Arquidiocese do Rio de Janeiro

34º 22º

Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

“Feliz o homem que foi perdoado e cuja falta já foi encoberta” (Sl 31,1)

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17 de Maio de 2024

“Feliz o homem que foi perdoado e cuja falta já foi encoberta” (Sl 31,1)

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10/06/2016 14:27 - Atualizado em 10/06/2016 14:27

“Feliz o homem que foi perdoado e cuja falta já foi encoberta” (Sl 31,1) 0

10/06/2016 14:27 - Atualizado em 10/06/2016 14:27

Ao celebrarmos a nossa Páscoa Semanal, o Grande Domingo, o Dia do Senhor, somos colocados em contato com a infinita misericórdia do Pai revelada para nós em Cristo. De fato, neste dia, nos reunimos nas nossas igrejas, ao redor de uma dupla mesa, a da Palavra e a da Eucaristia, para fazermos memória da entrega de amor que o Senhor realizou em nosso favor, quando ainda “fracos”.

As leituras desta liturgia querem nos fazer compreender a misericórdia infinita que Deus tem para conosco. Hoje temos o evangelho da pecadora perdoada, um trecho do capítulo 7 de São Lucas. Lucas é o evangelista que mais expressa esse aspecto da misericórdia do Senhor. É própria de Lucas a parábola do filho pródigo no capítulo 15 e também esta cena da pecadora que se encontra com Jesus na casa do fariseu.

Jesus está comendo na casa de um fariseu, reclinado à mesa num divã como era costume naquela época. De repente, entra na casa do fariseu uma mulher “da cidade”, uma “pecadora”. Ela simplesmente entra na casa do fariseu trazendo consigo um vaso de alabastro cheio de perfume com o qual ela vai ungir o Senhor.

Essa mulher cometeu uma tremenda ousadia. Ela é uma mulher “impura” e entra na casa de um homem “puro”, sem mais nem menos, sem ser convidada e sem pedir licença. Podemos imaginar que para o fariseu isso foi como uma espécie de afronta. Como explicar a ousadia dessa mulher? Nós só vamos entender isso no final da passagem. A fé que já estava no coração da mulher tornou-a ousada o suficiente para transgredir as leis rituais dos israelitas e entrar em contato com Aquele que, embora estivesse fora a atraía interiormente, um homem como ela nunca teve, o “mais belo dos filhos dos homens”.

Essa mulher chorava compulsivamente. Suas lágrimas eram tão abundantes que ela lavava os pés de Jesus com elas e depois os enxugava com os cabelos e os ungia com perfume. Ousadia sobre ousadia. Ela não somente entra na casa dos puros, mas ela toca um homem puro. Jesus não teme a impureza da pecadora. Ele é Deus e por isso Ele toca o morto – como ouvimos no evangelho da viúva de Naim –, Ele deixa que a prostituta o toque, porque sabe que não se contamina com a impureza deles. Ao contrário, Ele toma sobre si a impureza do morto e da pecadora, e lhes dá em troca a sua pureza, a sua vida divina.

Jesus também não teme a nossa impureza. Quando estamos impuros por causa dos nossos muitos pecados tomamos uma atitude de afastamento do Senhor. Achamos que Ele vai nos rejeitar. Todavia, o Evangelho de hoje nos mostra que Ele não somente não nos rejeita, mas que Ele permite que nós o toquemos e mais ainda, se estiver mortos, incapacitados de tocá-lo, Ele é que vem ao nosso encontro e nos toca, e nos devolve a vida, e nos devolve a pureza. Ele toma sobre si a nossa morte e a nossa impureza, e nos dá a sua vida. Devemos pedir ao Espírito que nos torne ousados como essa mulher, que mesmo sabendo-se pecadora entrou onde achava que não devia, para tocar o único que tinha poder de purificá-la.

O fariseu pensa não precisar de justificação. Embora exteriormente chame Jesus de mestre, ouça as suas pregações, interiormente o fariseu se faz juiz de tudo, ele se acha “o critério”. Ele pensa que por ser praticante da Lei é melhor que a prostituta. Ele pensa que a simples prática da Lei poderá salvá-lo.

São Paulo já nos adverte na segunda leitura que “fomos justificados pela fé em Cristo e não pela prática da Lei, porque pela prática da Lei ninguém será justificado”. São Paulo chega ainda a dizer de forma veemente no final desta leitura “Se a justiça vem pela Lei, então Cristo morreu inutilmente”. Paulo de forma alguma está negando o valor da Lei. Todavia, Paulo quer nos mostrar que não podemos ser como este fariseu.

Ele achava que simplesmente porque cumpria todos os preceitos da Lei estava puro e, se por acaso cometesse alguma impureza, a própria Lei também lhe mostrava meios rituais de voltar à sua pureza e assim Ele estava em dia com Deus, Deus era obrigado a salvá-lo. Não se levava em conta a graça.

Paulo quer mostrar que a simples prática da Lei não nos salva. Se Cristo não tivesse morrido por nós, ainda que praticássemos todos os preceitos da Lei, não haveria salvação para nós. É a morte redentora de Cristo, e não os nossos atos externos, que cancela os nossos pecados. Todavia, isso não significa que agora podemos fazer tudo, agir de forma libertina. Nem São Paulo, nem Cristo, nos mandam jogar fora a Lei. Mas, tanto Cristo como Paulo nos ensinam o seu lugar. A Lei é a forma de viver daqueles que entendem que foram redimidos pela fé em Cristo. Sabemos que não são nossas boas obras que nos salvam, mas elas refletem exteriormente a salvação à qual aderimos interiormente.

Mas, o fato aqui é que o fariseu se sente justo. Ninguém é justo diante de Deus. Ainda que não tenhamos atos concretos de pecado, o que eu diria que é impossível ou muito difícil ao homem, nós somos em última instância pecadores e necessitados da graça. Tanto o fariseu quanto a prostituta precisam da graça e da misericórdia de Deus. A diferença está na consciência que cada um manifesta a respeito do próprio pecado.

Para iluminar a consciência do fariseu Jesus conta uma parábola. Dois homens estão devendo a um credor. Um deve quinhentas moedas de prata e outro cinquenta. Jesus propõe ao fariseu a seguinte questão: Se o credor perdoar aos dois, qual dos dois o amará mais? O fariseu prontamente responde: aquele ao qual foi perdoada a maior dívida.

O fariseu não se dá conta, mas Jesus está lhe apresentando a situação concreta do momento. Tanto a pecadora quanto o fariseu são devedores diante de Deus. Os dois são pecadores e necessitados da misericórdia divina. Mas, no nosso desejo insaciável de quantificar tudo achamos que a pecadora deve mais, porque afinal ela não era qualquer pecadora, era uma pecadora conhecida, uma mulher da cidade. Jesus então propõe a questão.

Na verdade, a pecadora manifesta mais amor do que o fariseu, lava seus pés com as lágrimas, enquanto este não havia nem mesmo lhe oferecido uma bacia com água; a pecadora unge seus pés com o mais nobre perfume, enquanto o fariseu não havia ungido a cabeça de Jesus com o óleo da alegria. A pecadora demonstra mais amor porque, mais consciente da sua própria indigência, sente a infinita misericórdia de Deus para com ela.

Na verdade, Deus perdoou a todos uma dívida infinita, a dívida do pecado. Não podemos quantificar a dívida que tínhamos para com Ele. Essa dívida era tão alta que custou o sangue do Senhor. Não podemos, como o fariseu, nos sentir justos por nossas próprias obras. Devemos saber que, por mais que caminhemos na Lei do Senhor, Ele saldou uma dívida de morte que havia contra nós, por isso devemos, como essa pecadora, lavar os pés de Jesus com nossas lágrimas, chorar os nossos pecados, deixar que a água viva do Senhor brote de dentro do nosso coração e nos lave de nossa impureza escondida a fim de que saiamos da oração e do encontro do Senhor restaurados, fazendo a experiência de uma conversão que é como que um novo batismo nas lágrimas do arrependimento e da compunção do coração.

Seus pecados estão perdoados porque ela muito amou”. Diante da palavra de Jesus a assembleia se questiona: Quem é este que até perdoa pecados? Mas foi justamente para isso que Ele veio, para fazer uma unidade daquilo que estava dividido. Ele veio para fazer do judeu e do grego um só homem novo. Muitos queriam os milagres de Jesus, mas não entendiam que sua missão principal é e continua sendo a reconciliação da humanidade com o Pai.

A fé da mulher a salvou e ela voltou para casa em paz. Jesus declara uma realidade e dá uma ordem à mulher: Tua fé te salvou! Vai em paz! Essa mulher foi salva pela sua fé e porque foi tocada pelo amor ela pode voltar para casa em paz. Ela volta para casa em paz porque ela não está mais dividida pelo pecado, mas ela encontrou em Jesus a sua face perdida.

Nós também somos salvos pela fé em Cristo e hoje somos tocados pelo seu amor e pela sua misericórdia. Podemos voltar para nossas casas em paz, não na paz que o mundo oferece, mas na paz que Cristo nos comunica. Essa paz brota da certeza de que nós fomos tocados pelo amor do Senhor e esse amor nos livra do pecado, porque encontramos n’Ele a nossa verdadeira identidade, a nossa face perdida. Não que saímos com um selo que nos diz que não teremos mais nenhum ato de pecado. Isso seria presunção.

Temos que ser humildes e reconhecer que sempre podemos cair. Todavia, o amor do Senhor nos dá consciência da nossa dignidade, de quem nós somos n’Ele e ainda que caiamos, nos levantaremos confiantes na misericórdia do Senhor e prosseguiremos cantando o refrão desse salmo que diz: “Feliz o homem que foi perdoado e cuja falta já foi encoberta” (Sl 31,1)

A liturgia de hoje nos apresenta dois pecadores: Davi e a mulher do evangelho. O grande rei de Israel, um adúltero e assassino, mas que confiou na misericórdia do Senhor, se arrependeu, reconheceu a própria falta e, por isso, a mão de Deus não deixou de estar sobre Ele. Também essa mulher reconhece a sua indigência e chora aos pés do Senhor. Porque demonstra um grande amor é perdoada; e, na verdade, demonstra um grande amor porque já havia feito ainda que interiormente a experiência do grande amor de Deus que a acolhia.

Coloquemo-nos também diante da misericórdia do Senhor. Que a nossa oração seja de lágrimas como a dessa mulher. Que digamos como Davi: “Pequei contra o Senhor!” O Senhor se dobrará sobre nós acolhendo-nos em seu colo protetor e envolvendo-nos com a sua misericórdia.


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“Feliz o homem que foi perdoado e cuja falta já foi encoberta” (Sl 31,1)

10/06/2016 14:27 - Atualizado em 10/06/2016 14:27

Ao celebrarmos a nossa Páscoa Semanal, o Grande Domingo, o Dia do Senhor, somos colocados em contato com a infinita misericórdia do Pai revelada para nós em Cristo. De fato, neste dia, nos reunimos nas nossas igrejas, ao redor de uma dupla mesa, a da Palavra e a da Eucaristia, para fazermos memória da entrega de amor que o Senhor realizou em nosso favor, quando ainda “fracos”.

As leituras desta liturgia querem nos fazer compreender a misericórdia infinita que Deus tem para conosco. Hoje temos o evangelho da pecadora perdoada, um trecho do capítulo 7 de São Lucas. Lucas é o evangelista que mais expressa esse aspecto da misericórdia do Senhor. É própria de Lucas a parábola do filho pródigo no capítulo 15 e também esta cena da pecadora que se encontra com Jesus na casa do fariseu.

Jesus está comendo na casa de um fariseu, reclinado à mesa num divã como era costume naquela época. De repente, entra na casa do fariseu uma mulher “da cidade”, uma “pecadora”. Ela simplesmente entra na casa do fariseu trazendo consigo um vaso de alabastro cheio de perfume com o qual ela vai ungir o Senhor.

Essa mulher cometeu uma tremenda ousadia. Ela é uma mulher “impura” e entra na casa de um homem “puro”, sem mais nem menos, sem ser convidada e sem pedir licença. Podemos imaginar que para o fariseu isso foi como uma espécie de afronta. Como explicar a ousadia dessa mulher? Nós só vamos entender isso no final da passagem. A fé que já estava no coração da mulher tornou-a ousada o suficiente para transgredir as leis rituais dos israelitas e entrar em contato com Aquele que, embora estivesse fora a atraía interiormente, um homem como ela nunca teve, o “mais belo dos filhos dos homens”.

Essa mulher chorava compulsivamente. Suas lágrimas eram tão abundantes que ela lavava os pés de Jesus com elas e depois os enxugava com os cabelos e os ungia com perfume. Ousadia sobre ousadia. Ela não somente entra na casa dos puros, mas ela toca um homem puro. Jesus não teme a impureza da pecadora. Ele é Deus e por isso Ele toca o morto – como ouvimos no evangelho da viúva de Naim –, Ele deixa que a prostituta o toque, porque sabe que não se contamina com a impureza deles. Ao contrário, Ele toma sobre si a impureza do morto e da pecadora, e lhes dá em troca a sua pureza, a sua vida divina.

Jesus também não teme a nossa impureza. Quando estamos impuros por causa dos nossos muitos pecados tomamos uma atitude de afastamento do Senhor. Achamos que Ele vai nos rejeitar. Todavia, o Evangelho de hoje nos mostra que Ele não somente não nos rejeita, mas que Ele permite que nós o toquemos e mais ainda, se estiver mortos, incapacitados de tocá-lo, Ele é que vem ao nosso encontro e nos toca, e nos devolve a vida, e nos devolve a pureza. Ele toma sobre si a nossa morte e a nossa impureza, e nos dá a sua vida. Devemos pedir ao Espírito que nos torne ousados como essa mulher, que mesmo sabendo-se pecadora entrou onde achava que não devia, para tocar o único que tinha poder de purificá-la.

O fariseu pensa não precisar de justificação. Embora exteriormente chame Jesus de mestre, ouça as suas pregações, interiormente o fariseu se faz juiz de tudo, ele se acha “o critério”. Ele pensa que por ser praticante da Lei é melhor que a prostituta. Ele pensa que a simples prática da Lei poderá salvá-lo.

São Paulo já nos adverte na segunda leitura que “fomos justificados pela fé em Cristo e não pela prática da Lei, porque pela prática da Lei ninguém será justificado”. São Paulo chega ainda a dizer de forma veemente no final desta leitura “Se a justiça vem pela Lei, então Cristo morreu inutilmente”. Paulo de forma alguma está negando o valor da Lei. Todavia, Paulo quer nos mostrar que não podemos ser como este fariseu.

Ele achava que simplesmente porque cumpria todos os preceitos da Lei estava puro e, se por acaso cometesse alguma impureza, a própria Lei também lhe mostrava meios rituais de voltar à sua pureza e assim Ele estava em dia com Deus, Deus era obrigado a salvá-lo. Não se levava em conta a graça.

Paulo quer mostrar que a simples prática da Lei não nos salva. Se Cristo não tivesse morrido por nós, ainda que praticássemos todos os preceitos da Lei, não haveria salvação para nós. É a morte redentora de Cristo, e não os nossos atos externos, que cancela os nossos pecados. Todavia, isso não significa que agora podemos fazer tudo, agir de forma libertina. Nem São Paulo, nem Cristo, nos mandam jogar fora a Lei. Mas, tanto Cristo como Paulo nos ensinam o seu lugar. A Lei é a forma de viver daqueles que entendem que foram redimidos pela fé em Cristo. Sabemos que não são nossas boas obras que nos salvam, mas elas refletem exteriormente a salvação à qual aderimos interiormente.

Mas, o fato aqui é que o fariseu se sente justo. Ninguém é justo diante de Deus. Ainda que não tenhamos atos concretos de pecado, o que eu diria que é impossível ou muito difícil ao homem, nós somos em última instância pecadores e necessitados da graça. Tanto o fariseu quanto a prostituta precisam da graça e da misericórdia de Deus. A diferença está na consciência que cada um manifesta a respeito do próprio pecado.

Para iluminar a consciência do fariseu Jesus conta uma parábola. Dois homens estão devendo a um credor. Um deve quinhentas moedas de prata e outro cinquenta. Jesus propõe ao fariseu a seguinte questão: Se o credor perdoar aos dois, qual dos dois o amará mais? O fariseu prontamente responde: aquele ao qual foi perdoada a maior dívida.

O fariseu não se dá conta, mas Jesus está lhe apresentando a situação concreta do momento. Tanto a pecadora quanto o fariseu são devedores diante de Deus. Os dois são pecadores e necessitados da misericórdia divina. Mas, no nosso desejo insaciável de quantificar tudo achamos que a pecadora deve mais, porque afinal ela não era qualquer pecadora, era uma pecadora conhecida, uma mulher da cidade. Jesus então propõe a questão.

Na verdade, a pecadora manifesta mais amor do que o fariseu, lava seus pés com as lágrimas, enquanto este não havia nem mesmo lhe oferecido uma bacia com água; a pecadora unge seus pés com o mais nobre perfume, enquanto o fariseu não havia ungido a cabeça de Jesus com o óleo da alegria. A pecadora demonstra mais amor porque, mais consciente da sua própria indigência, sente a infinita misericórdia de Deus para com ela.

Na verdade, Deus perdoou a todos uma dívida infinita, a dívida do pecado. Não podemos quantificar a dívida que tínhamos para com Ele. Essa dívida era tão alta que custou o sangue do Senhor. Não podemos, como o fariseu, nos sentir justos por nossas próprias obras. Devemos saber que, por mais que caminhemos na Lei do Senhor, Ele saldou uma dívida de morte que havia contra nós, por isso devemos, como essa pecadora, lavar os pés de Jesus com nossas lágrimas, chorar os nossos pecados, deixar que a água viva do Senhor brote de dentro do nosso coração e nos lave de nossa impureza escondida a fim de que saiamos da oração e do encontro do Senhor restaurados, fazendo a experiência de uma conversão que é como que um novo batismo nas lágrimas do arrependimento e da compunção do coração.

Seus pecados estão perdoados porque ela muito amou”. Diante da palavra de Jesus a assembleia se questiona: Quem é este que até perdoa pecados? Mas foi justamente para isso que Ele veio, para fazer uma unidade daquilo que estava dividido. Ele veio para fazer do judeu e do grego um só homem novo. Muitos queriam os milagres de Jesus, mas não entendiam que sua missão principal é e continua sendo a reconciliação da humanidade com o Pai.

A fé da mulher a salvou e ela voltou para casa em paz. Jesus declara uma realidade e dá uma ordem à mulher: Tua fé te salvou! Vai em paz! Essa mulher foi salva pela sua fé e porque foi tocada pelo amor ela pode voltar para casa em paz. Ela volta para casa em paz porque ela não está mais dividida pelo pecado, mas ela encontrou em Jesus a sua face perdida.

Nós também somos salvos pela fé em Cristo e hoje somos tocados pelo seu amor e pela sua misericórdia. Podemos voltar para nossas casas em paz, não na paz que o mundo oferece, mas na paz que Cristo nos comunica. Essa paz brota da certeza de que nós fomos tocados pelo amor do Senhor e esse amor nos livra do pecado, porque encontramos n’Ele a nossa verdadeira identidade, a nossa face perdida. Não que saímos com um selo que nos diz que não teremos mais nenhum ato de pecado. Isso seria presunção.

Temos que ser humildes e reconhecer que sempre podemos cair. Todavia, o amor do Senhor nos dá consciência da nossa dignidade, de quem nós somos n’Ele e ainda que caiamos, nos levantaremos confiantes na misericórdia do Senhor e prosseguiremos cantando o refrão desse salmo que diz: “Feliz o homem que foi perdoado e cuja falta já foi encoberta” (Sl 31,1)

A liturgia de hoje nos apresenta dois pecadores: Davi e a mulher do evangelho. O grande rei de Israel, um adúltero e assassino, mas que confiou na misericórdia do Senhor, se arrependeu, reconheceu a própria falta e, por isso, a mão de Deus não deixou de estar sobre Ele. Também essa mulher reconhece a sua indigência e chora aos pés do Senhor. Porque demonstra um grande amor é perdoada; e, na verdade, demonstra um grande amor porque já havia feito ainda que interiormente a experiência do grande amor de Deus que a acolhia.

Coloquemo-nos também diante da misericórdia do Senhor. Que a nossa oração seja de lágrimas como a dessa mulher. Que digamos como Davi: “Pequei contra o Senhor!” O Senhor se dobrará sobre nós acolhendo-nos em seu colo protetor e envolvendo-nos com a sua misericórdia.


Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida