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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

O sacerdote, o levita e o samaritano

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O sacerdote, o levita e o samaritano

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08/07/2016 11:10 - Atualizado em 08/07/2016 11:11

O sacerdote, o levita e o samaritano 0

08/07/2016 11:10 - Atualizado em 08/07/2016 11:11

A liturgia da palavra apresenta, no décimo quinto domingo do tempo comum, a passagem evangélica de Lc 10, 25-37. Tal texto introduz o diálogo entre um mestre da Lei e Jesus sobre o modo de alcançar a vida eterna. No meio desta conversa, o Senhor insere o tema do amor ao próximo, contando a parábola do bom samaritano (cf. Lc 10, 30-35). Nos outros evangelhos sinóticos, apesar de encontrarmos o mesmo diálogo, não lemos a bela parábola sobre a misericórdia divina (cf. Mt 22, 34-40; Mc 12, 28-31). Desta forma, a Igreja escuta e proclama, na assembleia litúrgica dominical, a intima relação entre a prática da caridade ao próximo e o dom da vida bem-aventurada.

A conversa entre o perito na Torá e Jesus se inicia de forma muito dramática, pois o narrador expõe a intenção da pergunta feita: “pôr Jesus em dificuldade” (v. 25). Fica claro que mais do que aprender com o Mestre Galileu, aquele homem queria colocá-lo em alguma dificuldade, a fim de desacreditá-lo. O tema escolhido é o caminho para herdar a vida eterna: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” (v. 25). O diálogo a princípio transcorre de forma bem tranqüila, apesar das intenções do legisperito. A resposta-indagação dada pelo Senhor está de acordo com os procedimentos rabínicos para os embates teológicos: “O que está escrito na Lei? Como lês?” (v. 26). A réplica do mestre da Lei se assenta em dois versículos do Primeiro Testamento: Em Dt 6,5 – “Portanto, amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” – e Lv 19,18 – “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus confirma a interpretação do seu interlocutor, revelando que o amor é o caminho para se alcançar a vida eterna: “Tu respondeste corretamente. Faze isso e viverás” (v. 28).

A situação fica delicada quando se passa a querer precisar quem é o próximo: o destinatário do amor. No fundo, o que se busca saber é a quem se deve fazer o bem. Para poder ensinar de forma adequada a medida sem medidas da caridade, Jesus conta uma parábola com contrates bem fortes e marcantes. A história trata de um homem que descia de Jerusalém para Jericó e no caminho sofreu violência da parte de assaltantes – arrancaram-lhe tudo, espancaram-no e deixaram-no quase morto (cf. Lc 10, 30). Diante do moribundo surgem três classes da sociedade judaica do século I: um sacerdote, um levita e um samaritano. Cada um oferece um estereótipo de comportamento: do primeiro se esperava a santidade própria e a pronta ajuda ao convalescente; do segundo, um cantor do culto, se aguardava o cuidado pelo moribundo; do último, não se esperava nada, pois, sendo samaritano, considerava um judeu como inimigo. A narrativa de Jesus inverte os valores pré-definidos e mostra a omissão do sacerdote e do levita – “seguiu adiante, pelo outro lado” (Lc 10, 31.32) – e a atitude misericordiosa do samaritano – “chegou perto dele, viu e sentiu compaixão” (Lc 10, 33).

Diante do sofrimento de alguém, as barreiras do ódio, da intolerância religiosa e do medo caíram para o samaritano da história. Face a provocação da pergunta sobre o alcance do amor ao próximo, Jesus radicaliza com a sua resposta-parábola. Para o Senhor, nenhum limite pátrio, religioso, social pode impedir alguém de receber e de dar o amor. Aqui a misericórdia divina preconiza como deve ser a vivência da caridade: não apenas um desejo ou um sentimento, mas atitudes concretas para reestabelecer o outro. Este alcance é oferecido, então, ao mestre da Lei: “Vai e faze a mesma coisa” (v. 37).

Diferente do perito na Torá, nós não queremos pôr Jesus em cheque, mas, com sinceridade, procuramos descobrir qual é a estrada para a vida eterna. Escutando o evangelho deste domingo, desvela-se para nós que o caminho para o Reino definitivo de Deus passa pela vivência do amor ao próximo A resposta do Cristo nos impele a prática da misericórdia, na qual se ultrapassa o conceito de “irmão” – aquele que tem minha fé – e me abre para o do “próximo” – aquele que sofre, independentemente de qualquer condição.


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O sacerdote, o levita e o samaritano

08/07/2016 11:10 - Atualizado em 08/07/2016 11:11

A liturgia da palavra apresenta, no décimo quinto domingo do tempo comum, a passagem evangélica de Lc 10, 25-37. Tal texto introduz o diálogo entre um mestre da Lei e Jesus sobre o modo de alcançar a vida eterna. No meio desta conversa, o Senhor insere o tema do amor ao próximo, contando a parábola do bom samaritano (cf. Lc 10, 30-35). Nos outros evangelhos sinóticos, apesar de encontrarmos o mesmo diálogo, não lemos a bela parábola sobre a misericórdia divina (cf. Mt 22, 34-40; Mc 12, 28-31). Desta forma, a Igreja escuta e proclama, na assembleia litúrgica dominical, a intima relação entre a prática da caridade ao próximo e o dom da vida bem-aventurada.

A conversa entre o perito na Torá e Jesus se inicia de forma muito dramática, pois o narrador expõe a intenção da pergunta feita: “pôr Jesus em dificuldade” (v. 25). Fica claro que mais do que aprender com o Mestre Galileu, aquele homem queria colocá-lo em alguma dificuldade, a fim de desacreditá-lo. O tema escolhido é o caminho para herdar a vida eterna: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” (v. 25). O diálogo a princípio transcorre de forma bem tranqüila, apesar das intenções do legisperito. A resposta-indagação dada pelo Senhor está de acordo com os procedimentos rabínicos para os embates teológicos: “O que está escrito na Lei? Como lês?” (v. 26). A réplica do mestre da Lei se assenta em dois versículos do Primeiro Testamento: Em Dt 6,5 – “Portanto, amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” – e Lv 19,18 – “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus confirma a interpretação do seu interlocutor, revelando que o amor é o caminho para se alcançar a vida eterna: “Tu respondeste corretamente. Faze isso e viverás” (v. 28).

A situação fica delicada quando se passa a querer precisar quem é o próximo: o destinatário do amor. No fundo, o que se busca saber é a quem se deve fazer o bem. Para poder ensinar de forma adequada a medida sem medidas da caridade, Jesus conta uma parábola com contrates bem fortes e marcantes. A história trata de um homem que descia de Jerusalém para Jericó e no caminho sofreu violência da parte de assaltantes – arrancaram-lhe tudo, espancaram-no e deixaram-no quase morto (cf. Lc 10, 30). Diante do moribundo surgem três classes da sociedade judaica do século I: um sacerdote, um levita e um samaritano. Cada um oferece um estereótipo de comportamento: do primeiro se esperava a santidade própria e a pronta ajuda ao convalescente; do segundo, um cantor do culto, se aguardava o cuidado pelo moribundo; do último, não se esperava nada, pois, sendo samaritano, considerava um judeu como inimigo. A narrativa de Jesus inverte os valores pré-definidos e mostra a omissão do sacerdote e do levita – “seguiu adiante, pelo outro lado” (Lc 10, 31.32) – e a atitude misericordiosa do samaritano – “chegou perto dele, viu e sentiu compaixão” (Lc 10, 33).

Diante do sofrimento de alguém, as barreiras do ódio, da intolerância religiosa e do medo caíram para o samaritano da história. Face a provocação da pergunta sobre o alcance do amor ao próximo, Jesus radicaliza com a sua resposta-parábola. Para o Senhor, nenhum limite pátrio, religioso, social pode impedir alguém de receber e de dar o amor. Aqui a misericórdia divina preconiza como deve ser a vivência da caridade: não apenas um desejo ou um sentimento, mas atitudes concretas para reestabelecer o outro. Este alcance é oferecido, então, ao mestre da Lei: “Vai e faze a mesma coisa” (v. 37).

Diferente do perito na Torá, nós não queremos pôr Jesus em cheque, mas, com sinceridade, procuramos descobrir qual é a estrada para a vida eterna. Escutando o evangelho deste domingo, desvela-se para nós que o caminho para o Reino definitivo de Deus passa pela vivência do amor ao próximo A resposta do Cristo nos impele a prática da misericórdia, na qual se ultrapassa o conceito de “irmão” – aquele que tem minha fé – e me abre para o do “próximo” – aquele que sofre, independentemente de qualquer condição.


Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida