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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 09/05/2024

09 de Maio de 2024

Advertir os pecadores

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20/04/2016 18:30 - Atualizado em 20/04/2016 19:25

Advertir os pecadores 0

20/04/2016 18:30 - Atualizado em 20/04/2016 19:25

No mês de março de 2016, dentro do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia exortávamos nossos Arquidiocesanos, em nossa Carta Pastoral “Com Misericórdia Olhou para Ele e o Escolheu”, que este mês deveria ter como obra de misericórdia: “Advertir os pecadores”(Jo 8,1-11). Queremos refletir este tema a luz do Evangelho: João 8,1-11. Para a nossa reflexão, o episódio evangélico de Jesus que salva uma mulher adúltera da condenação à morte (Jo 8,1-11). O texto nos apresenta uma disputa entre Jesus e os escribas e fariseus, a propósito de uma mulher surpreendida em adultério flagrante. Segundo a prescrição contida na Lei de Moisés (cf. Lv 20,10 e Dt 22,22-24), são condenados à lapidação o homem e a mulher em adultério. A Lei deve ser aplicada? É este o problema apresentado a Jesus. Para os escribas e fariseus, trata-se de uma oportunidade para testar a ortodoxia de Jesus e a sua fidelidade às exigências da Lei.

Vemos que somos inspirados pela Palavra a advertir os pecadores como fez Jesus com os que queriam apedrejar a mulher adultera, e ao mesmo tempo, dizer aqueles que se reconhecem pecadores: vai e não peques mais.

Inicialmente Jesus é chamado pelos fariseus de “mestre” e lhe interrogam se é justo lapidar a mulher surpreendida em adultério. Eles conhecem a sua misericórdia e o seu amor pelos pecadores, e estão curiosos para ver como reagirá num caso como este, que segundo a Lei mosaica não deixava espaço a dúvidas. E se alguém falasse contra as prescrições da Lei, seria considerado injusto. Caso Jesus manifestasse a sua concordância com a Lei, colocava em contraste a sua bondade e a sua misericórdia; e se decidisse por conceder liberdade à mulher, não estaria cumprindo as prescrições da Lei.

Jesus parece silenciar e põe-se a escrever no chão palavras misteriosas, que o evangelista não revela, mas pode nos fazer interpretar a respeito da fragilidade desse julgamento, pois o que se escreve na poeira da terra, será apagado pelo vento ou quando animais ou homens caminharem sobre as letras então desenhadas. Com isto, Jesus pode querer mostrar o frágil valor do julgamento realizado pelos escribas e fariseus, contudo, após algum tempo escrevendo na terra, pronuncia a frase que se tornou famosa: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe lançar uma pedra” (Jo 8, 7). Com o seu silêncio, Jesus parece também convidar cada um a refletir sobre si próprio. Por um lado, convida a mulher a reconhecer a culpa cometida; por outro, convida os seus acusadores a não se subtraírem ao exame de consciência. Com estas palavras Jesus fez os acusadores da mulher a entrarem em si mesmos e, refletir sobre si próprios. Foram eles atingidos por estas palavras e, por isto, um a um se retiraram.

Das palavras de Jesus depende a vida daquela mulher, mas também a sua própria vida. De fato, os acusadores fingem confiar a ele o julgamento, enquanto na realidade é precisamente a ele a quem querem acusar e julgar. Jesus sabe o que está no coração de cada homem, deseja condenar o pecado, mas salvar o pecador. O pecado não é um caminho aceitável, pois gera infelicidade e rouba a paz. Enquanto os acusadores o interrogam com insistência, Jesus inclina-se e põe-se a escrever com o dedo no chão. Observa Santo Agostinho que aquele gesto mostra Cristo como o legislador divino: de fato, Deus escreveu a lei com o seu dedo nas tábuas de pedra (cf. S. Agostinho, Comentário ao Evangelho de João). Portanto Jesus é o Legislador, é a Justiça em pessoa.

Este Evangelho mostra como compreender que o nosso verdadeiro inimigo é o apego ao pecado, que pode levar-nos ao fracasso da nossa existência. Jesus despede-se da mulher adúltera com esta exortação: “Vai, e doravante não tornes a pecar”. O episódio põe em relevo, por outro lado, a intransigência e a hipocrisia do homem, sempre disposto a julgar e a condenar os outros.

Aprendamos com o Senhor Jesus a não julgar e a não condenar o nosso próximo. Como Cristo, sejamos, também, nós dispostos a perdoar, imitando os seus gestos e as suas atitudes. Se é verdade que Deus é justiça, não podemos esquecer que ele é sobretudo amor. Se ele odeia o pecado, é porque ama infinitamente cada pessoa humana. Ama cada um de nós, e a sua fidelidade é tão profunda que não se deixa desanimar nem sequer pela nossa rejeição.

Não tenho dúvida que quem tem em suas mãos este texto diante dos olhos nesse exato momento sabe o que é o exame de consciência. Caso me permita, vamos falar um pouco mais dessa prática cristã tão antiga e tão atual. Ao examinarmo-nos todos os dias, deveríamos pedir ao Senhor que nos ajude a ver as nossas atitudes como ele as vê: os nossos pensamentos, as nossas palavras, os movimentos mais íntimos do nosso coração e todas as nossas ações. Desta maneira, a acusação que a consciência provoca em nós diante duma ação má, começará e terminará em Deus provocando uma espécie de tristeza salutar: “a tristeza segundo Deus produz um arrependimento salutar de que ninguém se arrepende, enquanto a tristeza do mundo produz a morte” (2 Cor 7,10).

Todos devem lembrar da prescrição de se confessar pelo menos uma vez por ano pela Páscoa da Ressurreição. Estamos vivendo o tempo pascal que se prolonga neste grande Aleluia para que vivamos a graça de estado, a santidade que brota da reconciliação com Deus, com a Igreja e com os irmãos. A ninguém deve ser negada a graça de pedir perdão de seus pecados. A ninguém deve ser negado o perdão dos seus pecados. Lembremos que a gênese do Ano da Misericórdia é reconciliação, abertura de coração, recomeço e vivência da graça santificante do Ressuscitado.
Por isso perdoar e ser perdoado nos faz sentir acolhidos por Deus. Deus não cansa de perdoar. Deus não cansa de nos acolher. Nós que devemos nos abrir à sua graça e à sua compaixão. Deus na sua infinita bondade e misericórdia não condena, mas, se coloca à disposição para acolher a pecadora e assim acolher todos os pecadores. Que este texto nos ajude a refletir neste Ano da misericórdia, onde ressaltamos ainda mais o Amor que Deus tem pela sua criatura e pelo pecador.



Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.
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20/04/2016 18:30 - Atualizado em 20/04/2016 19:25

No mês de março de 2016, dentro do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia exortávamos nossos Arquidiocesanos, em nossa Carta Pastoral “Com Misericórdia Olhou para Ele e o Escolheu”, que este mês deveria ter como obra de misericórdia: “Advertir os pecadores”(Jo 8,1-11). Queremos refletir este tema a luz do Evangelho: João 8,1-11. Para a nossa reflexão, o episódio evangélico de Jesus que salva uma mulher adúltera da condenação à morte (Jo 8,1-11). O texto nos apresenta uma disputa entre Jesus e os escribas e fariseus, a propósito de uma mulher surpreendida em adultério flagrante. Segundo a prescrição contida na Lei de Moisés (cf. Lv 20,10 e Dt 22,22-24), são condenados à lapidação o homem e a mulher em adultério. A Lei deve ser aplicada? É este o problema apresentado a Jesus. Para os escribas e fariseus, trata-se de uma oportunidade para testar a ortodoxia de Jesus e a sua fidelidade às exigências da Lei.

Vemos que somos inspirados pela Palavra a advertir os pecadores como fez Jesus com os que queriam apedrejar a mulher adultera, e ao mesmo tempo, dizer aqueles que se reconhecem pecadores: vai e não peques mais.

Inicialmente Jesus é chamado pelos fariseus de “mestre” e lhe interrogam se é justo lapidar a mulher surpreendida em adultério. Eles conhecem a sua misericórdia e o seu amor pelos pecadores, e estão curiosos para ver como reagirá num caso como este, que segundo a Lei mosaica não deixava espaço a dúvidas. E se alguém falasse contra as prescrições da Lei, seria considerado injusto. Caso Jesus manifestasse a sua concordância com a Lei, colocava em contraste a sua bondade e a sua misericórdia; e se decidisse por conceder liberdade à mulher, não estaria cumprindo as prescrições da Lei.

Jesus parece silenciar e põe-se a escrever no chão palavras misteriosas, que o evangelista não revela, mas pode nos fazer interpretar a respeito da fragilidade desse julgamento, pois o que se escreve na poeira da terra, será apagado pelo vento ou quando animais ou homens caminharem sobre as letras então desenhadas. Com isto, Jesus pode querer mostrar o frágil valor do julgamento realizado pelos escribas e fariseus, contudo, após algum tempo escrevendo na terra, pronuncia a frase que se tornou famosa: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe lançar uma pedra” (Jo 8, 7). Com o seu silêncio, Jesus parece também convidar cada um a refletir sobre si próprio. Por um lado, convida a mulher a reconhecer a culpa cometida; por outro, convida os seus acusadores a não se subtraírem ao exame de consciência. Com estas palavras Jesus fez os acusadores da mulher a entrarem em si mesmos e, refletir sobre si próprios. Foram eles atingidos por estas palavras e, por isto, um a um se retiraram.

Das palavras de Jesus depende a vida daquela mulher, mas também a sua própria vida. De fato, os acusadores fingem confiar a ele o julgamento, enquanto na realidade é precisamente a ele a quem querem acusar e julgar. Jesus sabe o que está no coração de cada homem, deseja condenar o pecado, mas salvar o pecador. O pecado não é um caminho aceitável, pois gera infelicidade e rouba a paz. Enquanto os acusadores o interrogam com insistência, Jesus inclina-se e põe-se a escrever com o dedo no chão. Observa Santo Agostinho que aquele gesto mostra Cristo como o legislador divino: de fato, Deus escreveu a lei com o seu dedo nas tábuas de pedra (cf. S. Agostinho, Comentário ao Evangelho de João). Portanto Jesus é o Legislador, é a Justiça em pessoa.

Este Evangelho mostra como compreender que o nosso verdadeiro inimigo é o apego ao pecado, que pode levar-nos ao fracasso da nossa existência. Jesus despede-se da mulher adúltera com esta exortação: “Vai, e doravante não tornes a pecar”. O episódio põe em relevo, por outro lado, a intransigência e a hipocrisia do homem, sempre disposto a julgar e a condenar os outros.

Aprendamos com o Senhor Jesus a não julgar e a não condenar o nosso próximo. Como Cristo, sejamos, também, nós dispostos a perdoar, imitando os seus gestos e as suas atitudes. Se é verdade que Deus é justiça, não podemos esquecer que ele é sobretudo amor. Se ele odeia o pecado, é porque ama infinitamente cada pessoa humana. Ama cada um de nós, e a sua fidelidade é tão profunda que não se deixa desanimar nem sequer pela nossa rejeição.

Não tenho dúvida que quem tem em suas mãos este texto diante dos olhos nesse exato momento sabe o que é o exame de consciência. Caso me permita, vamos falar um pouco mais dessa prática cristã tão antiga e tão atual. Ao examinarmo-nos todos os dias, deveríamos pedir ao Senhor que nos ajude a ver as nossas atitudes como ele as vê: os nossos pensamentos, as nossas palavras, os movimentos mais íntimos do nosso coração e todas as nossas ações. Desta maneira, a acusação que a consciência provoca em nós diante duma ação má, começará e terminará em Deus provocando uma espécie de tristeza salutar: “a tristeza segundo Deus produz um arrependimento salutar de que ninguém se arrepende, enquanto a tristeza do mundo produz a morte” (2 Cor 7,10).

Todos devem lembrar da prescrição de se confessar pelo menos uma vez por ano pela Páscoa da Ressurreição. Estamos vivendo o tempo pascal que se prolonga neste grande Aleluia para que vivamos a graça de estado, a santidade que brota da reconciliação com Deus, com a Igreja e com os irmãos. A ninguém deve ser negada a graça de pedir perdão de seus pecados. A ninguém deve ser negado o perdão dos seus pecados. Lembremos que a gênese do Ano da Misericórdia é reconciliação, abertura de coração, recomeço e vivência da graça santificante do Ressuscitado.
Por isso perdoar e ser perdoado nos faz sentir acolhidos por Deus. Deus não cansa de perdoar. Deus não cansa de nos acolher. Nós que devemos nos abrir à sua graça e à sua compaixão. Deus na sua infinita bondade e misericórdia não condena, mas, se coloca à disposição para acolher a pecadora e assim acolher todos os pecadores. Que este texto nos ajude a refletir neste Ano da misericórdia, onde ressaltamos ainda mais o Amor que Deus tem pela sua criatura e pelo pecador.



Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.
Cardeal Orani João Tempesta
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Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro