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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

O mandato da misericórdia

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O mandato da misericórdia

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23/09/2016 14:23 - Atualizado em 23/09/2016 14:24

O mandato da misericórdia 0

23/09/2016 14:23 - Atualizado em 23/09/2016 14:24

O Ano Jubilar, iniciado no dia 8 de dezembro de 2015, é um período especial para a redescoberta do sentido da misericórdia cristã em seu duplo sentido: de Deus para o homem e dos homens entre si. O texto da Bula “Misericordiae Vultus” indica que “Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai. Foi por isso que proclamei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes”(MV 3). Desta forma, “contemplar o amor do Pai” e “agir no mundo como sinal eficaz d’Ele” são as finalidades de todas as iniciativas deste momento eclesial.

A escolha de Lc 6,36 – “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso”, para nortear o Ano Santo, não foi sem razão. O escritor do terceiro Evangelhoé conhecido como o “cantor das misericórdias”, pois apresenta em diversas passagens o proceder compassivo e acolhedor de Deus, em Jesus Cristo, com os pecadores e os mais pobres. Contudo, a seleção de tal versículo aconteceu, sobretudo, porque encontramos, claramente, um mandamento de Jesus aos seus discípulos no tocante a tratar as pessoas com a mesma disposição divina. O mandato da misericórdia possui, então, uma importância capital para a vida da Igreja e dos cristãos. “Dia após dia, tocados pela sua compaixão, podemos também nós tornar-nos compassivos para com todos” – comenta-nos o Papa Francisco a respeito da relação fundamental entre a misericórdia recebida e a doada (MV 14).

De forma pontual, a passagem lucana especifica o significado concreto do mandamento “Sede misericordiosos”: “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Daí e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco” (Lc 6,37-38). Desta maneira, o agir misericordioso comporta, pelo menos, quatro atitudes expressas por meio dos seguintes imperativos: “Não julgueis”, “Não condeneis”, “Perdoai” e “Dai”. Jesus, na perspectiva lucana, relaciona a misericórdia com as atitudes de acolhimento, de salvação, de perdão e de entrega.

A misericórdia é, em primeiro lugar, uma característica do amor divino: “como vosso Pai é misericordioso” – nos ratifica o Evangelho. Ora, se tal característica é entendida através das quatro atitudes desenvolvidas na própria passagem bíblica, podemos concluir que Deus “não julga”, “não condena”, “perdoa” e “dá”, ou seja, a lógica divina é aquela do acolhimento, da salvação, do perdão e da entrega. São abundantes os testemunhos legados pelos escritores neotestamentários:“Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17); “Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11); “E disse a ela: Perdoados te são os pecados” (Lc 7,48); “Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10,15). É possível, assim, contemplar o coração misericordioso de Deus através das palavras e dos gestos de Jesus.

A Igreja, por sua vez, entendeu plenamente a mensagem do Evangelho e, com o auxílio do Espírito Santo, estende no tempo a vivência das quatro características da misericórdia – não julgar, não condenar, perdoar e dar. Por conseguinte, as primeiras comunidades cristãs nos enriquecem com sua experiência: “Não julgueis prematuramente antes que venha o Senhor” (1Cor 4,5); “suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se alguém tem um motivo de queixa contra o outro, como o Senhor vos perdoou, assim também fazei vós”(Cl 3,13) e “Nisto conhecemos o amor: Ele deu sua vida por nós. E nós devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3,16).

Desta inteligência, nosso Pontífice apresenta a experiência central da fé, “o coração pulsante do Evangelho” (MV 12): o acolhimento, a salvação, o perdão e a doação – em suma, a misericórdia. De um lado, Deus Pai sempre nos acolhe, nos salva, nos perdoa e nos doa sua vida, através de seu Filho Jesus Cristo e na força comunicativa de seu Espírito Santo. Por outro, imbuídos da compaixão divina, somos constantemente chamados à prática do acolhimento, da salvação, do perdão e da doação. Uma experiência verdadeiramente cristã da misericórdia realiza este duplo movimento: de Deus para os homens (dom) e destes últimos entre si (serviço). 


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23/09/2016 14:23 - Atualizado em 23/09/2016 14:24

O Ano Jubilar, iniciado no dia 8 de dezembro de 2015, é um período especial para a redescoberta do sentido da misericórdia cristã em seu duplo sentido: de Deus para o homem e dos homens entre si. O texto da Bula “Misericordiae Vultus” indica que “Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai. Foi por isso que proclamei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes”(MV 3). Desta forma, “contemplar o amor do Pai” e “agir no mundo como sinal eficaz d’Ele” são as finalidades de todas as iniciativas deste momento eclesial.

A escolha de Lc 6,36 – “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso”, para nortear o Ano Santo, não foi sem razão. O escritor do terceiro Evangelhoé conhecido como o “cantor das misericórdias”, pois apresenta em diversas passagens o proceder compassivo e acolhedor de Deus, em Jesus Cristo, com os pecadores e os mais pobres. Contudo, a seleção de tal versículo aconteceu, sobretudo, porque encontramos, claramente, um mandamento de Jesus aos seus discípulos no tocante a tratar as pessoas com a mesma disposição divina. O mandato da misericórdia possui, então, uma importância capital para a vida da Igreja e dos cristãos. “Dia após dia, tocados pela sua compaixão, podemos também nós tornar-nos compassivos para com todos” – comenta-nos o Papa Francisco a respeito da relação fundamental entre a misericórdia recebida e a doada (MV 14).

De forma pontual, a passagem lucana especifica o significado concreto do mandamento “Sede misericordiosos”: “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Daí e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco” (Lc 6,37-38). Desta maneira, o agir misericordioso comporta, pelo menos, quatro atitudes expressas por meio dos seguintes imperativos: “Não julgueis”, “Não condeneis”, “Perdoai” e “Dai”. Jesus, na perspectiva lucana, relaciona a misericórdia com as atitudes de acolhimento, de salvação, de perdão e de entrega.

A misericórdia é, em primeiro lugar, uma característica do amor divino: “como vosso Pai é misericordioso” – nos ratifica o Evangelho. Ora, se tal característica é entendida através das quatro atitudes desenvolvidas na própria passagem bíblica, podemos concluir que Deus “não julga”, “não condena”, “perdoa” e “dá”, ou seja, a lógica divina é aquela do acolhimento, da salvação, do perdão e da entrega. São abundantes os testemunhos legados pelos escritores neotestamentários:“Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17); “Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11); “E disse a ela: Perdoados te são os pecados” (Lc 7,48); “Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10,15). É possível, assim, contemplar o coração misericordioso de Deus através das palavras e dos gestos de Jesus.

A Igreja, por sua vez, entendeu plenamente a mensagem do Evangelho e, com o auxílio do Espírito Santo, estende no tempo a vivência das quatro características da misericórdia – não julgar, não condenar, perdoar e dar. Por conseguinte, as primeiras comunidades cristãs nos enriquecem com sua experiência: “Não julgueis prematuramente antes que venha o Senhor” (1Cor 4,5); “suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se alguém tem um motivo de queixa contra o outro, como o Senhor vos perdoou, assim também fazei vós”(Cl 3,13) e “Nisto conhecemos o amor: Ele deu sua vida por nós. E nós devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3,16).

Desta inteligência, nosso Pontífice apresenta a experiência central da fé, “o coração pulsante do Evangelho” (MV 12): o acolhimento, a salvação, o perdão e a doação – em suma, a misericórdia. De um lado, Deus Pai sempre nos acolhe, nos salva, nos perdoa e nos doa sua vida, através de seu Filho Jesus Cristo e na força comunicativa de seu Espírito Santo. Por outro, imbuídos da compaixão divina, somos constantemente chamados à prática do acolhimento, da salvação, do perdão e da doação. Uma experiência verdadeiramente cristã da misericórdia realiza este duplo movimento: de Deus para os homens (dom) e destes últimos entre si (serviço). 


Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida