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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 20/04/2024

20 de Abril de 2024

A ceia do Senhor

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A ceia do Senhor

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26/08/2016 18:27 - Atualizado em 26/08/2016 18:27

A ceia do Senhor 0

26/08/2016 18:27 - Atualizado em 26/08/2016 18:27

Na celebração eucarística do vigésimo segundo domingo do tempo comum, a comunidade eclesial proclama e escuta o texto de Lc 14,7-14. Jesus, espreitado pelos fariseus, se aproveitando do que observava durante uma ceia, dirigiu uma parábola aos convidados (Lc 14,7-11) e uma exortação ao anfitrião (Lc 14,12-14). No fundo, essa página evangélica procura converter o coração dos homens, fazendo-os passar das atitudes de arrogância e egoísmo para as de humildade e generosidade – frutos da irrupção do reino de Deus neste mundo.

Na espiritualidade de Israel, o sábado era marcado pela observância cultual: “recorda-te do dia de sábado para o santificardes” (Ex 20,8). Nele se fazia memória do ato criador – “Deus abençoou o sétimo dia e o consagrou, porque nesse dia repousara de toda a obra da criação” (Gn 2,3), da intervenção salvadora divina – “Lembra-te de que foste escravo no Egito, de onde a mão forte e o braço poderoso do teu Senhor te tirou. É por isso que o Senhor, teu Deus, te ordenou que observasses o dia do sábado” (Dt 5,15) – e da espera pela instauração do tempo messiânico. Jesus se apresenta como o Senhor do sábado (cf. Lc 6,5), revelando o verdadeiro modo de guardá-lo e de santificá-lo. Neste sentido, o banquete é um lugar especial visto que estão presentes os frutos da terra e do trabalho humano (aspecto cosmológico), a lembrança ritual da ceia libertadora do Egito (aspecto salvífico) e os elementos da esperança da chegada do messias (aspecto escatológico). Diante das atitudes dos comensais naquele dia – tão contrárias à verdadeira face do sábado, o Cristo se posiciona restituindo-os ao estado de acolhimento, de respeito e de bondade.

Para isto, Jesus, percebendo o desejo dos convidados em ocupar os lugares de destaque naquela refeição, contou-lhes uma parábola. Nela descreve a situação constrangedora dos que são destituídos de seus postos por conta da chegada de pessoas mais ilustres. Longe de ser apenas uma regra de etiqueta para os festejos matrimoniais, o texto se faz muito mais profundo. Uma festa de casamento era um sinal da aliança estabelecida entre Deus e os homens (cf. Os 1,2). O próprio Senhor se identifica como o noivo e convida sua igreja, sua noiva, para as núpcias finais (cf. Lc 5,34-35). Ora, a humildade é condição fundamental para fazer parte da ceia das bodas do cordeiro. Tal atitude, contudo, deve ser vivida no dia a dia, em meio a tantos banquetes precedentes: “Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado” (Lc 14,11).

Depois disso, o Senhor se voltou para o anfitrião e disse-lhe uma outra parábola. Esta, tratando da escolha dos participantes de uma refeição festiva, se destaca pelo paralelismo antitético criado entre “os que poderiam te convidar também” e “os que não podem te retribuir”. Entre os primeiros estão os familiares, os amigos e os parentes e, no outro grupo, os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Jesus se utiliza mais uma vez de uma imagem escatológica própria da tradição de Israel: “O Senhor dos exércitos preparou para todos os povos, nesse monte, um banquete de carnes gordas, um festim de vinhos velhos, de carnes gordas e medulosas, de vinhos velhos purificados” (Is 25,6). No reino, instaurado em Cristo, não se estabelecem relações baseadas na lógica da contrapartida ou da reciprocidade, mas nas atitudes de generosidade e de liberalidade. A felicidade está justamente em receber a recompensa de Deus, na ressurreição final, e não em pactos, alianças e favores humanos.

Tudo isto nos leva a pensar na refeição pascal instituída pelo Senhor na véspera de sua paixão. Ali, estamos diante do anfitrião divino que chama os homens a participarem da sua vida. Sem dúvida, assim como Ele, os comensais devem estar imbuídos do Espírito de humildade e de generosidade. De fato, a celebração da eucaristia prolonga na comunidade eclesial um testemunho perene da presença do Reino de Deus. A ceia do Senhor transforma os corações dos homens de soberbos e interesseiros em simples e compassivos: “Demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos; derrubou os poderosos de seus tronos e os humildes exaltou; de bens saciou os famintos e despediu, sem nada, os ricos” (Lc 1,51-53).


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26/08/2016 18:27 - Atualizado em 26/08/2016 18:27

Na celebração eucarística do vigésimo segundo domingo do tempo comum, a comunidade eclesial proclama e escuta o texto de Lc 14,7-14. Jesus, espreitado pelos fariseus, se aproveitando do que observava durante uma ceia, dirigiu uma parábola aos convidados (Lc 14,7-11) e uma exortação ao anfitrião (Lc 14,12-14). No fundo, essa página evangélica procura converter o coração dos homens, fazendo-os passar das atitudes de arrogância e egoísmo para as de humildade e generosidade – frutos da irrupção do reino de Deus neste mundo.

Na espiritualidade de Israel, o sábado era marcado pela observância cultual: “recorda-te do dia de sábado para o santificardes” (Ex 20,8). Nele se fazia memória do ato criador – “Deus abençoou o sétimo dia e o consagrou, porque nesse dia repousara de toda a obra da criação” (Gn 2,3), da intervenção salvadora divina – “Lembra-te de que foste escravo no Egito, de onde a mão forte e o braço poderoso do teu Senhor te tirou. É por isso que o Senhor, teu Deus, te ordenou que observasses o dia do sábado” (Dt 5,15) – e da espera pela instauração do tempo messiânico. Jesus se apresenta como o Senhor do sábado (cf. Lc 6,5), revelando o verdadeiro modo de guardá-lo e de santificá-lo. Neste sentido, o banquete é um lugar especial visto que estão presentes os frutos da terra e do trabalho humano (aspecto cosmológico), a lembrança ritual da ceia libertadora do Egito (aspecto salvífico) e os elementos da esperança da chegada do messias (aspecto escatológico). Diante das atitudes dos comensais naquele dia – tão contrárias à verdadeira face do sábado, o Cristo se posiciona restituindo-os ao estado de acolhimento, de respeito e de bondade.

Para isto, Jesus, percebendo o desejo dos convidados em ocupar os lugares de destaque naquela refeição, contou-lhes uma parábola. Nela descreve a situação constrangedora dos que são destituídos de seus postos por conta da chegada de pessoas mais ilustres. Longe de ser apenas uma regra de etiqueta para os festejos matrimoniais, o texto se faz muito mais profundo. Uma festa de casamento era um sinal da aliança estabelecida entre Deus e os homens (cf. Os 1,2). O próprio Senhor se identifica como o noivo e convida sua igreja, sua noiva, para as núpcias finais (cf. Lc 5,34-35). Ora, a humildade é condição fundamental para fazer parte da ceia das bodas do cordeiro. Tal atitude, contudo, deve ser vivida no dia a dia, em meio a tantos banquetes precedentes: “Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado” (Lc 14,11).

Depois disso, o Senhor se voltou para o anfitrião e disse-lhe uma outra parábola. Esta, tratando da escolha dos participantes de uma refeição festiva, se destaca pelo paralelismo antitético criado entre “os que poderiam te convidar também” e “os que não podem te retribuir”. Entre os primeiros estão os familiares, os amigos e os parentes e, no outro grupo, os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Jesus se utiliza mais uma vez de uma imagem escatológica própria da tradição de Israel: “O Senhor dos exércitos preparou para todos os povos, nesse monte, um banquete de carnes gordas, um festim de vinhos velhos, de carnes gordas e medulosas, de vinhos velhos purificados” (Is 25,6). No reino, instaurado em Cristo, não se estabelecem relações baseadas na lógica da contrapartida ou da reciprocidade, mas nas atitudes de generosidade e de liberalidade. A felicidade está justamente em receber a recompensa de Deus, na ressurreição final, e não em pactos, alianças e favores humanos.

Tudo isto nos leva a pensar na refeição pascal instituída pelo Senhor na véspera de sua paixão. Ali, estamos diante do anfitrião divino que chama os homens a participarem da sua vida. Sem dúvida, assim como Ele, os comensais devem estar imbuídos do Espírito de humildade e de generosidade. De fato, a celebração da eucaristia prolonga na comunidade eclesial um testemunho perene da presença do Reino de Deus. A ceia do Senhor transforma os corações dos homens de soberbos e interesseiros em simples e compassivos: “Demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos; derrubou os poderosos de seus tronos e os humildes exaltou; de bens saciou os famintos e despediu, sem nada, os ricos” (Lc 1,51-53).


Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida