Arquidiocese do Rio de Janeiro

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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Pobreza, vigilância e fidelidade

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Pobreza, vigilância e fidelidade

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05/08/2016 12:16 - Atualizado em 05/08/2016 12:24

Pobreza, vigilância e fidelidade 0

05/08/2016 12:16 - Atualizado em 05/08/2016 12:24

No décimo nono domingo do tempo comum, os fiéis escutam, durante a celebração eucarística, um longo e rico trecho do terceiro evangelho: Lc 12,32-48. Este pode ser dividido em, pelo menos, três núcleos temáticos diferentes: a pobreza (Lc 12,32-34), a vigilância (Lc 12,35-40) e a fidelidade (Lc 12,40-48). Através deles, entramos em contato com alguns pontos fundamentais da fé da comunidade da primeira hora e, com isso, podemos nos deixar moldar pelas mesmas orientações deixadas por Jesus.

São Lucas é reconhecido por desenvolver em seu escrito o tema da pobreza. Em Lc 12,32-34, ouvimos do Senhor um imperativo ético radical: “Vendei vossos bens e dai esmola” (Lc 12,33). A espiritualidade de Israel já conhecia o mandamento divino de ajudar ao próximo com recursos financeiros e materiais: “tu, porém, sê indulgente para com os humildes; não os faça esperar tuas esmolas. Acumula um tesouro segundo os preceitos do Altíssimo; ser-te-á mais útil do que o ouro” (Ecl 29,8.11). Jesus, anteriormente, já tinha acenado aos seus discípulos para tal práxis: “Dai e vos será dado” (Lc 6,38) e “Antes dai o que tendes em esmola e tudo ficará puro para vós!” (Lc 11,41). Na referida passagem, Ele aproveita as imagens próprias do desejo humano pelos bens – “fazer bolsas” e “entesourar” – e, ainda, as fragilidades e a ilusão deste acúmulo – “se estraguem”, “se acabem”, “o ladrão” e “a traça que corroem” (cf. Lc 12,33). Através deste imaginário, o Senhor queria suscitar no coração de seus seguidores o desprendimento pelos bens e o espírito de pobreza necessários para se entregarem totalmente aos irmãos por amor a Deus: “Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,34).

A segunda parte da perícope dominical remete ao tema da espera pelo regresso definitivo de Cristo. O terceiro evangelista nos narra um discurso com duas imagens interessantes: a expectativa do empregado pelo retorno do patrão (Lc 12,35-38) e a entrada furtiva de um ladrão (Lc 12,39-40). A figura do servo à espera da chegada de seu chefe de uma festa de casamento remete às disposições dos fiéis em viver em função da expectativa da chegada de Jesus. A incerteza do horário em que o empregador voltará – “caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada” (Lc 12,37) – e a entrada furtiva de um ladrão evoca o desconhecimento do momento exato da Parusia. A conclusão é patente, pois admoesta aos discípulos a prática constante da vontade do Mestre, como o modo próprio de se esperar pela sua segunda vinda: “Vós também ficais preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes” (Lc 12,40).

A última parte trabalha a questão da fidelidade dos discípulos ao Senhor. Motivado pela pergunta do apóstolo Pedro, Jesus se utiliza de uma nova imagem para ensinar seu grupo o encargo do administrador de uma casa. Com ela, revela a missão eclesial de cuidar dos fiéis –“Quem é o administrador fiel e prudente que o Senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa para dar comida a todos na hora certa?” (Lc 12,43) –, e adverte contra o perigo da negligência em função da demora da Parusia: “Porém, se aquele empregado pensar: Meu patrão está demorando, e começar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele empregado chegará num dia inesperado e numa hora imprevista; ele o partirá ao meio e o fará participar do destino dos infiéis” (Lc 12,45-46). Assim, compromisso, fidelidade e responsabilização se entrelaçam na constituição de um servo de Cristo: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!” (Lc 12,48).

Celebrando o Dia do Senhor, nós descobrimos que a liberdade em relação aos bens materiais e o espírito de caridade, a espera da Parusia em estado de vigilância e de serviço e o comprometimento em realizar, com fidelidade, a tarefa recebida são requisitos do discipulado cristão. A este respeito fica a intuição de São Basílio Magno: “O que cabe ao cristão? Vigiar constantemente e estar sempre pronto a cumprir aquilo que agrada a Deus, sabendo que, na hora em que menos pensarmos, o Senhor vem!”.


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Pobreza, vigilância e fidelidade

05/08/2016 12:16 - Atualizado em 05/08/2016 12:24

No décimo nono domingo do tempo comum, os fiéis escutam, durante a celebração eucarística, um longo e rico trecho do terceiro evangelho: Lc 12,32-48. Este pode ser dividido em, pelo menos, três núcleos temáticos diferentes: a pobreza (Lc 12,32-34), a vigilância (Lc 12,35-40) e a fidelidade (Lc 12,40-48). Através deles, entramos em contato com alguns pontos fundamentais da fé da comunidade da primeira hora e, com isso, podemos nos deixar moldar pelas mesmas orientações deixadas por Jesus.

São Lucas é reconhecido por desenvolver em seu escrito o tema da pobreza. Em Lc 12,32-34, ouvimos do Senhor um imperativo ético radical: “Vendei vossos bens e dai esmola” (Lc 12,33). A espiritualidade de Israel já conhecia o mandamento divino de ajudar ao próximo com recursos financeiros e materiais: “tu, porém, sê indulgente para com os humildes; não os faça esperar tuas esmolas. Acumula um tesouro segundo os preceitos do Altíssimo; ser-te-á mais útil do que o ouro” (Ecl 29,8.11). Jesus, anteriormente, já tinha acenado aos seus discípulos para tal práxis: “Dai e vos será dado” (Lc 6,38) e “Antes dai o que tendes em esmola e tudo ficará puro para vós!” (Lc 11,41). Na referida passagem, Ele aproveita as imagens próprias do desejo humano pelos bens – “fazer bolsas” e “entesourar” – e, ainda, as fragilidades e a ilusão deste acúmulo – “se estraguem”, “se acabem”, “o ladrão” e “a traça que corroem” (cf. Lc 12,33). Através deste imaginário, o Senhor queria suscitar no coração de seus seguidores o desprendimento pelos bens e o espírito de pobreza necessários para se entregarem totalmente aos irmãos por amor a Deus: “Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,34).

A segunda parte da perícope dominical remete ao tema da espera pelo regresso definitivo de Cristo. O terceiro evangelista nos narra um discurso com duas imagens interessantes: a expectativa do empregado pelo retorno do patrão (Lc 12,35-38) e a entrada furtiva de um ladrão (Lc 12,39-40). A figura do servo à espera da chegada de seu chefe de uma festa de casamento remete às disposições dos fiéis em viver em função da expectativa da chegada de Jesus. A incerteza do horário em que o empregador voltará – “caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada” (Lc 12,37) – e a entrada furtiva de um ladrão evoca o desconhecimento do momento exato da Parusia. A conclusão é patente, pois admoesta aos discípulos a prática constante da vontade do Mestre, como o modo próprio de se esperar pela sua segunda vinda: “Vós também ficais preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes” (Lc 12,40).

A última parte trabalha a questão da fidelidade dos discípulos ao Senhor. Motivado pela pergunta do apóstolo Pedro, Jesus se utiliza de uma nova imagem para ensinar seu grupo o encargo do administrador de uma casa. Com ela, revela a missão eclesial de cuidar dos fiéis –“Quem é o administrador fiel e prudente que o Senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa para dar comida a todos na hora certa?” (Lc 12,43) –, e adverte contra o perigo da negligência em função da demora da Parusia: “Porém, se aquele empregado pensar: Meu patrão está demorando, e começar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele empregado chegará num dia inesperado e numa hora imprevista; ele o partirá ao meio e o fará participar do destino dos infiéis” (Lc 12,45-46). Assim, compromisso, fidelidade e responsabilização se entrelaçam na constituição de um servo de Cristo: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!” (Lc 12,48).

Celebrando o Dia do Senhor, nós descobrimos que a liberdade em relação aos bens materiais e o espírito de caridade, a espera da Parusia em estado de vigilância e de serviço e o comprometimento em realizar, com fidelidade, a tarefa recebida são requisitos do discipulado cristão. A este respeito fica a intuição de São Basílio Magno: “O que cabe ao cristão? Vigiar constantemente e estar sempre pronto a cumprir aquilo que agrada a Deus, sabendo que, na hora em que menos pensarmos, o Senhor vem!”.


Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida