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Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

A alegria do encontro

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18/12/2015 17:22 - Atualizado em 18/12/2015 17:23

A alegria do encontro 0

18/12/2015 17:22 - Atualizado em 18/12/2015 17:23

 

“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou

no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.”

O Batista pula “de alegria” no ventre de Isabel e esta fica cheia do Espírito Santo. A alegria do Batista é sinal de reconhecimento da presença d’Aquele que Maria traz em suas entranhas, o Messias. Assim como outrora o povo se alegrava pela presença da Arca da Aliança que trazia em si a promessa de Deus, ou seja, as tábuas da Lei, agora Isabel se alegra pela presença da nova Arca da Aliança, Maria, que traz em seu seio Aquele que realiza definitivamente a salvação do seu povo. A Lei, que preparava a sua vinda, já era causa de imensa alegria, porque era o testemunho da Aliança de Deus com os homens. Todavia, essa Aliança não ficou na letra, nem somente na Palavra, mas a Palavra se fez carne e a Aliança foi ratificada, e a promessa de salvação realizada.

Esse desejo pela vinda do Messias está expresso na profecia de Miquéias que acabamos de ouvir. De Belém virá o Messias. Sim, daquela que era considerada uma das menores cidades de Judá. Esta é a cidade onde se originou a família de Davi. Seu nome significa “casa do pão”. Nada mais significativo do que Aquele que se apresentou a nós como o verdadeiro “pão do céu” (cf. Jo 6) nascer na “casa do pão”. De Belém vem Rute, uma moabita, que decide converter-se à fé israelita e se torna, assim, a bisavó de Davi. Uma mulher que vem de um povo cuja origem era desprezada por Israel, tendo em vista que os moabitas eram descendentes, segundo a tradição bíblica, de Moab, nascido da união incestuosa de Ló com uma de suas filhas. Mas, a origem não importa, porque Deus escolhe sempre o que parece fraco aos olhos do mundo para confundir os fortes. Como Rute decide tornar-se judia - e ela verbaliza isso ao dizer a Noemi “teu povo será o meu povo e teu Deus será o meu Deus” – ela se torna um instrumento de Deus, de cujo ventre virá o grande rei Davi e da mesma descendência, o Messias.

Miquéias é um profeta do século VIII e, no meio da desesperança na qual caiu o povo em virtude do exílio, Miquéias entrevê uma promessa de restauração. O Messias virá e dominará em Israel. Sua origem, segundo o profeta vem de tempos remotos, uma vez que ele está pensando aqui na origem da família de Davi. Ele estenderá seu poder até os confins da terra.

Ao lermos essa profecia em chave neotestamentária podemos perceber que é de Cristo que o profeta fala sem saber. A origem do Senhor vem de tempos remotos, de toda a eternidade, porque Ele sempre esteve junto com o Pai. O povo se sentia no abandono, entregue ao seu próprio pecado, até que uma mãe deu à luz e nasceu para nós o Salvador, que é o Cristo Senhor. Ele é o dominador, o Senhor, no novo Israel de Deus que é a Igreja. Essa profecia se realizou em Cristo, mas ainda está à espera de consumação, porque o profeta diz que ele estenderá seu poder até os confins da terra e os homens viverão em paz, e Ele mesmo será a Paz. O poder de Cristo já se estendeu até os confins da terra, todavia nós ainda não vemos porque os nossos olhos ainda são carnais. Mas, chegará o dia em que o Senhor voltará e todos poderão ver a salvação. Quando Ele voltar o seu poder há de se manifestar em toda a sua força e Ele será a nossa Paz. A verdadeira Paz é o Cristo. Ele sim fez do que era dividido uma unidade. Não existe verdadeira paz quando os poderes que se opõem estão em um mero equilíbrio, porque esse equilíbrio pode se romper a qualquer momento. E, além do mais, manter poderes opostos em equilíbrio exige concessões. Então, o que entendemos como paz não é paz. A verdadeira paz é o Cristo. Somente Ele nos faz unos e sem unidade não há paz.

A profecia de Miquéias nos faz, então, contemplar a salvação realizada em Cristo, mas ao mesmo tempo desejar a consumação dessa salvação na sua segunda vinda. Nós a esperamos e a anunciamos, como o faziam os apóstolos. E, porque desejamos essa segunda vinda, nós cantamos com o salmista: “Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos! Ó Pastor de Israel, prestai ouvidos. Vós que sobre os querubins vos assentais aparecei cheio de glória e esplendor!” Cantamos com o salmista desejando que Ele apareça, cheio de glória. Não que na sua primeira vinda não tivesse aparecido na glória. Sim, a sua primeira vinda também foi de glória. Porque, em Deus, kénosis e glória são movimentos que se complementam. Nós temos um falso conceito do que seja glória. Temos uma imagem carnavalesca da glória. Na pobreza do presépio, no esvaziamento do presépio está escondida uma glória que não podemos entender. Para o Cristo a glória consiste em fazer a vontade de um Outro, a vontade do Pai. Se a encarnação é a vontade do Pai isso é glória para o Cristo. Ele se esvazia e glorifica o Pai e por isso o Pai o glorifica e o fará aparecer no final dos tempos revestido agora de toda a sua glória e majestade. É isso o que nos ensina a carta aos Filipenses, naquele belo hino onde Paulo relembra aos cristãos de Filipos que a kénosis, o esvaziamento, é necessário para que sejamos exaltados no último dia pelo Pai. A glória de Cristo está em esvaziar-se totalmente para a nossa salvação. E jubilosos por esse esvaziamento de amor nós suplicamos o segundo movimento prometido e esperado, a sua volta em todo o seu esplendor para nos levar com Ele. Esse duplo movimento do Advento, essa dupla espera não pode ser deixada de lado.

Meus irmãos, cabe-nos ainda recordar que o mistério que estamos para celebrar é o mistério da Páscoa do Senhor. Esse é o único Mistério Cristão. Todavia, porque esse mistério é amplo e multifacetado o ano litúrgico nos vai apresentando cada um de seus elementos para assim formar diante de nós um belo mosaico. E vejam que, no mosaico, cada pedra só tem sentido dentro do todo. Por isso, o Natal só ganha seu verdadeiro sentido dentro do grande mosaico pascal. A carta aos Hebreus nos lembra isso. O autor da carta aos Hebreus aplica ao Cristo a versão grega do Salmo 40, 7-9. “Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo. Não foram do teu agrado holocaustos nem sacrifícios pelo pecado. Por isso eu disse: Eis que eu venho. No livro está escrito a meu respeito: Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade.” O primeiro sacrifício é suprimido para dar lugar a um segundo e definitivo sacrifício, o de Cristo. Cristo assume verdadeiramente um corpo, que o Pai forma para Ele nas entranhas puríssimas da Virgem, e o assume para o entregar em sacrifício. E o entrega sabendo que o Pai o ressuscitará. Recebemos, doamos e recebemos de volta de uma forma nova. Temos muito o que aprender com esse mistério e devo dizer que devemos fazer a nossa vida resplandecer esse mistério. Cristo recebe do Pai um corpo, mas não se apega a esse corpo. Ao contrário, faz dele um sacrifício e o recebe de volta de uma forma nova. É preciso morrer para se receber a vida verdadeira. Meus irmãos, se Cristo tivesse se apegado ao seu corpo ele não teria morrido para a nossa salvação e não teríamos sido ressuscitados com Ele. A minha questão aqui não é discutir se Ele podia ou não podia ter feito diferente. Para mim é o mistério dessa entrega que conta. Também recebemos de Deus a vida. Junto com a vida recebemos muitos bens. Meus irmãos, se nós nos prendemos à vida e aos bens nós morremos. Se nos prendemos aos cargos, às mentalidades, às nossas seguranças, nós morremos. Todas as vezes em que queremos possuir algo nós o matamos e também morremos porque nenhuma das coisas criadas é capaz de nos dar a vida. Nós temos sede de vida, e procuramos a vida nas criaturas, mas as criaturas não têm em si mesmas a fonte da vida. Nós assim matamos e morremos na nossa busca desviada. Devemos querer possuir somente a Deus. Devemos ter de Deus uma santa cobiça, uma concupiscência, um desejo ardente, porque Ele é a fonte da vida, Ele pode nos saciar infinitamente sem se perder e nós jamais ficaremos saciados d’Ele porque não podemos abarcar tudo o que Ele é. Precisamos soltar a nossa vida n’Ele e querermos possuir somente Ele e, no fim de tudo, Ele nos devolverá tudo, mas não da mesma forma, dessa forma caduca que nós contemplamos, mas de uma forma nova. Ressuscitando-nos Ele nos saciará.

Queridos de Deus, Maria é declarada no evangelho que acabamos de ouvir como “bem-aventurada”. Em que consiste a bem-aventurança de Maria? Em ter acreditado na Palavra de Deus que ela recebeu. Maria recebe a Palavra e fica cheia do Espírito, porque a Palavra que Maria recebe é cheia do Espírito e por que está cheia do Espírito ela o comunica àqueles que a encontram e faz na continuação desse evangelho uma grande berakah, um grande louvor a Deus em seu magnificat.

Nós que aqui estamos reunidos recebemos a Palavra e essa Palavra que nós recebemos vem cheia do Espírito Santo. Seremos bem-aventurados se recebermos como a Virgem essa Palavra. Essa Palavra é fecunda. Ela gera em nós o Cristo. Assim como a Virgem creu e pela sua fé gerou o Verbo, também a Igreja crê e pela fé gera o Verbo continuamente na alma dos fiéis e no meio do mundo. Peçamos a Deus o dom da fé, para sermos bem-aventurados e para vermos se cumprir em nós aquilo o que a Palavra hoje nos revela como promessa de Deus para nós: “Os homens viverão em paz, pois ele agora estenderá o poder até os confins da terra, e ele mesmo será a Paz.”

 

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“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou

no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.”

O Batista pula “de alegria” no ventre de Isabel e esta fica cheia do Espírito Santo. A alegria do Batista é sinal de reconhecimento da presença d’Aquele que Maria traz em suas entranhas, o Messias. Assim como outrora o povo se alegrava pela presença da Arca da Aliança que trazia em si a promessa de Deus, ou seja, as tábuas da Lei, agora Isabel se alegra pela presença da nova Arca da Aliança, Maria, que traz em seu seio Aquele que realiza definitivamente a salvação do seu povo. A Lei, que preparava a sua vinda, já era causa de imensa alegria, porque era o testemunho da Aliança de Deus com os homens. Todavia, essa Aliança não ficou na letra, nem somente na Palavra, mas a Palavra se fez carne e a Aliança foi ratificada, e a promessa de salvação realizada.

Esse desejo pela vinda do Messias está expresso na profecia de Miquéias que acabamos de ouvir. De Belém virá o Messias. Sim, daquela que era considerada uma das menores cidades de Judá. Esta é a cidade onde se originou a família de Davi. Seu nome significa “casa do pão”. Nada mais significativo do que Aquele que se apresentou a nós como o verdadeiro “pão do céu” (cf. Jo 6) nascer na “casa do pão”. De Belém vem Rute, uma moabita, que decide converter-se à fé israelita e se torna, assim, a bisavó de Davi. Uma mulher que vem de um povo cuja origem era desprezada por Israel, tendo em vista que os moabitas eram descendentes, segundo a tradição bíblica, de Moab, nascido da união incestuosa de Ló com uma de suas filhas. Mas, a origem não importa, porque Deus escolhe sempre o que parece fraco aos olhos do mundo para confundir os fortes. Como Rute decide tornar-se judia - e ela verbaliza isso ao dizer a Noemi “teu povo será o meu povo e teu Deus será o meu Deus” – ela se torna um instrumento de Deus, de cujo ventre virá o grande rei Davi e da mesma descendência, o Messias.

Miquéias é um profeta do século VIII e, no meio da desesperança na qual caiu o povo em virtude do exílio, Miquéias entrevê uma promessa de restauração. O Messias virá e dominará em Israel. Sua origem, segundo o profeta vem de tempos remotos, uma vez que ele está pensando aqui na origem da família de Davi. Ele estenderá seu poder até os confins da terra.

Ao lermos essa profecia em chave neotestamentária podemos perceber que é de Cristo que o profeta fala sem saber. A origem do Senhor vem de tempos remotos, de toda a eternidade, porque Ele sempre esteve junto com o Pai. O povo se sentia no abandono, entregue ao seu próprio pecado, até que uma mãe deu à luz e nasceu para nós o Salvador, que é o Cristo Senhor. Ele é o dominador, o Senhor, no novo Israel de Deus que é a Igreja. Essa profecia se realizou em Cristo, mas ainda está à espera de consumação, porque o profeta diz que ele estenderá seu poder até os confins da terra e os homens viverão em paz, e Ele mesmo será a Paz. O poder de Cristo já se estendeu até os confins da terra, todavia nós ainda não vemos porque os nossos olhos ainda são carnais. Mas, chegará o dia em que o Senhor voltará e todos poderão ver a salvação. Quando Ele voltar o seu poder há de se manifestar em toda a sua força e Ele será a nossa Paz. A verdadeira Paz é o Cristo. Ele sim fez do que era dividido uma unidade. Não existe verdadeira paz quando os poderes que se opõem estão em um mero equilíbrio, porque esse equilíbrio pode se romper a qualquer momento. E, além do mais, manter poderes opostos em equilíbrio exige concessões. Então, o que entendemos como paz não é paz. A verdadeira paz é o Cristo. Somente Ele nos faz unos e sem unidade não há paz.

A profecia de Miquéias nos faz, então, contemplar a salvação realizada em Cristo, mas ao mesmo tempo desejar a consumação dessa salvação na sua segunda vinda. Nós a esperamos e a anunciamos, como o faziam os apóstolos. E, porque desejamos essa segunda vinda, nós cantamos com o salmista: “Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos! Ó Pastor de Israel, prestai ouvidos. Vós que sobre os querubins vos assentais aparecei cheio de glória e esplendor!” Cantamos com o salmista desejando que Ele apareça, cheio de glória. Não que na sua primeira vinda não tivesse aparecido na glória. Sim, a sua primeira vinda também foi de glória. Porque, em Deus, kénosis e glória são movimentos que se complementam. Nós temos um falso conceito do que seja glória. Temos uma imagem carnavalesca da glória. Na pobreza do presépio, no esvaziamento do presépio está escondida uma glória que não podemos entender. Para o Cristo a glória consiste em fazer a vontade de um Outro, a vontade do Pai. Se a encarnação é a vontade do Pai isso é glória para o Cristo. Ele se esvazia e glorifica o Pai e por isso o Pai o glorifica e o fará aparecer no final dos tempos revestido agora de toda a sua glória e majestade. É isso o que nos ensina a carta aos Filipenses, naquele belo hino onde Paulo relembra aos cristãos de Filipos que a kénosis, o esvaziamento, é necessário para que sejamos exaltados no último dia pelo Pai. A glória de Cristo está em esvaziar-se totalmente para a nossa salvação. E jubilosos por esse esvaziamento de amor nós suplicamos o segundo movimento prometido e esperado, a sua volta em todo o seu esplendor para nos levar com Ele. Esse duplo movimento do Advento, essa dupla espera não pode ser deixada de lado.

Meus irmãos, cabe-nos ainda recordar que o mistério que estamos para celebrar é o mistério da Páscoa do Senhor. Esse é o único Mistério Cristão. Todavia, porque esse mistério é amplo e multifacetado o ano litúrgico nos vai apresentando cada um de seus elementos para assim formar diante de nós um belo mosaico. E vejam que, no mosaico, cada pedra só tem sentido dentro do todo. Por isso, o Natal só ganha seu verdadeiro sentido dentro do grande mosaico pascal. A carta aos Hebreus nos lembra isso. O autor da carta aos Hebreus aplica ao Cristo a versão grega do Salmo 40, 7-9. “Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo. Não foram do teu agrado holocaustos nem sacrifícios pelo pecado. Por isso eu disse: Eis que eu venho. No livro está escrito a meu respeito: Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade.” O primeiro sacrifício é suprimido para dar lugar a um segundo e definitivo sacrifício, o de Cristo. Cristo assume verdadeiramente um corpo, que o Pai forma para Ele nas entranhas puríssimas da Virgem, e o assume para o entregar em sacrifício. E o entrega sabendo que o Pai o ressuscitará. Recebemos, doamos e recebemos de volta de uma forma nova. Temos muito o que aprender com esse mistério e devo dizer que devemos fazer a nossa vida resplandecer esse mistério. Cristo recebe do Pai um corpo, mas não se apega a esse corpo. Ao contrário, faz dele um sacrifício e o recebe de volta de uma forma nova. É preciso morrer para se receber a vida verdadeira. Meus irmãos, se Cristo tivesse se apegado ao seu corpo ele não teria morrido para a nossa salvação e não teríamos sido ressuscitados com Ele. A minha questão aqui não é discutir se Ele podia ou não podia ter feito diferente. Para mim é o mistério dessa entrega que conta. Também recebemos de Deus a vida. Junto com a vida recebemos muitos bens. Meus irmãos, se nós nos prendemos à vida e aos bens nós morremos. Se nos prendemos aos cargos, às mentalidades, às nossas seguranças, nós morremos. Todas as vezes em que queremos possuir algo nós o matamos e também morremos porque nenhuma das coisas criadas é capaz de nos dar a vida. Nós temos sede de vida, e procuramos a vida nas criaturas, mas as criaturas não têm em si mesmas a fonte da vida. Nós assim matamos e morremos na nossa busca desviada. Devemos querer possuir somente a Deus. Devemos ter de Deus uma santa cobiça, uma concupiscência, um desejo ardente, porque Ele é a fonte da vida, Ele pode nos saciar infinitamente sem se perder e nós jamais ficaremos saciados d’Ele porque não podemos abarcar tudo o que Ele é. Precisamos soltar a nossa vida n’Ele e querermos possuir somente Ele e, no fim de tudo, Ele nos devolverá tudo, mas não da mesma forma, dessa forma caduca que nós contemplamos, mas de uma forma nova. Ressuscitando-nos Ele nos saciará.

Queridos de Deus, Maria é declarada no evangelho que acabamos de ouvir como “bem-aventurada”. Em que consiste a bem-aventurança de Maria? Em ter acreditado na Palavra de Deus que ela recebeu. Maria recebe a Palavra e fica cheia do Espírito, porque a Palavra que Maria recebe é cheia do Espírito e por que está cheia do Espírito ela o comunica àqueles que a encontram e faz na continuação desse evangelho uma grande berakah, um grande louvor a Deus em seu magnificat.

Nós que aqui estamos reunidos recebemos a Palavra e essa Palavra que nós recebemos vem cheia do Espírito Santo. Seremos bem-aventurados se recebermos como a Virgem essa Palavra. Essa Palavra é fecunda. Ela gera em nós o Cristo. Assim como a Virgem creu e pela sua fé gerou o Verbo, também a Igreja crê e pela fé gera o Verbo continuamente na alma dos fiéis e no meio do mundo. Peçamos a Deus o dom da fé, para sermos bem-aventurados e para vermos se cumprir em nós aquilo o que a Palavra hoje nos revela como promessa de Deus para nós: “Os homens viverão em paz, pois ele agora estenderá o poder até os confins da terra, e ele mesmo será a Paz.”

 

Padre Fábio Siqueira
Autor

Padre Fábio Siqueira

Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida