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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 10/05/2024

10 de Maio de 2024

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12/05/2016 00:00 - Atualizado em 13/05/2016 16:34

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Estamos no Ano da Misericórdia, neste ano, e sempre somos convidados a olhar para o Senhor e acolhê-Lo em nossa vida. No mês passado (abril), conforme expressei na minha Carta Pastoral pelo Ano da Misericórdia, a obra de misericórdia indicada era mostrar que devemos amar a nós e, também, amar o nosso próximo. Tudo isso é fruto do Amor a Deus. Como são sempre atuais estas obras, creio que seria importante deixar anotada essa orientação.

Várias são as passagens bíblicas que nos falam, sobretudo, de acolher o próximo na misericórdia. Antes de acolher os outros, temos que reconhecer que somos pecadores, e assim Deus nos abraça e nos acolhe na sua infinita bondade e misericórdia. Quantas vezes julgamos o nosso próximo, quantas vezes perdemos as esperanças nos outros e em nós mesmos!

O Senhor várias vezes nos mostra que o caminho para todas estas questões é o perdão. O perdão recebemos de Deus, de graça.

O cristão tem toda a sua esperança posta em Deus e, porque conhece e aceita a sua fraqueza, não se fia muito em si próprio. Sabe que em qualquer tarefa ou empreendimento deverá mobilizar todos os meios humanos ao seu alcance, mas também sabe que antes de tudo deve contar com a oração; reconhece e aceita com alegria que tudo o que possui foi recebido de Deus.

A humildade não consiste tanto no desprezo próprio, porque Deus não nos despreza, somos obra saída das suas mãos, mas no esquecimento de nós mesmos e na abertura total a Deus: “quando pensamos que tudo se afunda aos nossos olhos, nada se afunda, porque Tu és, Senhor, a minha fortaleza” (Sl 42,2). Se Deus mora na nossa alma, tudo o resto, por mais importante que pareça, é acidental, transitório. Em contrapartida, nós, em Deus, somos o permanente.

Os maiores obstáculos que o homem encontra para caminhar em seguimento de Cristo têm a sua origem no amor desordenado de si próprio, que o leva algumas vezes a supervalorizar as suas forças e, outras, a cair no desânimo e no desalento. É uma atitude permanente de monólogo interior, em que os interesses próprios se agigantam ou enaltecem.

A forma mais vil de enaltecer-se é desacreditar o próximo. Os orgulhosos não gostam de ouvir louvores aos outros, e estão sempre ansiosos por descobrir deficiências naqueles que se sobressaem nesse ou noutro aspecto. Talvez a sua principal característica esteja em que não podem sofrer a menor comparação, contradição ou correção que pareça inferiorizá-los aos olhos dos outros. O remédio para tudo isso é a humildade e o acolhimento.

O Concílio Ecumênico Vaticano II inspirou-se nesta passagem para sublinhar o valor do ser humano para além do desenvolvimento econômico e social. Depois de Deus, o homem é que vem em primeiro lugar; se não fosse assim, instaurar-se-ia uma verdadeira desordem sobre a Terra, tal como infelizmente vemos acontecer com frequência.

Quantas vezes ao longo da vida queremos ter a atitude de julgar o outro! Não devemos julgar jamais, pois o Senhor nos ensinou muito bem quando foi questionado sobre aquela mulher que fora pega em adultério. Muitos O colocaram à prova para ver a reação de Jesus. E Jesus, sentado, começa a escrever no chão e logo diz: quem não tem pecado, atire a primeira pedra. Assim, começaram a sair, dos mais velhos até chegar aos mais novos. Não tinha mais ninguém para acusar aquela mulher. Daí Jesus diz: teus pecados estão perdoados. Ao olhar para a atitude de Jesus, temos que nos perguntar: que atitude tenho tido com o próximo? Tenho a mesma atitude de Jesus ou sou aquele que quer jogar a pedra diante do outro que fora pego ou está no erro? Nossa atitude deve ser de amar, acolher e não julgar, nunca. Podemos ser contra o pecado e os erros, a corrupção e o crime organizado, mas somos chamados a querer a conversão do pecador.

Temos que ter a esperança de que os outros podem mudar, podem entrar num caminho de mudança, que chamamos assim de conversão. Nunca devemos julgar, pois só Deus conhece as intenções de cada um. Nunca devemos formar juízos fixos e inabaláveis sobre os outros. O Senhor nos quer como somos, mesmo com os nossos defeitos, quando lutamos por vencê-los. E quando experimentamos o amor de Deus, começamos a mudar de vida e de comportamento.

Ante os defeitos dos que nos rodeiam – às vezes evidentes, inegáveis –, não deve jamais faltar a caridade, que move à compreensão e à ajuda. Não podemos olhar os outros de maneira que os seus defeitos sobressaiam sobre eles. Temos defeitos, mas podemos amar-nos porque somos irmãos, porque Cristo nos ama de verdade, tal como somos. Que os defeitos daqueles com quem convivemos não nos distanciem deles, mas, nos façam amá-los e acolhê-los cada vez mais.

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12/05/2016 00:00 - Atualizado em 13/05/2016 16:34

Estamos no Ano da Misericórdia, neste ano, e sempre somos convidados a olhar para o Senhor e acolhê-Lo em nossa vida. No mês passado (abril), conforme expressei na minha Carta Pastoral pelo Ano da Misericórdia, a obra de misericórdia indicada era mostrar que devemos amar a nós e, também, amar o nosso próximo. Tudo isso é fruto do Amor a Deus. Como são sempre atuais estas obras, creio que seria importante deixar anotada essa orientação.

Várias são as passagens bíblicas que nos falam, sobretudo, de acolher o próximo na misericórdia. Antes de acolher os outros, temos que reconhecer que somos pecadores, e assim Deus nos abraça e nos acolhe na sua infinita bondade e misericórdia. Quantas vezes julgamos o nosso próximo, quantas vezes perdemos as esperanças nos outros e em nós mesmos!

O Senhor várias vezes nos mostra que o caminho para todas estas questões é o perdão. O perdão recebemos de Deus, de graça.

O cristão tem toda a sua esperança posta em Deus e, porque conhece e aceita a sua fraqueza, não se fia muito em si próprio. Sabe que em qualquer tarefa ou empreendimento deverá mobilizar todos os meios humanos ao seu alcance, mas também sabe que antes de tudo deve contar com a oração; reconhece e aceita com alegria que tudo o que possui foi recebido de Deus.

A humildade não consiste tanto no desprezo próprio, porque Deus não nos despreza, somos obra saída das suas mãos, mas no esquecimento de nós mesmos e na abertura total a Deus: “quando pensamos que tudo se afunda aos nossos olhos, nada se afunda, porque Tu és, Senhor, a minha fortaleza” (Sl 42,2). Se Deus mora na nossa alma, tudo o resto, por mais importante que pareça, é acidental, transitório. Em contrapartida, nós, em Deus, somos o permanente.

Os maiores obstáculos que o homem encontra para caminhar em seguimento de Cristo têm a sua origem no amor desordenado de si próprio, que o leva algumas vezes a supervalorizar as suas forças e, outras, a cair no desânimo e no desalento. É uma atitude permanente de monólogo interior, em que os interesses próprios se agigantam ou enaltecem.

A forma mais vil de enaltecer-se é desacreditar o próximo. Os orgulhosos não gostam de ouvir louvores aos outros, e estão sempre ansiosos por descobrir deficiências naqueles que se sobressaem nesse ou noutro aspecto. Talvez a sua principal característica esteja em que não podem sofrer a menor comparação, contradição ou correção que pareça inferiorizá-los aos olhos dos outros. O remédio para tudo isso é a humildade e o acolhimento.

O Concílio Ecumênico Vaticano II inspirou-se nesta passagem para sublinhar o valor do ser humano para além do desenvolvimento econômico e social. Depois de Deus, o homem é que vem em primeiro lugar; se não fosse assim, instaurar-se-ia uma verdadeira desordem sobre a Terra, tal como infelizmente vemos acontecer com frequência.

Quantas vezes ao longo da vida queremos ter a atitude de julgar o outro! Não devemos julgar jamais, pois o Senhor nos ensinou muito bem quando foi questionado sobre aquela mulher que fora pega em adultério. Muitos O colocaram à prova para ver a reação de Jesus. E Jesus, sentado, começa a escrever no chão e logo diz: quem não tem pecado, atire a primeira pedra. Assim, começaram a sair, dos mais velhos até chegar aos mais novos. Não tinha mais ninguém para acusar aquela mulher. Daí Jesus diz: teus pecados estão perdoados. Ao olhar para a atitude de Jesus, temos que nos perguntar: que atitude tenho tido com o próximo? Tenho a mesma atitude de Jesus ou sou aquele que quer jogar a pedra diante do outro que fora pego ou está no erro? Nossa atitude deve ser de amar, acolher e não julgar, nunca. Podemos ser contra o pecado e os erros, a corrupção e o crime organizado, mas somos chamados a querer a conversão do pecador.

Temos que ter a esperança de que os outros podem mudar, podem entrar num caminho de mudança, que chamamos assim de conversão. Nunca devemos julgar, pois só Deus conhece as intenções de cada um. Nunca devemos formar juízos fixos e inabaláveis sobre os outros. O Senhor nos quer como somos, mesmo com os nossos defeitos, quando lutamos por vencê-los. E quando experimentamos o amor de Deus, começamos a mudar de vida e de comportamento.

Ante os defeitos dos que nos rodeiam – às vezes evidentes, inegáveis –, não deve jamais faltar a caridade, que move à compreensão e à ajuda. Não podemos olhar os outros de maneira que os seus defeitos sobressaiam sobre eles. Temos defeitos, mas podemos amar-nos porque somos irmãos, porque Cristo nos ama de verdade, tal como somos. Que os defeitos daqueles com quem convivemos não nos distanciem deles, mas, nos façam amá-los e acolhê-los cada vez mais.

Cardeal Orani João Tempesta
Autor

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro