02 de Fevereiro de 2025
Glorificação do Filho do Homem
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24/04/2016 12:40 - Atualizado em 24/04/2016 12:47
Glorificação do Filho do Homem 0
24/04/2016 12:40 - Atualizado em 24/04/2016 12:47
Ao vivenciarmos o Quinto Domingo do Tempo Pascal uma verdade salta aos olhos: Cristo sonhou com a Igreja, a desejou, a quis, a amou e a fundou. A Igreja é obra do Cristo, foi por Ele fundada. Ela não se pertence a si mesma, não se pode fundar a si própria, não pode estabelecer ela própria a sua verdade. Tudo nela deve referir-se a Cristo e a Ele deve conduzir! Porém, Cristo continua fundando-a, funda-a ainda hoje, ainda agora, a cada Sagrada Eucaristia! Continuamente, o Cordeiro de pé como que imolado, Cabeça da Igreja que é o seu Corpo, funda, renova, sustenta, santifica sua dileta Esposa pela Palavra e pelos sacramentos: “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentá-la a si mesmo a Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível!” (Ef 5,25-27). A cada Eucaristia fazemos um memorial e não apenas uma “recordação”, é sempre uma atualização.
Cristo amou a sua Igreja e por ela morreu e ressuscitou, pela sua morte e ressurreição, de amor infinito, Ele purifica continuamente a sua Igreja, santifica-a totalmente, sem desfalecer. Por isso a Igreja é santa, será sempre santa e não poderá jamais perder tal santidade, apesar das infidelidades de seus membros! Este processo de contínua fundação e santificação da Igreja em Cristo dá-se pelo “banho da água” – símbolo do Batismo e dos sacramentos em geral – e pela “Palavra” – símbolo da pregação do Evangelho.
Cristo continua edificando sua Igreja neste mundo pela Palavra e pelos sacramentos, sobretudo o Batismo e a Eucaristia. E, como esposa de Cristo, é nossa Mãe: ela nos gerou para Cristo no Batismo, para Cristo ela nos alimenta na Eucaristia, e de Cristo ela nos fala na sua pregação! Ela é a nossa Mãe católica, desposada pelo Cordeiro imolado na sua Páscoa, como diz o Apocalipse: “estão para realizar-se as núpcias do Cordeiro e sua Esposa já está pronta: concederam-lhe vestir-se com linho puro, resplandecente!” (19,7s).
Muitas vezes, a Igreja enfrentará dificuldades por parte de seus inimigos externos – aqueles que a perseguem direta ou veladamente, aqueles que desejam o seu fim e, vendo-a com antipatia, trabalham para difamá-la. Mas, também, infelizmente, muitas vezes a provação vem de dentro da própria Igreja: das fraquezas de seus membros. É verdade que isto não fere a santidade da Igreja – porque essa santidade vem de Cristo e não de nós –, por outro lado, é verdade também que nossos pecados e maus exemplos atrapalham, e muito, a credibilidade do nosso anúncio do Evangelho como força que renova a humanidade! Enquanto o mundo for mundo, enquanto a Igreja estiver a caminho, experimentará em si a debilidade de seus membros, pois é santa e pecadora. Assim foi no grupo dos Doze, assim nas comunidades do Novo Testamento, assim é hoje. O Evangelho deste domingo começa com Judas, o apóstolo que traiu o Senhor, saindo do Cenáculo, saindo do grupo dos Doze, saindo da Comunidade:“Depois que Judas saiu do cenáculo”.
O Evangelho (Jo 13, 31-35) refere-se ao momento em que, após ter anunciado a traição de Judas, Jesus fala da sua glorificação como uma realidade presente, vinculada à Sua Paixão: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele” (Jo 13, 31). O contraste é chocante, mas apenas aparente; na verdade, entregando-se à morte para a salvação dos homens, Jesus cumpre a missão que recebera do Pai, e isto constitui o motivo preciso da Sua glorificação.
Jesus continuará no meio de seus discípulos pelo amor com que os amou e que lhes deixa como herança para que vivam Nele e O realizem sempre nas suas relações mútuas. “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34). O amor recíproco, ajustado ao amor do Mestre, ou melhor, nascido dele, garante à comunidade cristã a presença de Jesus, da qual é autêntico sinal. Ao mesmo tempo, é o distintivo dos verdadeiros cristãos: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13, 35). Praticamente, o Senhor Jesus coloca neste mandamento a identidade de Seus seguidores. Deste modo, a vida da Igreja começou amparada numa força de coesão e de expansão totalmente nova e dotada de um poder extraordinário, porque fundamentada, não no amor humano que é sempre frágil e falível, mas no amor divino: o amor de Cristo revivido nas mútuas relações dos que creem.
O mandamento de Jesus é novo também por outro motivo: porque renova! Ele é de tal modo que muda a face da terra, transforma as relações humanas como aquele fermento do qual fala Jesus, que, introduzido na massa, a faz fermentar toda, levantando-a de sua inércia. O amor de que Jesus fala é o amor que acolhe, que se faz serviço, que respeita a dignidade e a liberdade do outro, que se faz dom total (até à morte) para que o outro tenha mais vida.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Glorificação do Filho do Homem
24/04/2016 12:40 - Atualizado em 24/04/2016 12:47
Ao vivenciarmos o Quinto Domingo do Tempo Pascal uma verdade salta aos olhos: Cristo sonhou com a Igreja, a desejou, a quis, a amou e a fundou. A Igreja é obra do Cristo, foi por Ele fundada. Ela não se pertence a si mesma, não se pode fundar a si própria, não pode estabelecer ela própria a sua verdade. Tudo nela deve referir-se a Cristo e a Ele deve conduzir! Porém, Cristo continua fundando-a, funda-a ainda hoje, ainda agora, a cada Sagrada Eucaristia! Continuamente, o Cordeiro de pé como que imolado, Cabeça da Igreja que é o seu Corpo, funda, renova, sustenta, santifica sua dileta Esposa pela Palavra e pelos sacramentos: “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentá-la a si mesmo a Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível!” (Ef 5,25-27). A cada Eucaristia fazemos um memorial e não apenas uma “recordação”, é sempre uma atualização.
Cristo amou a sua Igreja e por ela morreu e ressuscitou, pela sua morte e ressurreição, de amor infinito, Ele purifica continuamente a sua Igreja, santifica-a totalmente, sem desfalecer. Por isso a Igreja é santa, será sempre santa e não poderá jamais perder tal santidade, apesar das infidelidades de seus membros! Este processo de contínua fundação e santificação da Igreja em Cristo dá-se pelo “banho da água” – símbolo do Batismo e dos sacramentos em geral – e pela “Palavra” – símbolo da pregação do Evangelho.
Cristo continua edificando sua Igreja neste mundo pela Palavra e pelos sacramentos, sobretudo o Batismo e a Eucaristia. E, como esposa de Cristo, é nossa Mãe: ela nos gerou para Cristo no Batismo, para Cristo ela nos alimenta na Eucaristia, e de Cristo ela nos fala na sua pregação! Ela é a nossa Mãe católica, desposada pelo Cordeiro imolado na sua Páscoa, como diz o Apocalipse: “estão para realizar-se as núpcias do Cordeiro e sua Esposa já está pronta: concederam-lhe vestir-se com linho puro, resplandecente!” (19,7s).
Muitas vezes, a Igreja enfrentará dificuldades por parte de seus inimigos externos – aqueles que a perseguem direta ou veladamente, aqueles que desejam o seu fim e, vendo-a com antipatia, trabalham para difamá-la. Mas, também, infelizmente, muitas vezes a provação vem de dentro da própria Igreja: das fraquezas de seus membros. É verdade que isto não fere a santidade da Igreja – porque essa santidade vem de Cristo e não de nós –, por outro lado, é verdade também que nossos pecados e maus exemplos atrapalham, e muito, a credibilidade do nosso anúncio do Evangelho como força que renova a humanidade! Enquanto o mundo for mundo, enquanto a Igreja estiver a caminho, experimentará em si a debilidade de seus membros, pois é santa e pecadora. Assim foi no grupo dos Doze, assim nas comunidades do Novo Testamento, assim é hoje. O Evangelho deste domingo começa com Judas, o apóstolo que traiu o Senhor, saindo do Cenáculo, saindo do grupo dos Doze, saindo da Comunidade:“Depois que Judas saiu do cenáculo”.
O Evangelho (Jo 13, 31-35) refere-se ao momento em que, após ter anunciado a traição de Judas, Jesus fala da sua glorificação como uma realidade presente, vinculada à Sua Paixão: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele” (Jo 13, 31). O contraste é chocante, mas apenas aparente; na verdade, entregando-se à morte para a salvação dos homens, Jesus cumpre a missão que recebera do Pai, e isto constitui o motivo preciso da Sua glorificação.
Jesus continuará no meio de seus discípulos pelo amor com que os amou e que lhes deixa como herança para que vivam Nele e O realizem sempre nas suas relações mútuas. “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34). O amor recíproco, ajustado ao amor do Mestre, ou melhor, nascido dele, garante à comunidade cristã a presença de Jesus, da qual é autêntico sinal. Ao mesmo tempo, é o distintivo dos verdadeiros cristãos: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13, 35). Praticamente, o Senhor Jesus coloca neste mandamento a identidade de Seus seguidores. Deste modo, a vida da Igreja começou amparada numa força de coesão e de expansão totalmente nova e dotada de um poder extraordinário, porque fundamentada, não no amor humano que é sempre frágil e falível, mas no amor divino: o amor de Cristo revivido nas mútuas relações dos que creem.
O mandamento de Jesus é novo também por outro motivo: porque renova! Ele é de tal modo que muda a face da terra, transforma as relações humanas como aquele fermento do qual fala Jesus, que, introduzido na massa, a faz fermentar toda, levantando-a de sua inércia. O amor de que Jesus fala é o amor que acolhe, que se faz serviço, que respeita a dignidade e a liberdade do outro, que se faz dom total (até à morte) para que o outro tenha mais vida.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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