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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Caminhar para Jerusalém

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24/06/2016 11:01 - Atualizado em 24/06/2016 11:01

Caminhar para Jerusalém 0

24/06/2016 11:01 - Atualizado em 24/06/2016 11:01

A Igreja proclama no 13º domingo do Tempo Comum a passagem do livro de São Lucas, na qual Jesus toma a resolução de se dirigir à Jerusalém para viver a sua Páscoa definitiva. Tal narrativa apresenta dois núcleos teológicos importantes: a questão com os samaritanos (cf. Lc 9,51-56) e as características do discipulado cristão (cf. Lc 9,57-62). Ademais, o versículo 51 possui um destaque relevante no corpo do texto lucano. Desta forma, conhecemos profundamente as disposições do Senhor em realizar a obra salvífica e as suas expectativas em relação aos seus seguidores.

No relato bíblico encontramos assim: “Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém” (Lc 9,51). Neste ponto o autor começa o bloco central do seu evangelho, no qual anuncia o mistério pascal de Cristo e mostra a grande força, dignidade e perseverança do Salvador. O tema da jornada para a Cidade Santa é composto de maneira muito intensa. De fato, a certeza do Senhor era que o seu ministério de pregador da Palavra terminaria com sua entrega total: “Mas hoje, amanhã e depois de amanhã devo prosseguir o meu caminho, porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém” (Lc 13,33). Não que a cruz fosse o anseio do Pai para o seu primogênito, mas era a consequente rejeição ao seu projeto: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados, quantas vezes quis reunir teus filhos como a galinha recolhe seus pintinhos debaixo das asas, mas não quisestes” (Lc 13,34).

O trajeto da região da Galileia para a Judeia adentra o território da Samaria. A dificuldade entre judeus e samaritanos remontava ao século VIII a.C. quando, por ocasião da queda do Reino do Norte, o império Assírio, depois de capturar os israelitas, ocupou a terra com povos de tribos estrangeiras (cf. 2Rs 17,24). Daí surge uma querela sobre o verdadeiro lugar de culto: o monte Garizin ou a montanha de Sião. Na perícope deste domingo, a inimizade aparece, por um lado, dos habitantes da Samaria, pois eles não acolhem o Senhor – “mas os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém” (Lc 9,53) – e, por outro, na reação vingativa dos filhos do trovão – “vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?” (Lc 9,54). Esse desejo lembra o episódio com Elias e os homens do rei Ocozias (cf. 2Rs 1,10-12). Todavia, sobressai o coração misericordioso de Cristo que frente ao desprezo oferece a paz: “Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os” (Lc 9,55).

Durante a ida para a Cidade Santa, três candidatos ao discipulado se encontraram com Jesus. O primeiro após sua declaração zelosa – “eu te seguirei para onde quer que fores” (Lc 9,57) – é confrontado com a realidade da disponibilidade e da humildade do Senhor – “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Lc 9,58). O segundo, embora tenha escutado do próprio Cristo o convite ao discipulado, colocou uma condição, um obstáculo – “Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai” (Lc 9,59). Esse se defrontou com a urgência e a seriedade do anúncio evangélico: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai anunciar o Reino de Deus” (Lc 9,60). O último também se candidata, contudo antepõe a situação familiar – “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares” (Lc 9,61). Para esse, Jesus responde mais uma vez com a necessidade da prontidão e da resolução firme – “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62).

Parece, amiúde, bem graves as exigências do Senhor, mas, decerto, foi a vida que Ele escolheu: a atitude de paz diante da recusa; a de pobreza face as riquezas do mundo e a primazia do anúncio do Reino no tocante a todas as outras coisas. No percurso para Jerusalém, Jesus ensinou seus discípulos não só com as suas palavras e os seus sinais, mas, sobretudo, com o modo como se conduzia para a morte de cruz. Uma sequela Christi que se identifique apenas com o ministério da Galileia está fadada a reduzir a mensagem soteriológica. Dirigindo-se para a Cidade Santa, Ele revelou a radicalidade, o critério e o compromisso característicos dos discípulos. Como herdeiros dos apóstolos, aprendemos de São Pedro: “também Cristo sofreu por vós, deixando-vos um exemplo a seguir, a fim de que sigais seus passos” (1Pd 2,21).

 

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Caminhar para Jerusalém

24/06/2016 11:01 - Atualizado em 24/06/2016 11:01

A Igreja proclama no 13º domingo do Tempo Comum a passagem do livro de São Lucas, na qual Jesus toma a resolução de se dirigir à Jerusalém para viver a sua Páscoa definitiva. Tal narrativa apresenta dois núcleos teológicos importantes: a questão com os samaritanos (cf. Lc 9,51-56) e as características do discipulado cristão (cf. Lc 9,57-62). Ademais, o versículo 51 possui um destaque relevante no corpo do texto lucano. Desta forma, conhecemos profundamente as disposições do Senhor em realizar a obra salvífica e as suas expectativas em relação aos seus seguidores.

No relato bíblico encontramos assim: “Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém” (Lc 9,51). Neste ponto o autor começa o bloco central do seu evangelho, no qual anuncia o mistério pascal de Cristo e mostra a grande força, dignidade e perseverança do Salvador. O tema da jornada para a Cidade Santa é composto de maneira muito intensa. De fato, a certeza do Senhor era que o seu ministério de pregador da Palavra terminaria com sua entrega total: “Mas hoje, amanhã e depois de amanhã devo prosseguir o meu caminho, porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém” (Lc 13,33). Não que a cruz fosse o anseio do Pai para o seu primogênito, mas era a consequente rejeição ao seu projeto: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados, quantas vezes quis reunir teus filhos como a galinha recolhe seus pintinhos debaixo das asas, mas não quisestes” (Lc 13,34).

O trajeto da região da Galileia para a Judeia adentra o território da Samaria. A dificuldade entre judeus e samaritanos remontava ao século VIII a.C. quando, por ocasião da queda do Reino do Norte, o império Assírio, depois de capturar os israelitas, ocupou a terra com povos de tribos estrangeiras (cf. 2Rs 17,24). Daí surge uma querela sobre o verdadeiro lugar de culto: o monte Garizin ou a montanha de Sião. Na perícope deste domingo, a inimizade aparece, por um lado, dos habitantes da Samaria, pois eles não acolhem o Senhor – “mas os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém” (Lc 9,53) – e, por outro, na reação vingativa dos filhos do trovão – “vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?” (Lc 9,54). Esse desejo lembra o episódio com Elias e os homens do rei Ocozias (cf. 2Rs 1,10-12). Todavia, sobressai o coração misericordioso de Cristo que frente ao desprezo oferece a paz: “Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os” (Lc 9,55).

Durante a ida para a Cidade Santa, três candidatos ao discipulado se encontraram com Jesus. O primeiro após sua declaração zelosa – “eu te seguirei para onde quer que fores” (Lc 9,57) – é confrontado com a realidade da disponibilidade e da humildade do Senhor – “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Lc 9,58). O segundo, embora tenha escutado do próprio Cristo o convite ao discipulado, colocou uma condição, um obstáculo – “Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai” (Lc 9,59). Esse se defrontou com a urgência e a seriedade do anúncio evangélico: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai anunciar o Reino de Deus” (Lc 9,60). O último também se candidata, contudo antepõe a situação familiar – “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares” (Lc 9,61). Para esse, Jesus responde mais uma vez com a necessidade da prontidão e da resolução firme – “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62).

Parece, amiúde, bem graves as exigências do Senhor, mas, decerto, foi a vida que Ele escolheu: a atitude de paz diante da recusa; a de pobreza face as riquezas do mundo e a primazia do anúncio do Reino no tocante a todas as outras coisas. No percurso para Jerusalém, Jesus ensinou seus discípulos não só com as suas palavras e os seus sinais, mas, sobretudo, com o modo como se conduzia para a morte de cruz. Uma sequela Christi que se identifique apenas com o ministério da Galileia está fadada a reduzir a mensagem soteriológica. Dirigindo-se para a Cidade Santa, Ele revelou a radicalidade, o critério e o compromisso característicos dos discípulos. Como herdeiros dos apóstolos, aprendemos de São Pedro: “também Cristo sofreu por vós, deixando-vos um exemplo a seguir, a fim de que sigais seus passos” (1Pd 2,21).

 

Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida