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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Cuidar da casa comum

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16/09/2016 12:36 - Atualizado em 16/09/2016 12:37

Cuidar da casa comum 0

16/09/2016 12:36 - Atualizado em 16/09/2016 12:37

Todos nós conhecemos o clássico catálogo das obras de misericórdia: as sete corporais – dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos – e as sete espirituais – aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos. As primeiras são retiradas basicamente da passagem de Mt 25,31-46, na qual Jesus enumera as atitudes de caridade em relação aos irmãos mais fragilizados. As segundas obras pertencem já ao desenvolvimento feito pelos padres da Igreja – em especial, Orígenes e Santo Agostinho – do tema do amor fraterno. Ambas foram recebidas e transmitidas aos cristãos ao longo dos séculos se tornando orientações precisas para ação pastoral da Igreja.

Neste mês, o Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial de Oração e Cuidado com a Casa Comum, na sua quinta parte, estabeleceu uma nova obra de misericórdia: “Por isso, tomo a liberdade de propor um complemento aos dois elencos de sete obras de misericórdia, acrescentando a cada um o cuidado da casa comum”. Tal iniciativa está em profunda consonância com a sua postura, pois é o resultado da confluência de dois temas de seu pontificado: a preocupação e o cuidado com o meio ambiente e a misericórdia como distintivo da comunidade dos fiéis. Anteriormente, o Pontífice já tinha se manifestado sobre estes assuntos, respectivamente, na Carta Encíclica “Laudato si” e na Bula “Misericordiae Vultus”. A questão ecológica se mostra tão urgente que, agora, foi necessário unir “misericórdia” e “meio ambiente”. Desta maneira, se aprofunda no universo da moral católica não somente o interesse pelos assuntos interpessoais e sociais, mas também o empenho pela preservação e recuperação da natureza.

O texto da mensagem para o Dia Mundial de Oração e Cuidado com a Casa Comum pode ser, sinteticamente, apresentado assim: já no início, se recorda o esforço ecumênico e inter-religioso e as várias iniciativas com a sociedade em prol da solução das questões ecológicas (introdução). Depois, discorre sobre a questão do aquecimento global (1ª parte), da consequente responsabilização do mau uso dos recursos como “domínio” (2ª parte), do necessário exame de consciência em relação às causas ecológicas (3ª parte), terminando com uma indicação precisa de ações imperativas para a transformação da situação do meio ambiente (4ª parte). Na quinta parte, antes de fechar o documento com uma prece, se trata do tema: “Cuidado da casa comum” como obra de misericórdia.

Partindo do texto de Tg 2,14-17 “a misericórdia sem as obras está morta em si mesma” –, a mensagem do Pontífice afirma que a nossa cultura globalizada tem multiplicado a gama de pobrezas materiais e espirituais. Os homens e, sobretudo, os cristãos são convocados a agirem com empenho ainda mais significativo na resolução de tais problemas. A lista de obras de misericórdia, cujo objetivo é atender às carências humanas, surge como orientação para as ações caritativas mais urgentes. Por conseguinte, a casa comum, fator crucial na qualidade de vida dos homens e dos povos, precisa ser incluída no horizonte das atuais demandas mundiais, pois o cuidado por ela é, no fundo, indispensável para a manutenção da vida e para a sua realização segundo a vontade divina.

Entende-se, então, numa dupla perspectiva esta nova obra de misericórdia: como obra corporal “requer aqueles simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo e se manifesta o amor em todas as ações que procuram construir um mundo melhor” – e como espiritual – “requer a grata contemplação do mundo, que nos permite descobrir qualquer ensinamento que Deus nos quer transmitir através de cada coisa”. Vendo deste ângulo, parece que o homem, no seu relacionamento com o meio, está ferido (e, assim, acaba ferindo), visto que domina a criação com um poder despótico, fruto de uma incapacidade de enxergar o cosmos como dom de Deus e sinal de sua bondade.

Que neste Ano Jubilar os fiéis cristãos encarem os desafios suscitados pelas questões ecológicas, tratando com misericórdia o mundo no qual vivemos. Ressoe, em todos os corações, o apelo feito pelo Papa Francisco: “aprendamos a procurar a misericórdia de Deus para os pecados contra a criação que até agora não soubemos reconhecer nem confessar; e comprometamo-nos a dar passos concretos no caminho da conversão ecológica, que exige uma clara tomada de consciência da responsabilidade que temos para conosco, o próximo, a criação e o Criador”.


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16/09/2016 12:36 - Atualizado em 16/09/2016 12:37

Todos nós conhecemos o clássico catálogo das obras de misericórdia: as sete corporais – dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos – e as sete espirituais – aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos. As primeiras são retiradas basicamente da passagem de Mt 25,31-46, na qual Jesus enumera as atitudes de caridade em relação aos irmãos mais fragilizados. As segundas obras pertencem já ao desenvolvimento feito pelos padres da Igreja – em especial, Orígenes e Santo Agostinho – do tema do amor fraterno. Ambas foram recebidas e transmitidas aos cristãos ao longo dos séculos se tornando orientações precisas para ação pastoral da Igreja.

Neste mês, o Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial de Oração e Cuidado com a Casa Comum, na sua quinta parte, estabeleceu uma nova obra de misericórdia: “Por isso, tomo a liberdade de propor um complemento aos dois elencos de sete obras de misericórdia, acrescentando a cada um o cuidado da casa comum”. Tal iniciativa está em profunda consonância com a sua postura, pois é o resultado da confluência de dois temas de seu pontificado: a preocupação e o cuidado com o meio ambiente e a misericórdia como distintivo da comunidade dos fiéis. Anteriormente, o Pontífice já tinha se manifestado sobre estes assuntos, respectivamente, na Carta Encíclica “Laudato si” e na Bula “Misericordiae Vultus”. A questão ecológica se mostra tão urgente que, agora, foi necessário unir “misericórdia” e “meio ambiente”. Desta maneira, se aprofunda no universo da moral católica não somente o interesse pelos assuntos interpessoais e sociais, mas também o empenho pela preservação e recuperação da natureza.

O texto da mensagem para o Dia Mundial de Oração e Cuidado com a Casa Comum pode ser, sinteticamente, apresentado assim: já no início, se recorda o esforço ecumênico e inter-religioso e as várias iniciativas com a sociedade em prol da solução das questões ecológicas (introdução). Depois, discorre sobre a questão do aquecimento global (1ª parte), da consequente responsabilização do mau uso dos recursos como “domínio” (2ª parte), do necessário exame de consciência em relação às causas ecológicas (3ª parte), terminando com uma indicação precisa de ações imperativas para a transformação da situação do meio ambiente (4ª parte). Na quinta parte, antes de fechar o documento com uma prece, se trata do tema: “Cuidado da casa comum” como obra de misericórdia.

Partindo do texto de Tg 2,14-17 “a misericórdia sem as obras está morta em si mesma” –, a mensagem do Pontífice afirma que a nossa cultura globalizada tem multiplicado a gama de pobrezas materiais e espirituais. Os homens e, sobretudo, os cristãos são convocados a agirem com empenho ainda mais significativo na resolução de tais problemas. A lista de obras de misericórdia, cujo objetivo é atender às carências humanas, surge como orientação para as ações caritativas mais urgentes. Por conseguinte, a casa comum, fator crucial na qualidade de vida dos homens e dos povos, precisa ser incluída no horizonte das atuais demandas mundiais, pois o cuidado por ela é, no fundo, indispensável para a manutenção da vida e para a sua realização segundo a vontade divina.

Entende-se, então, numa dupla perspectiva esta nova obra de misericórdia: como obra corporal “requer aqueles simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo e se manifesta o amor em todas as ações que procuram construir um mundo melhor” – e como espiritual – “requer a grata contemplação do mundo, que nos permite descobrir qualquer ensinamento que Deus nos quer transmitir através de cada coisa”. Vendo deste ângulo, parece que o homem, no seu relacionamento com o meio, está ferido (e, assim, acaba ferindo), visto que domina a criação com um poder despótico, fruto de uma incapacidade de enxergar o cosmos como dom de Deus e sinal de sua bondade.

Que neste Ano Jubilar os fiéis cristãos encarem os desafios suscitados pelas questões ecológicas, tratando com misericórdia o mundo no qual vivemos. Ressoe, em todos os corações, o apelo feito pelo Papa Francisco: “aprendamos a procurar a misericórdia de Deus para os pecados contra a criação que até agora não soubemos reconhecer nem confessar; e comprometamo-nos a dar passos concretos no caminho da conversão ecológica, que exige uma clara tomada de consciência da responsabilidade que temos para conosco, o próximo, a criação e o Criador”.


Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida