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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

As obras de misericórdia

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As obras de misericórdia

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15/01/2016 15:19 - Atualizado em 15/01/2016 15:25

As obras de misericórdia 0

15/01/2016 15:19 - Atualizado em 15/01/2016 15:25

As obras de misericórdia / Arqrio

Na bula “Misericordiae Vultus”, diante de um mundo marcado pela pobreza e pelo sofrimento, o Papa Francisco indica as obras de misericórdia como uma das marcas principais da vivência do Ano Santo da Misericórdia: “é meu vivo desejo que o povo cristão reflita, durante o Jubileu, sobre as obras de misericórdia corporal e espiritual” (MV 15). Tal reflexão tem um objetivo muito concreto: “será uma maneira de acordar nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina” (MV 15). Desta forma, se abre a proposta de formarmos a nossa consciência, a fim de que possamos praticar a caridade diante dos irmãos mais necessitados.

Um olhar sobre a Escritura

No Primeiro Testamento, Deus, por meio dos profetas, pedia ao povo de Israel que vivesse certas obras de misericórdia. Encontramos tais obras em passagens como Jó 31,16-21; 22,6-7; Eclo 7,32-35; Tb 1,16-18; Is 58,6-7; 61,1. Citamos aqui, como exemplo, a passagem de Is 58,6-7: “Por acaso não consiste nisto o jejum que escolhi: em romper os grilhões da iniquidade, em soltar as ataduras do jugo e pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar todo o jugo? Não consiste em repartir o teu pão com o faminto; em recolher em tua casa os pobres desabrigados, em vestires aqueles que vês nu e em não te esconderes daquele que é tua carne?”. Assim, o israelita piedoso sabia da necessidade de ajudar os mais necessitados: os famintos, os sedentos, os nus, os pobres, os oprimidos, os prisioneiros, os sem abrigo, os doentes, os escravos, os órfãos e as viúvas.

No Novo Testamento, Jesus, Deus conosco, praticava as obras de misericórdia – “ao ver a multidão Jesus teve compaixão dela, porque estava cansada e abatida como ovelha sem pastor (Mt 9,36)” – e pedia aos seus discípulos para serem misericordiosos como o próximo – “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7) e “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). A Igreja apostólica continuou a vivência de tais obras. Isso nos atesta estas passagens das cartas de São Paulo – “Ele nos consola em todas as nossas tribulações, para que possamos consolar os que estão em qualquer tribulação, mediante a consolação que nos mesmos recebemos de Deus” (2Cor 1,4), de São João – “Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade” (1Jo 3,18) e de São Tiago – “A sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacifica, indulgente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, isenta de parcialidade e de hipocrisia” (Tg 3,7).

A mim o fizestes! (Mt 25,40)

A passagem de Mt 25,31-49 é o coração das obras de misericórdia na Escritura. Nesse texto, Jesus faz um discurso sobre o julgamento final por ocasião de sua parusia. Ele apresenta a prática da caridade como critério universal para os homens. Tal prática é expressa nas seguintes obras: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, acolher os peregrinos, vestir os nus e visitar os doentes e presos (cf. Mt 25,35-36). Aos que tiverem praticado as obras de misericórdia, o Senhor dirá: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde antes da fundação do mundo” (Mt 25,34). É muito importante a identificação que o Senhor faz com os necessitados: “Em verdade vos digo, cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25, 40). O Senhor, quando se identifica com os mais pequeninos, orienta seus discípulos ao cuidado e a amor pelos mais sofredores.

A Tradição e as Obras de Misericórdia

A Igreja, em consonância com a Escritura, procurou sempre refletir e praticar as obras de misericórdia. Os escritores eclesiásticos, os padres e os doutores da Igreja e os santos testemunham a vontade eclesial de corresponder com o mandamento do amor deixado por Cristo. Nesse sentido, deixamos um catálogo de obras de misericórdia apresentado no “Pastor de Hermas”, texto do século I: “assistir as viúvas, socorrer os órfãos e os indigentes, resgatar da escravidão os servidores do Deus, ser hospitaleiro, não se opor a ninguém, viver em paz, praticar a justiça, proteger a fraternidade, suportar a violência, ser paciente, não ter rancor, consolar os aflitos, não se afastar de quem abandonou a fé, mas convertê-lo e dar-lhe coragem, admoestar os pecadores, não reprimir os devedores e os indigentes”.

Seguindo uma inspiração de Orígenes, Santo Agostinho vai desenvolver a sua reflexão sobre as obras pedidas em Mt 25,31-49, dividindo-as em corporais e espirituais. Essa divisão permanecerá na Tradição eclesial e ganhará sua consolidação nos ensinamentos de Santo Tomás de Aquino. A propósito, esse Santo Doutor afirma que “Em si mesma, a misericórdia é a maior virtude. Compete a ela, com efeito, socorrer as deficiências dos mais necessitados”.

As obras de misericórdia

O Catecismo da Igreja Católica, nº 2447, nos diz que “as obras de misericórdia são as ações caritativas pelas quais socorremos o próximo em suas necessidades corporais e espirituais”. O catálogo das obras de misericórdia, recolhidas da Sagrada Escritura e meditadas e vividas pela Tradição, se divide em dois tipos: as obras corporais e as espirituais. As primeiras, extraídas de Mt 25, 35-36 e de Tb 1,17, são: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos e enterrar os mortos. As espirituais, fruto da meditação da Igreja e das necessidades dos homens, são: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas e rezar a Deus pelos vivos e defuntos.

Reprodução: consolata.org


 

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As obras de misericórdia / Arqrio

As obras de misericórdia

15/01/2016 15:19 - Atualizado em 15/01/2016 15:25

Na bula “Misericordiae Vultus”, diante de um mundo marcado pela pobreza e pelo sofrimento, o Papa Francisco indica as obras de misericórdia como uma das marcas principais da vivência do Ano Santo da Misericórdia: “é meu vivo desejo que o povo cristão reflita, durante o Jubileu, sobre as obras de misericórdia corporal e espiritual” (MV 15). Tal reflexão tem um objetivo muito concreto: “será uma maneira de acordar nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina” (MV 15). Desta forma, se abre a proposta de formarmos a nossa consciência, a fim de que possamos praticar a caridade diante dos irmãos mais necessitados.

Um olhar sobre a Escritura

No Primeiro Testamento, Deus, por meio dos profetas, pedia ao povo de Israel que vivesse certas obras de misericórdia. Encontramos tais obras em passagens como Jó 31,16-21; 22,6-7; Eclo 7,32-35; Tb 1,16-18; Is 58,6-7; 61,1. Citamos aqui, como exemplo, a passagem de Is 58,6-7: “Por acaso não consiste nisto o jejum que escolhi: em romper os grilhões da iniquidade, em soltar as ataduras do jugo e pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar todo o jugo? Não consiste em repartir o teu pão com o faminto; em recolher em tua casa os pobres desabrigados, em vestires aqueles que vês nu e em não te esconderes daquele que é tua carne?”. Assim, o israelita piedoso sabia da necessidade de ajudar os mais necessitados: os famintos, os sedentos, os nus, os pobres, os oprimidos, os prisioneiros, os sem abrigo, os doentes, os escravos, os órfãos e as viúvas.

No Novo Testamento, Jesus, Deus conosco, praticava as obras de misericórdia – “ao ver a multidão Jesus teve compaixão dela, porque estava cansada e abatida como ovelha sem pastor (Mt 9,36)” – e pedia aos seus discípulos para serem misericordiosos como o próximo – “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7) e “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). A Igreja apostólica continuou a vivência de tais obras. Isso nos atesta estas passagens das cartas de São Paulo – “Ele nos consola em todas as nossas tribulações, para que possamos consolar os que estão em qualquer tribulação, mediante a consolação que nos mesmos recebemos de Deus” (2Cor 1,4), de São João – “Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade” (1Jo 3,18) e de São Tiago – “A sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacifica, indulgente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, isenta de parcialidade e de hipocrisia” (Tg 3,7).

A mim o fizestes! (Mt 25,40)

A passagem de Mt 25,31-49 é o coração das obras de misericórdia na Escritura. Nesse texto, Jesus faz um discurso sobre o julgamento final por ocasião de sua parusia. Ele apresenta a prática da caridade como critério universal para os homens. Tal prática é expressa nas seguintes obras: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, acolher os peregrinos, vestir os nus e visitar os doentes e presos (cf. Mt 25,35-36). Aos que tiverem praticado as obras de misericórdia, o Senhor dirá: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde antes da fundação do mundo” (Mt 25,34). É muito importante a identificação que o Senhor faz com os necessitados: “Em verdade vos digo, cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25, 40). O Senhor, quando se identifica com os mais pequeninos, orienta seus discípulos ao cuidado e a amor pelos mais sofredores.

A Tradição e as Obras de Misericórdia

A Igreja, em consonância com a Escritura, procurou sempre refletir e praticar as obras de misericórdia. Os escritores eclesiásticos, os padres e os doutores da Igreja e os santos testemunham a vontade eclesial de corresponder com o mandamento do amor deixado por Cristo. Nesse sentido, deixamos um catálogo de obras de misericórdia apresentado no “Pastor de Hermas”, texto do século I: “assistir as viúvas, socorrer os órfãos e os indigentes, resgatar da escravidão os servidores do Deus, ser hospitaleiro, não se opor a ninguém, viver em paz, praticar a justiça, proteger a fraternidade, suportar a violência, ser paciente, não ter rancor, consolar os aflitos, não se afastar de quem abandonou a fé, mas convertê-lo e dar-lhe coragem, admoestar os pecadores, não reprimir os devedores e os indigentes”.

Seguindo uma inspiração de Orígenes, Santo Agostinho vai desenvolver a sua reflexão sobre as obras pedidas em Mt 25,31-49, dividindo-as em corporais e espirituais. Essa divisão permanecerá na Tradição eclesial e ganhará sua consolidação nos ensinamentos de Santo Tomás de Aquino. A propósito, esse Santo Doutor afirma que “Em si mesma, a misericórdia é a maior virtude. Compete a ela, com efeito, socorrer as deficiências dos mais necessitados”.

As obras de misericórdia

O Catecismo da Igreja Católica, nº 2447, nos diz que “as obras de misericórdia são as ações caritativas pelas quais socorremos o próximo em suas necessidades corporais e espirituais”. O catálogo das obras de misericórdia, recolhidas da Sagrada Escritura e meditadas e vividas pela Tradição, se divide em dois tipos: as obras corporais e as espirituais. As primeiras, extraídas de Mt 25, 35-36 e de Tb 1,17, são: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos e enterrar os mortos. As espirituais, fruto da meditação da Igreja e das necessidades dos homens, são: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas e rezar a Deus pelos vivos e defuntos.

Reprodução: consolata.org


 

Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida