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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

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29/07/2016 12:39 - Atualizado em 29/07/2016 12:39

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29/07/2016 12:39 - Atualizado em 29/07/2016 12:39

Na celebração eucarística do décimo oitavo domingo do Tempo Comum, o Evangelho proclamado traz uma dura advertência em relação ao desejo humano desmedido de possuir bens materiais. Tal página lucana pode ser estruturada, de acordo com a sua perspectiva literário-teológica, da seguinte maneira: um pedido para que Jesus decida um assunto de herança (Lc 12,13-14), uma sentença sobre a ganância presente no interior do homem (Lc 12,15) e uma parábola para evidenciar o seu pensamento aos discípulos (Lc 12,16-21).

As questões sobre herança eram reguladas pela Lei de Moisés (cf. Dt 21,15-17). Segundo essa, o filho mais velho deveria receber, além da casa e das terras, 2/3 das posses. Diante de uma dificuldade em vista da divisão dos haveres paternos, as partes procuravam um mestre da lei para servir de autoridade no caso. Na passagem bíblica, o irmão lesado busca Jesus, a fim de que atue como juiz na partilha: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo” (Lc 12,13). Todavia, o Senhor não aceita esta incumbência e não se identifica com aquele ofício: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?” (Lc 12,14). Sua missão perante os homens não é a mesma de um perito da Torá, mas porta uma qualidade maior – apontar e curar as feridas ocasionadas pelo pecado.

Saindo do problema do espólio, Jesus percebe a oportunidade de falar aos seus seguidores de algo mais grave: a avidez e a ilusão da capitalização de riquezas. Com uma visão profunda do tema, o Senhor, num tom exortativo, afirma a existência, no nosso coração, do anseio desregrado de acumular coisas: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância” (Lc 12,15). Ele ilumina a tentativa humana de conferir sentido, importância e segurança à sua própria existência distante de Deus: “porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15). Durante seu ministério, Ele pregou diversas vezes sobre a pobreza e a liberdade face aos recursos materiais. Dois textos emblemáticos sobre isto são: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13) e “como é difícil aos que têm riquezas entrar no Reino dos Céus” (Lc 18,24).

Com o propósito de que seus discípulos pudessem captar a novidade de seu ensinamento, Jesus contou-lhes uma parábola a respeito de um trabalhador ávido por entesourar os bens terrenos. A mensagem é bem clara, pois narra a fantasia de um personagem em ter poder sobre a própria vida através do acúmulo das riquezas e a experiência de impotência e de inutilidade dos recursos materiais diante da morte: “Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita! Mas Deus lhe disse: Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?” (Lc 12,18-20). Com esta história, o Senhor reorientava seus seguidores com a intenção de que, abandonando os impulsos gananciosos, se abrissem para o verdadeiro valor: entesourar em Deus.

Até hoje, mesmo depois de vinte séculos de evangelização, a nossa cultura ainda avalia, classifica e rotula as pessoas pelas suas posses e recursos financeiros. Uma sociedade na qual o ideal de felicidade está, necessariamente, associado ao acúmulo de dinheiro, gera uma situação ilusória de fortaleza frente aos momentos de fragilidade e de impotência. Escutando o trecho de Lc 12,13-21, a voz do Cristo alerta os seus novos discípulos do perigo da ganância e desmascara a pretensão de colocar a segurança da vida nos bens. Com isto, os cristãos são admoestados a orientar todo o seu ser para a realização do plano divino, “pois aonde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,34).


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29/07/2016 12:39 - Atualizado em 29/07/2016 12:39

Na celebração eucarística do décimo oitavo domingo do Tempo Comum, o Evangelho proclamado traz uma dura advertência em relação ao desejo humano desmedido de possuir bens materiais. Tal página lucana pode ser estruturada, de acordo com a sua perspectiva literário-teológica, da seguinte maneira: um pedido para que Jesus decida um assunto de herança (Lc 12,13-14), uma sentença sobre a ganância presente no interior do homem (Lc 12,15) e uma parábola para evidenciar o seu pensamento aos discípulos (Lc 12,16-21).

As questões sobre herança eram reguladas pela Lei de Moisés (cf. Dt 21,15-17). Segundo essa, o filho mais velho deveria receber, além da casa e das terras, 2/3 das posses. Diante de uma dificuldade em vista da divisão dos haveres paternos, as partes procuravam um mestre da lei para servir de autoridade no caso. Na passagem bíblica, o irmão lesado busca Jesus, a fim de que atue como juiz na partilha: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo” (Lc 12,13). Todavia, o Senhor não aceita esta incumbência e não se identifica com aquele ofício: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?” (Lc 12,14). Sua missão perante os homens não é a mesma de um perito da Torá, mas porta uma qualidade maior – apontar e curar as feridas ocasionadas pelo pecado.

Saindo do problema do espólio, Jesus percebe a oportunidade de falar aos seus seguidores de algo mais grave: a avidez e a ilusão da capitalização de riquezas. Com uma visão profunda do tema, o Senhor, num tom exortativo, afirma a existência, no nosso coração, do anseio desregrado de acumular coisas: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância” (Lc 12,15). Ele ilumina a tentativa humana de conferir sentido, importância e segurança à sua própria existência distante de Deus: “porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15). Durante seu ministério, Ele pregou diversas vezes sobre a pobreza e a liberdade face aos recursos materiais. Dois textos emblemáticos sobre isto são: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13) e “como é difícil aos que têm riquezas entrar no Reino dos Céus” (Lc 18,24).

Com o propósito de que seus discípulos pudessem captar a novidade de seu ensinamento, Jesus contou-lhes uma parábola a respeito de um trabalhador ávido por entesourar os bens terrenos. A mensagem é bem clara, pois narra a fantasia de um personagem em ter poder sobre a própria vida através do acúmulo das riquezas e a experiência de impotência e de inutilidade dos recursos materiais diante da morte: “Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita! Mas Deus lhe disse: Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?” (Lc 12,18-20). Com esta história, o Senhor reorientava seus seguidores com a intenção de que, abandonando os impulsos gananciosos, se abrissem para o verdadeiro valor: entesourar em Deus.

Até hoje, mesmo depois de vinte séculos de evangelização, a nossa cultura ainda avalia, classifica e rotula as pessoas pelas suas posses e recursos financeiros. Uma sociedade na qual o ideal de felicidade está, necessariamente, associado ao acúmulo de dinheiro, gera uma situação ilusória de fortaleza frente aos momentos de fragilidade e de impotência. Escutando o trecho de Lc 12,13-21, a voz do Cristo alerta os seus novos discípulos do perigo da ganância e desmascara a pretensão de colocar a segurança da vida nos bens. Com isto, os cristãos são admoestados a orientar todo o seu ser para a realização do plano divino, “pois aonde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,34).


Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida