pelo pecado dos homens: quando viu a condição mortal do ser humano – “E Jesus chorou” (Jo 11,35) – e perante a sua paixão – “Minha alma está triste até a morte” (Mt 26,38). Contudo, revelou que a tristeza pode servir para a revelação do amor cuidador e consolador de Deus.

Desta forma, no seu ministério, percebemos tal ação divina em favor dos homens. No Sermão da Montanha, Jesus anuncia aos aflitos a bem-aventurança da consolação (cf. Mt 5,5). No seu trato com as pessoas, Ele oferecia palavras de consolo ligadas ao perdão e à salvação: “Tem ânimo, meu filho, teus pecados estão perdoados” e “Ânimo, minha filha, tua fé te salvou” (Mt 9,2.22). Insistiu, ainda, com os atribulados que substituíssem seus fardos pesados e cansativos pelo julgo suave e leve dos seus ensinamentos, a fim de que pudessem descansar (Mt 11,28-30).

Copiosa é nossa consolação

Na percepção paulina, Deus é misericordioso e consolador diante das tribulações vivenciadas pelos homens (cf. 2Cor 1,3-4). As tristezas e os sofrimentos da vida presente, quando unidas à paixão e morte de Cristo, ganham um sentido novo e profundo ligado com o serviço aos irmãos. Tal ressignificação seria um dom divino, capaz não só de consolar os aflitos e os atribulados, mas de abri-los para o compromisso com as outras pessoas marcadas pela tristeza. Desta forma, o Mistério Pascal do Senhor é a fonte de toda consolação da qual brota o impulso e a missão de consolar da Igreja (cf. 2Cor 1,3-11).

A Igreja consoladora

A comunidade cristã é chamada a olhar as tristezas e mazelas do mundo e entrar nelas com a ação misericordiosa e consoladora de Deus, a fim de gerar a alegria da salvação. A oração oficial da Igreja se expressa assim: “Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles” (Oração Eucarística VI-D). Para esta missão, ela recebeu a promessa do Espírito consolador (cf. Jo 14,8). Assim, através da diaconia eclesial, o Espírito comunica a alegria de Cristo Ressuscitado aos abatidos. Tal alegria se manifesta até mesmo nas situações de tribulação – “Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24) – e supera as tristezas mais enraizadas – “Também, vós, agora, estais tristes; mas vos verei de novo e vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará vossa alegria” (Jo 16,22).

Foto: Rádio Vaticano

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Consolar os tristes

07/10/2016 12:40 - Atualizado em 07/10/2016 12:40

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A obra de misericórdia escolhida pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, neste mês de outubro, para a reflexão dos seus fiéis é: consolar os tristes. Segundo o Papa Francisco: “Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas” (MV 15). Assim, parafraseando o texto do salmo 147, ele indica aos cristãos a necessidade de cuidar, aliviar e tratar as feridas emocionais e espirituais dos seus irmãos com a consolação, a misericórdia, a solidariedade e a atenção.

A tristeza

Na vivência humana, a tristeza é associada a uma experiência negativa, chegando, às vezes, a se configurar de forma intensa e patológica como depressão. Junto dela se estabelece maior gama de sentimentos tais como autodesvalorização, decepção, medo, impotência, cansaço, falta de energia etc. Na leitura teológica dessa situação, somos chamados a perceber que, com a queda original, o ser humano desfigurou a criação, introduzindo realidades ligadas à sua condição decaída.

A tristeza, então, seria uma reação emocional diante da situação de perda de um bem – uma pessoa ou uma condição favorável de vida. Para São Paulo, existiriam dois tipos de tristeza: a boa (segundo Deus), pela qual podemos nos arrepender dos pecados, e a má (segundo o mundo), que nos entorpece, nos paralisa e nos mata (cf. 2Cor 7,8-12).

Desta forma, a tristeza não é necessariamente um mal, pois pode levar a pessoa a uma nova percepção de sua realidade. A questão seria essa tristeza aguda que mina as forças vitais do indivíduo e o leva à morte emocional e espiritual.

A consolação divina

No arco da Primeira Aliança, o povo de Deus se encontrou triste e abatido por causa de seu pecado e das consequentes situações graves geradas por ele. Muitas vezes, ao invés de vivenciarem um processo de conversão, entregaram-se aos sentimentos de perda, de derrota, de fracasso e de impotência. De fato, em certos momentos, se Deus não viesse ao seu socorro, o povo não teria condições de se reerguer e acabaria por sucumbir. Um dos períodos mais difíceis nesse sentido foi o do exílio: diante da cidade e do templo de Jerusalém destruídos, da sucessão monárquica ameaçada, da consciência da desobediência aos mandamentos divinos, os israelitas se encontravam em meio a uma crise de ordem política, social e religiosa.

É neste contexto que Israel conhece o Deus consolador – “Consolai, consolai meu povo, diz o vosso Deus” (Is 40,1). O Senhor se revela como um pastor bondoso (cf. Is 40,11; Sl 23,4), como um pai amoroso e zeloso e como um esposo apaixonado (cf. Is 54) e, ainda, como uma mãe terna e carinhosa (cf. Is 49,14-17; 66,11). Com isso, surge a esperança da vinda do messias consolador que traria a alegria aos aflitos e atribulados de Israel (cf. Zc 1,13; Is 61,2).

Cristo, nossa consolação

Jesus experimentou a tristeza causada pelo pecado dos homens: quando viu a condição mortal do ser humano – “E Jesus chorou” (Jo 11,35) – e perante a sua paixão – “Minha alma está triste até a morte” (Mt 26,38). Contudo, revelou que a tristeza pode servir para a revelação do amor cuidador e consolador de Deus.

Desta forma, no seu ministério, percebemos tal ação divina em favor dos homens. No Sermão da Montanha, Jesus anuncia aos aflitos a bem-aventurança da consolação (cf. Mt 5,5). No seu trato com as pessoas, Ele oferecia palavras de consolo ligadas ao perdão e à salvação: “Tem ânimo, meu filho, teus pecados estão perdoados” e “Ânimo, minha filha, tua fé te salvou” (Mt 9,2.22). Insistiu, ainda, com os atribulados que substituíssem seus fardos pesados e cansativos pelo julgo suave e leve dos seus ensinamentos, a fim de que pudessem descansar (Mt 11,28-30).

Copiosa é nossa consolação

Na percepção paulina, Deus é misericordioso e consolador diante das tribulações vivenciadas pelos homens (cf. 2Cor 1,3-4). As tristezas e os sofrimentos da vida presente, quando unidas à paixão e morte de Cristo, ganham um sentido novo e profundo ligado com o serviço aos irmãos. Tal ressignificação seria um dom divino, capaz não só de consolar os aflitos e os atribulados, mas de abri-los para o compromisso com as outras pessoas marcadas pela tristeza. Desta forma, o Mistério Pascal do Senhor é a fonte de toda consolação da qual brota o impulso e a missão de consolar da Igreja (cf. 2Cor 1,3-11).

A Igreja consoladora

A comunidade cristã é chamada a olhar as tristezas e mazelas do mundo e entrar nelas com a ação misericordiosa e consoladora de Deus, a fim de gerar a alegria da salvação. A oração oficial da Igreja se expressa assim: “Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles” (Oração Eucarística VI-D). Para esta missão, ela recebeu a promessa do Espírito consolador (cf. Jo 14,8). Assim, através da diaconia eclesial, o Espírito comunica a alegria de Cristo Ressuscitado aos abatidos. Tal alegria se manifesta até mesmo nas situações de tribulação – “Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24) – e supera as tristezas mais enraizadas – “Também, vós, agora, estais tristes; mas vos verei de novo e vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará vossa alegria” (Jo 16,22).

Foto: Rádio Vaticano

Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida