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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Fogo sobre a terra

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Fogo sobre a terra

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12/08/2016 00:00 - Atualizado em 13/08/2016 19:02

Fogo sobre a terra 0

12/08/2016 00:00 - Atualizado em 13/08/2016 19:02

No vigésimo domingo do tempo comum, a Igreja, celebrando a eucaristia, escuta a passagem evangélica de Lc 12,49-53. O relato pode ser dividido em duas partes de acordo com sua temática teológica: Jesus e sua paixão (Lc 12,49-50); e Jesus, causa de divisões (Lc 12,51-53). Possuindo uma linguagem de difícil compreensão para o leitor de hoje – chegando até gerar perplexidade pelas imagens empregadas –, tal página bíblica desenvolve uma capital reflexão sobre o sentido da morte de Cristo e, ainda, sobre a decisão radical de cada homem perante a mensagem da salvação.

Na parte inicial do texto, sobre a paixão do Senhor, o autor do terceiro evangelho introduz duas imagens importantes: o fogo e o Batismo. A primeira imagem surge assim: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49). Jesus, retomando do Primeiro Testamento as noções de juízo divino, utiliza da imagem do fogo para revelar a purificação do pecado. Ele é o juiz escatológico que vem curar a humanidade através da chama divina. Isto não significa de maneira nenhuma que haverá uma destruição ou aniquilamento das pessoas, mas uma atuação salvadora no tocante ao perdão e a libertação do mal. O fogo desejado é o dom do Espírito Santo: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo” (Lc 13,6). A missão do Pneuma é perdoar, purificar e santificar todos os homens, preparando-os para o encontro definitivo com o Ressuscitado: “Quando o Espírito vier estabelecerá a culpabilidade do mundo a respeito do pecado, da justiça e do julgamento” (Jo 16,8).

Depois, o texto evangélico acrescenta: “Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra!” (Lc 12,50). Jesus, que já tinha sido batizado por João Batista na aurora do seu ministério público (cf. Lc 3,21-22), revela a necessidade de um novo mergulho. Todavia, ao invés da água, agora, será no sangue derramado pela purificação da humanidade – “Podeis ser batizados com o batismo com que serei batizado?” (Mc 10,38). De fato, para que o Espírito Santo – o fogo divino – pudesse atuar purificando os discípulos, o Senhor precisava partir para o Pai: “no entanto, eu vos digo a verdade: é de vosso interesse que eu parta, pois, se eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se for, enviá-lo-ei a vós” (Jo 16,7). Desta forma, a paixão de Cristo é a possibilidade para o Espírito vir purificar o mundo.

A segunda parte trata do posicionamento dos homens diante de Jesus Cristo. Não é novidade que a adesão ao Reino de Deus deve ser prioridade até mesmo diante dos laços familiares: “Outro disse-lhe ainda: eu te seguirei, Senhor, mas permita-me primeiro despedir-me dos que estão em minha casa. Jesus, porém, lhe disse: quem põe a mão no arado e olha para trás não é digno do Reino dos Céus” (Lc 9,59-62), e ainda: “se alguém vem a mim e não se desapega de seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até da própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). A situação das comunidades primitivas era de perseguição religiosa e social. Por isso, quando alguém se tornava cristão poderia ser odiado pelos membros da própria família. Assim, o texto carrega estas imagens fortes da divisão familiar e do litígio entre pai e filho, mãe e filha e sogra e nora (cf. Lc 12,52-53). É, evidente, que Jesus não está pedindo aos seus discípulos que hostilizem sua família, mas que estejam preparados para sofrer perseguições até mesmo deste ciclo relacional por causa de sua fé.

O evangelho deste domingo nos ensina a enxergar a morte de Cristo como um batismo de sangue que nos conquistou o fogo purificador do Espírito Santo, capaz de vencer em nós todo o fermento do pecado e da maldade e, ainda, nos posiciona a grandeza do chamado divino para estar ao seu lado. Que sejamos, de fato, acrisolados pela ação da chama viva de amor e, na nossa fidelidade ao Evangelho, tenhamos forças para suportar todas as adversidades e oposições em nossa fé.


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12/08/2016 00:00 - Atualizado em 13/08/2016 19:02

No vigésimo domingo do tempo comum, a Igreja, celebrando a eucaristia, escuta a passagem evangélica de Lc 12,49-53. O relato pode ser dividido em duas partes de acordo com sua temática teológica: Jesus e sua paixão (Lc 12,49-50); e Jesus, causa de divisões (Lc 12,51-53). Possuindo uma linguagem de difícil compreensão para o leitor de hoje – chegando até gerar perplexidade pelas imagens empregadas –, tal página bíblica desenvolve uma capital reflexão sobre o sentido da morte de Cristo e, ainda, sobre a decisão radical de cada homem perante a mensagem da salvação.

Na parte inicial do texto, sobre a paixão do Senhor, o autor do terceiro evangelho introduz duas imagens importantes: o fogo e o Batismo. A primeira imagem surge assim: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49). Jesus, retomando do Primeiro Testamento as noções de juízo divino, utiliza da imagem do fogo para revelar a purificação do pecado. Ele é o juiz escatológico que vem curar a humanidade através da chama divina. Isto não significa de maneira nenhuma que haverá uma destruição ou aniquilamento das pessoas, mas uma atuação salvadora no tocante ao perdão e a libertação do mal. O fogo desejado é o dom do Espírito Santo: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo” (Lc 13,6). A missão do Pneuma é perdoar, purificar e santificar todos os homens, preparando-os para o encontro definitivo com o Ressuscitado: “Quando o Espírito vier estabelecerá a culpabilidade do mundo a respeito do pecado, da justiça e do julgamento” (Jo 16,8).

Depois, o texto evangélico acrescenta: “Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra!” (Lc 12,50). Jesus, que já tinha sido batizado por João Batista na aurora do seu ministério público (cf. Lc 3,21-22), revela a necessidade de um novo mergulho. Todavia, ao invés da água, agora, será no sangue derramado pela purificação da humanidade – “Podeis ser batizados com o batismo com que serei batizado?” (Mc 10,38). De fato, para que o Espírito Santo – o fogo divino – pudesse atuar purificando os discípulos, o Senhor precisava partir para o Pai: “no entanto, eu vos digo a verdade: é de vosso interesse que eu parta, pois, se eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se for, enviá-lo-ei a vós” (Jo 16,7). Desta forma, a paixão de Cristo é a possibilidade para o Espírito vir purificar o mundo.

A segunda parte trata do posicionamento dos homens diante de Jesus Cristo. Não é novidade que a adesão ao Reino de Deus deve ser prioridade até mesmo diante dos laços familiares: “Outro disse-lhe ainda: eu te seguirei, Senhor, mas permita-me primeiro despedir-me dos que estão em minha casa. Jesus, porém, lhe disse: quem põe a mão no arado e olha para trás não é digno do Reino dos Céus” (Lc 9,59-62), e ainda: “se alguém vem a mim e não se desapega de seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até da própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). A situação das comunidades primitivas era de perseguição religiosa e social. Por isso, quando alguém se tornava cristão poderia ser odiado pelos membros da própria família. Assim, o texto carrega estas imagens fortes da divisão familiar e do litígio entre pai e filho, mãe e filha e sogra e nora (cf. Lc 12,52-53). É, evidente, que Jesus não está pedindo aos seus discípulos que hostilizem sua família, mas que estejam preparados para sofrer perseguições até mesmo deste ciclo relacional por causa de sua fé.

O evangelho deste domingo nos ensina a enxergar a morte de Cristo como um batismo de sangue que nos conquistou o fogo purificador do Espírito Santo, capaz de vencer em nós todo o fermento do pecado e da maldade e, ainda, nos posiciona a grandeza do chamado divino para estar ao seu lado. Que sejamos, de fato, acrisolados pela ação da chama viva de amor e, na nossa fidelidade ao Evangelho, tenhamos forças para suportar todas as adversidades e oposições em nossa fé.


Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida