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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 26/04/2024

26 de Abril de 2024

Miquéias: contra os chefes e profetas

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Miquéias: contra os chefes e profetas

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29/09/2016 19:18 - Atualizado em 29/09/2016 19:19

Miquéias: contra os chefes e profetas 0

29/09/2016 19:18 - Atualizado em 29/09/2016 19:19

Estamos concluindo o mês de setembro, quando comemoramos o Dia Nacional e o Mês da Bíblia. É uma iniciativa da CNBB que existe desde a década de 70 e que, além do tema e lema de cada ano, contempla um livro a ser aprofundado e meditado. Neste ano é o livro do profeta Miquéias. Continuamos a reflexão, agora acerca do terceiro capítulo deste livro que, como livro bíblico, contempla situações muito atuais.

Miquéias foi um profeta corajoso, fiel a Deus, defensor dos pobres e fiel no seu comportamento de defender a prática: “Por acaso, não é obrigação de vocês conhecer o direito”? (Mq 3,1). Que esse espírito profético reacenda o nosso compromisso com a construção do Reino da Vida, no qual as pessoas reunidas em famílias, grupos, comunidades e nações vivam na fraternidade, na solidariedade e na justiça.

Miquéias é um dos profetas “escritores” de Judá, que fala e age com base nas necessidades e expectativas de seu povo. A Bíblia testemunha, na história do reino de Judá, as atuações de outros profetas escritores, seus grupos de sustentação e suas funções sociais.

Miquéias chama, carinhosamente, seu “grupo de apoio” de meu “meu povo” e defende a vida deles contra a elite governante: “vocês são gente que devora a carne do meu povo e arranca suas peles; quebra seus ossos e os faz em pedaços, como um cozido no caldeirão”. (Mq 3,3). Miquéias pronuncia os gemidos e gritos dos camponeses para produzir mudança da ordem social. (Mq 3,9-10.12; cf. Jr 26,18).

O Capitulo 3º de Miquéias está dividido em três partes: 1- contra os chefes que oprimem o povo; 2- contra os profetas mercenários e 3- aos responsáveis: anúncio da ruína de Sião.

1- Contra os chefes que oprimem o povo- (Mq 3,1-4) - Existem vários crimes cometidos pelos governantes: a) “voltar da guerra”: os camponeses são recrutados constantemente, deixando o cultivo da terra na mão de mulheres e crianças. Apesar disso, eles ainda são obrigados a pagar os tributos pesados; b) “arrancar o manto”: o direito dos pobres é violado (Dt 24, 10-13; Am 2,8); c) “expulsar as mulheres de casa”: a casa é o espaço central da vida das mulheres no mundo patriarcal (Pr 31, 10-31); d) “tirar dos seus filhos a dignidade”: as crianças têm seu direito à herança negado.

2- Contra os profetas mercenários- (Mq 3, 5-8) - Miquéias não contesta a inspiração desses profetas, mas os acusa de serem interesseiros. Os textos bíblicos sobre os profetas da corte se multiplicam. Segundo esses textos, podemos enumerar várias funções e características dos profetas a serviço do Estado: a) viver sustentados e subordinados à corte: “comem das mãos do ser”; b) instruir o povo conforme as leis de Deus oficial do Estado; c) instruir a vontade de Deus do rei diante da situação de emergência. No caso de guerra, por exemplo, o profeta justifica e declara a guerra santa, quase sempre legitimando os interesses dos poderosos. Estes profetas anunciavam o que as pessoas poderosas querem ouvir. Esses mesmos profetas “declaram a guerra contra os que nada lhes põem na boca” (Mq 3,5c). Miquéias afirma que os profetas da corte “extraviam meu povo” (Mq 3, 5a), provavelmente agricultores endividados e oprimidos, chamados de “meu povo”, que perdem sua terra, família e casa.

3- Aos responsáveis: anúncio da ruína de Sião- (Mq 3, 9-12) - Acredita-se que Miquéias disse as palavras “no tempo de Ezequias (Jr 26,18), um rei zeloso pela forma da liturgia (2 Rs 18-20; 2 Cr 29,32), mas evidentemente cego a outros abusos contra os pobres. Por causa da piedade de Ezequias, os chefes proclamam: “o Senhor no meio de nós” (Mq 3,11). Quando refletimos sobre os capítulos 2-3, ponderamos o custo sobre a miséria humana por causa da ganância e da sensualidade dos chefes, primeiro tirando as pessoas das casas que residiam e finalmente reduzindo Jerusalém a um monte de ruínas. O templo, o monte Sião, a cidade de Jerusalém concentravam a presença de Deus do Senhor: é contra eles que o castigo é dirigido. Jeremias inspira-se neste oráculo para o seu discurso contra o templo, e os juízes o citam no julgamento de Jeremias (7 e 26). Sobre a desolação em Sião, diz o profeta Miquéias (3,12): Por isso, por culpa vossa, Sião será arada como um campo, Jerusalém se tornará lugar de ruínas, e as montanhas do Templo, cerro de brenhas”.

Ao ler este capítulo de Miquéias, podemos tirar de exemplo para a nossa caminhada espiritual que muitas vezes passamos por dificuldades e turbulências, que muitas vezes aparecem em nossas vidas falsos pastores e outras vozes querendo nos ludibriar para sairmos do caminho verdadeiro de Deus. O nosso papel é o de mantermos seguros no Senhor Deus.

            
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29/09/2016 19:18 - Atualizado em 29/09/2016 19:19

Estamos concluindo o mês de setembro, quando comemoramos o Dia Nacional e o Mês da Bíblia. É uma iniciativa da CNBB que existe desde a década de 70 e que, além do tema e lema de cada ano, contempla um livro a ser aprofundado e meditado. Neste ano é o livro do profeta Miquéias. Continuamos a reflexão, agora acerca do terceiro capítulo deste livro que, como livro bíblico, contempla situações muito atuais.

Miquéias foi um profeta corajoso, fiel a Deus, defensor dos pobres e fiel no seu comportamento de defender a prática: “Por acaso, não é obrigação de vocês conhecer o direito”? (Mq 3,1). Que esse espírito profético reacenda o nosso compromisso com a construção do Reino da Vida, no qual as pessoas reunidas em famílias, grupos, comunidades e nações vivam na fraternidade, na solidariedade e na justiça.

Miquéias é um dos profetas “escritores” de Judá, que fala e age com base nas necessidades e expectativas de seu povo. A Bíblia testemunha, na história do reino de Judá, as atuações de outros profetas escritores, seus grupos de sustentação e suas funções sociais.

Miquéias chama, carinhosamente, seu “grupo de apoio” de meu “meu povo” e defende a vida deles contra a elite governante: “vocês são gente que devora a carne do meu povo e arranca suas peles; quebra seus ossos e os faz em pedaços, como um cozido no caldeirão”. (Mq 3,3). Miquéias pronuncia os gemidos e gritos dos camponeses para produzir mudança da ordem social. (Mq 3,9-10.12; cf. Jr 26,18).

O Capitulo 3º de Miquéias está dividido em três partes: 1- contra os chefes que oprimem o povo; 2- contra os profetas mercenários e 3- aos responsáveis: anúncio da ruína de Sião.

1- Contra os chefes que oprimem o povo- (Mq 3,1-4) - Existem vários crimes cometidos pelos governantes: a) “voltar da guerra”: os camponeses são recrutados constantemente, deixando o cultivo da terra na mão de mulheres e crianças. Apesar disso, eles ainda são obrigados a pagar os tributos pesados; b) “arrancar o manto”: o direito dos pobres é violado (Dt 24, 10-13; Am 2,8); c) “expulsar as mulheres de casa”: a casa é o espaço central da vida das mulheres no mundo patriarcal (Pr 31, 10-31); d) “tirar dos seus filhos a dignidade”: as crianças têm seu direito à herança negado.

2- Contra os profetas mercenários- (Mq 3, 5-8) - Miquéias não contesta a inspiração desses profetas, mas os acusa de serem interesseiros. Os textos bíblicos sobre os profetas da corte se multiplicam. Segundo esses textos, podemos enumerar várias funções e características dos profetas a serviço do Estado: a) viver sustentados e subordinados à corte: “comem das mãos do ser”; b) instruir o povo conforme as leis de Deus oficial do Estado; c) instruir a vontade de Deus do rei diante da situação de emergência. No caso de guerra, por exemplo, o profeta justifica e declara a guerra santa, quase sempre legitimando os interesses dos poderosos. Estes profetas anunciavam o que as pessoas poderosas querem ouvir. Esses mesmos profetas “declaram a guerra contra os que nada lhes põem na boca” (Mq 3,5c). Miquéias afirma que os profetas da corte “extraviam meu povo” (Mq 3, 5a), provavelmente agricultores endividados e oprimidos, chamados de “meu povo”, que perdem sua terra, família e casa.

3- Aos responsáveis: anúncio da ruína de Sião- (Mq 3, 9-12) - Acredita-se que Miquéias disse as palavras “no tempo de Ezequias (Jr 26,18), um rei zeloso pela forma da liturgia (2 Rs 18-20; 2 Cr 29,32), mas evidentemente cego a outros abusos contra os pobres. Por causa da piedade de Ezequias, os chefes proclamam: “o Senhor no meio de nós” (Mq 3,11). Quando refletimos sobre os capítulos 2-3, ponderamos o custo sobre a miséria humana por causa da ganância e da sensualidade dos chefes, primeiro tirando as pessoas das casas que residiam e finalmente reduzindo Jerusalém a um monte de ruínas. O templo, o monte Sião, a cidade de Jerusalém concentravam a presença de Deus do Senhor: é contra eles que o castigo é dirigido. Jeremias inspira-se neste oráculo para o seu discurso contra o templo, e os juízes o citam no julgamento de Jeremias (7 e 26). Sobre a desolação em Sião, diz o profeta Miquéias (3,12): Por isso, por culpa vossa, Sião será arada como um campo, Jerusalém se tornará lugar de ruínas, e as montanhas do Templo, cerro de brenhas”.

Ao ler este capítulo de Miquéias, podemos tirar de exemplo para a nossa caminhada espiritual que muitas vezes passamos por dificuldades e turbulências, que muitas vezes aparecem em nossas vidas falsos pastores e outras vozes querendo nos ludibriar para sairmos do caminho verdadeiro de Deus. O nosso papel é o de mantermos seguros no Senhor Deus.

            
Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro