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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

Encheu-se de compaixão

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Encheu-se de compaixão

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04/03/2016 00:00 - Atualizado em 07/03/2016 16:12

Encheu-se de compaixão 0

04/03/2016 00:00 - Atualizado em 07/03/2016 16:12

Durante o ano C, no tempo da Quaresma, os evangelhos proclamados na eucaristia dominical apresentam o tema da conversão. Assim, neste quarto domingo do tempo de preparação para as festas pascais, a Igreja escuta uma das páginas mais belas da Sagrada Escritura: a parábola do filho pródigo. O Papa Francisco, entendendo a importância capital desse texto, nos ensina: “Jesus revela a natureza de Deus como a de um Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superado a recusa com a compaixão e a misericórdia” (MV 9).

No capítulo 15 do Evangelho de São Lucas, Jesus faz um discurso sobre a misericórdia de Deus, expondo sua perspectiva diante das fortes críticas recebidas pela sua atitude de acolhida aos pecadores. Os escribas e os fariseus censuravam o Senhor, murmurando: “Esse homem recebe os pecadores e come com eles” (Lc 15,2). Ele, então, conta três parábolas: a da ovelha perdida (cf. Lc 15,4-7), a da dracma perdida (cf. Lc 15,8-10) e, finalmente, a mais profunda, a do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32). Em todas as três, o perdão divino se revela como um esforço constante de busca e de acolhimento por aqueles que se extraviaram do caminho. A Bula “Misericordiae Vultus”, ainda no parágrafo nono, sintetiza a mensagem dessas parábolas quando diz que: “nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão”.

A parábola do filho pródigo coloca em choque dois posicionamentos díspares sobre a temática do acolhimento e do perdão divino aos pecadores. Primeiro, o texto propõe a figura do filho mais novo como modelo daquele que deixa a comunhão com Deus; passa a viver de acordo com os seus próprios projetos, espoliando a si mesmo e se perdendo nos prazeres do mundo; sofre, consecutivamente, os revezes da sua opção; e, por conta disso, retorna para tentar negociar a reconciliação e a pena. Relatada tal situação, o texto começa a mostrar os dois tipos de mentalidade sobre a postura divina frente ao pecador.

Na parábola lucana, os fariseus e os escribas são identificados com a reação do filho mais velho: “Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar” (Lc 15,28). Para essa postura farisaica, Deus se identificaria com a figura do irmão irado, disposto a exigir por justiça, minimamente, cada moeda gasta pelo outro para poder perdoá-lo e acolhê-lo. Jesus, todavia, coloca a reação divina em situação diametralmente oposta. Deus age como um pai amoroso, disponível, alegre: “quando seu pai o viu, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos” (Lc 15,20). Para o Senhor, o coração divino se enche de misericórdia e de alegria diante de alguém que retorna. Essas duas reações – causa do embate entre os fariseus e os escribas e Jesus – podem ser apresentadas assim: diante dos pecadores, os primeiros “se enchem de raiva” e o Filho de Deus “se enche de compaixão”.

A Igreja, desde o início, vive o desafio de se configurar ao coração misericordioso de Jesus Cristo, comunicando ao mundo, através do dom do Espírito Santo, a alegria da reconciliação com o Pai. São Gregório Magno, em seu sermão sobre o Filho Pródigo, destacava a disposição de Deus diante daqueles que querem ser absolvidos: “Nisto se vê que nossa conversão e saúde é a alegria do Pai Celestial, e sua alegria é o perdão de nossos pecados”. Com palavras semelhantes, o Papa Francisco confirma a mesma verdade: “Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa” (MV 9). Por isso, neste tempo quaresmal, a práxis eclesial precisa refletir o coração compassivo e alegre de Deus diante do homem ferido pelo pecado. O novo povo de Deus é chamado a deixar a postura de raiva e de distanciamento e abrir-se, cada vez mais, a compaixão e a misericórdia.

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Encheu-se de compaixão

04/03/2016 00:00 - Atualizado em 07/03/2016 16:12

Durante o ano C, no tempo da Quaresma, os evangelhos proclamados na eucaristia dominical apresentam o tema da conversão. Assim, neste quarto domingo do tempo de preparação para as festas pascais, a Igreja escuta uma das páginas mais belas da Sagrada Escritura: a parábola do filho pródigo. O Papa Francisco, entendendo a importância capital desse texto, nos ensina: “Jesus revela a natureza de Deus como a de um Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superado a recusa com a compaixão e a misericórdia” (MV 9).

No capítulo 15 do Evangelho de São Lucas, Jesus faz um discurso sobre a misericórdia de Deus, expondo sua perspectiva diante das fortes críticas recebidas pela sua atitude de acolhida aos pecadores. Os escribas e os fariseus censuravam o Senhor, murmurando: “Esse homem recebe os pecadores e come com eles” (Lc 15,2). Ele, então, conta três parábolas: a da ovelha perdida (cf. Lc 15,4-7), a da dracma perdida (cf. Lc 15,8-10) e, finalmente, a mais profunda, a do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32). Em todas as três, o perdão divino se revela como um esforço constante de busca e de acolhimento por aqueles que se extraviaram do caminho. A Bula “Misericordiae Vultus”, ainda no parágrafo nono, sintetiza a mensagem dessas parábolas quando diz que: “nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão”.

A parábola do filho pródigo coloca em choque dois posicionamentos díspares sobre a temática do acolhimento e do perdão divino aos pecadores. Primeiro, o texto propõe a figura do filho mais novo como modelo daquele que deixa a comunhão com Deus; passa a viver de acordo com os seus próprios projetos, espoliando a si mesmo e se perdendo nos prazeres do mundo; sofre, consecutivamente, os revezes da sua opção; e, por conta disso, retorna para tentar negociar a reconciliação e a pena. Relatada tal situação, o texto começa a mostrar os dois tipos de mentalidade sobre a postura divina frente ao pecador.

Na parábola lucana, os fariseus e os escribas são identificados com a reação do filho mais velho: “Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar” (Lc 15,28). Para essa postura farisaica, Deus se identificaria com a figura do irmão irado, disposto a exigir por justiça, minimamente, cada moeda gasta pelo outro para poder perdoá-lo e acolhê-lo. Jesus, todavia, coloca a reação divina em situação diametralmente oposta. Deus age como um pai amoroso, disponível, alegre: “quando seu pai o viu, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos” (Lc 15,20). Para o Senhor, o coração divino se enche de misericórdia e de alegria diante de alguém que retorna. Essas duas reações – causa do embate entre os fariseus e os escribas e Jesus – podem ser apresentadas assim: diante dos pecadores, os primeiros “se enchem de raiva” e o Filho de Deus “se enche de compaixão”.

A Igreja, desde o início, vive o desafio de se configurar ao coração misericordioso de Jesus Cristo, comunicando ao mundo, através do dom do Espírito Santo, a alegria da reconciliação com o Pai. São Gregório Magno, em seu sermão sobre o Filho Pródigo, destacava a disposição de Deus diante daqueles que querem ser absolvidos: “Nisto se vê que nossa conversão e saúde é a alegria do Pai Celestial, e sua alegria é o perdão de nossos pecados”. Com palavras semelhantes, o Papa Francisco confirma a mesma verdade: “Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa” (MV 9). Por isso, neste tempo quaresmal, a práxis eclesial precisa refletir o coração compassivo e alegre de Deus diante do homem ferido pelo pecado. O novo povo de Deus é chamado a deixar a postura de raiva e de distanciamento e abrir-se, cada vez mais, a compaixão e a misericórdia.

Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida