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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

A misericórdia e a conversão

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A misericórdia e a conversão

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26/02/2016 00:00 - Atualizado em 29/02/2016 14:34

A misericórdia e a conversão 0

26/02/2016 00:00 - Atualizado em 29/02/2016 14:34

Depois de fazer memória dos eventos da tentação do Senhor e da sua transfiguração, a Igreja apresenta, nos domingos restantes do tempo quaresmal, durante o ciclo de leituras do ano C, a temática da conversão. Assim, os fiéis se encontram com as seguintes páginas evangélicas: a parábola da figueira (3º domingo), a parábola do filho pródigo (4º domingo) e a mulher surpreendida em adultério (5º domingo). Em todas essas passagens bíblicas se contempla a misericórdia divina revelada em Jesus Cristo em direção ao homem frágil e pecador. Neste Ano Santo, a Quaresma se torna o “tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus” (‘Misericordiae Vultus” 17).

A misericórdia de Deus se visibiliza nas passagens dos evangelhos quaresmais através de muitas imagens. Ela é comparada com a espera e o trabalho de um vinhateiro para que uma figueira improdutível se torne frutífera (cf. Lc 13,8-9); também com um pai que espera ansiosamente pelo filho caçula, esbanjador e rebelde (cf. Lc 15,20.24); bem como, com um legislador que, diante de alguém que cometeu um crime, sabe perdoar e reconduzir o culpado ao reto caminho (cf. Jo 8,7.10-11). Desta maneira, o Papa Francisco nos afirma a alta beleza da atuação divina em favor dos homens: “Na Sagrada Escritura, como se vê, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco” (MV 9).

A Igreja, como o Corpo de Cristo, é vocacionada a continuar a ação compassiva e terna de Deus em favor dos homens. O Ano Santo vem questionar a comunidade dos fiéis sobre a vivência de sua vocação à misericórdia. O texto da Bula “Misericordiae Vultus”, no parágrafo 10, nos exorta: “A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo”. Na pastoral eclesial, será que se torna visível uma práxis de perdão semelhante a de Jesus Cristo? Também os fiéis se convertem em vinhateiros zelosos e trabalhadores no cultivo da figueira considerada estéril? Ou, ainda, num pai amoroso e bondoso que, como uma facilidade incrível, esquece os pecados de seu filho perdido, somente para abraçá-lo, beijá-lo e festejar a sua vida? A Igreja se interpõe entre os pecadores e as forças que, em nome da justiça, oferecem apenas experiências de culpa, de humilhação e de morte? Nunca é demais, aqui, darmos a palavra ao Pontífice: “A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E desse amor, que vai até o perdão e o dom de si mesmo a Igreja, faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai” (MV 12).

A epifania do amor misericordioso de Deus gera no coração do homem o verdadeiro desejo de conversão. Se a realidade da compaixão é patente, a necessidade da mudança de vida é tanto quanto. Segundo a narrativa evangélica, a figueira precisa produzir frutos, o filho pródigo necessita viver nas alegrias festivas da casa paterna e o desejo divino é expresso na admoestação de Cristo: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais!” (Jo 8,11). De fato, a palavra conversão, na Escritura, pode ser encontrada como teshuvah (em hebraico) e como metanoia (em grego). Em hebraico, converter-se significa “mudar a trajetória”, “voltar do caminho errado”. Em grego, expressa uma “mudança de mentalidade”, um pensar segundo Deus. Desta maneira, o encontro com a misericórdia divina lança a pessoa numa experiência crucial de retorno do caminho do pecado para o da santidade e de substituição de um pensamento dissonante para a comunhão com os planos de Deus.

Misericórdia e conversão se impõem como um binômio da realidade do trato de amor entre Deus e os homens. Por um lado, o amor divino aparece como perdão gratuito aos pecadores e, por outro, a resposta humana se corporifica como uma vida nova, de acordo com esse perdão recebido. Por fim, podemos concluir com a solicitação papal: “Que a palavra do perdão possa chegar a todos, e a chamada para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente. O meu convite à conversão dirige-se, com insistência ainda maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta e vida” (MV 19).

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A misericórdia e a conversão

26/02/2016 00:00 - Atualizado em 29/02/2016 14:34

Depois de fazer memória dos eventos da tentação do Senhor e da sua transfiguração, a Igreja apresenta, nos domingos restantes do tempo quaresmal, durante o ciclo de leituras do ano C, a temática da conversão. Assim, os fiéis se encontram com as seguintes páginas evangélicas: a parábola da figueira (3º domingo), a parábola do filho pródigo (4º domingo) e a mulher surpreendida em adultério (5º domingo). Em todas essas passagens bíblicas se contempla a misericórdia divina revelada em Jesus Cristo em direção ao homem frágil e pecador. Neste Ano Santo, a Quaresma se torna o “tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus” (‘Misericordiae Vultus” 17).

A misericórdia de Deus se visibiliza nas passagens dos evangelhos quaresmais através de muitas imagens. Ela é comparada com a espera e o trabalho de um vinhateiro para que uma figueira improdutível se torne frutífera (cf. Lc 13,8-9); também com um pai que espera ansiosamente pelo filho caçula, esbanjador e rebelde (cf. Lc 15,20.24); bem como, com um legislador que, diante de alguém que cometeu um crime, sabe perdoar e reconduzir o culpado ao reto caminho (cf. Jo 8,7.10-11). Desta maneira, o Papa Francisco nos afirma a alta beleza da atuação divina em favor dos homens: “Na Sagrada Escritura, como se vê, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco” (MV 9).

A Igreja, como o Corpo de Cristo, é vocacionada a continuar a ação compassiva e terna de Deus em favor dos homens. O Ano Santo vem questionar a comunidade dos fiéis sobre a vivência de sua vocação à misericórdia. O texto da Bula “Misericordiae Vultus”, no parágrafo 10, nos exorta: “A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo”. Na pastoral eclesial, será que se torna visível uma práxis de perdão semelhante a de Jesus Cristo? Também os fiéis se convertem em vinhateiros zelosos e trabalhadores no cultivo da figueira considerada estéril? Ou, ainda, num pai amoroso e bondoso que, como uma facilidade incrível, esquece os pecados de seu filho perdido, somente para abraçá-lo, beijá-lo e festejar a sua vida? A Igreja se interpõe entre os pecadores e as forças que, em nome da justiça, oferecem apenas experiências de culpa, de humilhação e de morte? Nunca é demais, aqui, darmos a palavra ao Pontífice: “A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E desse amor, que vai até o perdão e o dom de si mesmo a Igreja, faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai” (MV 12).

A epifania do amor misericordioso de Deus gera no coração do homem o verdadeiro desejo de conversão. Se a realidade da compaixão é patente, a necessidade da mudança de vida é tanto quanto. Segundo a narrativa evangélica, a figueira precisa produzir frutos, o filho pródigo necessita viver nas alegrias festivas da casa paterna e o desejo divino é expresso na admoestação de Cristo: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais!” (Jo 8,11). De fato, a palavra conversão, na Escritura, pode ser encontrada como teshuvah (em hebraico) e como metanoia (em grego). Em hebraico, converter-se significa “mudar a trajetória”, “voltar do caminho errado”. Em grego, expressa uma “mudança de mentalidade”, um pensar segundo Deus. Desta maneira, o encontro com a misericórdia divina lança a pessoa numa experiência crucial de retorno do caminho do pecado para o da santidade e de substituição de um pensamento dissonante para a comunhão com os planos de Deus.

Misericórdia e conversão se impõem como um binômio da realidade do trato de amor entre Deus e os homens. Por um lado, o amor divino aparece como perdão gratuito aos pecadores e, por outro, a resposta humana se corporifica como uma vida nova, de acordo com esse perdão recebido. Por fim, podemos concluir com a solicitação papal: “Que a palavra do perdão possa chegar a todos, e a chamada para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente. O meu convite à conversão dirige-se, com insistência ainda maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta e vida” (MV 19).

Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida