Arquidiocese do Rio de Janeiro

34º 22º

Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, 17/05/2024

17 de Maio de 2024

O ano litúrgico e a misericórdia

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do e-mail.
E-mail enviado com sucesso.

17 de Maio de 2024

O ano litúrgico e a misericórdia

Se você encontrou erro neste texto ou nesta página, por favor preencha os campos abaixo. O link da página será enviado automaticamente a ArqRio.

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do erro.
Erro relatado com sucesso, obrigado.

27/11/2015 15:09 - Atualizado em 27/11/2015 15:09

O ano litúrgico e a misericórdia 0

27/11/2015 15:09 - Atualizado em 27/11/2015 15:09

Com a comemoração do primeiro domingo do Advento, a Igreja ingressa num novo ano litúrgico. Ele é a celebração do mistério de Cristo e da obra da salvação no transcurso do tempo: desde os eventos preparativos para a vinda do Salvador até a sua segunda vinda em poder e glória (cf. SC 102). Assim como o sol realiza seu movimento trazendo vida à terra, dessa forma, o Senhor – sol de justiça – vivifica seus fiéis na participação de seus mistérios. O ano litúrgico é muito mais do que um sistema de organização do calendário de solenidades da Igreja. Ele é a atualização da Páscoa de Cristo no “hoje” contínuo da salvação: “a Igreja oferece aos fiéis as riquezas das obras e merecimentos do seu Senhor, a ponto de os tornarem como que presentes a todo o tempo, para que os fiéis, em contato com eles, se encham de graça” (SC 102).

Em cada ano litúrgico, na celebração da eucaristia dominical, para possibilitar o diálogo entre Deus e a assembleia dos fieis, abrem-se os tesouros da Sagrada Escritura, seguindo a narrativa de um determinado Evangelho sinótico: “Na ação litúrgica, a Igreja responde fielmente o mesmo ‘amém’ que Cristo, mediador entre Deus e os homens, pronunciou, de uma vez para sempre, ao derramar seu sangue, a fim de selar, com a força de Deus, a nova Aliança no Espírito Santo” (IGLM 6). Por conseguinte, durante o ano A se proclama o Evangelho de Mateus; no ano B, o de Marcos; e, no C, o de Lucas. Este novo ano – 2015/2016 – possui o Evangelho de São Lucas como texto referencial para a Liturgia da Palavra da eucaristia dominical. Por isso, se torna urgente um maior conhecimento do terceiro Evangelho para uma experiência mais profunda na Liturgia dominical.

São Lucas foi um médico sírio da Igreja de Antioquia, companheiro de São Paulo (cf. Cl 4,14). Provavelmente, escreveu seu Evangelho na década de 70 d.C. Pelo texto do Novo Testamento, podemos confirmar sua participação na segunda (cf. At 16,10) e na terceira (cf. At 20, 6-7) viagem missionária de Paulo e sua atenção ao apóstolo durante o primeiro (cf. Fm 24) e o segundo (cf. 2Tm 4,11) cativeiro. Os testemunhos antigos nos oferecem uma confirmação da autoria lucana do terceiro Evangelho: o Cânon de Muratori, Santo Irineu, O prólogo ao evangelho do final do século 2, Tertuliano, Orígenes, Eusébio e Jerônimo. Não parece haver nenhuma razão para se negar a autoria do texto a Lucas.

O texto do terceiro Evangelho revela uma comunidade de cristãos convertidos do paganismo. Por isso, São Lucas insiste no caráter universal da salvação, apresentando o amor e a misericórdia de Deus por todos: “Eles virão do Oriente e do Ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar a mesa do Reino de Deus” (Lc 13,29). De fato, esse livro é chamado de “o Evangelho da misericórdia”, pois ele narra enfaticamente as palavras e as ações do Senhor para com os pecadores, os pobres, os doentes, os samaritanos, os gentios, as mulheres, as crianças – grupos excluídos no tempo de Jesus. Em Lc 15, o autor escreveu algo particular: as parábolas da misericórdia. Com elas, pretendia incutir na consciência de sua comunidade a mentalidade do amor misericordioso de Deus, manifestado em Jesus Cristo, pelos pecadores: “Eu vos digo que do mesmo modo haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende, do que por 99 justos que não precisam de arrependimento” (Lc 15,7). A cruz se torna ocasião máxima da manifestação desse amor misericordioso pelos homens, absolvendo-os de todo pecado e admitindo-os a comunhão eterna: “Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem!” (Lc 23,34) e “em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).

Um novo ano litúrgico se abre para a Igreja. Nele, durante o ciclo das leituras dominicais da celebração eucarística, a assembleia litúrgica há de se encontrar, através do texto do Evangelho de São Lucas, com o Deus de amor, de misericórdia e de perdão, revelado na vida de Jesus Cristo. O Espírito Santo consagra o arco do tempo, a fim de que, por meio da liturgia da Palavra, os fiéis escutem a voz de seu Senhor e recebam a sua força para continuar no mundo – dilacerado pela guerra – sua obra de reconciliação e de paz: “Assim, está escrito que o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que, em seu nome, fosse proclamado o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém. Vós sereis testemunhas disso” (Lc 24,47-48).


Leia os comentários

Deixe seu comentário

Resposta ao comentário de:

Enviando...
Por favor, preencha os campos adequadamente.
Ocorreu um erro no envio do comentário.
Comentário enviado para aprovação.

O ano litúrgico e a misericórdia

27/11/2015 15:09 - Atualizado em 27/11/2015 15:09

Com a comemoração do primeiro domingo do Advento, a Igreja ingressa num novo ano litúrgico. Ele é a celebração do mistério de Cristo e da obra da salvação no transcurso do tempo: desde os eventos preparativos para a vinda do Salvador até a sua segunda vinda em poder e glória (cf. SC 102). Assim como o sol realiza seu movimento trazendo vida à terra, dessa forma, o Senhor – sol de justiça – vivifica seus fiéis na participação de seus mistérios. O ano litúrgico é muito mais do que um sistema de organização do calendário de solenidades da Igreja. Ele é a atualização da Páscoa de Cristo no “hoje” contínuo da salvação: “a Igreja oferece aos fiéis as riquezas das obras e merecimentos do seu Senhor, a ponto de os tornarem como que presentes a todo o tempo, para que os fiéis, em contato com eles, se encham de graça” (SC 102).

Em cada ano litúrgico, na celebração da eucaristia dominical, para possibilitar o diálogo entre Deus e a assembleia dos fieis, abrem-se os tesouros da Sagrada Escritura, seguindo a narrativa de um determinado Evangelho sinótico: “Na ação litúrgica, a Igreja responde fielmente o mesmo ‘amém’ que Cristo, mediador entre Deus e os homens, pronunciou, de uma vez para sempre, ao derramar seu sangue, a fim de selar, com a força de Deus, a nova Aliança no Espírito Santo” (IGLM 6). Por conseguinte, durante o ano A se proclama o Evangelho de Mateus; no ano B, o de Marcos; e, no C, o de Lucas. Este novo ano – 2015/2016 – possui o Evangelho de São Lucas como texto referencial para a Liturgia da Palavra da eucaristia dominical. Por isso, se torna urgente um maior conhecimento do terceiro Evangelho para uma experiência mais profunda na Liturgia dominical.

São Lucas foi um médico sírio da Igreja de Antioquia, companheiro de São Paulo (cf. Cl 4,14). Provavelmente, escreveu seu Evangelho na década de 70 d.C. Pelo texto do Novo Testamento, podemos confirmar sua participação na segunda (cf. At 16,10) e na terceira (cf. At 20, 6-7) viagem missionária de Paulo e sua atenção ao apóstolo durante o primeiro (cf. Fm 24) e o segundo (cf. 2Tm 4,11) cativeiro. Os testemunhos antigos nos oferecem uma confirmação da autoria lucana do terceiro Evangelho: o Cânon de Muratori, Santo Irineu, O prólogo ao evangelho do final do século 2, Tertuliano, Orígenes, Eusébio e Jerônimo. Não parece haver nenhuma razão para se negar a autoria do texto a Lucas.

O texto do terceiro Evangelho revela uma comunidade de cristãos convertidos do paganismo. Por isso, São Lucas insiste no caráter universal da salvação, apresentando o amor e a misericórdia de Deus por todos: “Eles virão do Oriente e do Ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar a mesa do Reino de Deus” (Lc 13,29). De fato, esse livro é chamado de “o Evangelho da misericórdia”, pois ele narra enfaticamente as palavras e as ações do Senhor para com os pecadores, os pobres, os doentes, os samaritanos, os gentios, as mulheres, as crianças – grupos excluídos no tempo de Jesus. Em Lc 15, o autor escreveu algo particular: as parábolas da misericórdia. Com elas, pretendia incutir na consciência de sua comunidade a mentalidade do amor misericordioso de Deus, manifestado em Jesus Cristo, pelos pecadores: “Eu vos digo que do mesmo modo haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende, do que por 99 justos que não precisam de arrependimento” (Lc 15,7). A cruz se torna ocasião máxima da manifestação desse amor misericordioso pelos homens, absolvendo-os de todo pecado e admitindo-os a comunhão eterna: “Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem!” (Lc 23,34) e “em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).

Um novo ano litúrgico se abre para a Igreja. Nele, durante o ciclo das leituras dominicais da celebração eucarística, a assembleia litúrgica há de se encontrar, através do texto do Evangelho de São Lucas, com o Deus de amor, de misericórdia e de perdão, revelado na vida de Jesus Cristo. O Espírito Santo consagra o arco do tempo, a fim de que, por meio da liturgia da Palavra, os fiéis escutem a voz de seu Senhor e recebam a sua força para continuar no mundo – dilacerado pela guerra – sua obra de reconciliação e de paz: “Assim, está escrito que o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que, em seu nome, fosse proclamado o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém. Vós sereis testemunhas disso” (Lc 24,47-48).


Padre Vitor Gino Finelon
Autor

Padre Vitor Gino Finelon

Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida